Escolhe a mesa próxima da praia, mesmo em cima da grade quadriculada que limita a esplanada, e espera. Olha em volta, corpos bronzeados, casais, crianças eléctricas pedindo gelados. Ao longe, para lá da barreira, morre aos poucos a praia, arrumam-se sacos, chamam-se os mais pequenos, enrolam-se toalhas e sacode-se a areia, agora incómoda. Os mais resistentes ousam um mergulho mais na água gelada e as gaivotas, impacientes por recuperar o espaço que julgam pertencer-lhes, mergulham indignadas. A água parece suja, marcas de barcos e gente, e simultaneamente espelhada. A espaços soa o combóio, assustador até, carregado de gente que ainda trabalha, de outros que roubam, dos que passeiam apenas. Ele deixa-se ficar, na mesa solitária, indiferente ao facto do empregado insistir em ignorá-lo. O que espera? Nada, porque nada há para esperar. O fim apenas, de mais um dia, e, se o empregado o permitir, uma caipirinha para ver o por-do-sol. Podia desfiar memórias mas, hoje, é mesmo a espera que desfruta.
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