terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Dia dos Namorados

É uma importação, mais uma..., e num instante se fez lei neste país que tudo aceita. A 14 de fevereiro, multiplicam-se os corações vermelhos, esgotam-se as flores, compram-se chocolates e partilham-se jantares românticos. Sem gostar de "dias", acho que de nenhum dia..., gosto de lembrar os namorados, de recordar jantares especiais e presentes diferentes. Na escola, vejo olhares mais brilhantes, beijinhos mais repenicados e vontade de sorrir mais frequente. Gosto de ver os meus miúdos assim, a desfrutarem daquela coisa que os poetas dizem ser amor e que, no mundo actual, anda muitas vezes disfarçado de aparências e conveniências.
Se eu mandasse, só para chatear o dr. Passos Coelho, no dia 14 de fevereiro mandava o país fechar às seis da tarde para que fosse possível homenagear convenientemente o Amor. Como não posso, deixo no meu espaço, nesta janela às vezes muito incómoda para mim, o meu elogio ao sentimento Maior:

Para quem não sabe como é

(como se escreve um poema de amor)
eu vou dizer.
Como se estivesse apaixonado
Falar desse teu corpo exagerado
Que apenas aos meus olhos ganha cor,
De um coração em mim ante estreado
Num palco onde jurei fazer-te amor.
Esculpir esses cabelos impossíveis
Que nunca mãos algumas alisaram,

 
Desflorar esses vales inacessíveis
Onde os outros de vésperas naufragaram.
Contar como se ardesse de desejo
As pernas de cetim que tu me abriste
E a boca que se derreteu num beijo,
Soluço de sorriso que desiste.

Dizer, porquê? Se todo o mundo sabe
Que quando se ama não se escreve
E que, então, o tempo todo cabe
Naquele instante breve que se teve.
Contar o resto seria apenas feio,
Sentir o que não foi, deselegante.
Falar do que te disse pelo meio
Só se não fosse homem, nem amante

Fernando Tavares Rodrigues



3 comentários:

  1. É mais um dia para celebrar o amor, um dia para manifestações de beijos, de abraços, um dia para encontros, jantares à luz das velas...

    Como todos os dias deveriam ser...

    Cumprimentos.

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  2. Humm... Como diziam aqui isto tudo, eu cá fiquei à espera...,mas não aconteceu nadinha...

    Belo poema; um pouco cru...

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  3. HORA 17

    quando admiramos
    faz-se em nós um grande silêncio,

    estende-se horizontal no ar
    uma toalha de festa,
    de júbilo solitário.

    como uma última ceia
    a que só a toalha de mesa
    tivesse comparecido.

    e se algo
    se ergue

    é ao longo de séculos,

    quando já a imagem
    esmagou os olhos
    de fadiga...

    mas quando amamos,

    uma vaga azul
    nos atravessa por dentro,
    como um mar de febre
    que faz estremecer o corpo
    até às suas mais
    pequenas vagas,

    e nos projecta
    para a acção,

    quais cavalos esporeados
    por deus
    junto ao precipício.

    Vítor de Oliveira Jorge (In Livro de Horas)

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