No Verão acontecem as visitas, os amigos de longe que aparecem para passar uns dias, para conversar e, às vezes, para recuperar memórias. Foi o que me aconteceu este fim-de-semana e, por causa disso, voltei a ser turista em Portalegre, na minha cidade. Comecei pelo Museu Guy Fino, as tapeçarias únicas no Mundo, guiada por uma antiga aluna que é clara na exposição, atenta aos visitantes e apaixonada pelo que mostra. Encontrei uma exposição de Graça Morais, que ainda não tinha visto, e voltei a surpreender-me com o traço surreal de Cruzeiro Seixas. Indiferente ao calor, levei os meus amigos a São Bernardo (o obrigatório túmulo de D. Jorge de Mello e os azulejos vivos), lamentando que a GNR nos tivesse vedado o acesso por faltarem dez minutos para as cinco... Paciência, visita adiada para a manhã seguinte, e a roda a rodar, os claustros frescos a protegerem-nos, as histórias de amores ilícitos (há amor ilícito?) a prenderem a atenção de todos. Seguiu-se José Régio, a coleção de mais de 400 Cristos, a arte popular, a marca de um Homem no espaço que adoptou. De novo me comovi ao subir as escadinha estreita "Tenho ao cimo da escada, de maneira que logo entrando os olhos me dão dela// uma Nossa Senhora de madeira arrancada a um calvário de capela(...)." Recebi o olhar triste, e ainda assim esperançoso sempre, do Cristo salvo das chamas e saí da Casa com um véu ténue na alma que anda a monte. Entramos então na Igreja de São Francisco, recentemente aberta ao público, e a surpresa foi imensa! É um espaço fantástico, intenso no branco e no vazio propositado, onde as peças expostas conversam directamente connosco. Gostei do espaço infantil, finalmente começa a aperceber-se que é na infância que se começa a educação cultural, e deliciei-me com a exposição de Francisco Ladeira (quem sai aos seus...). Houve ainda tempo para mostrar a cidade toda, branca e linda, vista do velho Convento de Stº António infelizmente à venda e a cair. Talvez Portalegre não seja a cidade perfeita, talvez esteja a entristecer - como o país -, mas é a minha cidade e eu sinto-me bem nela. É bom pisar lugares que se amam, é bom ver partir os amigos prometendo voltar porque: - Dois dias não chegam para ver Portalegre, ainda fica muito por visitar!
Luisa
ResponderEliminarHá 39anos pisei pela primeira vez em Portalegre, era então a Luisa uma adolescente que lembro ao lado da sua mãe então minha colega. A Luisa cresceu, tornou-se por sua vez minha colega e professora dos meus rapazes... no entanto do meu ponto de vista a cidade pouco mudou e essa mudança não foi para melhor. Pode ter crescido, eventualmente melhorado os seus museus e uma ou outra infra estrutura, mas hoje tem um ar desprezado, repare-se na fachada da Sé Catedral! No Alentejo onde toda a gente sabe pegar numa brocha e num balde de cal ela, está assim como está! E então a limpeza das ruas? A monstruosidade da chamada "rotunda dos supermercados" onde aquela obra já sem repuxos se vai desmoronando? E que dizer do pseudo moderno jardim do Tarro onde os bancos estão virados,não para o interior relvado mas para as ruas onde os carros lançam o seu CO2?
Por tudo isto eu acho que está pior do que quando no longínquo dia 2 de Agosto de 1974 pisei a cidade pela primeira vez!
Tem razão, Dalma, a cidade está degradada e o famoso Pólis só estragou. A Dalma, que é de geografia, talvez compreenda porque razão as cidades abandonaram os centros históricos. Pessoalmente, e porque adoro Portalegre, tenho imensa pena do mal que têm feito à minha terra e, talvez por isso, gosto de valorizar o que encontro de bom...
EliminarSim, Luísa, sei, aconteceu por vários motivos entre os quais p. ex. a estrutura acanhada dos centros, ruas estreitas, tortas... incompatíveis a maior parte das vezes com o automóvel; o ser mais dispendioso reabilitar do que construir;grande afluxo do campo para a cidade e a necessidade de construir rápido e em terrenos baratos, além das comodidades que as casas novas ofereciam, como factor de atração, etc.etc.etc.
EliminarFelizmente que hoje a perspectiva é outra e que a gente nova já aprecia viver em apartamentos super cómodos nas partes antigas! O H tem um excelente 4º andar na Rua dos Fanqueiros e o A depois de viver num lindo e moderno T1, há coisa de meio ano mudou-se para uma casa remodelada, linda, por de trás do Coliseu com um belo jardim e Lisboa aos pés. Já mais teria pensado que na parte velha da cidade houvesse casas assim! Assim muito devagarinho e sobretudo nas grandes cidades as "baixas" estão a repovoar-se.