A água gelara no cano. Por mais que abrisse a fechsse a torneira, não conseguia mais do que um fio fraco, fraquíssimo, tão fraco que o esquentador, surpreso, se recusava a disparar. A solução estava à vista: - recuperar hábitos antigos, aquecer a cafeteira eléctrica e lavar-se, dizia a avó no eco do tempo, por partes. O problema mesmo era a parte de cima, os cabelos compridos, a necessidade de eliminar o shampoo completamente, o desconforto doloroso de sentir a água gelada escorrer pelas costas até ao fundo que, de acordo com as normas, deveria representar a outra parte, logo, esperar o seu momento de usar a água da cefeteira eléctrica.
Passada a lavagem das partes todas, veio o secar o cabelo. O secador de viagem, bem prático quando longe de casa, deu o seu melhor. Mas o frio, a falta de uso (que o tempo não está para viagens), o cabelo excessivamento longo, cansaram-no e mostrou a sua fúria cuspindo fogo. Um susto, e o cabelo ainda molhado! Recorreu ao ventilador, quem não tem cão caça com gato, e lá conseguiu, pelo menos, aquecer as ideias. Era tempo, tiritando embora, de dar de comer aos cães e sair para trabalhar. Na despensa encontrou o saco vazio. Bem sacudiu e bateu no fundo, mas nada. Para pequeno-almoço dos bichos cozeu a correr uma mão-cheia de arroz.
Saíu finalmente de casa, cabelo húmido e gelada, mas, ainda assim, rindo das partidas da vida. Seria, talvez, uma manhã complicada para pioneiros de dificuldades. Para si, não. Era catedrática de problemas e uma manhã assim eram peanuts existênciais. Apenas.
De vez em quando sabe bem recordar das dificuldades do antigamente... ou não será uma forma de tirocínio para tempos que se adivinham?
ResponderEliminarCumprimentos.
Giro...!
ResponderEliminarMais logo, no regresso a casa, até se vai rir das atrapalhações da manhã.-Que horror, falhar a água quente e a cabeça ensaboada...faço ideia o que a Setôra "disse de repente"...!?
Acontece tanto, esses falhanços em cadeia a todos nós.
Mas foi óptimo ainda conseguir deixar o arrozinho cozido para os cães! Boa alma nos dias que correm...
Boa conclusão!!!
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