quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Desacertos

Tenho a sensação que quantos mais anos passam, menos compreendo a lógica, e juro que quero crer que ela existe, de muitas das medidas das Escolas. Acredito, um acreditar que tem alicerces teóricos e práticos, que a avaliação é uma das dimensões fundamentais da vida das Escolas, e dos alunos, e deve, por isso mesmo, ser rigorosa e objectiva.
No entanto, penso que a avaliação não pode ser, não deve ser, apenas punitiva (vejo-a como reguladora de um processo, facilitadora de mudança) mas, infelizmente, parece que nas Escolas, com a busca frenética da objectividade, só classificar importa. Avaliar um aluno parece ser, agora,  medi-lo, pesá-lo e catalogá-lo. Discutem-se, em exaustivas reuniões de preparação do ano lectivo, pesos por período, pesos de testes, pesos de trabalhos e sei lá mais o quê. Parte-se do princípio, para mim absurdo, que todos os alunos são iguais, que partiram todos do mesmo patamar. Diz-se que o 1º período vale 35%, o 2º 30%, o 3º 35% e garante-se que isto é avaliação contínua. Faz-se uma fórmula, ou um algoritmo (lindo...) e lançam-se números. O João, aquele miúdo de caracóis e fita que declama Pessoa e recusa ler Sttau Monteiro, passa a ser o resultado de = 1ºP x 0,35+ 2ºP x 0,3 + 3º P x 0,35. O Renato, aquele que, apesar do seu metro e noventa, cora até às orelhas quando tem de dar uma opinião em público, é, também, o resultado de = 1ºP x 0,35+ 2ºP x 0,3 + 3º P x 0,35. E até a Ana, com as unhas de florinhas e resposta pronta, fica reduzida ao mágico algoritmo/forma:  1ºP x 0,35+ 2ºP x 0,3 + 3º P x 0,35. A objectividade e o rigor ficam garantidos, asseguram-me. Dizem-me, ainda, que em cada período todos farão dois testes, uma apresentação oral e, que sorte!, ainda ficarão 10% para o "Saber Ser", um nome sonoro para avaliar as atitudes e os valores...
Estarei louca? Terei estupificado de vez? Onde fica a valorização da progressão? Onde fica a individualização do processo de ensino e aprendizagem? E para que são 10%, ou 20%, para "atitudes e valores"? Que atitudes, e que valores? Os meus? Os do meu colega? Os do guarda nocturno? Os de casa do aluno? E será que, numa sociedade humana, atitudes e valores só valem 10%? É a única coisa com que concordo: - Atitudes e valores andam mesmo muito pouco valorizados, objectiva e subjectivamente, nos dias que correm.
Esta noite, com uma insónia incómoda, agradeço já não ter filhos na Escola  e desejo, convictamente, que os meus netos possam crescer longe deste Portugal .

1 comentário:

  1. Quando a vida se resume a números, alíneas, fórmulas e classificações, é sinal que se fracassou na avaliação da qualidade humana.

    Quem está errado? Onde está a justeza?

    As fórmulas de avaliação também se podem aplicar aos governos, aos políticos, aos deputados?

    Ninguém iria passar...

    Cumprimentos.

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