quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

2016

Quando era miúda, gostava de fazer a lista de decisões para o Novo Ano. Depois, guardava-a numa gaveta e, no 31 de dezembro seguinte, verificava o seu incumprimento... Hoje, nem sei porquê, lembrei-me desse velho hábito e, como não resultava, decidi fazer o oposto: - A lista do que não farei, do que não desejo, do que vou fugir a sete pés!

Em 2016:
Não farei dietas malucas;
Não brincarei aos sonhos impossíveis;
Não acreditarei em falsas amizades;
Não colecionarei desilusões;
Não abdicarei da minha vontade;
Não cederei lugar à estupidez alheia;
Não chorarei de raiva face à maldadezinha quotidiana e reles;
Não direi que sim, quando o meu coração gritar NÃO;
Não deixarei os meus alunos entregar trabalhos fora do prazo;
Não deixarei de contemplar o pôr-do-sol;
Não escreverei de acordo com o acordo ortográfico;
Não beberei mais de cinco cafés por dia;

Para 2016:
Não desejo mais solidão;
Não desejo adiamentos;

Não desejo Medo;
Não desejo fracassos;
Não desejo estupidez;
Não desejo desilusões;
Não desejo invejas;
Não desejo escassez de tempo;

Em 2016:
Vou fugir da má língua;
Vou fugir da humilhação;
Vou fugir da agressão;
Vou fugir da imposição;
Vou fugir da aberração;
Vou fugir da insistência da recordação...

Depois, quando chegar ao último dia de 2016, quando estiver à espera de adormecer para acordar no 2017, vou ver se o Não resultou...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

MORIBUNDO

Chegou cheio de brilho, foguetes, champanhe e música. Surgiu vestido de branco, oferecendo esperança, confiança e sucesso. Por causa da chegada festiva, deram-se abraços e beijos, uniram-se corpos e esgotaram-se créditos. Depois, ele foi sendo. Fez-se terrorismo, guerra, crise, dor, lágrimas, medo, pânico e desilusão. Ele parte agora. Esgotado e vazio. Feito coisa nenhuma, sem deixar saudades, tendo já trocado a roupa branca de esperança, pela negra de desalento. Que vá em boa hora, que não volte mais o 2015!
Agora, há já 2016 a estrear o fato branco. E a gente sacode a alma, olha a garrafa de espumante a que chama champanhe, e volta a acreditar que, desta vez, o Branco não vai encardir...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Noite de Natal

 E aí está a noite de Natal mesmo a chegar... Os doces enganam os amargos da vida, a chuvinha pede calor e ternura, o bacalhau (este ano com broa, para variar) já estala no forno. As crianças garantem ouvir o trenó do Pai Natal, a Carlota jura que viu o gnomo de barrete amarelo, aquele que nas histórias da avó é sempre o mais disparatado, passar junto ao cume da árvore com uma boneca gigante. Eu brinco também e recordo o Papa Francisco pedindo que conservemos a Alegria, que combatamos o Medo. Quero combater os meus medos, TANTOS!, e reinvento a alegria nesta Noite que é sempre mágica!
Feliz Noite de Natal!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

REZAR

Natal As minhas crianças ouvem-me contar a história do maléfico rei Herodes, escutam com olhos atentos a caminhada dos reis Magos, fazem-me perguntas sobre Maria e José  desejando, eles mesmos, terem um burro e vaca solidários e amigos. Falo-lhes de bondade, de coisas bonitas e ternas, de amigos e de amor. Depois, as minhas crianças vão dormir e eu abraço a solidão dando Graças por ser resistente e por saber rezar só para mim.           

domingo, 20 de dezembro de 2015

FALTAS

Este é o Tempo das cores intensas, das correrias, das ilusões., das crianças a tossir e da roupa desarrumada... É, também, o Tempo das ausências, dos desejos e memórias. E eu tenho essas memórias a doer! Sinto-te presente, sabendo que não estás. Fazes-me falta, sim. Não consigo apertar o colar, aquele de pedrinhas, lembras-te? Não consigo montar o candeeiro... Sim, já comprei a chave de fendas mas, sei eu lá porquê, os parafusos insistem em ganhar vida e vontade própria e não ficam onde fazem falta. Fazes-me tanta falta... Faz-me falta a tua presença à mesa, a refilice porque insisto no bacalhau, a ternura no olhar onde afundo o meu.
Desisti de pôr o colar, paciência. Desisti do candeeiro alto e já não cozinho mais bacalhau. Sem ti, não tem graça.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

NATAL

Cheira a Natal, sabe a Natal, soa a Natal. Na minha casa o presépio já está feito, o abeto decorado e os enfeites saíram das caixas para dar nova cor à sala. Já me ofereceram chocolates, já comprei açúcar para fazer doces, já há presentes escondidos. Este é o primeiro de outros Natais. E olho para trás somando primeiros Natais, afastando a nostalgia.... O primeiro Natal casada, o primeiro divorciada, o primeiro com filhas pequenas, o primeiro com filhas casadas, o primeiro carregado de temores, o primeiro sem o meu Pai, o primeiro com destroços de ser, o primeiro com esperança recuperada, o primeiro com mágoas fundas, o primeiro sem Serra. Afinal, e embora a vida sempre se cumpra sem ligar nenhuma a hesitações, cada Natal é sempre especial para mim. E seja porque vou envelhecendo, ou mesmo porque sempre foi assim, gosto imenso do Natal!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

PORTALEGRE

Bem cedo, antes que o sol incómodo começasse a inundar o meu mundo, atravessei a minha cidade. 
A velha rua do Comércio, com os arcos que a caracterizam, está já preparada para o Natal e, em cada porta, há vasos, flores, bolas coloridas e enormes presentes de laços largos. Acabada de lavar, a calçada brilhava Cruzei-me com alguns bons-dias, daqueles que nos ajudam a perceber quem somos, e  subi até à Sé, para cumprir o meu  objectivo, levantar um certificado no IPP. Voltei a descer, agora com menos esforço, atravessando o jardim. 
Cheirava bem, cheiro de relva acabada de cortar, e um tapete de folhas de plátano amaciava-me os passos.
Portalegre pode ser uma cidade envelhecida, as pessoas jovens podem estar a partir, as lojas podem estar a empobrecer, muitos políticos podem não valer o dinheiro que ganham, a maldicência pode ser intensa... Mas esta é a minha cidade, o meu espaço de conforto, o lugar onde as minhas memórias despertam a cada caminhar.