Nunca estou satisfeita, reconheço. Cansam-me os alunos irrequietos, a exigir a minha constante atenção, mas entristecem-me os alunos exemplarmente bem comportados.
Eu sei que sempre tenho um fraquinho pelos miúdos que exigem de mim, que querem saber os mil porquês, que discordam, que tentam inventar pretextos, normalmente conversas interessantes, para me fazerem parar o trabalho centrado em contúdos que acham pouco interessantes. Lembro-me, tantas vezes, do Carlos André, do Rui Pedro, do Miguel Rasquinho, do João Louro, da Cátia, do Manuel, da Filipa, de tantos, tantos alunos que me desafiavam sempre para aprendizagens activas e de facto dinâmicas. Às vezes, admito, desesperavam-me! Então, utilizava a máxima que sempre resulta, ainda que vá contra a lógica e contra as modernas pedagogias: - Calados! Quem manda sou eu! -. Ainda assim, tenho saudades deles. Tenho saudades das pequenas transgressões, das gargalhadas verdadeiras, dos protestos veementes!
Ora, as minhas saudades doem mais ainda quando esbarro com os meninos velhos que encontro, vezes demais, nas salas de aula. Estes meninos velhos só querem saber das notas que obterão no final do ano, das médias, com, como dizem com uma artificialidade que me desgosta, dos conteúdos do programa. Estes meninos velhos não têm tempo para actividades fora da sala de aula, a prioridade são as explicações, as notas (outra vez). Numa das horriveis aulas de substituição que dei já este ano lectivo, com uma turma de 10º ano, resolvi falar-lhes das grandes mudanças introduzidas pelo acordo ortográfico que agora vigora. Tentei criar situações novas, com algum humor, e um dos miúdos, muito sério, perguntou, não sem antes educadamente pedir a palavra: - Senhora professora, não seria possível avançarmos antes nos conteúdos da disciplina para não perdermos tempo? - Bom... respirei fundo duas vezes. Lá expliquei que as aulas de substituição, pomposamente chamadas OPTE, não servem para avançar nos conteúdos. (Não lhe disse que, no Ensino Secundário, acho que não servem para nada)
Senti que o miúdo não ficou convencido. Em casa, provavelmente, disse aos pais que teve uma aula de brincar...
Deixem, por favor, que as crianças sejam crianças! Deixem que a Escola tenha espaço para as pessoas que moram nos alunos. Por favor, não me roubem a magia de ensinar...
Todos os professores deviam dizer na aula, pelo menos por umas 3 ou 4 vezes, as vezes que fossem precisas-"Quem manda aqui sou eu"!!
ResponderEliminarDepois, dizer aos governantes, que quem alicerça os homens e mulheres do "amanhã", também são eles, por isso têm que lhes dar mais "espaço"!!
O "lar", quando ele existe adequado, é muito importante para os jovens, mas neste tempo, é primordial a ligação afectiva e respeitosa entre professor/aluno. Todos nós que vamos tropeçando com a vida, sentimos sempre a marca, na nossa formação geral, de um zeloso professor...
Mas esse menino no 10º ano, a falar em disciplina, deve ser um caso inedito, regra geral, riem-se da disciplina, nem percebem o que é.
Vamos andando no "Andamento do Mundo"...
...Queria dizer que, nos "lares" de hoje, mesmo os verdadeiros lares, os pais regressam á noite, regra geral, e saturados da luta da vida ; ora os filhos, é claro que, ficam ao cuidado total dos professores.
ResponderEliminarPais, atentem nisto!!
Como te compreendo! Quantas vezes me chocaram os "meninos velhos"! Quantas vezes me "chocaram" os meninos espertos que tapavam muito bem a prova...para os outros colegas não poderem copiar.
ResponderEliminarTinha começado a fúria das notas, a "concorrência desenfreada" pelas notas, a falsa e horrível "struggle for life"! Desumanizados, de que lhes serve essa luta?...
Enfim, continua a ser tu-mesma (sempre o serás!) e vai dando aos teus alunos o muito que tens para lhes dar. Até o "ouvires" o que têm para te dizer, na sua solidão...