É uma recta (deveria ser reta?), de bom piso, paisagem tranquila, radares escondidos e traiçoeiros, pouco movimento e horizonte largo, a que me leva até Arronches. Dantes, no tempo em que as rectas tinham a certeza dos "cês", Arronches era a terra dos porcos. Dizem que varas inteiras regressavam dos campos e cada porco seguia a caminho da sua pocilga sem nunca se enganar no destino. Dizem, e eu acredito, que as ruas empedradas da vila branca, em Arronches ainda predomina o branco, ficavam cheias de porcos ao final de cada dia.
Hoje, já não há porcos de quatro patas nas ruas, já não há varas a regressar ao pôr-do-sol, já não há razão para se chamar a Arronches a terra dos porcos. Hoje, as ruas estão vazias, os espaços entristeceram e, sempre que saio da escola pelas nove da noite, por companhia só tenho mesmo as lembranças das muitas estórias que sempre ouvi sobre esta vila linda!
Há pouco, circulando calmamente na recta (para mim com "cê"), com todo o tempo que a minha solidão me concede, deu-me para pensar nas coisas que se perdem nestes tempos de pseudo-modernidade. Hoje, esta noite, no meu canto sozinho penso que estamos a deixar morrer as coisas de ser. Lembro Caeiro, "as coisas não têm significação, têm existência" e concordo que, se calhar, a existência das coisas se faz, cada vez mais, de ausência de significação. Hoje, depois de circular na recta moderna, com os olhos embaciados de vazio, deu-me para pensar que gostaria de poder não sentir. Não pensar também me convinha.
Há pouco, circulando calmamente na recta (para mim com "cê"), com todo o tempo que a minha solidão me concede, deu-me para pensar nas coisas que se perdem nestes tempos de pseudo-modernidade. Hoje, esta noite, no meu canto sozinho penso que estamos a deixar morrer as coisas de ser. Lembro Caeiro, "as coisas não têm significação, têm existência" e concordo que, se calhar, a existência das coisas se faz, cada vez mais, de ausência de significação. Hoje, depois de circular na recta moderna, com os olhos embaciados de vazio, deu-me para pensar que gostaria de poder não sentir. Não pensar também me convinha.
Há alturas em que apetece não ter pensamentos, há momentos em que desejamos anestesiar os sentidos.
ResponderEliminarE talvez porque as rectas nos tiram a atenção das curvas e cruzamentos da estrada, parece que concentramos mais os pensamentos nas curvas e cruzamentos da vida.
Quantas vezes, nas noites longas, a caminho da minha "Ximena" (aonde fui buscar este nome?), nas rectas imensas daquela estrada escura, me encontro a pensar nas curvas que nos apertam a vida, nos "STOP" que, inopinadamente, surgem diante de nós, nos cruzamentos mal sinalizados que atrapalham os sonhos.
É mesmo verdade, as rectas (com ou sem c)dão-nos, muitas vezes, para pensar...
Cumprimentos.
Conheci Arronches há 37 anos atrás. Foi onde comi a minha pirmeira sopa à alentejana, num restaurante enfrente à bonita igreja . Havia sim , varas de porcos pela vila fora e também pela estrada, para além de rebanhos de ovelhas. Tudo era misturado na vivência das suas gentes, que, por sinal, eram pessoas muito dadas e ´simpáticas.Arronches sempre foi uma vila caiada de branco e fora do comum.As rectas e auto-estradas, o progresso, sempre tira as características originais aos lugares mais recônditos e encantadores...-fica tudo sem a tal significação!...
ResponderEliminarGostei! Não te deixes levar pelo Caeiro & outros amigos, é preciso pensar! mas às vezes também penso que quem pensa só dá cabo da vista...
ResponderEliminarBeijinhosssss
Querida, o maior problema da raça Humana é que pensa muito e sente pouco. Depois, pessoas de sentires,como tu, sentem que este mundo,esta realidade não vale a pena.
ResponderEliminarVamos nós,educadores, mostrar aos miúdos o quão importante é sentir!!
Eu aprendi-o contigo!