Mia Couto, o escritor dos neologismos e das palavras com gosto, fala-nos de poetar. Não sou grande leitora de Mia Couto, exige-me uma atenção que nem sempre tenho..., mas gosto de algumas crónicas e, confesso, algumas palavras colam-se-me à pele para sempre. Poetar é uma delas!
Poetar é um verbo novo, que me incomoda bem menos do que o criminoso acordo ortográfico, e que, às vezes, me faz cheirar o frio da palavra solidão, ou aquecer o coração no calor vermelho da paixão. Poetar é existir com sentido, com sentires, com quenturas de mil fés barradas de chocolate. Compro um chocolate, de preferência negro e barato, e fico saboreando o seu desaparecimento lento, molhado, para lamber os dedos e terminar, sempre, com a alma mais confortada. Sei que parece gula simples, mas dá-me jeito pensar que estive poetando...
Gostei do seu texto.
ResponderEliminarGosto da palavra "poetar".
Adoro cholotate negro!
Um bom fim-de-semana.
Não direi que sou fã do Mia Couto mas aprecio, imenso, os seus neologismos e as suas palavras desarrumadas ou recompostas.
ResponderEliminarEle tem um modo poético de expressar a sua prosa - a prosa poética - e, muitos dos seus contos e das suas histórias são uma boa demonstração do seu poetar.
Deixo-lhe este pequeno trecho dos
Contos do Nascer da Terra
"Era uma vez uma menina que pediu ao pai que fosse apanhar a lua para ela. O pai meteu-se num barco e remou para longe. Quando chegou à dobra do horizonte pôs-se em bicos de sonhos para alcançar as alturas. Segurou o astro com as duas mãos, com mil cuidados. O planeta era leve como uma baloa. Quando ele puxou para arrancar aquele fruto do céu se escutou um rebentamundo. A lua se cintilhaçou em mil estrelinhações. O mar se encrespou, o barco se afundou, engolido num abismo. A praia se cobriu de prata, flocos de luar cobriram o areal. A menina se pôs a andar ao contrário em todas as direcções, para lá e para além, recolhendo os pedaços lunares".
1997
Cumprimentos.