sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Quase


Estão a chegar ao fim as férias, a terminar, depressa demais para o que eu gostaria, o hiato na rotina, na existência obrigatória. Estão a acabar-se os momentos dos possíveis e, num instante, a imporem-se as obrigatoriedades. Tem de ser. É a vida... e eu a desacreditar na LaPalissada oca. Porquê a vida? Porque não podemos nós, simplesmente, rasteirar a normalidade imposta e dar à tal "Vida" efectivo sentido?! Porque teremos de, quase sempre, entrar na norma, encarneirar, cumprir o que os outros esperam de nós? ou, pior ainda!, cumprir o que imaginamos que esperam de nós? Estando-me sob o sol quente, sinto o vento na pele, fecho os olhos, adivinho a presença sonora do mar e despeço-me com mágoa das férias excelentes. Ao mar, num murmúrio, confesso os inconfessáveis. Ao mar, esgotando Agosto, peço que atrase Setembro!!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pontes


Unem margens, encurtam caminhos, denunciam presença humana, as pontes. Surgem sobre os rios, ribeiras, regatos até, sugerindo a possibilidade de unir mesmo as margens que, naturalmente, estão afastadas.
Talvez faça sentido olhá-las, às pontes, para fazer uma aprendizagem activa, participada, da possibilidade de unir a separação, o distanciamento, a oposição entre margens humanas que, muitas vezes, até pertencem ao mesmo rio.

sábado, 21 de agosto de 2010

Água


Corre, leva, traz. É a água, intensa, veloz, capaz de unir continentes e de encher oceanos. Vejo-a turística, cheia de presenças, de olhares, de tentativas (infrutíferas?) de captar momentos. É sedução. Atracção, também.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Relógio


Surpreendente. Imponente. Impressionante. Num canto da cidade velha, sob olhares de milhares de turistas em disparos de frenéticos flashes, o Relógio lá está, rodeado pela Morte, acompanhado por Santos que, provavelmente, lamentam a sua pouca força face ao esqueleto ameaçador. Olho o relógio com curiosidade e surpresa. Parece mais complicado que "as complicações"... Não percebo como funciona, tento adivinhar as horas, desisto na minha impaciência para maquinismos. Penso no seu criador, que cegaram para que não repetisse a obra fantástica, e pergunto-me se não ficarão cegas, vezes demais, as pessoas que, olhando o Grande Relógio, procuram, como eu, perceber a magia do Tempo Imparável.
Fujo. Não é o meu espaço, o relógio célebre. Prefiro as ruas estreitas da cidade velha, a cidade pequena com o Pub assustador, a vista impressionante do Castelo onde chego sem fôlego, pernas a tremer, coração acelerado. Procuro o abraço amigo, o apoio firme, o beijo que me restitui a energia roubada pela subida íngreme. Estou viva. Sem tempos, sem prazo, numa descoberta de sentidos que os meus sentires surpreendem. Hoje, com a certeza do amanhã.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Partida

Mala feita, roupa dobrada, táxi confirmado e desejo imenso de partir! Como destino, bem cedo,numa madrugada imposta, com notícias de chuvas, de cheias, de frio, a par com o desejo antigo por cumprir. Jantar, a dois, no rio das mil histórias, preparamos a partida com mil cuidados.
Ansiedade provocadora de insónia de viajante.
É bom partir! É bom poder virar costas à rotina, ignorar o quotidiano e abrir a alma ao sonho de ser feliz!

sábado, 14 de agosto de 2010

Navegando a Quatro Mãos


No meio do rio o barquinho levantava a proa, ousado, quando eu, entusiasmada, levava ao máximo a alavanca da velocidade. Era uma estreia! Uma estreia como navegadora de rio, eu, já calejada de muitas navegações de vida, de alguns naufrágios também. Ali, sentia-me o miúdo actor na frase conhecida "I'm the king of the world!". Também eu era, no barquinho que com facilidade manobrava, capaz de ganhar o mundo, de fazer atracagens ousadas, de percorrer o rio sem medo sequer das margens de largas pedras. Ali, disponível, a certeza de um apoio firme e sábio se necessário, a partilha de um olhar atento, a orientação segura, - cuidado agora, vai mais devagar -, o sorriso cúmplice face à minha tão simples descoberta do prazer de navegar. À nossa volta, assustadores, os terríveis incêndios a tornarem o ar denso. Mas, egoisticamente, eu acelerava no barquinho branco, espreitava praias escondidas, aproximava-me, com cuidado, de enseadas paradisíacas, sem me preocupar sequer em olhar os helicópteros que passavam levando água...
Era bom se pudesse ir assim na vida. Não como um automóvel último modelo, desejo de Álvaro de Campos, mas como um barquinho seguro, navegando sempre a quatro mãos, a olhares partilhados, a descobertas duplas e a gargalhadas simultâneas.