A última obra de Isabel Allende é diferente. Mantém-se o Chile, a história de um povo marcado por magia e mistério, por opressão e poesia, mas surge uma jovem produto de uma América deprimida. Maya é uma americana, filha de uma família desfeita, educada por um avô que adora e cuja morte lança num poço de vícios. Vem a droga, a prostituição, a violência, o crime consentido, a degradação de um ser humano. Mas vem, também, a força das raízes, a mão da amizade, a ternura dos animais e a importância que os lugares exercem na vida de cada um de nós. Maya encontra as raízes e transforma-se. Porque quem é pertence a algum lugar e não há, para Isabel Allende e para mim, gente de nenhures. Sophia de Mello Breyner dizia "Metade da minha alma é maresia" e eu acredito que metade da alma de cada pessoa pertence, de facto, ao lugar onde se tornou pessoa. Maya cresceu num lugar sem referências, sem identidade, sem espaço para a individualidade e, para se encontrar, precisou da presença dos leões marinhos, da professora Bianca, do velho Manuel, do pequeno Juanito.
Conheço bem a obra de Isabel Allende, nunca esquecerei o Plano Infinito!, e este último romance surpreendeu-me pelo cenário desumanamente urbano. Maya é dolorosamente real. É o resultado de um mundo de desamor, de desatenção, de solidão também. Ao mesmo tempo, a protagonista diz-nos que bastam os afectos, os mergulhos de um leão marinho, o silêncio de um amigo, para que a vida ganhe sentido. Ao ler O Caderno de Maya, senti que, como Isabel Alende (que pretensiosismo talvez) também eu envelheci.
Não há dúvida que o local faz a pessoa: o ambiente que nos rodeia vai-nos moldando o ser, vai-nos esculpindo o carácter, determinando as ambições, definindo o modo de viver...
ResponderEliminarO resto de nós é o que se herda, é o que nos foi transmitido, é o que aculturámos na infância...
Cumprimentos.
Penso também, que todos nós, vivemos,seja onde for, com a força das raízes.«Não há mesmo, gente de nenhúres».
ResponderEliminarQuase, a alma toda de cada um de nós, pertence ao lugar onde nos fizemos gente!
Daí, sempre a procura do regresso às origens de quem se reforma, como exemplo flagrante.
As pessoas que estão fora do lugar de origem, vivem provisoriamente;ou seja, quase sempre, sobrevivem...