A minha alma é triste como um sobreiro amputado. Podia ser Caeiro, o guardador de rebanhos, se ele tivesse vivido no Alentejo. Mas não é Caeiro. Não é poesia sequer. É, apenas, a minha alma a escurecer, por antinomia ao sol intenso de uma natureza desordenada.
Olho, procuro ver, e, talvez ofuscada pelo sol nu, não compreendo o que encaro. Doem-me os pensares, tremem os sentires. A minha alma fecha-se como a tartaruga, mas a casca parece não resistir.
Chovem pedradas moles, feitas de palavras negras, que me tornam os olhos fontes. Vivo. Ou não vivo e, apenas, vejo a vida passar, faço escala nas muitas estações e vou deixando, no percurso, a minha bagagem real, portadora de um bilhete que não comprei e que, exigem-me, devo apresentar ao cobrador.
Um dia, sei-o bem, vou chegar. Será a última estação e, temo, não reconhecerei a paisagem, não serei capaz de identificar os espaços onde fui perdendo a bagagem.
Espere no apeadeiro da vida, de bagagem pronta e com um bilhete de volta à esperança.
ResponderEliminarVai ver que a viagem vale a pena.
Cumprimentos.
Ó Setôra Luísa Moreira, isso que sente, não será por causa de o sol andar baixo, como diz o nosso povo?...
ResponderEliminarMas o tempo assim até vai alegre..
Porque não, uma praiazinha com uma caipirinha, no fim de semana para animar...e pronto?
Alijar de carga
ResponderEliminarHouve que alijar a carga.
A viagem é longa
e este percurso é pessoal, solitário,
além de que não é licito
o retrocesso.
Não há outra maneira de contornar
a realidade, desde que
passámos a adquirir um bilhete.
Ficou para trás a linha de flamingos
na língua da areia.
Ficou a rapariga do bar da Foz,
com que olhos azuis enchendo o ar...
Ficou o velho das castanhas assadas,
envolto em fumarada.
Enfim ficou também o eléctrico amarelo em seu
fim de viagem.
No porão apenas vão:
o desagravo,
sabendo a sal,
e um mundo de interrogações.