Ando com azar. Ou ando com pouco jeito para escolher as minhas leituras... Depois de uma incursão nos novos autores portugueses, jovens que, na sua maioria, procuram desesperadamente a originalidade através do absurdo e da linguagem violenta e mal-cheirosa, (excepção para o Domingos Amaral e para o João Miguel Tavares), decidi ler o romance "Uma morte súbita", da autoria de J.K. Rowling, a autora da saga Herry Potter que os meus alunos pequenos devoram (em DVD's claro...). Goste-se ou não deste tipo de literatura, penso que é inegável tratar-se de uma escritora com imaginação fértil, capaz de criar enredos de suspense e de nos surpreender com a forma como trabalha o fantástico. Assim, esperava que o romance para adultos, obviamente num registo diferente, fosse capaz de manter viva a imaginação da autora. No entanto, para meu azar, isso não acontece. Em "Uma morte súbita" somos levados para o interior de Inglaterra, para os arredores de Londres, para partilharmos o quotidiano de uma comunidade estranha. Predominam os ambientes degradados, a prostituição, a toxicodependência, a violência sob todas as formas, o podre de uma pequena sociedade que, de acordo com a autora, sumariza a sociedade geral. De novo, para meu descontentamento, abundam os palavrões, as palavras mordidas e cortadas, o linguajar que fere e destrói.
Não sou moralista, sou até defensora da ideia de que é mais importante ser-se feliz do que ser-se perfeito, mas não consigo ficar indiferente à vulgaridade reles. Acabei de ler 494 páginas de lixo humano e, gozando o sol e a praia, sinto-me suja e incomodada pelo horror de que me encheram as páginas lidas.
Talvez estejamos a viver um período literário marcado por um realismo generalista e arrasador. Talvez. Mas eu, que ainda acredito, como Antero de Quental há mais de 100 anos, que a palavra é poderosa, gosto mais de uma literatura que traz algo de novo, que incomoda porque liberta, e não que incomoda porque destrói.
Vou voltar ao meu Aquilino, vou revisitar o Vergílio! Preciso lavar a alma.
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