Eu sei que a idade, e a vida, me deveriam ter já ensinado a aceitar tudo sem revolta nem espanto. Devia ser capaz de manter o distanciamento, de encolher os ombros e sorrir face às aberrações do quotidiano. Devia. Pois, eu devia muita coisa, mas não consigo!!
É tarde, a noite está escura, e eu estou aqui teclando o meu desalento, a minha revolta, a minha frustração também. Eu não consigo aceitar, simplesmente aceitar, que o meu país me force a desempenhar mal a minha profissão, a pactuar com burlas que apelidam de educação.
Ontem, vivi uma situação profissional que nunca vou esquecer! Exigem-me que finja que ensine, mas que, de verdade, reduza ao mínimo os níveis de desempenho; exigem-me que pactue com uma formação profissional que deve ser, parece, apenas uma ocupação dos meninos. Dão-me uma turma de um Curso Profissional com 26 alunos, onde há, no mínimo, quatro indivíduos sinalizados como tendo necessidades educativas especiais (NEE) e querem que eu os integre, que os faça progredir (ainda que não aprender). E eu não sei como fazer isto. Nunca, no meu processo de formação, já longo, aprendi como ajudar alunos com estas caracteristícas a aprender e, com certeza, há-de haver estratégias específicas para o fazer. Mandam-me dar aulas de apoio, mais do mesmo..., e eu sei que essa não é a estratégia adequada!
Será que estes miúdos têm culpa das deficiências que têm? E eu tenho culpa de não ser competente nestas áreas? Sinto que o meu país desaprendeu a Verdade, esqueceu o humanismo e se viciou no faz de conta.
Sinto-me, profissionalmente, frustrada. Sinto que estou a desempenhar mal a minha função e isso revolta-me.
Dizem-me os colegas e os amigos que me conforme. Que de nada serve a minha irritação, a não ser para me consumir. Eu sei que têm razão. Sei que a minha revolta de nada serve, que estes miúdos especiais vão continuar a ser enganados por professores - EU - que fingem que os fazem aprender! Que os outros, os que querem mesmo ser profissionais, vão ficar aquem das suas expectativas, mas, mesmo sabendo tudo isto, sofro horrivelmente!
São quase 4 da manhã e o sono não vence as lágrimas que me atacam.
O meu país é um mau país!
O país que somos, o país que temos, as pessoas que são.
ResponderEliminarContinuamos a disfarçar o indisfarçável, a tapar o sol com uma peneira, a mostrar o que somos com aquilo que não somos.
Indigne-se, mas não deixe que a indignação lhe tire o sono, lhe roube a paz, lhe tire a tranquilidade.
Cumprimentos.
Também tenho uma turma de 23 alunos, que pode ir até 26 e tenho um aluno com deficiência (que me perturba bastante a turma)e sendo assim não devia ter mais de 20 (diz a lei).É muito desgastante.
ResponderEliminarHá dias em que venho desanimada, porque é impossível chegar a todos.Atender a tudo.
Também acordo às vezes a pensar na escola, nos alunos, no trabalho. Mas sei que não posso mudar o mundo. Não adianta andar de mau humor. Olhe Luísa, faço o que posso e tento também preservar a minha saúde mental.Há poucos anos andei muito perto duma depressão, mas não quero e não vou chegar aí. Doentes é que não podemos fazer nada.
Um abraço e faça só o que pode.
O nosso país está mesmo um mau país!
ResponderEliminarAs pessoas que têm essa noção, não se devem cansar de manifestar-se.Pode marcar a diferença. Pode alguém "lá da frente", que por acaso tenha também um pouco de honra e brio, comece a bulir algum cordelinho..a dar um primeiro passinho para a regeneração das nossas organizações.
Será que Portugal ainda é um país??
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