Roubaram uma galinha da capoeira. Quem seria? Quem entraria para levar, apenas, uma galinha? Sim, é estranho porque, nos tempos que correm, com a fome que há, esperar-se-ia que se roubassem as galinhas todas, o galo branco, os coelhos e até o perú que sobreviveu ao Natal. Esperava-se mesmo, acho eu, que se roubassem os sacos de farelos e de milho, as couves greladas, o pão aguado, as cascas de melão e de batata. Mas não. Este ladrão é comedido e, à cautela ainda assim não fossem galinhas velhas, levou só uma franga gorda... Fomos investigar. Sim, podia ter sido uma raposa, ou um saca-rabos. Não, é impossível, a capoeira lembra Auschwitz, está bem aramada. Mas um bicho podia saltar. Não, não ia ser capaz. E o diálogo continuava aceso. A velha senhora lamentava-se, e agora? E se vêm buscar o resto da bicharada? Ora, se quisessem tinham levado já, tentamos nós consolá-la.
O roubo da galinha, ou o seu desaparecimento, lembrou-me as velhas histórias de infância. Imaginei uma raposa vermelha, rabo farto, espreitando o nosso susto e selecionando, enquanto tirava dos bigodes as últimas penas, o seu jantar de hoje. Se a raposa hoje voltar, vou ficar rezando para que escape à armadilha que lhe colocaram e consiga levar o galo branco peneiroso. Eu tenho uma predileção pela astúcia corajosa das raposas, que hei-de fazer?
Também gosto de raposas: são espertas, ardilosas, matreiras, elegantes e de olhar vivo.
ResponderEliminarCostumava ter uma na quinta que, por vezes, se punha, lá do fundo, a olhar as pessoas, como a perguntar-lhes porque é que ali não tinham galinhas, nem frangos, nem coelhos para ela poder pilhar à vontade?
A raposa que faz de gola ao meu capote e à minha samarra foi atropelada há muitos anos, na estrada junto à estação... ainda no tempo em que havia comboios!
Cumprimentos.
Coitadinha da raposa que está na gola deste senhor...
ResponderEliminarNa minha terra, quando desapareciam as galinhas, as pessoas iam espreitar os galinheiros uns dos outros,ou perscutavam, como quem não quer a coisa...,se alguém havia comido arroz de cabidela ou canja, nesse dia do "desvio". E,às vezes, até encontravam a dita franga ou frango, noutro vizinho,´comprada a alguém que a tinha ido lá vender!!
Se a pessoa que roubou era muito pobre ,faziam vista grossa e olhares desentendidos...
Ainda, também, recorriam a responsar a Santo António...ai jasus...!, e elas acabavam por regressar à origem(ás vezes a própria pessoa que roubou ajudava ao responso)...
Mas, como os mimos, chegavam escassos ao rapazes em idades de estudo, muitas vezes eles próprios se organizavam e levavam à vez, um qualquer galináceo da capoeira da avó ou da mãe e, ou de familiares, com o fim de uma patuscada para todos!
Vá-se lá saber, como seria, "o desta franguinha gorda"...