terça-feira, 28 de abril de 2020

MALDITA DOENÇA

Continuam as mortes causadas pelo Covid-19. Os números são sempre assustadores e, quando oiço dizer que a maioria eram idosos, ou pessoas com outras patologias associadas, a minha alma treme. 
Talvez inconscientemente, o que dizem é que há vidas de primeira, e de segunda; que morrerem idosos não tem grande importância... Arrepia-me ouvir isto! Porque, para mim, a vida é significativa em qualquer idade e já sofri, e sofro, com a morte de algumas pessoas idosas que continuam a fazer-me falta. Ouvir estas afirmações faz-me pensar que estamos, se calhar, a olhar a vida como uma sucessão de dias para gastar, e não como a realização de algo essencial.
Max Webber dizia que "os homens já não morrem saciados de vida, mas simplesmente cansados" e, penso, talvez por olharmos a vida assim, aceitamos a morte dos mais velhos como um facto de somenos importância.
Tenho mais medo desta maneira de ver a vida, do que do Covid-19. Tenho medo do descuidado do outro, do desinteresse, do afastamento dos mais velhos. 
E eu já sou, também, dos mais velhos. Não tarda, terei desconto nos transportes e, temo, isso significará entrar à borla no último comboio de vida.
Não quero uma sociedade que banaliza a morte. Como dizia a avó Josefa, de José Saramago, a vida é tão bonita, e eu tenho tanta pena de morrer!

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