Recebeu-o sorrindo. Era um sorriso triste, cansado, de desistência talvez, denunciador de muitas desilusões, de batalhas perdidas decerto. Ele sorriu também, aceitando a chave do quarto, que ela, gentilmente, lhe estendia. Não precisava de nada, obrigado, mas ela, sempre sorrindo, insistia numa garrafinha de água, ou, quem sabe, talvez um Porto... A custo, conseguiu afastá-la e fechar a porta. Procurara aquele lugar remoto, descoberta ocasional na net, para, exactamente, se isolar e trabalhar. Precisava concluir um relatório, precisava descansar, precisava do silêncio. Precisava, e custava-lhe reconhecer, de se afastar do lugar que ficara vazio. Dolorosamente vazio. Agora, absurdamente, tinha tempo. Tempo para sair, para ouvir a senhora de sorriso cansado, para recusar o Porto. Porque, de repente, ou não tão de repente assim..., o tempo esticava e ele podia aquilo que nunca pudera antes quando outra mulher, outro sorriso, o procuravam. Quantas vezes a deixara sozinha, a encontrara já dormindo, conversando apenas por sms ou rápidos emails? Quantas vezes ignorara os pedidos de companhia, de presença, de cumplicidade e partilha? Agora, era tarde. Ela partira, sem alarde nem lágrimas, constatando o fim inadiável. Ele ficara. Dela guardava, agora, o sorriso triste. Magoado e desencantado também.
Tantas histórias assim...
ResponderEliminarTantas vidas semelhantes...
Tantas solidões feitas...
Tantas mágoas...
Mas, ao mesmo tempo tempo, tantas esperanças, tantas certezas, tantos quereres...
Cumprimentos
são partidas, chegadas, enfim, a vida cumprir-se
ResponderEliminar