sábado, 31 de maio de 2014

NOITE

Ontem, a noite em Portalegre foi longa. A velhinha rua do Comércio, num esforço imenso para sobreviver, animou-se pela noite dentro. Havia insufláveis, lojas abertas, flores nas portas, gente passeando. Desci e subi a rua, sentindo-me irmanada nos olhares que cruzava. É difícil ao comércio sobreviver numa cidade pequena, mais ainda quando a concorrência das grandes superfícies é muita e eu acho fantástico o esforço que alguns comerciantes continuam a fazer!
Talvez a velhinha rua do Comércio acabe mesmo, afinal tudo tem um fim, mas custa-me aceitar que isso possa acontecer e gosto de sentir que há mais quem pense como eu... Talvez fosse possível, se houvesse vontade, fazer da rua do Comércio um Centro Comercial diferente, animado, capaz de cativar passeantes e compradores. Claro, não seria uma Via Venetto, mas poderia ser inovação e identidade.
Não gosto de mimetismos, de importações acríticas de modelos e, também por isso, dói-me ver Portalegre a empobrecer. Ontem, foi uma noite diferente. Porque não criar, por exemplo, noites temáticas?

quarta-feira, 28 de maio de 2014

SE

Se tu soubesses o que eu sei que tu não queres saber, se tu sonhasses os sonhos que me deixam acordada, se tu provasses o ácido com que sei a vida temperada, se tu conhecesses o calor do abraço nunca dado, se tu adivinhasses as letras do silêncio que te digo, se tu identificasses a mágoa que me ensombra o olhar, se tu lesses as páginas que deixo sempre em branco, se tu ouvisses o vazio que enche o meu doer, se.
Se o se não fosse se, se o se fosse verdade, se o se não fosse adiar...

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Foi Cesário...

Trabalhando, com gosto, Cesário com os meus alunos, esbarrei de novo com o verso "Ai como deve ser bom ter o seu aconchego! A sua vida fácil!".
Como é actual a ironia. E como deve ser bom, também, ter certezas individuais, ter sempre a condenação à mão, pronta a usar! Como deve ser bom não ter de compreender ninguém, não ter de ouvir, não ter de aceitar e respeitar. Deve ser bom. Mas deve, também, ser dolorosa e dramaticamente solitário!

domingo, 25 de maio de 2014

A VOTOS

Hoje, vamos a votos. Vamos, de facto, eleger 21 deputados que, entre cerca de 766 (!!), devem fazer valer os interesses de Portugal. O peso, obviamente, é reduzido. Mas para os eleitos a vitória fará diferença: - Vão viver para um país a sério, vão ganhar bons ordenados, vão ter direito a assessores e secretários que sempre poderão justificar a presença da família.
Vamos, hoje, escolher aqueles que terão a sorte de sair de Portugal e ainda serem bem pagos por isso. É muito importante ir votar...

sexta-feira, 23 de maio de 2014

CARICAS

Não me digam que Portugal não é um país único! Que outro país teria a brilhante ideia de pôr agentes da PSP a separar caricas por cores, para depois se fazer uma grande bandeira da nação? Que outros brilhantes dirigentes poderiam lembrar-se de testar a capacidade de distinguir o vermelho do verde, em PSPs que, todos os dias se confrontam com semáforos? Brilhante! Fiquei impressionada, confesso, quando vi o trabalho destinado aos agentes da autoridade. Será que está tudo doido, ou será apenas mais um dos absurdos da nossa governação? As eleições aproximam-se, o grande jogo de futebol é já amanhã, os espanhóis invadiram Lisboa mas a PSP separa caricas!
Grande e triste Portugal!

quinta-feira, 22 de maio de 2014

LETRAS E TRETAS

Foi hoje, há pouco, que o livro Letras e Tretas, da autoria de jovens entre os 12 e os 14 anos, veio a público. Na sala nobre da Câmara Municipal de Portalegre, a abarrotar de adultos e miúdos, o momento foi de nervoso e euforia. Os autores, lindos e orgulhosos, vendiam livros; o público pedia autógrafos e sorria; os professores, unidos em torno de um projecto comum, observavam e orientavam.
A Beatriz e o Miguel, em nome da turma, chegaram ao microfone e falaram. Falaram do processo de aprender, dos sonhos, das cumplicidades construídas na sala de aula, da alegria de crescer, do muito trabalho quotidiano, da confiança na escola que integram. 
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O senhor Ministro da Educação faltou. Mas não fez falta nenhuma e só serviu para, uma vez mais, jovens e adultos compreenderem o que é a má política. Quão longe das suas preocupações ficam, de facto, as pessoas.
Estou já em casa, mas ainda vivendo a excitação dos meus miúdos. Acredito que o caminho se faz andando, defendo que o treino diário é a base para a construção do saber, para o desenvolvimento de competências também. Acredito que estes miúdos nunca vão esquecer este dia e, sinceramente, tenho esperança que tenham compreendido como é bom ser um elo de um todo de sucesso!
Se queria que tivesse sido diferente? Sim! Queria que a televisão tivesse estado presente.  Mas isso, como alguém dizia, só acontecerá se os mesmos alunos, ou outros, pegarem fogo à escola ou matarem alguém...

terça-feira, 20 de maio de 2014

Para os braços de minha mãe

O poema, e a música, que o Pedro Abrunhosa canta, "Eu quero voltar para os braços de minha mãe", toca- me profundamente. Vejo o jovem de 20 anos a comprar amor em Amesterdão, sinto as saudades e a solidão que lhe doem fundo e, porque também eu queria que a minha filha voltasse para os meus braços, emociono-me sempre! Para além das minhas emoções, e talvez de algum excesso de sensibilidade que me caracteriza, gosto da voz rouca de Pedro Abrunhosa e considero este poema uma forma de intervenção social importante.

Ora, porque tenho a mania de pensar que os testes de avaliação sumativa devem, também, ser educativos e cruzarem competências sociais, resolvi usar "Quero voltar para os braços de minha mãe" para testar a competência de compreensão oral. Surpresa das surpresas, cerca de 80% dos meus alunos falhou na compreensão do que ouviu. Como sei que não são deficientes auditivos, fiquei preocupada. 

Os miúdos, os nossos jovens ( e os adultos também!) não sabem ouvir. Como agir para mudar este estado dramático de surdez funcional na nossa sociedade? Não sei. Tenho ideias, claro, mas carecem de fundamento científico...

domingo, 18 de maio de 2014

O MURO

Ao fim da tarde, apetece o descanso. Puxa-se uma cadeira de repouso, mergulha-se o olhar na paisagem, deixam-se soltas as memórias e a paz vem, de mansinho, falando de momentos, de opções e de forças que é preciso inventar. Esticam-se as pernas e o muro antigo, cansado e gasto, oferece-se firme para suportar o descanso. Era bom que houvesse sempre um muro forte, uma parede firme, onde, no final de cada dia, se pudessem poisar, em paz, as angústias e as desistências.

sábado, 17 de maio de 2014

AVISO URGENTE

Este post é para os meus amigos e, também, para os meus inimigos! 
Há cerca de quinze dias, telefonicamente, pedi a rescisão do meu contrato de televisão Zon. Cumprindo a legislação, identifiquei-me com o número do cartão de cidadão, o nif, a morada e o número de cliente Zon. Não bastou! Já quatro vezes me telefonaram, nos momentos menos oportunos, a confirmar os dados. Já lhes disse, por isso, que tenho duas filhas, três netos, três cães, uma rã, muitas formigas e algumas aranhas, e penso que não seja impeditivo do cancelamento do meu contrato o facto de não ter periquitos nem canários. 
Acho muito estranho que, num país mais ou menos livre, seja quase feito um inquérito policial para, simplesmente, cancelar um serviço de televisão!
Será que não nos assiste o direito de mudar de casa, de mudar de serviços? Embora não consiga ver-me livre da Zon, fui logo informada que tenho uma fidelização até 18 de Junho e, por rescindir o contrato, pagarei mais 18 euros. (Embora considere que estou a ser  descaradamente roubada, pagarei essa quantia quando tiver a certeza que não vou receber mais nenhum telefonema a perguntar porque é que a senhora Maria não quer mais a televisão...)

Convém referir que,  há cerca de um mês, a ZON impingiu-me um serviço de internet que não funciona porque, na morada em questão, não há sinal e, ainda assim, obriga-me a nova fidelização e ao pagamento de 49 euros mensais. Ou seja: - Para ter net, tenho Vodafone, mas pago a Zon. Confuso? Não, é Portugal no seu melhor!
O meu aviso fica feito: Quem puder, fuja da Zon a catorze pés!!

sexta-feira, 16 de maio de 2014

PROFESSOR

Ao dirigir-me ao meu carro, vi que tinha algo no vidro, preso sob a escova do pára-brisas. Tremi! Uma multa era mesmo só o que me faltava, num dia que de bom apenas tem ser sexta-feira. Já desesperada, estiquei a mão e retirei a coisa. Não era uma multa. Era, pelo contrário, uma promessa de felicidade. O senhor Karim, que não conheço, garantia no papelinho impresso que podia resolver todos os meus problemas. TODOS! Até mesmo, explicava, aqueles que eu nem sei que tenho. Este senhor, dizia ainda que há uma conjugação de estrelas que eu preciso conhecer para me integrar em harmonia no Universo. Mais, este senhor dizia-se Professor (nunca hei-de perceber porque é que toda a gente quer ser professor).
Ainda eu mal tinha acabado de ler a salvação prometida da minha vida, quando reparei que todos os carros no estacionamento tinham a mesma promessa de felicidade.
Que tal alguém procurar o Professor Karim e colocá-lo no governo?

quarta-feira, 14 de maio de 2014

LIXOS

Ao longe, o sono alheio enche a paisagem. Luzes tremelicantes, de vez em quando um automóvel ligeiro, o coro dos grilos e das cigarras. Vejo tudo ao longe, e de longe, com a sensação estranha de não fazer parte, de não ser um elemento, de não ser um elo. Olho o quotidiano e a angústia cresce. As alergias, os espirros, os olhos inflamados, fazem sempre a vida mais terrível nesta época do ano. Estranho como a natureza que amo me incomoda! Na velha casa amarela o silêncio faz-me companhia, as ausências protegem-me.
Arrumei os sonhos, rasguei em mil pedaços as ilusões, deitei no contentor verde a esperança. 
Hoje, sou só eu e a realidade. Amanhã, depois, a seguir, também. Do que quis, sonhei, desejei, ambicionei, ficaram farripas de nada que, tenho esperança, a memória se encarregará de destruir...

terça-feira, 13 de maio de 2014

Rosas de Verdade


No meu quintal, há rosas de verdade. Rosas que cheiram bem, têm picos e até bichinhos nas pétalas. 

No fim da tarde, quando o sol amorna um pouco, sabe-me bem pegar num vasculho e deixar o meu velho quintal bem limpinho. Este é o meu espaço. O espaço onde as rosas ainda têm perfume, onde não há culpas nem agressões. 
Hoje, esta rosa espevitada, tão frágil e tão bela, emocionou-me. Se ela é capaz de estar assim, linda, de pé, perfumada, ainda que cheia de espinhos, como não conseguirei eu sorrir e acreditar também?
Eu sei... ela não pensa!

segunda-feira, 12 de maio de 2014

PAZ

Muitos a apregoam, quase todos a desejam. Eu encontro-a por vezes. Como hoje! Quando a nogueira do meu quintal, as presenças das minhas filhas ausentes que enchem a velha cómoda, a minha tranquilidade interior me visita e eu sei que tenho trabalho bom para realizar. Sabe bem quando a vida se cumpre assim, de bem connosco. Hoje, até a segunda-feira, de início de campanha eleitoral, me sabe bem! 

domingo, 11 de maio de 2014

Outra vez

É outra vez domingo. Está calor, para mim excessivo, e a vida continua balofa de desilusões. O sol volta sempre a nascer, garantia o meu Pai, e com razão. Mas, agora, parece-me que o sol já não nasce com a força que caracteriza o verbo nascer, cheio de força para rasgar barreiras, iluminar novidades e ganhar futuro. Hoje, agora, sinto que o sol apenas aparece, cansado também, escaldante e exagerado. 
É outra vez domingo. E os outra vez repetem-se, intermináveis e sem originalidade, no fazer da vida dura que sangra. Para mim, claro!

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Certeza Absoluta

Lancei o desafio, que é semanal, aos meus alunos: - Redigir um texto argumentativo partindo da frase "E tenho a certeza absoluta!". Para conforto e tranquilidade minhas, muitos, quase todos, referiram o pleonasmo e partiram dele mesmo. Falaram-me do futuro, da importância das dúvidas, da fragilidade das certezas (ainda que absolutas). Alguns, claro, disseram aquilo que pensam que eu quero ler, afinal isso também é uma competência social... mas muitos foram reflexivos e, porque são miúdos de 8º ano, porque têm 13 e 14 anos, foram sinceros. 
Depois de ler os textos, fiquei a pensar também nas minhas certezas. Absoluta mesmo, a certeza de um dia encontrar a paz da morte escura. Viva ainda, as incertezas são muitas... Duvido do amor, da amizade até, do nascer do sol, da força do mar. Desfiando dúvidas, vou construindo certezas negativas. E tenho medo! Não era esta a vida que imaginava, o quotidiano que previa quando, há tempos, tinha a certeza do futuro...

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Mar... Saudade!

Na noite comprida, quente e vazia, a poesia de Sophia e a voz de Maria Bethânea fazem-me companhia!

quarta-feira, 7 de maio de 2014

7 de Maio

O branco gelado do Hospital de Santa Maria fazia-me sentir desprotegida, sozinha e assustada. No coração e na cabeça levava a minha filha mais velha, ainda só com dois anos, e uma grande aflição com aquela vida nova que carregava dentro de mim. Tudo parecia correr mal, uma pré-eclampsia acelerara tudo, não conseguia desligar-me do olhar assustado da mais velha dizendo adeus nos braços de uma amiga. Voltaria a vê-la? Nunca vou esquecer a desumanização do Santa Maria, os gestos mecânicos, profissionais, sem um olhar, sem uma palavra. Já na mesa de operações, gelada, ouvi dizer que tinha morrido Mota Pinto.
Foi assim que, há 29 anos, nasceu a minha filha Joana. Hoje, vejo-a mulher, mãe também, e penso como é possível que o Tempo voe mais rapidamente que a minha memória.
7 de Maio foi sempre uma data cheia de acontecimentos! E lembro ainda uma correria louca pelas ruas do Porto, procurando uma Barbie doutora e fugindo de uma formação que nunca mais terminava para vir passar a tarde com a minha menina! A vida foi-se cumprindo, ora com insignificâncias, ora com importâncias, e de novo passo o dia longe da minha menina-mulher. Ser Mãe também é isto, acho eu. Esta capacidade de eternizar momentos e, assim, agasalhar um pouco o frio da emoção!
Parabéns Joana!

domingo, 4 de maio de 2014

Dia da Mãe

Minha Nossa Senhora, Mãe das  mães

É o nosso dia hoje! Uma vez no ano, juntamo-nos numa data que, sendo Tua, é minha também. Quando era miúda, naquela idade em que, na escola, se fala da Mãe perfeita e se preparam os presentes, fazia-me confusão ver-te chorar sempre. Porque choravas, pensava, se eras Mãe e o Teu filho era perfeito? Hoje, mãe e avó, compreendo que as lágrimas no teu rosto corriam por todos, se todos somos Teus filhos. Ser Mãe é isso, não achas? Um misto de alegria total, com preocupação constante e compreensão eterna. Hoje, as tuas lágrimas são minhas também quando, vendo lá em baixo, ao longe, a tua imagem sobre o Seminário da minha cidade, recordo as minhas filhas ausentes, os meus netos abraçando as mães num espaço que já não é meu. Ser Mãe é difícil, Tu o saberás melhor que ninguém!
Já adulta, velhota mesmo, continuo sem poder avaliar o tamanho do teu sofrimento vendo o teu filho morrer. 
Mãe, é a ti que, hoje, peço força, coragem e sabedoria. Ajuda-me, aí de longe, a continuar suportando distâncias, consolando-me com a montanha de vivências felizes que constroem o meu património de afectos. Dai-me sabedoria para ignorar as mágoas, as agressões frequentes, as violências quotidianas. 
Senhora Mãe, sei que a solidão não existe porque Tu estás por aqui, porque guardo em mim os sorrisos das minhas filhas e netos. Minha Nossa Senhora Mãe, obrigada, hoje, pela Paz da Serra, pelo azul do céu, pelo verde e amarelo que tecem o meu horizonte, pela tranquilidade dos meus sentires. 

sábado, 3 de maio de 2014

A alça

O meu destino era a capelinha do Senhor Jesus dos Aflitos (mesmo a fazer-me falta), quando parei para meter gasóleo. À minha frente, um casal jovem, daqueles cheios de saúde dentro dos fatos de corrida modernos e brilhantes, ténis a condizer, garrafa de água na mão e telemóvel à cintura. Pensava eu que muito teriam de me pagar para andar assim na rua quando, de repente e assustadoramente, os meus olhos pousaram nos ombros da rapariga/mulher. A par com as alças do Top, vermelho, lá estavam as alças do soutien, pretas. 
Paguei o gasóleo, cada vez mais  caro, e saí a pensar que este mundo me fica cada vez mais distante. É que eu acho horrível verem-se as alças do soutien, como acho pavoroso ver as cuecas (perdão: boxers) de alguns rapazes! Não acho piada nenhuma andar na rua a mostrar as intimidades, e não devo ser a única porque há soutiens que prendem no pescoço, e que até nem têm alças, exactamente para que não se veja aquele pormenor desnecessário!
Claro que cada um mostra o que quer, mas claro, também, que cada um pensa o que quer! E, decididamente, eu penso que é de um mau gosto atroz mostrar as alças do soutien! 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

SOL TOTAL

Na velha casa, as sombras antigas sorriram. As pedras gastas, as mesas de granito, viram chegar gente amiga e, de novo, a vida a cumprir-se com sentido. Na fonte, onde a água corre abundante, há já uma terceira geração que se molha, feliz, a estrear o Verão. Vejo o Sol Total na minha Serra e pergunto porque não chega para iluminar a escuridão dos meus sentires... Respiro a alegria alheia, converso e, quando abraço a minha neta pequenina, oiço o coração falar. Peço-lhe que se cale: - Agora não, por favor! Agora, é tempo de Sol Total!