quinta-feira, 6 de junho de 2013

Fogo Fátuo

Na noite brilham as estrelas na água. Ela olha, fica sentada no parapeito, esgotando o silêncio, hesitando entre a contemplação do brilho e a intensidade do negro. Se pudesse mergulhar ali, e egoisticamente encontrar o fim, talvez encontrasse a paz. Mas há o brilho, o reflexo de luzes que a encantam e lhe prometem a força da vida! Vêm do céu, as luzes. Ela sente frio, a camisa de dormir de cambraia não a aquece. Mas hoje, agora, o frio não vem do vento nocturno, vem de dentro dela mesma, soprando de mansinho, agitando os sentires e despertando-lhe memórias, sonhos desfeitos, futuros eternamente adiados. Está escuro, mas ela não tem medo, conhece de cor o lugar onde nasceu, e caminha descalça enganando a insónia. Tudo nela é turbilhão, uma montanha de nadas que se tornaram, apenas, no fundamental. Está cansada de certezas alheias, de culpas e insinuações, de conselhos e verdades que lhe ficam dramaticamente curtas. A vida, a dela, é como a piscina onde, de noite, as estrelas brilham. Fogo fátuo, de coisa nenhuma!

7 comentários:

  1. A gente lê, relê, fica saboreando as palavras. É lindo!

    Ana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada Ana, és sempre uma amiga querida!

      Luísa

      Eliminar
    2. Não conhecia,mas ao passar por aquifiquei presa a estas palavras.Linda maneira de nos fazer ver as coisas. Com estas palavras sentem-se de maneira diferente. Não a conheço ,mas muito obrigada.

      Eliminar
  2. É lindo o reflexo das estrelas na água... a transposição do céu para o nosso lado. Fica a imagem, resta a memória, o encantamento.
    A realidade vai-se buscar no dia a dia feito de esperanças cada vez mais certas!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As minhas esperanças cada vez são menos... Tenho sofrido dolorosas e violentas desilusões! Mas obrigada pela força!
      Luísa

      Eliminar
  3. Lindo e sedutor este texto.
    A vida da Setôra não é "fogo fátuo"!
    É-nos preciso, gente como a Senhora com «miolo».
    Vá olhar as luzes, reflectidas na piscina, todas as noites, para ajudar nas insónias, e depois escreva-nos os sentires...
    E a vida, assim, nunca é vazia de sentido.Não é um privilégio, vestida de cambraia fina e descalça, no seu chão, e ver as luzes e a lua reflectidas na sua "água"?
    E depois, um dia destes, até lá há-de ver, o tal remoinho do amor...

    ResponderEliminar
  4. Obrigada pelo reforço de Fé...
    Luísa

    ResponderEliminar