segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2013

Está aí 2013. Chega a assustar toda a gente, veste-se de medo, de fome, de desemprego, de injustiça social, de violência fiscal, de perseguição e punição do trabalho, carrega no ventre a descrença num país que, um dia…, já foi grande. As notícias diárias metem medo, ouve-se com frequência os portugueses a afirmarem que nem olham os telejornais, que mudam de canal sempre que aparece um político. Cada um isola-se no seu casulo, tentando sobreviver, resistir, passar despercebido na caça ao imposto que vigora em Portugal. Para nos consolarmos uns aos outros, acho eu que é para isso, vamos dizendo que a crise é geral, que a Europa toda está a colapsar, que até na América de todos os possíveis as dificuldades crescem diariamente. É tudo verdade. Mas é verdade, também, que a desgraça alheia não nos alivia, não torna mais leve a nossa sina… 2013 não vem em festa, com espumante e passas de uva. Vem de negro, pesado, com água da torneira, e mesmo assim pouca…


No entanto, penso que temos de acreditar que não estamos condenados a esta tristeza. Creio, sinceramente, que é possível inverter este estado de desgraça, fazendo, cada um de nós, algo por isso. Tal como a maioria dos portugueses, como o prova a abstenção crescente, também eu não confio na maioria dos políticos. Não confio nos partidos, embora não imagine como se possa viver em Democracia sem eles, e não acredito na vigaricezinha, na cunhazinha, na mediocridadezona que impera em Portugal! Também já fiz parte de um Partido político, vivi a desilusão e conheci aquilo de que falo. Assim, consciente da utopia das minhas palavras, ouso iniciar 2013 desejando que cada pessoa dê o seu melhor à vida. Que cada um de nós se empenhe de alma e coração no que faz e que, como diz um Santo qualquer de que não sei o nome, faça seja o que for desde que o faça com Amor.


Neste 2013 que começa, um ano 13 com todo o simbolismo do número, desejo a mudança da Humanidade. Que cada um olhe o outro como igual, que o Amor seja o lema de todos os quotidianos. Mais nada. Se e utopia? É, com certeza. Mas o que seria do Homem sem o sonho que o guia e desinquieta?

sábado, 29 de dezembro de 2012

O baloiço

Força avó Gia, mais alto! Não largues as cordas, dão-badalão-cabeça-de cão. E o baloiço sobe, levando o meu menino até às nuvens. Olha o sol avó Gia, tão perto! Isso, veio aquecer-nos o dia. Dão-badalão-cabeça-de-cão. Não avó Gia, cabeça de pavão! Dão-badalão-cabeça-de-pavão. Com penacho, avó Gia. Dão-badalão-cabeça-de-pavão-com-penacho. E o jogo continua. O meu menino estica os pés pequeninos, garante que vai conseguir apagar o risco que o avião deixou no céu, e pede balanço. Eu empurro e deixo-me levar pela imaginação infantil. De repente, feliz, ele grita que viu o Menino Jesus. Estava mesmo ali, ali avó Gia, ao lado daquela nuvem gorda! E eu digo que sim, vejo também, lembro Caeiro e o Menino Jesus que, um dia, fugiu do céu...
Será isto ter Fé?

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Um raio de sol ao menos...

Há uma história infantil que, ultimamente, tenho lembrado com muita frequência. Conta que uma velhota, que morava numa casa escura, fria e sem janelas, pôs um alguidar na rua e encheu-o de sol. Depois, com o alguidar a transbordar de luz e calor, levou-o para casa. Com desespero, viu desaparecer o sol que apanhara. A velhota tentou várias vezes prender o sol, mas nunca teve sucesso e, por isso, resolveu sentar-se à porta e recebê-lo mesmo ali, na rua, onde ele não se fazia rogado.

Ora, nos últimos tempos, sinto-me como a velhota. Eu bem tento armazenar Luz, Força, Resistência, Coragem, Optimismo, Confiança, mas, quando vou vasculhar os meus arquivos, está sempre tudo vazio... Então, como a velhota, sento-me e fico olhando o tamanho da escuridão que me rodeia. E fico mais triste do que ela, com vontade de chorar, porque, se me sento à porta, não há sol que me aqueça...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Já Está!

Já passou mais um Natal. O mundo não acabou, para mim infelizmente, e a vida segue igual, indiferente às datas que o calendário insiste em destacar. Agora, ainda com o presépio em casa, com o pinheiro a perder as agulhas, com pratos cheios de sobras de doces e já enjoados de peru e bacalhau, começa a pensar-se no Ano Novo. Vêm aí, outra vez, 365 dias a estrear e muita gente, eu inclusivé, enche-se de esperança e de confiança achando ser capaz de, desta vez, construir quotidianos diferentes. No meu silêncio, ainda com o calor dos netos, escuto a noite que me acompanha. Já está mais um Natal vencido, penso sem vontade de voltar atrás. É dia 26, o mês de Dezembro voa, e em breve será... Natal outra vez! Se queria assim? Não decerto.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

OUVE

Ouve-me aí, no longe
deixa-me falar-te de mim
das cores do Tempo,
dos cheiros da cozinha aquecida,
dos mistérios da minha alma.

Ouve-me aí, no longe
Sem respostas,
sem críticas,
sem reservas,
sem receios.

Ouve-me aí, no longe
acolhendo as palavras que calei
tempo demais...

Ouve-me aí, no longe
as palavras doridas e possíveis
 eternamente adiadas...

Ouve-me aí, no longe.
E guarda o segredo que te digo!

Natal

25 de Dezembro, dia assinalado como especial, tempo de solidariedade e de amor ao próximo. Em teoria. Na verdade, tempo de saudades, de mágoa, dia como os outros, tecido de dor, de destroços, de revolta e solidão. Vem a saudade mais forte, calam-se as vontades mais íntimas e sorri-se o sorriso impossível.
Feliz Natal! E as palavras ocas chocam com a falsidade do mundo. Feliz Natal! E o coração sangra na dor da realidade. Feliz Natal! E calam-se as lágrimas porque o dia é especial.
É Dia de Natal! (?)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

PAZ!

A paz sem vencedor e sem vencidos
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos 

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos



Sophia de Mello Breyner Andresen
Dual (1972)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Memória

A estes textos, explico, chama-se textos de memórias. Têm marcas biográficas, mas, obviamente, podem cruzar a ficção com a realidade. É possível sempre criar memórias. Houve um Poeta, houve O POETA, que tinha saudades do que nunca vivera, por exemplo. E os miúdos de 7º ano querem saber mais. Quem foi? Como fazia? E, porque é cedo para Pessoa, falo-lhes da possibilidade de criar memórias no mundo dos afectos, na construção de referências no cantinho da individual intimidade. Perguntam como, querem, exemplos, e eu conto do Natal que, em menina, vivo em África, sozinha, perdida. Conto que partira numa viagem de família e que, de repente, me vira perdida e sozinha. Conto que veio uma menina, como eu mas muito preta, quase nua, com uma carapinha tilitante,  que me deu a mão e me levou com ela para uma casa sem quartos, nem sala, nem cozinha. Falo-lhes das galinhas que andavam pelo chão, à solta, ciscando, do leão que ouvi rugir ao longe e das grandes fogueiras à volta das quais, à noite, muitos corpos se moviam. Estão calados, atentos, esperando o desfecho. E, para dar veracidade aos factos, lá revelo que me encontraram, que os meus pais conseguiram pôr a polícia local à minha procura e que, ainda hoje, eu e Kali somos grandes amigas.
Olham surpresos e, quando a campainha toca, dois deles arrastam o arrumar das mochilas e perguntam, a medo: - Setôra, foi mesmo verdade?!
 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A lareira

Faz-se um lume grande. Colocam-se os madeiros mais grossos atrás, os chamiços à frente, as pinhas que estalam e risca-se o fósforo. Depois, é ver crescer  a chama. Aos poucos, tremelicando entre o azul e o laranja, vai ganhando força e dando calor. Gosto de olhar o fogo, de chegar as mãos que aqueço nestes dias gelados. Gosto da hesitação e, depois, da força imensa. Às vezes, é preciso fazer assim: - parar, hesitar, pensar, escolher e avançar com força e decisão!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

AZEVIAS

As montras já estão cheias de tentadoras azevias. Eu prefiro as de Castelo de Vide, com a massa muito fininha e o verdadeiro recheio de grão de bico, pelado à mão. As azevias são um dos meus doces preferidos! Mais até do que pelo sabor em si, que é delicioso, trazem-me sempre memórias de tempos de felicidade, de casa cheia de cheiros diferentes e vazia de saudades e ausências. Revejo os tabuleiros cheios dos fritos, bem alinhadinhos, deixando a minha mãe aflita com a falta de espaço para pôr tanta coisa... Em minha casa, tudo - tudo Natal - começava no dia 8 de Dezembro. Nesta data, dizia o meu Pai, festejava-se o Natal pequenino. Curiosamente, era, para mim, enorme...

domingo, 9 de dezembro de 2012

Ainda o Acordo

O Brasil decidiu adiar a entrada em vigor do absurdo acordo ortográfico para 2016. Portugal, pelo contrário, já o disse oficial a partir de 2011!!
 Poucos são os cientistas da língua que, em Portugal e no Brasil (porque nos outros países de língua oficial portuguesa o ignoram)  lhe reconhecem vantagens. No entanto, vá lá a gente perceber porquê, não há um dirigente que tenha coragem para o rasgar definitivamente! Tenho subscrito todos os manifestos, cartas abertas, exposições, que me aparecem contra o AO, mas sei que de nada serve. Foi um colossal erro politico e para emendar erros destes são precisos grandes dirigentes. Onde estão?! Parecem não existir...
O facto do Brasil ter adiado a oficialização do AO, deveria ser mais um factor para nos fazer parar e pensar. Tudo tem remédio e, acho eu, muito pior do que reconhecer um erro, é insistir nele.
Pela minha parte, adoptei as duas grafias: - Oficialmente, o maldito acordo; na minha expressão (por enquanto) livre, a língua dos meus Poetas!

sábado, 8 de dezembro de 2012

A ser verdade...

Se é verdade que Nuno Santos foi afastado da RTP por ter tido opinião própria, se é verdade que lhe moveram um processo disciplinar por pensar de forma diferente de Miguel Relvas, o assunto é grave demais.
Se em causa está a liberdade de expressão, Portugal chegou mesmo ao fim da linha!
Para lá da crise económica e financeira, estão em causa Valores que deveriam, acho eu, ser inquestionáveis! Será possível que continuemos a ser o país dos Relvas e afins? Será possível que a lei e a justiça continuem ao serviço de alguns, contra a própria verdade?!
Penso que é muito importante que este processo, por enquanto uma embrulhada, seja esclarecido de forma a que todos possamos entender. Se Nuno Santos for demitido, é chato, mas paciência. No entanto, se a LIBERDADE de EXPRESSÂO for limitada, é grave e não pode haver paciência que tolere este violento absurdo!
Os portugueses, nós!, não podemos continuar a fingir que não vemos, quando, em causa, está o primeiro dos direitos: - A LIBERDADE!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Renovação

Bem sei que é na Páscoa, e normalmente na Primavera, que se fala de renovação. Mas hoje, ao atravessar o Alentejo, só esta palavra me assaltava. 
O mundo, depois das chuvas violentas, parece-me renovado. Os verdes, verdes moços de Garrett, fazem jus à caracterização. As árvores parecem mais frondosas, a terra brilha, fértil, pedindo mesmo para produzir. O gado, as vacas castanhas, parecem cheias de energia e olham, com desinteresse, os carros que passam perto. Gosto deste tempo! Gosto da Natureza assim, promissora e carregada de amanhã.
Infelizmente, dói-me o contraste com a vida humana que, cada vez mais, se faz de desilusão e cansaço...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

RECAÍDA

Não tenho febre, não estou com dores de coisa nenhuma. Tive uma recaída pedagógica! 
Eu tinha decidido que ia deixar-me de sonhar actividades com os meus alunos, mas desisti. Hoje, os meus meninos de 7º ano, aqueles mesmos que me tiram do sério com demasiada frequência, aqueceram a minha alma de professora e encheram-me de razões para sonhar.
Tudo aconteceu a propósito do Natal, o conto de Miguel Torga que põe o velho Garrinchas a desafiar-nos para a ternura. Os meus meninos, as pestes que me fazem cabelos brancos, vestiram-se de seriedade e fizeram uma leitura que me convenceu. Fiquei cheia de vontade de realizar outros e novos projectos, de continuar a investir no portefólio e de ficar perto deles durante muito tempo.  
Tive uma recaída pedagógica. E, curiosamente, desejo que o tempo não me cure...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Quase Natal

É quase Natal! E de nada adianta dizer que o tempo voou, que parece que ainda há pouco estavamos a comer as passas para tentar garantir, com pouco sucesso, um 2012 cheio de coisas boas...
O Natal está aí e, apesar da crise, é tempo de ir às compras e de escolher um presente para cada uma das crianças próximas, e dos adultos mais queridos. Eu sou uma defensora acérrima dos presentes de Natal! Ao contrário de muita gente, não acho que o facto de darmos presentes queira dizer que somos consumistas, ou materialistas. Para mim, pensar nos outros, passar tempos a imaginar o que cada um gostaria de receber, procurar aquele presente para aquela pessoa, é um acto de ternura e de fraternidade! Gosto de escolher os presentes que ofereço, com calma, conferindo identidade a cada um. Não é o presente que está em causa, menos anda o seu valor, é, sim, a oportunidade (cada vez mais rara) de se dizer a quem se gosta que pensamos nele/a.
Habitualmente, faço as minhas compras de Natal na minha cidade. É o presente, pequenino, que ofereço a Portalegre! Gosto de subir e descer a Rua do Comércio, de olhar rostos que conheço de sempre, de sair dizendo FELIZ Natal. Acho que é aquele telurismo (provinciano?) que me define...
Lembro-me de comprar o boneco que gatinhava, os polly pockets com malinhas, e sempre livros. Muitos livros!
Ontem, iniciei as minhas compras e cheguei a casa com o coração desfeito. A minha rua do Comércio, o coração da minha cidade, está a agonizar. Há mais espaços fechados do que abertos, há mais sorrisos tristes do que alegres, há mais que Deus nos ajude, do que Feliz Natal! Temos de fazer alguma coisa. Se morrem as pequenas comunidades, morre  a vida no que ela tem de mais verdadeiro! Este ano, gostava de fazer um desafio de ternura e afecto aos portalegrenses como eu: - Vamos fazer greve às grandes superfícies, vamos ignorar os grandes empresários que levam o dinheiro para outros países, e vamos gastar o pouco dinheiro que temos no Comércio Tradicional da nossa cidade!
Portalegre merece um presente de Natal! A nossa presença nas ruas, a nossa cumplicidade activa na luta pela sobrevivência.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

INVEJA

Penso, muitas vezes, nas razões que levam Portugal a estar, quase sempre, na cauda da Europa. Por obrigação profissional, e admito que por gosto, leio frequentemente excertos de Os Lusíadas e entusiasmo-me, sempre, com a narrativa épica das descobertas. Chego (ainda agora) a comover-me com a história do infeliz Adamastor, a revoltar-me com o destino cruel de Inês - Tu, só tu, puro Amor deste causa à molesta morte sua! - e a deliciar-me com a arte da Formosíssima Maria para mover o Pai feroz. Gosto, muito, de levar os meus alunos até Belém e de, com eles, partilhar as lágrimas de saudade e dor dos que partiram, e dos que ficaram. E, quando chego às últimas estâncias de Os Lusíadas, partilho o cansaço desalentado de Camões - No mais Musa, no mais!.
Tudo ficou em nada! O sonho morreu e, parafraseando Pessoa, o Império se desfez.
Portugal foi grande. Hoje, é humilhado e triste!
No entanto, lá fora, seja na Europa (na outra), seja na América, seja em África ou na Ásia, há portugueses que se destacam,  que produzem e que ajudam, de diversas formas, a fazer funcionar este mundo oco.
Qual será, então, a razão que leva a que, neste ractângulo virado para o mar, tudo pareça condenado a apodrecer?
Deu-me para concluir que a culpa é da inveja! (Camões já o dizia...) Somos um povo doente de inveja! Invejamos o carro do vizinho, a saia da vizinha, as férias do patrão, o ordenado do ministro, a casa do presidente, etc. Invejamos, inclusivamente, a desgraça alheia... É uma chatice quando a vizinha está doentinha e todos vão visitá-la e a nós, ali ao lado, respirando saúde, ninguém pergunta como estamos! Esta inveja endémica impede-nos, acho eu, de reconhecermos autoridade, de obedecermos e de cumprirmos. Expressões como "mas quem é que ele julga que é?" , "mas ela não manda em mim! Não é mais do que ninguém", são habituais no nosso quotidiano!
Além desta invejazinha, quase imperceptivel, há a inveja cruel, mazinha, feita de "se não é para mim, não é para ninguém"...É até assim que age a oposição ao governo, seja ela qual for!
Assim, hoje deu-me para pensar que, para diminuirmos a dívida externa, bastaria taxar a inveja! E podiamos, então, ter de volta a nossa vida relativamente desafogada, sem cortes e com subsídios!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Era boato...

Afinal, era boato. Passos Coelho garantiu que nunca falou em copagamentos na escolaridade obrigatória e, assim, fica tudo em paz. Alguns jovens continuarão a ir às aulas quando não estiverem cansados, nem tiverem nada de mais interessante para fazer; outros continuarão a tentar aprender para, um dia, poderem, finalmente, abandonar o país e obterem sucesso no estrangeiro.
 Está tudo certo e de acordo com as normas de facilitismo que, há tempo demais, imperam em Portugal!
 A indignação de quem me lê, (alguns), com a minha hipótese de fazer os faltosos e vadios sentirem o custo do seu desinteresse, já não faz sentido. Ainda bem. Ainda bem, porque eu não quero escandalizar ninguém. Mas ainda mal porque, de verdade mesmo, penso (e sinto) que tem de haver uma grande mudança nas políticas educativas se queremos, um dia, ter um país que funcione!
Às vezes, quase concordo com alguns amigos que dizem que temos o que merecemos... Se queremos só direitos, só facilidades, um estado paizinho e tutor, desresponsabilização individual e igualdade de diferentes, temos aquilo que merecemos: - Um país de ignorantes e vadios!
No entanto, eu sou portuguesa e, na sua maioria, gosto dos portugueses! Recuso-me a acreditar que estejamos fadados para a miséria em que vivemos!

domingo, 2 de dezembro de 2012

ATÉ CONCORDO

Soou, numa daquelas atoardas que nos costumam surpreender, a ideia de que os alunos do ensino secundário iriam pagar propinas. Assim, dito simplesmente assim, parece um absurdo. O ensino é obrigatório, a educação deve ser uma prioridade de um qualquer país, toda a gente deve ter direito a ela. No entanto, se analisarmos bem as coisas, talvez a medida não seja descabida... 
Nada é gratuito, tudo tem custos, e a educação também. Ora, assim sendo, que sentido faz que sejam os nossos impostos a pagar a escolaridade daqueles que não estudam, não querem aprender, não são assíduos e impedem os outros de aprender?! Acho muito bem, acho até educativo, que os alunos que não estudam, que são indisciplinados e que se arrastam anos repetidos nas escolas, sejam obrigados a pagar propinas. Deviam, mesmo, ser obrigados  a indemnizar os outros pelos danos que causam. Claro que há situações de insucesso que não dependem, exclusivamente, da vontade dos alunos. Para esses casos, teriam de ser adoptadas outras medidas (nunca mais aulas "de apoio" iguais às outras). Mas há, e cada vez mais, jovens que vão à escola só porque sim. Como poderiam ir a um café, ou até ficar no jardim a namorar. Há jovens, e falo com conhecimento real das coisas, que faltam porque têm sono... Que vão à primeira aula, e faltam à segunda porque ficam cansados; que aproveitam as aulas para se maquilharem, ou para fazerem penteados, ou para porem em dia os sms trocados com amigos. Estes jovens são, se olharmos a realidade sem emotividades excessivas, potenciais criminosos: - Prejudicam os outros deliberada e conscientemente! Deviam, por isso, pagar propinas e pagar coimas sobre cada falta dada. Estes jovens deviam ter alternativas à Escola e essas alternativas não são, NÃO PODEM SER, os actuais cursos profissionais...
Felizmente, há também jovens, e muitos, que gostam de aprender, que trabalham, que se interessam, que cumprem, que tentam desenvolver competências, que sonham com um futuro de qualidade! Há jovens, eu tenho muitos alunos assim, que têm verdadeiro prazer em aprender, em fazer cada vez melhor, em crescer para fazer um mundo diferente e melhor. E estes jovens têm o direito de ser protegidos dos outros. 
A escola inclusiva, politicamente muito correcta, corre o risco de tornar-se escola de nulidades. Exclui os bons, inclui os vadios!
Assim, eu até concordo com a ideia de, no ensino secundário, haver propinas. Para alguns.

sábado, 1 de dezembro de 2012

O Vazio

É feriado, hoje. Pela última vez lembraremos a vitória sobre os castelhanos, em 1640, e a ascensão ao trono do rei D. João IV e de sua mulher, a Dona Luísa de Gusmão. Lembro-me sempre da janela de Lisboa, ali no Palácio de Vila Viçosa, de onde, dizem, Dona Luísa via chegarem os mensageiros com notícias da capital. Diz a História que D. João não tinha grande interesse em ser rei, homem sensato preferia a calma do Alentejo à politiquice de Lisboa, mas que a mulher o levou a mudar de atitude. Há mulheres com grande poder! Dantes, quando eu era miúda, a banda saía à rua e nós íamos a Badajoz, comprar caramelos e passear o nosso orgulho: - Tinhamos conseguido ver-nos livres deles!
Hoje, é tudo bem diferente! Hoje, chegamos a pensar que, se calhar, teria sido muito melhor termos continuado a ser espanhóis... Eu não acho isso. Penso, mesmo, que é o facto da União Europeia ser uma união contrária à identidade que faz com que o projecto entre em falência!Hoje, Portugal é um vazio imenso, sem rumo nem identidade, perdendo até o hábito de assinalar datas que nos fazem ser o que fomos (mas já não somos).
Este último 1º de dezembro é um dia triste e soturno. Ainda bem que, amanhã, já é dia 2!