Ouvi ontem, num painel sobre vivências de Abril destinado a alunos de 9º ano, que há frustração com Abril. Fiquei a pensar, sentindo as palavras a chocar dentro de mim...
Eu tinha 14 anos quando o 24 de Abril aconteceu. Não tenho, felizmente, memórias vividas da ditadura, da opressão. Em 74, a Revolução significou, para mim, poder dizer que não concordava com os professores, poder namorar sem medo de ser vista ou comentada, poder entrar no Café Alentejano sem ser apontada a dedo. Era a Liberdade, palavra que desconhecia, a acontecer para mim. Não havia lobos na minha cidade, a alegria existia e o medo fugira para longe. Muito longe!
Cresci. Fiz opções políticas, estudei filosofias, aprendi, quero crer, a pensar no sentido das Coisas para além das mesmas Coisas. E, para mim, agora, com 54 anos, Abril faz sentido. Não, não estou frustrada. Sinto que em 74 alguém abriu um enorme portão de possíveis, permitindo-me, a mim e a todos, crescer em Liberdade, fazer escolhas, votar. O que me frustra agora, 40 anos depois, não é Abril mas o desinteresse de muitos portugueses pelo que Abril significa. Para mim, poder pensar e falar, poder votar, nunca será frustração. Abril não é de alguns e, penso, está a acontecer e não está esgotado.
Fernando Pessoa, dirigindo-se a todos nós, dizia "Senhor, falta cumprir-se Portugal!". A mim, apetece-me dizer "Portugueses, falta cumprir-se a essência de 74"!
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