O sono fugiu, escondeu-se algures, e fico ouvindo a cidade grande. É uma noite de Verão, abri a janela e sinto o cheiro do Tejo que corre perto.
O silêncio da noite urbana é diferente do silêncio que, habitualmente, me acompanha quando o sono emigra. Aqui, as vozes das cigarras são sirenes, as ralas soam a buzinas apressadas e, em vez do ladrar conhecido dos meus cães, oiço as patas irrequietas da cadelinha do segundo andar. São os espaços, os ambientes, os odores, a atravessarem a minha essência baralhando a minha existência.
A cidade grande, os uivos doridos das ambulâncias, as travagens violentas dos amantes da noite, soam estranhamente na minha insónia. Vêm, intrusas incómodas, as memórias de outras noites de Verão. Noites de caipirinha a sabor a mar, de música a embalar-me o desejo, de luzinhas semeadas no oceano calmo do Algarve da minha juventude. Afasto as memórias, (lembro o velho "para trás mija a burra..."), e sonho os possíveis que tenho de ousar construir. De novo o silêncio. Agora, o que vem de dentro, feito medo e ausência de resposta. Silêncio só.
É a insónia na cidade grande.
Diferentes os silêncios, diferentes os locais.
ResponderEliminarO silêncio, com ralas ou com buzinas, com ladrares ou travagens, com pios ou com gritos, traz memórias, evoca passados, mas também chama sonhos, alimenta esperanças, pensa futuros.
O silêncio, como as lágrimas, faz parte do nosso existir, do nosso viver, do nosso crescer!
Cumprimentos.