Podia chamar-se Andreia, Rosa, Deolinda ou até Asdrubalina. Matilde é, apenas, um nome possível para uma mulher possível. A Matilde tem três filhos, em escadinha, entre os quinze e os sete anos, e faz parte das estatísticas das famílias monoparentais. Ou seja, está divorciada. Não é uma personagem famosa, não tem nada que a distinga de outras mulheres da sua geração. A Matilde vive numa cidade pequena, trabalha como modista e todos os dias, depois do duche matinal, coloca na cara um sorriso cuidado. A Matilde sabe que tristezas não pagam dívidas, que as clientes gostam do seu ar disponível e bem disposto, que as lágrimas da noite devem pertencer apenas à sua intimidade solitária.
Hoje, o filho mais velho, e tão criança ainda, anunciou que ia para a praia, acampar, com um grupo de amigos. A alma de Matilde encolheu-se, o sorriso desalinhou-se, mas ajudou-o a preparar a mochila, deu-lhe o dinheiro disponível no autocarro inglês de lata que uma cliente lhe ofereceu e ainda lhe fez um bolo do coco com receita reforçada. Depois, abraçou-o e viu-o partir, com mais cinco jovens, a caminho da Rodoviária, rumo à Costa Alentejana.
Agora, Matilde ouve os mais novos que brincam na pequena sala, corta cuidadosamente a saia da dona Alice e pensa que tem de retocar o sorriso. Matilde sabe que a hora é de calar a dor, de trancar a ansiedade e de sufocar a angústia. Matilde sabe que ser mulher não é, infelizmente, ter um corpo perfeito e viver feliz! Matilde sabe que, em breve, todos partirão e o silêncio tomará conta de toda a casa.
Mas Matilde sabe, também, que um dia o seu sorriso não precisará ser colocado, porque surgirá natural e verdadeiro.
Grande Matilde! Que bom dar esses sorrisos para quem aparece!
ResponderEliminarVai correr bem o acampamento do seu filho...,vai ver.Ele aprendeu muito com esse sorriso que lhe ofereceu a ele também, e sabe que o ama e o espera ansiosamente.
Força Matilde!
Hoje deixo-lhe um beijo a si!
As Matildes são os verdadeiros lideres do mundo!!