segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Peanuts

A água gelara no cano. Por mais que abrisse a fechsse a torneira, não conseguia mais do que um fio fraco, fraquíssimo, tão fraco que o esquentador, surpreso, se recusava a disparar. A solução estava à vista: - recuperar hábitos antigos, aquecer a cafeteira eléctrica e lavar-se, dizia a avó no eco do tempo, por partes. O problema mesmo era a parte de cima, os cabelos compridos, a necessidade de eliminar o shampoo completamente, o desconforto doloroso de sentir a água gelada escorrer pelas costas até ao fundo que, de acordo com as normas, deveria representar a outra parte, logo, esperar o seu momento de usar a água da cefeteira eléctrica.
Passada a lavagem das partes todas, veio o secar o cabelo. O secador de viagem, bem prático quando longe de casa, deu o seu melhor. Mas o frio, a falta de uso (que o tempo não está para viagens), o cabelo excessivamento longo, cansaram-no e mostrou a sua fúria cuspindo fogo. Um susto, e o cabelo ainda molhado! Recorreu ao ventilador, quem não tem cão caça com gato, e lá conseguiu, pelo menos, aquecer as ideias. Era tempo, tiritando embora, de dar de comer aos cães e sair para trabalhar. Na despensa encontrou o saco vazio. Bem sacudiu e bateu no fundo, mas nada. Para pequeno-almoço dos bichos cozeu a correr uma mão-cheia de arroz.
Saíu finalmente de casa, cabelo húmido e gelada, mas, ainda assim, rindo das partidas da vida. Seria, talvez, uma manhã complicada para pioneiros de dificuldades. Para si, não. Era catedrática de problemas e uma manhã assim eram  peanuts existênciais. Apenas.

3 comentários:

  1. De vez em quando sabe bem recordar das dificuldades do antigamente... ou não será uma forma de tirocínio para tempos que se adivinham?

    Cumprimentos.

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  2. Giro...!
    Mais logo, no regresso a casa, até se vai rir das atrapalhações da manhã.-Que horror, falhar a água quente e a cabeça ensaboada...faço ideia o que a Setôra "disse de repente"...!?
    Acontece tanto, esses falhanços em cadeia a todos nós.
    Mas foi óptimo ainda conseguir deixar o arrozinho cozido para os cães! Boa alma nos dias que correm...

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