Era uma rua larga, uma avenida talvez, e ela caminhava sem rumo. Melhor, ela tinha um rumo, um rumo colectivo - a felicidade -, mas desconhecia onde estava e, por isso, caminhava levada por passos alheios, por presenças estranhas, na cidade grande onde sobrevivia. Repetia aquele caminho há anos, sete? dez?, nem sabia já. Era o caminho para o emprego, notária de referência, para o lugar onde esgotava as horas entre a eficiência de que se orgulhava e as conversas de circunstância, formais, correctas e frias. Enrolou-se no casaco sentindo a chuvinha húmida e tardia, fora de tempo, como ela que se sentia fora do Tempo. Mentalmente, reviu a vida, a sua. Viera de longe, de uma aldeia insignificante para lá do Douro, das terras do demo, cheia de sonhos e ambições. Estudara, casara, vira crescer os filhos e partir o marido. Restava-lhe, agora, ela mesma e, às vezes, o nosso eu é incrivelmente pouco...
O Eu só, muitas vezes, é quase nada porque lhe falta o Complemento.
ResponderEliminarO Eu e ou Outro, completando-se, cumpliciando-se, integrando-se.
Cumprimentos.
Às vezes no silêncio da noite fico imaginando, sonhando, juntando o antes, o agora e o depois, muito para além do meu eu.
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