sábado, 31 de outubro de 2009

As Bruxas

31 de Outubro, dia de bruxas. Ou das bruxas, numa importação (mais uma) de culturas alheias, práticas distantes, identidades estranhas. Vi na televisão as reportagens, esbarrei com uma festa da minha sobrinha pequena cheia de miúdos mascarados de horríveis, ajudei até a destruir uma abóbora - mal empregada - para fazer uma caraça assustadora. Agora, já no meu canto silencioso, penso no ridículo de tudo isto.
Por um lado, obviamente, o Mundo muda, as tradições alteram-se; mas, por outro, ainda não consigo compreender, ou sequer aceitar, este vício doentio de importar, e tomar por bom, tudo o que vem de fora... Também nas notícias, a par com as bruxas, vi gente importante (ou tida como importante) a ser alvo de buscas, acusada de corrupção, detida até. São altos dirigentes, alguns ex-ministros. E, pensando em tudo o que vi numa dolorosa meia de hora de notícias, não resisto a pensar que, embora importadas, as bruxas por cá andam bem activas...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

KIZOMBA DESCALÇOS

Corro, corro, iludo-me com a existência para entreter a essência. Vou de Vila Viçosa para Ponte Sor, de lá para Portalegre, daqui para Évora, preparo aulas, vou à maldita plataforma, corrijo trabalhos, oriento portefólios, respondo a emails, proponho mudanças, esclareço dúvidas, passo a ferro, cozinho, vou ao cabeleireiro, tomo café, espreito as notícias, oiço a novela, falo ao telefone, acompanho os Amigos, escandalizo-me perante o mundo, ralho com os alunos, sonho com o meu neto, faço render momentos de plenitude como a oferta de um ramo de rosas, vou à dança,desenvolvo novas competências, iludo o tempo. E, às vezes,depois de tudo isto, chego a casa e pergunto para quê? É que, se eu pudesse, faria só metade das coisas, com mais calma e mais tranquilidade. Se eu tivesse coragem para desafiar a vida, havia de fazer como na dança de hoje, ao ritmo do Kizomba e, descalça também,descalça na alma, havia de sentir a terra de verdade, a autenticidade que me faz humana, e não as obrigações que me fazem mundana.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Rosas Vermelhas

Porque a vida acordou para mim, hoje vivi momentos especiais!! Estava muito calmamente, tão calmamente quanto possível com 30 miúdos de 15 anos, tentando fazê-los compreender a diferença entre discurso directo e indirecto, quando alguém bateu à porta da minha sala. Um miúdo abriu e a funcionária do piso, sorrindo, perguntou: - A professora pode chegar aqui? É só um minuto... Eu cheguei! e, num meio minuto, fiquei com um ramo de rosas vermelhas, botões intensos!, nas minhas mãos. De sorriso maroto, a senhora da florista dizia: - É para a senhora!
Eu nem queria acreditar!! Li o cartão e corei como adolescente (claro que não conto o que li)... Eu sei que tenho 49 anos, que vou ser avó, que tinha já arrumado as emoções intensas do amor, mas atirei tudo às urtigas. Os meus alunos perguntavam se era o meu aniversário e eu, sem conseguir parar de sorrir, respondia que não, que era apenas o amor sem dia marcado. Com o nervoso e a euforia, nem aproveitei para explicar o discurso indirecto livre... Porque livre estava o meu coração, pousando nas rosas, voando na lonjura ao encontro de quem assim me mimou. Já nem me lembrava como era absorvente e avassalador, o Amor!!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A minha posse de ganga

Não resisto a desabafar... Eu também fui tomar posse, hoje, agora há pouco, como membro da Assembleia Municipal de Portalegre, independente, eleita na lista do PSD. Às nove da noite, depois de um dia de trabalho intenso, lá desci a minha Serra rumo ao Salão de Congressos da CMP. Para mim, era um acto cívico que me aguardava, o oficializar de um resultado democrático. E, por isso mesmo, apresentei-me na minha maior descontracção, calças de ganga, botas, camisa de quadrados. Ora, quando lá cheguei, deparei-me com o ridículo da minha indumentária. É que as senhoras estavam todas de escuro, saia e casacos, rosas nas lapelas, penteados e maquilhagens de cabeleireiro. Os homens, comunas incluídos (decididamente, o mundo já não é o que era) todos de fato e gravata. Se eu tivesse um buraco, tinha-me enfiado lá, muito quietinha, até ao final da sessão. Como não havia buracos, até porque o edifício é novo e lindo, tive de aguentar e avançar, nas minhas botinhas de trabalho, até ao palanque para, ao micro, declarar que juro cumprir com lealdade as funções que me são confiadas. Felizmente, não me fizeram jurar que ia prestar atenção ao traje! Depois, já sem os media locais, decorreu a primeira sessão e elegeu-se a mesa. Havia uma única lista e a votação aconteceu: - 16 votos a favor (15 PSD e 1 CDS) e 15 abstenções (PS+CDU). A coisa promete, neste mandato. Para a próxima, vou de luto!! Pela democracia, que em POrtugal morreu à nascença, e para não destoar nas minhas calcinhas de ganga que, aposto, ninguém reparou que eram da SALSA! De marca, bolas!!

A Posse e a Vacina

O novo governo tomou posse. Repetiram-se os discursos, as fórmulas que já nada significam, as declarações que se sabe virem, rapidamente, a ser ignoradas. No mesmo dia, foi vacinado o Director Geral da Saúde, com direito a tv, para português ver. Vivemos, de facto, no mundo do faz-de-conta e da irrealidade!!! Que importância tem vermos ser vacinado contra a gripe A o dr. Georges? Eu, pessoalmente, até duvido que a gripe quisesse alguma coisa com aquela figura... Tal como duvido que a alguém interesse, de facto, a cerimónia de tomada de posse do novo governo. É que, enquanto estes factos importantes distraem os portugueses, as empresas continuam a fechar, a educação continua a falhar, a saúde continua a não responder ás necesssidades. Sinto que o meu país, o mundo talvez, inverteu as prioridades e fez, faz!, das insignificâncias as urgências. Hoje, dia em que me dói a cabeça, voltou o calor e me apetecia fugir para um mar distante, olho o meu país com a alma encolhida e a razão revoltada. Queria diferente! Queria ver surgirem verdades, medidas com fundamento. Queria a oportunidade de ver recuperar a essência contra a oca aparência!!!

domingo, 25 de outubro de 2009

Caim e Saramago

Tenho tentado resistir à tentação de me pronunciar sobre a última coisa que o Saramago publicou. Tenho tentado calar-me, fingir que ignoro, aderir à social hipocrisia, bem valorizada no momento, e ficar muda. Mas não consigo! Se o homenzinho me irritava já, se achei uma enormidade a história do Nobel, se desespero por ter de impingir aos alunos O Memorial do Convento, muito mais me revolta que continuem a publicar o que, honestamente, considero lixo literário.
Saramago, a pessoa, quem é? Um operário sem estudos (porventura não foi culpa dele, mas não estudou), um comunista faccioso, um homem desactualizado, um emigrante ranhoso, um ateu ignorante. Só. Não é mais do que isto! O que ele diz da Bíblia revela, apenas, a sua ignorância e burrice. Se eu mandasse - e como eu gostava de mandar! - nem se falava nele, ou nas suas obras. O que o homem quer é publicidade e, se eu mandasse, teria de pagar muito caro para a ter!
Obviamente, não vou ler Caim. Obviamente, acho que o Nobel escreve mal. Não gosto do estilo, do tom, da estrutura, das imagens sempre repetidas e gastas, da fórmula ultrapassada. Mais do que insultar os católicos, e isso já era grave, este homenzinho repelente insulta quem pensa!! Haja paciência!!

sábado, 24 de outubro de 2009

Expectativas

Já há novo/velho governo, já há nova Ministra da Educação, Isabel Alçada (vai ser uma Aventura!) e na 2ªfeira já vou tomar posse, outra vez, como membro da Assembleia Municipal. E nada disto me interessa, ou sequer preocupa. Não tenho quaisquer expectativas, não espero nada para além da mediocridade vigente, e nem sequer acredito que a nova Ministra seja capaz de dignificar a profissão que integro, de humanizar as escolas, de olhar a educação com sabedoria e competência. Desacreditei da política. Completamente. Por isso, agora, finalmente, consigo ver as coisas com frieza e distância, sem (muita) dor e nenhuma esperança apaixonada.
No meio deste desânimo, que ainda assim dói, atravessei uma tempestade violenta. Surgiu de repente, exactamente quando no céu da minha existência não havia sequer nuvens. Estoirou intensa, avassaladora, varrendo o convés dos meus sentires e deixando, na minha essência, uma nova força de viver. Foi a tempestade da renovação, aquela mesma capaz de eliminar vestígios, de limpar fundo as desilusões magoadas que residiam, amontoadas, cheias de nós de marinheiro bem dados, no convés das minhas emoções. A tempestade da paixão estoirou e, antes mesmo que o temporal amainasse, fez-me sentir plena e inteira. Foi assim. Só. Por nada, por coisa nenhuma, ou talvez porque essa coisa ENORME que é o Amor não precisa ser anunciada, aconteceu.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

CHUVA!

Finalmente, o céu soltou-se!! Chove violentamente, cheira a terra molhada, apetece vestir um casaco, nas grandes cidades começaram as batidas de carros. Tinha saudades da chuva, do frio, do vento, dos cheiros e cores do Outono. Claro que dispensava que tivessem batido no carrinho da minha filha... Mas acontece e, vendo bem-bem, podia ter sido muito pior! Hoje, com chuva (será o céu a chorar de desespero antecipado?) vai conhecer-se o novo governo de Portugal. Porque as minhas esperanças são poucas, a desilusão nunca será muita. Mas o medo é imenso. A quem caberá a pasta da Educação? Será que vão continuar as atrocidades bárbaras nas escolas? Queria para Ministra a Professora Catalina Pestana. Queria para secretário de estado, a substituir o débil mental do Lemos e do outro, o Dr. Joaquim de Azevedo! Queria a oportunidade de fazer da Escola espaço de efectivas aprendizagens e educação. Imagino salas em U, com jovens a aprender de facto, desenvolvendo competências, partilhando, reflectindo e crescendo. Queria os professores a trabalhar com gosto e não a cumprirem, apenas, programas e normas! Queria também, claro, que alguns professores, ou simulações de, desaparecessem mas isso, admito, já era pedir demais.
Quero mesmo é que a chuva lave almas e cabeças, llimpando a porcaria entranhada que hoje caracteriza o meu Portugal!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sim, pior é possível!

Era o tema para o texto semanal dos meus alunos de 10º ano "Sim, pior é possível!". Lamentando-se, protestando, apregoando dificuldades, os miúdos lá se desenvencilharam. Eu, à noite, enfrentei o petisco semanal: 30 textos, alguns nem textos sequer..., a exigirem um olhar crítico: - a ortografia, a caligrafia, o conteúdo, as maiúsculas, a estrutura. Vi tudo com atenção esforçada. É que a minha cabeça anda longe! A minha cabeça viajou, levou com ela os meus mais profundos sentires e deixou-me, descabeçada, a cumprir a existência. A minha cabeça, talvez seguindo o mote do texto semanal dos meus alunos, resolveu abandonar-me e deixar-me entregue à rotina. Mas eu, que já sei viver de mil e trinta e nove maneiras - mais ou menos -, resolvi não querer saber da cabeça e cedi ao coração. Inteira!Resolvi acreditar nos sonhos e permitir-me a oportunidade de sorrir. Então, esta noite voei para o mar escuro e profundo, levei canela, dióspiros e marmelada e fiquei vendo o pôr-do-sol. Vi até o ponto verde e ouvi, no silêncio do desejo, a certeza de que "Melhor é mesmo possível!"

sábado, 17 de outubro de 2009

Danceteria e...formação!!

Noite ventosa e quente. Gente jovem a desafiar-me e, quando dei por mim, estava na danceteria. Podia, também, estar num filme italiano dos anos 30, ou até num dos clássicos portugueses, porque a danceteria era muito curiosa. Um salão grande, dois andares de balcão, mesas de madeira e tampo de granito, senhoras de carrapito e mini-saia a servir bebidas, dois músicos, de qualidade duvidosa, e mulheres a dançar com mulheres sob o olhar cobiçoso das barrigas masculinas encostadas ao balcão. Aos poucos, os machos ganhavam coragem ou a cerveja afastava a timidez..., e entravam em cena, muito firmes e hirtos, convidando as damas e interrompendo as conversas gulosas murmuradas. De quando em vez, a senhora de carrapito, que fazia um extraordinário equilíbrio numas andas que serviam de sapatos, entrava no jogo e, dengosa, dava um pé de dança. Melhor, dava um pernil de dança porque, sob a reduzida saia, era mesmo só a perna alva e mal depilada que sobressaía. Ri-me com gosto e dancei também, com o meu grupo, o que tentei que fosse um Tango, o que suponho que tentasse ser um Quickstep. Cheguei a casa tarde, quem me manda alinhar com os jovens?, dormi pouco e mal, vendo os sonhos serem invadidos por enormes navios, camarotes de madeira e embalos suaves. De manhã, levantei-me protestando, resmungando com o espelho (é sempre onde descarrego a minha insatisfação com o meu eu inestético) e parti para Ponte de Sôr para dar Formação. À chegada a Alter do Chão, com mais de 20 kms feitos, percebi que tinha deixado em casa a pen com TUDO O QUE PRECISAVA para a formação!! SOCORRO!! QUERO FICAR-ME PELA DANCETERIA! Gritei. A vida, claro, não se dignou responder-me... E lá voltei a casa, voando, lamentando (só nestas alturas o faço) morar longe, para buscar a pen. Até Ponte de Sôr voei! Um olho à caça dos polícias, um pé no acelerador, outro olho na estrada e em 20m chegava. Só me atrasei meia-hora... Pior mesmo, foi a vergonha do atraso!! Ainda pensei explicar aos meus colegas que até a vida se atrasa, mas não ousei provocá-los mais.
Agora, noite outra vez, estou em casa a ferver de stress, sentires, esperanças e desesperanças. Espera-me um duche, uma tentativa de me arranjar (detesto esta expressão, hei-de inventar outra) e voltar à estrada para ir aos 50 anos da minha Melhor Amiga!!! Duche, lá vou eu! Vestido preto, espero que estejas passado...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Insónia

Devia estar a dormir. Amanhã, espera-me um dia comprido, feito de tarefas obrigatórias, a impôr cabeça fresca, a exigir capacidade de pensar. Mas o sono não vem. Indiferente às urgências do quotidiano, sem pena de mim, sem compaixão pela minha necessidade de dormir, ele não chega. Em vez da paz do sono, vem a turbulência dos sonhos, a agitação dos sentires feitos desejo, revolta, mágoa, vontade e desesperança. Segui as indicações de um médico, há muitos - tantos!! - anos, e saí da cama. Ele dizia que o pior, face à insónia, é dar-lhe corda e ficar na cama desesperando. Defendia que nos levantassemos e aproveitassemos o tempo, virando costas à Dona insónia. Estou a tentar fazer isso. Só que, talvez conhecedora das minhas fragilidades, a insónia chegou carregada de sonhos e obrigando-me a vivê-los... Tentei, para a despistar, trabalhar na bendita da plataforma moodle, o meu mais recente pesadelo profissional, mas nem o computador me deu cobertura e a maldita da coisa recusou abrir. Tentei, depois, ir até ao fotolog colocar uma fotografia, mas a foto mói, mói, e não fica. Só o meu blog, que há muito se revela boa companhia, me abriu uma janela para sentires. E aqui estou, de costas viradas à insónia, pensando que seria bom, agora, estar numa praia tropical, Cuba?, ouvindo salsa e deixando o corpo colear a dois. Se assim fosse, com a ajuda das cores e sabores do lugar diferente, decerto com a cumplicidade a/efectiva de um abraço másculo, até a insónia me seria conveniente!!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Marmelada


Já há marmelos, muitos, no meu quintal. Hoje, dia de grande neura e muito trabalho, cheguei a casa exausta, farta de computadores e escola, e resolvi ir fazer marmelada (da de verdade e possível). É difícil descascar os marmelos. São duros e parecem querer resistir ao abuso que é cozê-los, esmagá-los, torná-los pasta e enfiá-los em tijelas. Como se não bastasse, ainda lhes cozo as cascas para fazer geleia, com pouco ponto, como a Joana gosta. Sozinha na cozinha, com os dedos já a doerem e vendo o anoitecer lindo lá fora, dei comigo a pensar que os marmelos, pelo menos os do meu quintal, são muito melhores do que os homens! Os marmelos resistem, os homens cedem; os marmelos ficam doces, os homens andam cada vez mais amargos; os marmelos deixam-me bem disposta, os homens entristecem-me; os marmelos fazem doer os meus dedos, os homens magoam fundo a minha alma. Pus um tachão ao lume,muni-me de colher de pau e pus-me a pensar no que poderia fazer com os homens e uma colher de pau. Bem mexidos e misturados, talvez se conseguisse dar algum sabor ao mundo...
Depois, já com a luz acesa e finalmente com menos calor lá fora, conclui que os homens, afinal, são melhores do que os marmelos. É que eu detestava ter marmelos por cima de mim e, agora, um abraço masculino até me saberia a marmelada...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Ressaca

Estou de ressaca mesmo. Ressaca social, emocional, política também. Depois da noite de ontem, feita de tanta angústia!, hoje apetece-me esquecer os outros e ser só eu, seja lá isso o que for. Apetece-me ficar por aqui, sonhando, lembrando, criando os possíveis mágicos que só fazem sentido na minha cabeça porque ecoam no meu coração. Hoje, apetecia-me ir em peregrinação, a dois!, até Santiago! Um dia, há anos, fui a Santiago. Ficámos, então, na Pousada de Viana - a rainha das Pousadas! - e depois de uma noite de loucuras, e de um pequeno almoço retemperador, rumámos a Santiago e à Corunha. Lembro-me que fazia frio. Frio bom, do que provoca abraços. Lembro-me, também, que comi uma paella de lavagante por um preço escandaloso. Mas lembro-me, sobretudo, da cumplicidade efectiva, do riso fácil, da necessidade do toque frequente. Fui, claro, dar as obrigatórias cabeçadas no Santo mas,fosse por falta de Fé, ou por carregar na alma um desejo muito pecaminoso, o que pedi não me foi concedido. Agora, apetecia-me ir lá de novo. E de novo chegar carregada de pecados feitos de desejos e sentires...

domingo, 11 de outubro de 2009

Semi-alívio

Foi uma noite difícil e muito dolorosa... Portalegre não aparecia nos ecrans, as rádios não referiam o concelho e a ansiedade começou a tomar conta de mim! Julguei que o pior dos cenários ia acontecer, e que o PS poderia ganhar a Câmara de Portalegre. Tremi e temi!! Felizmente, os meus receios não se confirmaram e o meu candidato, um Homem que conheço com trabalho feito, venceu. Não foi a maioria esmagadora da última eleição, mas o suficiente para continuar a presidir aos destinos do meu concelho. Foi também eleito um comunista, o que, obviamente, me desagrada. Mas, olhando o mapa eleitoral, há algo que me parece, tristemente, justificar esta eleição: - Só há câmaras comunistas no Alentejo, onde se vive pior, onde a miséria é maior, onde a ignorância é mais, onde o envelhecimento da população é a maioria. A norte do Tejo, onde se vive melhor, não há câmaras comunistas!! Assim, parece-me menos grave que o comunista de Portalegre tenha sido eleito e, ao mesmo tempo, fico sempre com esperança que a minha gente evolua e esta aberração se extinga.
Outro consolo, esta noite, foi ver o BE a não crescer. Que alívio quando ouvi, na televisão, um comentador dizer que era um fenómeno passageiro e que, provavelmente, vai extinguir-se dentro de dez anos. Que Deus o oiça!!

Eleições

Daqui a pouco, vão saber-se os resultados das eleições autárquicas. Estou esperando, depois de uma tarde de muito calor (incomoda este calor fora de tempo!), cheia de ansiedade. Tenho confiança na vitória do meu candidato, um homem que fez muito pelo meu concelho, um homem capaz e trabalhador. Mas, confesso, tenho medo que as pessoas se deixem levar por mentiras, pela velha e má política, e deixem vencer a demagogia e a falsidade.
Muitas vezes já, nem sei quantas, decidi que não ia mais querer saber, que não ia preocupar-me, nem participar, nem prestar atenção sequer. Mas não sou capaz! Faço parte desta terra, desta gente, deste país que amo com um ódio furioso, e sinto a urgência de intervir. Portalegre merece a oportunidade de progresso sustentado, fundamentado na sua identidade, que apenas um candidato garante. Queria tanto que desse certo...

sábado, 10 de outubro de 2009

Outono


A terra vestiu-se de novas cores, o Outono chegou sem querer saber do calor que continua. É a minha estação preferida, o Outono. Gosto das manhãs frescas, dos dióspiros, das romãs, dos marmelos que tanto custam a descascar. Hoje, véspera de eleições que me preocupam e angustiam, senti o Outono com força. Reparei que a relva está cheia de cogumelos, vejo sempre lá os duendes carregados de magias e guizos sonoros, e pisei sem querer os medronhos que já amadureceram. Se eu pudesse, gostava de poder conversar, conversa séria, com os duendes do meu quintal. Porque os duendes vivem séculos e, por isso, sabem muita coisa, acho que sabem mesmo tudo. Além disso,como o tempo não os persegue, nunca têm pressa, conversam ouvindo, riem-se com vontade e divertem-se com verdadeiro humor. Gostava de perguntar aos duendes como fazer para despertar nos meus alunos do 11º ano o gosto pela leitura, pela escrita, pela aprendizagem. Gostava que me ensinassem uma poção mágica para fazer aqueles miúdos, alguns..., crescerem sem a necessidade diária da prática da idiotice! Também gostava de saber se os duendes conhecem a magia para fazer as pessoas pensarem...É que, no meu país, essa actividade parece-me ter-se tornado escassa!!
Se debaixo dos cogumelos, tortulhos, do meu quintal, estivessem os duendes da minha infância, de certeza me explicariam porque é que a vida, a minha, se esgota em excessivas ausências!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Cores


Finalmente, choveu! Não foi uma chuva fresca, revigorante, boa, mas choveu. Chegou uma chuvada quente, a lembrar climas tropicais, e eu, que há tanto tempo a desejava, recebi-a desprevenida no que se tornou uma monumental molha. Estava em plena campanha eleitoral, naquela vila linda de Alegrete, quando começou a cair sem clemência. Cheguei a casa já seca, lamentando o meu cabelo..., e, adepta do perdida por um, perdida por mil, fui fotografar a chegada do Outono à minha casa. Ao primeiro clic, cacei as uvas murchas mas, ainda assim, com cores capazes de amolecer o meu olhar. Aqui ficam, para me alegrarem o serão!!!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

De volta


Voltei. Depois de um voo atribulado, luzes apagadas, turbulência e hospedeiros pálidos de medo - já não há homens como antigamente - lá aterrei nos Algarves. À minha espera, o calor dos amigos de verdade, sem protestar da espera, sorrindo e fazendo-me lembrar que, de facto, os amigos são a família que se pode escolher. Voei de seguida, baixinho, para casa, o meu C4 mostrando o que vale, e antes da meia-noite estava na minha cama. Se me soube bem voltar ao meu canto, ao meu espaço, ao meu silêncio, desagradou-me o regresso, logo de manhã, à vida de trabalho. Injustiças, arbitrariedades, enormidades e fazerem lei na Educação deste país. Prémios em dinheiro para muito bons atribuidos por simpatias e amizades, a aberração a fazer-se norma e a revolta a fazer-se presente!Odeio esta gente medíocre, adepta da mentira, do tachinho, do compadrinho, dos inhos todos que sufocam o meu Portugal!!
O que eu queria agora, era sentar-me no banco do jardim imenso e ficar conversando de mil sonhos a realizar...

domingo, 4 de outubro de 2009

Anglesey Abbey


Saímos a meio da manhã, sem vento já, a caminho de um lugar incrível, garantiram-me. E não me enganaram! Em menos de meia hora entravamos numa Quinta antiga, séc.XII!, bem conservada e habitada pelos donos até há apenas cinco anos!!! Os espaços cá fora sã indescritíveis: - A ordenada desordem, os canteiros de mil cores, as estátuas, os caminhos, as árvores enormes, os troncos rugosos, a água a correr, tudo cria um ambiente romântico. Depois, a Casa. Cheia de madeiras, de quadros, de sofás fofos e quentes onde apetece ficar a saborear um chá. Sentia-me transportada aos tempos da Jane Austen (que ainda leio...) e espantava-me a cada pormenor descoberto.
De regresso, a convite do meu genro querido, almoço num Pub. Delicioso pudding, saborosissímos mushrooms. Como hei-de eu querer ir embora amanhã???

sábado, 3 de outubro de 2009

Nuvens

Dia cinzento em Cambridge. Saí de manhã, meia hora de caminhada até ao centro por prados, lagos, edifícios imponentes e muitas muitas sebes de azevinho. O vento batia com força na minha cara, fazendo-me andar com esforço. Cheguei ao centro e a agitação era imensa: - Turistas, sobretudo milhares de japoneses em fila, vendedores, e jovens estudantes tentando alugar os músculos num passeio pelo rio Cam. Entrei no Costa e tomei um café, um regular one que é o que mais parecido com bica consigo encontrar. Depois fui ao pão, no vendedor da Galiza que já é amigo da minha filha e fiquei vagueando por ali, no meio de cheiros, muita música, muita cor e frio bom. Pelas duas, voltei para casa. Vim de autocarro, o 4, porque ameaçava chuva mas, afinal, não choveu ainda. Almocei, estive a corrigir trabalhos dos meus miúdos e vim, então, trabalhar na minha formação. Detesto a plataforma moodle! Sinto-me uma idiota a trabalhar assim, sem olhares reais, sem estabelecer laços, em a proximidade de um sorriso. Aqui, em Cambridge, parece que ainda faz menos sentido este projecto do novo programa de português para o ensino básico...
Agora, vou fazer scones para a Filipa e para o Guilherme comerem quando, logo mais, chegarem do longo dia que foram passar ao Hospital!!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

De longe

Almoço no King's College. Uma sala austera, paredes altas, vozes graves, telemóveis proibidos e a sensação de ter entrado num dos livros do Harry Potter. Depois, a sala vermelha, o café, as mesas e sofás, as conversas dos Fellows, o verde lá fora, sedutor e intenso. Ao meu lado, a minha filha feliz, o Manel Bernardo na barriga muito redonda, o olhar vivo e a conversa risonha e solta. Saí do King's sem resistir a lembrar-me do meu espaço, da minha Serra, da solidão que partilho com os meus cães, dos problemas que parecem agora insignificantes. Sei que 2ªfeira, no feriado sem sentido, vou ter de voltar e tenho já saudades. Mas, ao mesmo tempo, parto sem ansiedades porque sei a minha filha feliz, amada e amando muito, construindo uma vida com essências e sentires! Agora, já nem acho os ingleses snobs...