Insistem que este calor sufocante, o céu velado, a humidade que cola a roupa ao corpo, é um calor tropical, fenómeno provocado pelas múltiplas agressões ao ambiente que o homem tem feito. Mas não me convencem! Para mim, foi o demónio que resolveu abrir a porta do inferno e, agora, está feliz a ver-nos sofrer. Imagino-o empoleirado nos candeeiros das cidades, nos telhados das casas de campo, nos enormes ninhos de cegonhas que enquadram as estradas, vendo-nos a sufocar, a derreter, e a tentarmos encontrar justificação para o absurdo. Ele, o diabo, sabe que não há justificação para o mal, seja ele qual for, e deve estar satisfeito por poder, assim, castigar-nos pela nossa ousadia de o negarmos. Sim, porque eu não tenho dúvidas que o diabo existe, obviamente é macho, e diverte-se a moer-nos a paciência. Esta noite, ouvi-o rir e, logo de manhã, percebi que andou pela Assembleia da República, que dormiu perto do Ministro Relvas, que visitou os espanhois e descarregou a seu terrível humor nos italianos. Este demónio, que quer assar-nos em vida, está a tirar-me do sério!
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