Era um sonho antigo. Em jovem muitas vezes pensara realizá-lo, contrariando os adultos, desrespeitando a família. Mas faltara a coragem, o dinheiro, a oportunidade talvez. Depois, a vida impusera tantos teres de ser, tantas urgências, que ela mesma ficara esquecida. Perdera-se de si, dizia, muitas vezes, brincando com as netas que, fazendo parte de um mundo diferente, partiam e chegavam com uma frequência que a entontecia.
Agora, ao abrigo da eufemística 3ª idade, tinha, finalmente, tempo para si... Sendo tarde demais, era o possível e ela queria, por isso, viver todos os possíveis. Decidida, fizera a mala, a mala de rodinhas que o filho há anos lhe oferecera, comprara o bilhete do combóio e partira. Sozinha. Numa solidão feita sempre da boa companhia dos indispensáveis livros, das mil memórias, das incontáveis saudades e dos ainda muitos sonhos. Ia a Paris. A sua cidade. A do amor, a da ternura, a da música, a da Arte. Ali fora muitas vezes, noutros tempos, deixando sempre algo por ver, algo por visitar. Desta vez, jurara a si mesma, nada ficaria por esquadrinhar. É que, agora, vivia o seu último tempo. E é sempre tempo quando a vida apetece.
Por vezes é bom viajar sozinho.
ResponderEliminarLevar por companhia os pensamentos, os livros, as recordações e os sonhos.
Sobretudo levar a vontade de ir, de partir, de escolher o percurso.
Cumprimentos
Que boa ideia essa: ir a Paris de comboio. Outra vez.
ResponderEliminarAdoro os comboios (e os policiais - filmes ou livros-) que se passam nos comboios (tem acento ou não? pelo acordo ortográfico...?)
beijinhos
M.J
Mas a Setôra pr'onde é que vai já, ainda agora chegou aqui?
ResponderEliminarAinda há pouco veio de Londres, já quer ir para Paris de comboio? É muito bom andar de comboio, a independência, a liberdade duma viagem de comboio com mala de rodinhas, mas a Senhora ainda não está na terceira idade!!
A Setôra tem de estar aqui, escrevendo, "a roer o silêncio"...