quinta-feira, 2 de abril de 2020

ESPANTO

É claro que o vírus, a Covid-19, não tem cor política. Não é de esquerda, não é de direita, não se confina às águas moles do centro. O Vírus não distingue os ricos dos pobres, os governantes dos governados, os inteligentes dos burros. O vírus é, penso, a coisa mais democrática que existe. Ataca todos por igual. E exige, por isso, respostas concertadas pelo mundo, questionando a organização social, centrada no egoísmo absurdo, da sociedade de hoje. 
Eu não acredito que tudo passe, que tudo fique bem. Não ficará bem para os que morreram, e morrerão, não ficará bem para os que perderam alguém, não ficará bem para os que perderam e trabalho, não ficará bem para ninguém. 
Este vírus horrível vem exigir da humanidade uma nova forma de vida. Talvez aprendamos a dar mais valor ao essencial, talvez olhemos cada amanhecer como um privilégio. Ou talvez, pelo contrário, a miséria aumente, a tristeza cresça e as injustiças proliferem. Ninguém sabe. E o facto de não sabermos oferece-nos, acho eu, um novo direito que há muito parecia perdido: - O direito ao espanto! O direito a optar por caminhos por fazer.
Este tempo horrível, poderá, quero acreditar, levar-nos a compreender como todos dependemos de todos, como somos essencialmente sociais, como sozinhos não vivemos, vegetamos. Este vírus assassino, este mostro invisível a olho nu, pode ser a metáfora da vida que há muito levamos. Seremos capazes de nos reinventar? A minha emoção grita que sim. A minha razão cala-se. 

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