sábado, 24 de setembro de 2011

José Régio... e eu!

Foi um convite, mais um desafio. O objectivo era falar sobre José Régio, o Poeta sempre ligado a Portalegre - afinal viveu aqui 40 anos - e o tempo concedido dez minutos. A juntar a isto, informaram-me de que eu não fora a primeira escolha (porque o seria?) mas as escolhas anteriores tinham impedimentos. As escolhas anteriores eram, nada mais nada menos, do que um historiador de Portalegre com vários livros publicados sobre Régio, e uma professora já reformada (detesto o termo aposentada) que por inúmeras vezes falou do Poeta.  O que havia eu de dizer?! Talvez pudesse ter dito, simplesmente, que também estava indisponível, o que até era verdade. Mas não. Decididamente, eu tenho vocação para parva, e lá aceitei.
Tinha três dias para me preparar. Adiantaria dizer que Régio nem sequer é um dos meus escritores de eleição? Creio que não. O importante era responder ao desafio.
Olhei a estante da sala de estar de casa dos meus pais, onde três prateleiras só têm Régio..., e achei que estava metida num grande sarilho.
Foi então que, numa das muitas noites de insónia (tudo tem um lado positivo), tive uma ideia  que achei brilhante: - Fugir à norma, evitar o que toda a gente já disse e sabe, e falar de coisas de ser, de momentos de existir, de vivências comuns de um homem chamado José Maria dos Reis Pereira. Recorri aos amigos, é para isso que eles existem!, e fui descobrindo uma personalidade nova. De noite, na companhia do Oceano Pacífico, lá construí a minha apresentação. Hoje, foi o dia D.
Depois de uma manhã trabalhando com colegas de Estremoz, queridas colegas, cheguei a um Restaurante onde um grupo de gente bem vestida iniciava os aperitivos. Tremi. De repente, parecia-me que não conhecia ninguém! Lá arrumei o computador, e, já mais calma, reparei que, afinal, havia alguns rostos conhecidos. Que alívio! É incrível como o sentimento de pertença a um grupo, a identificação de olhares, pode trazer segurança à vida das gentes.
Não me lembro o que comi ao almoço, apenas sei que o vinho - Altas Quintas - me soube divinamente. Lá falei, disse alguns poemas, e senti que, afinal, Régio tinha algo para me dizer a mim também. Sempre gosto de citar o Cântico Negro, a Toada da minha cidade de Portalegre, mas encontrei muito mais e, quando de lá saí, já nem tinha pena de não ter sido a primeira escolha.
Talvez, quem sabe?, tenha sido a vida a impôr-se e, deste modo algo atabalhoado e aflitivo, me tenha querido despertar para a grandiosidade deste Poeta. Vou reler Régio!

4 comentários:

  1. Gosto muito de José Régio.
    Gostava de a ter ouvido falar sobre ele.
    Não dúvido que deve ter sido muitíssimo interessante.
    Um abraço

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  2. Querida Luísa! Tinha que correr bem! E teres descoberto o grande poeta, que Régio realmente é, já paga a ansiedade inicial...
    Grande beijo amigo

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  3. O Régio, fascina e assusta, um pouco Deus e um pouco diabo...
    Gosto muito da Toada e do Cântico Negro.
    Deve ter sido uma celebração linda!
    Cumprimentos.

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  4. Aprende-se com toda a gente, quanto mais com uma professora...
    Também aho que tenho de conhecer melhor José Régio.
    Tenho a certeza, pelo que a Senhora transmite nos seus escritos, que pôs aquelas caras todas a "um canto" e de boca aberta.Nem precisava de ter-se fixado, nem sequer numa pinguinha do nome do "altas quintas"...(digo isto porque sei que tem espírito).
    Eu desmaiava, se tivesse que falar para alguém obrigatóriamente, numa mesa.

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