O céu escuro, almofada negra, faz-lhe companhia. A estrada, por sua conta, brilha lavada e, hesitantes, esvoaçam pardais. Nas bermas há automóveis parados, é tempo de caça, e ela circula na companhia da sua música. Tem tempo, dormir é algo que faz pouco, saíu cedo, pode conceder-se o luxo de aproveitar os quilómetros para esticar o tempo. É a última jornada de trabalho para aquele lugar distante, mais de 140 kms, e leva consigo, consciente mas involuntariamente, a nostalgia do fim.
Há dois meses que iniciou o trabalho, sessões de três horas, muita discussão, muitos desafios, projectos de mudança ousada. Agora, sente que lançou sementes, que algumas ideias germinarão, mas já tem saudades das aprendizagens partilhadas, das gargalhadas, de algumas angústias também. É o fim da sua tarefa, ali. E há sempre um fim. Um fim que a atormenta, ainda que não surpreenda, que a emociona sem remédio. Na calma da viagem, decide-se contar os fins que viveu já. Tantos! Os dedos não chegam. Houve fins de alívio, fins de desespero, fins de imposição, ... Ainda assim, sempre os fins de desilusão doem mais.
Hoje, Obrigada Deus!, o fim não era de doer.
Amanhã?
Nem todo o fim é doloroso...
ResponderEliminarBeijo
Se é o fim de uma coisa que desagrada, que violenta, que despedaça, que ofende, que se torna insuportável... abençoado fim.
ResponderEliminarAté poderá dizer-se que é um final feliz.
Agora, se é fim de uma coisa boa, de um viver de harmonia, de um mundo de afectos, de uma cumplicidade de amor... esse fim não deve existir.
Não tenha mais fins... mas recomeços, dos bons!
Ricardo
A vida é feita de principios e fins.De viagens, projectos e desafios, também com principio e fim.
ResponderEliminarMas, bom, ter a estrada por nossa conta.
E melhor se este fim é positivo!
O fim pode levar ao começo de outra coisa: quem sabe o que aí vem? mais "sementes" a lançar, mais entusiasmos, mais enebriamentos com a vida, com as pessoas.
ResponderEliminarComo tu dizes sempre, mais "sentires"!
Um grande beijo