(...) Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
José Régio, in Cântico Negro
Releio Régio. O Régio que a minha cidade adoptou, o Régio que, como eu (ousadia minha?) foi professor. Como ele, peço que me deixem em paz! Não me imponham modelos que não quero, não me exigem a satisfação da mediania, não me proponham sonhos de contenção. Sonho o tudo, ou quero o nada. Não quero aceitar o possível, a saúde de olhar cada dia com a certeza do caixão quando não puder mais abrir os olhos! E oiço outras palavras, a poesia sempre, a Florbela do meu Alentejo, gritando que "O amor é uma Primavera em cada vida/e é preciso vivê-la assim florida/pois se Deus nos deu voz foi para cantar". Quero a minha Primavera, quero ter voz para cantar, quero crer que o sol que se põe todos os dias, ali atrás, na minha Serra de sempre, voltará a iluminar um dia a estrear.
Estou cansada da tristeza, farta da norma triste, esgotada com as castrações constantes, cansada de decisões alheias (superiores?). Apetece-me virar costas à normalidade e, sob a protecção dos meus poetas, assumir a loucura que me faz ainda acreditar que a felicidade existe e que viver não é, não pode ser, uma condenação. Chega de anúncios de desgraça! Deixem a humanidade recuperar o sonho e não me fechem no colete de forças colectivo que é este país a entristecer.
Ninguém me dê piedosas intenções. Não quero ser mais uma, não quero ir por aí...
De acordo consigo!
ResponderEliminarQuantas vezes não apetece rasgar as vestes, pegar num chicote e expulsar os vendilhões da desgraça, das imposições, dos grilhões que algemam a nossa vida e o nosso viver?
Cumprimentos.
Sabe Luísa
ResponderEliminarcuriosamente hoje também coloquei um poema do José Régio - ambos são belíssimos.
Gostei do seu texto.
Somos obrigadas a "seguir por ali", em algumas coisas no trabalho, porque precisamos sobreviver, mas podemos sempre conservar a nossa dose de "loucura saudável" que nos permite equilibrar a vida.
Lá diz a frase: "De são e de louco todos temos um pouco".
Um bom ano lectivo!