Estava ali no meio do campo. Bom, no meio não. Verdade-verdadinha estava encostado à berma, em ferro, recém-pintado, parecendo até um pouco envergonhado por quebrar os tons de castanho que pintavam o entardecer alentejano. À primeira vista, podia ser confundido com uma bengala. Mas não o era. Não saía do mesmo lugar, não podia amparar ninguém. Sugeria, também, uma muleta. Mas nenhum coxo gostaria de ficar ali, colado ao velho muro de pedra.
De facto, o grito verde de ferro era apenas um intruso. Uma aberração na paisagem, uma chocante presença, uma atracção para olhares mais curiosos. Estava a mais. Sentia-se desenquadrado, diferente, sem iguais, sem apoio, sem grupo. No entanto, gostava da sua identidade diferente. Da sua força e firmeza, também. Era um ferro, mas podia bem ser uma pessoa. Assim mesmo, sozinha, isolada, destoando da paisagem.
Um intruso como muitos que nos vão aparecendo na vida. Mesmo estando perto, mesmo habitando o mesmo tecto, coisas ou gente que nada nos diz, que não nos apetece, que tentamos ignorar.
ResponderEliminarVerdadeiros intrusos e tropeços na vida.
Cumprimentos.