Escrevo-te uma carta mais. A carta que não queres ler, as palavras que já conheces, as frases com sentidos múltiplos. É uma carta apenas, feita de passado e presente, com a certeza de um futuro que, porque o é sempre, nunca acontece. Escrevo-te só porque sim. Porque me apetece, porque gosto de arrumar as letras tecendo sentidos - que alguma coisa faça sentido, hoje...- cortando, neste género epistolar, as paredes escuras da solidão.
Claro que podia telefonar, mandar um sms, enviar um smile (que mais não é do que um sorriso idiota) ou até, simplesmente, ignorar-te. É isso! Devia, talvez, ignorar-te, não te dar a importância que confere o estatuto de receptor, deixar-te aí, longe, no lugar onde nada acontece apenas porque tudo pode acontecer. Mas não quero fazê-lo. Apetece-me, já disse, escrever-te para te dizer o que os lábios calam, o coração tranca e o cérebro grita. Vou enviar a carta pelo correio. Vou comprar um selo, sem sê-lo, e colocar nas mãos alheias a responsabilidade de te levar as palavras que não queres. Afinal, é socialmente aceite atribuir responsabilidades a outrem...
Oh! Gostava tanto de ler essa carta!
ResponderEliminarAna S.
Um texto cheio de significados. Será que a carta, a outra, seguiu mesmo?
ResponderEliminarJoão
Acho que irresponsável deve ser o receptor...
ResponderEliminarMª. da Graça