Todas as manhãs se repetia a rotina: - sair de casa depois de uma caneca bem cheia de café preto-preto, apanhar o taxi aquático e navegar, embalada pelas águas que conhecia já tão bem, até ao local de trabalho. Depois, entrava, ligava o computador e começava o teclar apressado, a resposta a mails, as reuniões onde registava tido para, depois, apresentar resumido aos seus chefes. Fugira para Roterdão na idade em que parece já não ser possível mudar. Fugira da solidão, do desalento, da desilusão também.
Recusara sempre esgotar-se nos filhos, ser a avó chata, a mãe incómoda que era preciso não deixar sozinha. Falhara três relações e não tinha forças para tentar mais. Partira.
Sempre gostara da Holanda e, assim, aceitara aquele lugar de tradutora, despedira-se dos alunos e fizera a mala. Há sete anos já que estava ali, e gostava. Gostava da independência de poder fazer o que lhe apetecia, gostava de explorar a velha Europa. Mas gostava ainda, mais do que tudo, de sentir que não pesava em ninguém e que podia morrer ali, em paz, sem forçar ninguém a ter pena...
Tu nem penses em ir embora! Nós precisamos de ti cá, não tenhas ideias...
ResponderEliminarLena