terça-feira, 31 de dezembro de 2013

FINAL

Uff!! Que alívio! Vai acabar mesmo este 2013 de péssima memória. Este ano, não penso no que vou mudar a partir de amanhã, não faço projectos, não estabeleço metas, não formulo estratégias. Para 2014 quero viver apenas cada dia. Carpe diem.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

BALANÇO

Aproxima-se o final do ano e começam as retrospectivas, os balanços, o lembrar os mortos famosos, as medidas ingratas, os escândalos e as grandes festas. As televisões prolongam os noticiários repisando, no fundo, as dores. Porque são mais os maus momentos do que os bons que, normalmente, se recordam. Esta mania humana de se agarrar ao passado, como se ele fosse recuperável, é para mim difícil de compreender. Nunca gostei das Passagens de Ano, desde logo porque não gosto de divertimento imposto e calendarizado, mas também porque me assusta muito o que está para vir.  O passado não me assusta, já foi; o futuro apavora-me e, festejar a sua chegada, parece-me quase macabro. Muitas, mas muitas noites de 31 de Dezembro passei-as dormindo a partir das dez da noite e quando, bem cedo, saía de casa para a minha voltinha matinal, gostava do silêncio, do vazio das ruas, da ideia (ilusão) de só eu estar acordada no mundo e, por isso, tudo, desde a chuva ou o brilhar do sol, ser exclusivamente MEU! 
No entanto, gosto da ideia de fazer um balanço. De olhar o que fiz de bom (sim, eu também faço coisas boas!), e de repensar o que fiz de mal. Fazendo o meu balanço deste 2013, fica-me um forte sabor a amargo. Foi um ano mau. Muito mau! Apenas o nascimento da minha neta Constança valeu a pena! Este 2013, felizmente moribundo, fez-se de mal estar a todos os níveis. Socialmente, sucederam-se agressões, violentações até. Profissionalmente, o chorrilho de anormalidades foi tal, que cheguei a ter vergonha de ser professora. Politicamente, vi crescer os incapazes, vingarem os mal intencionados e enriquecerem os bandidos. Pessoal e emocionalmente, é um segredo negro que guardo para mim...
Em tempos de balanço, só me apetece pensar no futuro!

domingo, 29 de dezembro de 2013

O Babette

Tenho lavado, e passado a ferro, muitos babettes. Nalguns, as nódoas de cenoura custam a sair e nem as publicidades mais convincentes, a que me rendo, resolvem o problema... Mas, para me consolar, as minhas filhas dizem que não tem importância nenhuma, o que interessa mesmo é proteger o essencial. Deu-me para pensar que, numa era de invenções, quando as televisões se ligam e desligam ao som de palmas e/ou vozes, era boa ideia que alguém inventasse um babette para a alma. A gente colocava o babette e as desilusões, mágoas, sofrimentos, angústias, revoltas, tristezas, solidões, depressões, abandonos e desgostares ficariam à entrada da alma! 
Então, ainda que  nós não conseguíssemos tirar eficazmente essas nódoas, podíamos sempre tirar o babette e seguir em frente, pela vida, com a alma imaculada!!

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

o Calor do Natal


Manda a tradição popular que, todos os anos, se acenda um enorme fogo no centro das aldeias e vilas de Portugal. Perde-se no tempo a origem desta prática, mas não é difícil imaginar que o objectivo seja aproximar as pessoas, unir as comunidades e,simultaneamente, evitar que os mais desfavorecidos passem frio. O grande fogo, uma lareira de chão, acende-se na noite de 24 de Dezembro e deve arder até ao dia 6 de Janeiro. Haja chuva, vento, ou frio, a lareira vai sempre ardendo e, em volta, é costume partilharem-se cantigas ao Menino, filhós e azevias, e, claro, alguma ginjinha ou aguardente da boa. 


Nas minhas tradições de Natal havia sempre o passeio, na tarde de dia 25, a ver as fogueiras e a deixar uns petiscos. Um dia, teria talvez doze ou treze anos, li pela primeira vez o Conto Natal, de Miguel Torga, e passei a procurar o velho Garrinchas em cada uma das fogueiras que visitava.
Hoje, voltei a fazer a volta. Levei azevias e trança, levei Porto também. Estava muito frio, caíam uns flocos que se desfaziam no chão e voltei a encontrar os velhos eternos, com as mãos enregeladas, repetindo o deixe aí senhora, que isso nada se perde. E beba um copo à nossa! Bebi um copo que me aqueceu a alma que, sei lá porquê, ía mais gelada do que os farrapos brancos.
No regresso, dei boleia ao Garrinchas. Viemos conversando inconfessáveis.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O Cedro

Era enorme, velho, frondoso e imponente o cedro. Lembro-me dele de sempre, ali, crescendo até quase tocar o céu e fazendo sombra ao canil. Há tempos, a morte anunciada do cedro começou a ser conversa. Que estava velho, que tinha crescido demais (até para as árvores é crime querer chegar longe?), que corria o risco de cair, que podia partir o muro, que, pior!, podia cair em cima de alguém. Fiz algumas tentativas, pouco convencida confesso, para evitar a catástrofe anunciada. Não tive êxito... A Câmara Municipal não podia, os bombeiros não podiam, ninguém podia e o cedro foi sobrevivendo. Ontem, em plena noite de Natal, o velho cedro desistiu de viver e, levado por uma rajada mais forte, destruíu o muro, caíu na estrada, rebentou os fios da EDP.

Num instante os bombeiros puderam vir, a polícia também e até a CMP deu uma ajuda. Da minha janela, sob chuva torrencial, via as luzinhas azuis a tremelicar e garantia aos meus netos que era o Menin o Jesus que andava perto.

Hoje, verifiquei a destruição. 
E hoje, depois de um dia atribulado, apetece-me agradecer aos bombeiros e aos técnicos da EDP que, apesar de ser Natal, trabalharam incansavelmente para me devolver a energia eléctrica. Fiquei a pensar nestas pessoas que passam as Festas a trabalhar para ajudar os outros. Claro que sei que são pagos para isso mas, mesmo assim, acho que merecem um imenso obrigada de todos quantos ajudam. Às vezes, não pensamos naqueles que, no anonimato e na sombra, fazem parte da vida de uma comunidade. Para eles, todos, um grande Natal embrulhado num obrigada enorme!

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O Melhor do Mundo

Logo mais, quando esta noite terminar noutra noite do mesmo dia, vai chegar o Menino Jesus. Vai trazer presentes para as minhas crianças porque, enquanto eu puder, eles ignorarão a palavra crise. Vai trazer brinquedos, porque acredito que a infância se faz disso mesmo, e que os presentes correctos, e teoricamente educativos, pintam de cinzento o tempo das cores fortes. Antecipo a excitação das crianças, os olhares curiosos à chaminé, como vai descer o Menino Jesus?, e o frenesim ao abrir os embrulhos. Quero crer que vão ganhar memórias de felicidade e, cada vez mais, elas são importantes e úteis. 
Daqui a pouco, com o vento a uivar lá fora como agora, a felicidade das minhas crianças vai ludibriar os meus sentires.
Como Pessoa, tenho a certeza que "O melhor do mundo são as crianças"!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Natal

"Quando o adeus acontece, o Natal empobrece e a luz das estrelas, brilhante, apaga-se!"
Acho que sonhei com esta frase, martelando a minha insónia, impedindo-me de dormir. Mas acordei. Na paz imóvel de quem nada mais pode perder, reparei na riqueza imensa que tenho! Eram diamantes as gargalhadas das minhas crianças.

domingo, 22 de dezembro de 2013

O DESENHO

O Casper terminou na televisão e, num instante, ganha espaço a fantasia que o frio tranca dentro de casa. Acendi a lareira bem cedo, o fogo faz fantasminhas nas paredes da velha Casa, e o pedido surge natural: - Desenha uma bruxa, avó. Esforço-me. Recupero a minha total inabilidade manual, oiço o meu Pai a consolar-me "deixa lá filha, Deus compensa a falta de destreza manual com a inteligência, e vice-versa..." Rio-me de novo, e o Manel indigna-se: "Oh avó não acho graça nenhuma, isso não é uma bruxa, parece é uma vassoura velha!": Com atenção, aprendo então o que me ensina, sigo o traço infantil que faz, agora sim, surgir uma bruxa com cabelos e um brinco grande, com uma aranha - vês? -. Vejo e rezo baixinho para que o meu neto, os meus netos, todas as crianças, sejam capazes de traçar um mundo novo, com riscos ousados, ao sabor da imaginação e da infantil ternura, pintando-o, depois, com cores de possíveis.

sábado, 21 de dezembro de 2013

21 de DEZEMBRO

Há uns dias, a Dalma dizia que recordar não é viver. E eu, em parte, concordo. Não adianta vivermos agarrados a um passado que não volta, ou a um futuro que eternamente se adia. No entanto, no passado ficaram momentos, vivências, que de alguma forma nos marcam no presente e, por isso, já não são passado e sabe bem recuperá-las. O dia 21 de Dezembro é, para mim, um dia eterno. É o dia de aniversário de casamento dos meus pais e cresci a vê-lo assinalar! Os meus pais amaram-se sempre, resistiram a dores imensas como a perda de uma filha, e continuaram juntos ensinando-nos, aos filhos e netos,  a verdadeira cumplicidade e Amor. Olhei sempre esse amor com respeito e admiração. Com uma pontinha de inveja, também... Julgo que a única coisa difícil que os meus pais não conheceram foi a solidão. Isso, eu conheço bem. Contrastes que, a cada 21 de Dezembro, sinto mais vivos!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

FRIO QUE FERVE

O dia acordou límpido e gelado. Bem cedo, os anjos fizeram desenhos no gelo que decorou a minha vidraça. Vi-os chegar, senti as asas brancas na pele e estiquei um pouquinho a preguiça em acordares de ternura. Indiferente ao frio, sentindo o calor morno das mãos dos meus netos nas minhas, caminhei pelas ruas da minha cidade vivendo o Natal antecipado. Em conversa boa, o meu Natal escuro foi ganhando cor. Às vezes, o que temos, comparado com o que desejaríamos ter, é IMENSO...

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

FAZ SENTIDO

Agora a vida, a minha, vai fazer sentido. Porque, como Damásio, acredito na máxima "Sinto, logo existo" e hoje sinto a proximidade dos que me são queridos. O Natal devolve-me os netos, as brincadeiras, as conversas longas com as filhas, a fuga consciente a uma vida exterior que insiste em magoar-me.
Ao longe oiço os protestos no exame dos professores, a intervenção da polícia, a idiotice dos exercícios propostos. Ao perto, oiço os tachos que perfumam a minha casa preparada para a Festa.
Ah! Que bom quando eles chegam, feitos mil coisas para contar, enchendo a mesa de carinho doce. É já amanhã que, de facto, o meu Natal começa a acontecer!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Carta ao Menino Jesus

Querido Menino Jesus,
Quando eu era pequenina, há muito tempo já, ensinaram-me a escrever-te no Natal porque, garantiram-me, tu ias descer pela chaminé na noite de 24 e ias trazer-me um presente. Depois, a tal escola a que chamam paralela, mas que para mim é muito mais obtusa, quis substituir-te pelo Pai Natal da Coca-Cola, mas eu não deixei. Continuas, Menino Jesus, a ser o meu receptor preferido sempre que o Natal acontece. Este ano, relembrando o tempo em que toda a ternura me abraçava, o tempo em que, como diz o meu poeta "Eu era feliz e ninguém estava morto", preciso de voltar a fazer-te alguns pedidos.
Menino Jesus, ajuda-me a não ficar indiferente à injustiça, traz-me coragem para suportar a maldade, dá-me força para aguentar a solidão e a tristeza. Traz-me capacidade para lutar por um mundo melhor, ainda que esse mundo seja o espacinho onde vivo. Oferece-me energia para continua a indignar-me face às diferenças violentas, às agressões sociais, e à dor das crianças que envelhecem antes do tempo. Ajuda-me a aceitar o absurdo, a resistir aos insultos, a perdoar o imperdoável.
Menino Jesus da minha infância, na noite de 24 traz música ao meu coração, amolece os meus sentires e, se puderes, traz-me uma estrela bem bicuda onde eu possa espetar as minhas desilusões.
Depois, fica sentadinho no céu vigiando, sem nunca te distraíres, o crescer das minhas crianças.
Menino Jesus, se achares que estou a pedir demais, não tragas nada. Fica só aí, no cantinho da minha memória infantil, preso no tempo da Fé real.
Obrigada, Menino Jesus
Boa Viagem!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

DESPOETANDO

Há um poema de Vinicius de Moraes que me encanta! Oiço-o cantado, leio-o, sinto-o a ocupar-me a alma sem licença. Hoje, entrou com versos trocados. Veio menos poesia, mas mais real talvez...
A AUSÊNCIA DO TEU OLHAR
Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se afastar
Ai, que mau que isso é, meu Deus
Que frio que me dá
A ausência desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus
Se opõe aos olhos meus
Só pra me magoar
Meu amor, juro por Deus
Me sinto a afastar

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus
Já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus
Sem mais blábláblá

Pela luz dos olhos teus
Eu acho, meu amor
E só se pode achar
Que a luz dos olhos meus
Precisa descansar!

domingo, 15 de dezembro de 2013

Pensares

A noite embrulhou um dia quente, soalheiro,a lembrar a primavera que há-de vir. Caminhando na Serra, com calor até, deu-me para pensar que, se calhar, também o Tempo quer acelerar, fugir, dar depressa lugar a um Tempo Novo. Diferente! Talvez eu esteja errada e o Tempo não esteja a pensar assim. Talvez até, quem sabe?, o Tempo não pense nada. Se assim for, penso eu por ele: - Quero um Tempo novo! Com coragem, cumplicidade, alegria e confiança.
(Eu sei: O Natal está a chegar...)

sábado, 14 de dezembro de 2013

Até o Humor?!!

Estava curiosa com o regresso dos Gato Fedorento às televisões. Sempre achei piada aos quatro gatos, gostava da ironia constante, da inteligência acutilante e até do estilo engravatado. Ri-me muito com os quatro jovens e nunca desdenho da leitura de uma crónica do Ricardo Araújo Pereira. Posto isto, estava cheia de expectativas com o regresso anunciado, ontem, à SIC, logo após o telejornal. Sentei-me atenta e curiosa, gostando do ar sério e formal do Ricardo Guedes de Carvalho. Só que a montanha pariu um rato! Não gostei do que vi. Não achei piada nenhuma à história da pancadaria, não gostei dos textos e achei muito pobre o vocabulário. Penso que a nossa realidade (infelizmente!) tem aspectos muito mais dignos de serem explorados, e com muito mais humor e inteligência, do que o que vi fazer. 
Agora, umas horas passadas, veio-me um medo terrível: - Será que até a inteligência e o humor nos estão a destruir? Será possível, mesmo?!

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

ESBARRANÇO

Ainda ontem eu abria a alma ao sonho e, hoje, já caí de chofre na realidade. Trouxe-me de volta ao concreto a entrevista  dolorosamente vazia do Primeiro Ministro. 
Ali está um homem que não sonha, não ousa, não cria. Ali está um homem que obedece, humilha, faz contas de merceeiro mal pago e não olha para além da parede do gabinete! Ali esteve, ontem, um Primeiro Ministro a envergonhar-me, a afligir-me, a lembrar-me que, em Portugal, o sonho foi morto...Que desilusão! 
Meu Deus! Que mágoa feita revolta!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O SONHO

Sempre que ele chega, eu deixo-o entrar. Ora surge carregado de melodia alegre, ora me invade na negrura intensa. Sei que não é, por essência e definição, e, ainda assim, sinto-o sendo. Acolho-o em mim, protejo-o, alimento-o. Deixo que me tome nos braços e, certa que vou esbarrar contra a violenta realidade, peço-lhe que me embale e me liberte um pouco. Um pouco só.

Sem o sonho, afinal, que é o Homem "Mais que a besta sadia,//Cadáver adiado que procria?"

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O CASTIGO

A escola saíu para uma actividade livre, um corta-mato capaz de desafiar os mais ousados e unir os mais distantes. Bem cedo, de dorsais e carradas de maçãs, professores e alunos fizeram-se ao caminho em conversa informal, construindo o que, para mim, também são aprendizagens. Eles, os meninos castigados, ficaram. Com eles fiquei eu, castigada por simpatia..., responsável pela ocupação de quatro horas de aprendizagem. Sempre achei que aprender não devia ser castigo, sempre defendi que aprender é um privilégio, e, por isso, nestas quatro horas resolvi desenvolver nos meus alunos alguns hábitos diferentes. Falei-lhes de Nelson Mandela, da Liberdade, do mundo feito pelas peças que somos todos. Respondi a perguntas absurdas, esclareci conceitos errados, ajudei (quero crer) a compreender comportamentos e atitudes. No final, hão-de surgir diferentes trabalhos sobre a verdade do sorriso de Mandela, sobre a Liberdade individual, sobre o papel activo que cada um de nós deve ter na construção de um mundo melhor. Numa escola hoje estranhamente silenciosa, os alunos castigados trabalharam como poucas vezes acontece. Será que estes miúdos só conhecem a linguagem da força?!

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

EUS E OUTROS

Pedem-nos que compreendamos, agridem e julgam-nos, carregam toneladas de verdade, enchem a existência com seguranças próprias. Os outros crescem, adensam-se, e a vida vai escurecendo no nosso ser-eu. Os outros e  os eus têm dificuldade em acertar o passo. As críticas, que vêm certeiras e cruéis, vão criando mágoas intensas; o desprezo, carregado de razões, vai abrindo brechas na vivência possível. Sempre os outros e os eus. Os que condenam, os que são condenados; os que sabem tudo, os que erram sempre; os que apontam o dedo, os que são apontados.
Um dia, porque há sempre um dia para tudo, os eus questionam os outros e, de repente, tudo se desmorona em bruma que nada segura. O problema é que, para os eus, às vezes é tarde demais...

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

QUANDO A ESTUPIDEZ SE FAZ CERTEZA

"A vida é minha, ninguém tem nada a ver com isso!" - Garantia, alto e bom som, perante a mãe que chorava e a directora de turma que pasmava. Só tem 14 anos, já soma retenções, e as aulas são uma seca sempre, a vida é só dela e, do futuro a haver, só ela tem de dar conta. Em vez de ir para a aula, vai para o café próximo, porque tem coisas para falar com os amigos que são bué fixes. A mãe pergunta aos céus onde errou, o pai faz cara de mau, a directora de turma tenta o diálogo desesperado. Não quer estudar, nada há de interessante na escola, não a assusta a hipótese de não conseguir um emprego porque, diz segura e antipática, para ter um emprego como o da mãe, mais vale não ter emprego nenhum... A razão esbarra contra a teimosia idiota. O que pode a Escola, a sociedade, numa situação assim?! Desespero!

domingo, 8 de dezembro de 2013

8 de DEZEMBRO

Na minha infância, onde está ela?, esta era a data do Natal pequenino. Com chuva ou sol, bem cedo saltávamos da cama e, de botas e samarras, corríamos a Serra a procurar tapetes de musgo e a escolher o pinheiro. O meu Pai era o chefe destas expedições, ensinando como arrancar o musgo sem o partir, rindo-se dos sustos causados pelas minhocas e outros bicharocos que caíam nas nossas mãos agarrados à terra. Era dia de Nossa Senhora, era, também, Dia da Mãe.
Hoje, é só um domingo cheio de sol, cheio de memórias e sonhos perdidos. Hoje, é um domingo de realizações adiadas, de dificuldades e medos, de dúvidas e angústias. A vida é mesmo assim, dizem-me. E eu, incrédula, silencio a mágoa do tempo ausente em que eu ia ao musgo e as minhocas caíam na minha mão suja e pequena.

sábado, 7 de dezembro de 2013

SOL E MARÉS

O sábado acordou morno, cheio de sol, como que a obrigar-me a acreditar que a vida faz sentido, que os tempos podem mudar, que ninguém está condenado à tristeza ou à infelicidade, que o lugar de onde vemos a vida é apenas um cais face a muitas marés.
 No meu quintal, as folhas lembram ouro caído do céu, a existência a denunciar uma essência mais rica, mais brilhante também. Fiz o presépio, acendi as luzes que tremelicam, assei maçãs, e, com novos perfumes e brilhos, sinto-me tentada a deixar entrar o espírito do Natal que se  aproxima. 
Talvez, como disse Mandela, nenhum homem nasça para ser escravo seja do que for. Nem da vida!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

OBRIGATÓRIO

Obrigatório, verdadeiro, sentido e emocionado o meu post de homenagem a Nelson Mandela. Morreu um político, um estadista, um democrata, um leader. Morreu, sobretudo, um homem BOM, e os homens bons escasseiam!
Admiro Nelson Mandela pela coragem, pela força, pela resistência, pela fé nos homens, pela energia alegre que sempre imprimiu à sua luta. Lutou pela igualdade, pela fraternidade, pela Liberdade verdadeira, pelos direitos humanos que a ele próprio viu negados. O mundo ficou mais pobre, a compreensão entre os homens ficou mais difícil...
Nelson Mandela vai fazer falta a um mundo cada vez mais louco! Não o esqueçamos!

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

MUITO À FRENTE

Alguém me dizia, muito a sério, que este país, o meu, é "muito à frente". Tudo é informatizado, computorizado, enfiado em excel colorido, grelhado em grelhas e gráficos, estatísticas e referentes ou indicadores. É tão à frente, que um velho agricultor que tem azeitonas que cabem nas traseiras de uma carrinha de caixa aberta, tem de ir ao portal das Finanças, imprimir uma guia e fazer-se acompanhar por ela até ao lagar. Ora, como os portugueses não são tão à frente como o governo, o velho agricultor, que nem computador tem, desiste de levar as azeitonas ao lagar...
É bom viver num país assim, muito à frente! Tão à frente que nem se lembra de olhar para quem vem atrás...

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O Furto

Quando abriu a carteira não queria acreditar. NADA! Do seu porta moedas recém comprado, das fotografias de momentos irrepetíveis, de cartões de débito e crédito, nem vestígios. Apenas um enorme vazio. Um doloroso e agressivo vazio. Sentiu calor, frio, fúria, raiva, desespero, desalento. Como fora possível? Quando acontecera? De repente, reviu o passado recente, a correria para o comboio, os encontrões, um olhar mais fixo. Desesperada correu as carruagens, chorando, em busca do tal olhar. Nada! 
À sua volta reinava a indiferença. Afinal, todos os dias, a todas as horas, há furtos no comboio... Sentia-se impotente, magoada e revoltada. Procurou funcionários que a receberam com indiferença ineficaz. Está sempre a acontecer, não há nada a fazer. 
Mal chegou ao destino, foi apresentar queixa e, depois de longos e incómodos minutos, soube que nada seria feito. A queixa seguiria para o DIAP e seria arquivada, disseram-lhe. Pagou treze euros. Treze euros por ter declarado que fora roubada, treze euros para ter um documento que, no fundo, atestasse a violência crescente num país que era o seu, treze euros para, com o dito papel, poder voltar a pedir o seu cartão de cidadão. Cartão esse que, se pudesse, não quereria. Quem quer, livre e conscientemente, ter um cartão que certifique que é um membro de um país onde a violência cresce, a impunidade vigora e a indiferença vinga?! Para a consolar, apenas a ideia de  que só faltavam dois dias para partir. Dois dias para voltar ao país onde, sendo estrangeira, se sentia, de facto, cidadã...

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

PRESÉPIOS



Estão já por aí, nas montras, nas casas, nas escolas, feitos nos suportes mais originais, os enfeites de Natal. À entrada do meu trabalho, por exemplo, há uma enorme árvore de Natal, feita com caixas de ovos de cartão, que, na sua originalidade, me anima o dia. Por baixo, está o Presépio. As figuras são feias, os rostos achatados, mãos ausentes, vestes amachucadas e a Nossa Senhora tem as maminhas exageradas. Mas, ainda assim, eu gosto de entrar no serviço com o coração aquecido por esta Presença. A minha fé está tremelicante, a minha dor é funda, mas o Presépio, seja ele qual for, ainda me enternece!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

VIOLÊNCIA

Sou claramente contra qualquer forma de violência. Acho que sempre revela cobardia, estupidez e mesquinhez. Não falo, claro, da palmada educativa que se dá ao cão que insiste em roubar comida da bancada, mas da violência entre seres humanos.
A violência entre casais, ou pelo menos entre homens e mulheres, tem aumentado em Portugal e isso apavora-me. Há homens que atiram a matar sobre as companheiras, há namoradas ciumentas que lançam ácido sobre os companheiros, há mães espancadas até em frente dos filhos. Olho tudo isto e arrepio-me. São, infelizmente, casos menos excepção do que deveriam ser...
E penso, também, na outra violência, a verbal, capaz de levar uma pessoa à loucura, à depressão, ao suicídio. A violência que, muitas vezes, se exerce sobre o outro, homem ou mulher, com a crítica constante, o desprezo, a humilhação. Falo no caso das pessoas que sofrem, quantas vezes caladas, as certezas alheias, os julgamentos arbitrários, as parangonas carregadas de moralidade oca.
Como católica, acredito que ninguém pode condenar ninguém. Acredito que a Palavra deve ser o primeiro poder e, confesso, tenho total desprezo pelas certezas que alguns têm a sorte de possuir. Tenho, também, profundo desrespeito pelas pessoas que (julgam) saber tudo e, por isso, condenam qual juiz supremo! Aprendi que o Amor é o primeiro dos mandamentos e, por isso também, não compreendo quando me dizem que o amor se faz de julgamentos e violentas condenações.
Agora, que é quase Natal, olho à minha volta e tenho vontade de fugir. Fugir para um lugar onde não exista significado para violência (seja ela de que tipo for). Fugir para um lugar onde o abraço exista inteiro, onde a compreensão se faça de ouvir, onde a ternura não traga no bolso a punição constante. Sonhos...

domingo, 1 de dezembro de 2013

Quase - Quase

Em 1640 os portugueses disseram basta. Uniram-se, combateram e venceram. Em 1640 foi possível pôr fim a um regime de opressão, de imposições arbitrárias, de força e agressão. 
Hoje, 1 de Dezembro de 2013, a situação quase se repete: - Vivemos sob opressão, injustiça, arbitrariedades, medo e agressões. Só falta a força que fez, em 1640, a diferença...

DEZEMBRO

Chegou o mês de Dezembro. Já não se lembra a independência, já nem se fala em D. João IV. Esquece-se o Portugal de ontem, com referências e sonhos, com lutas e liberdade.  Agora, o tempo é de preparar o Natal, de acreditar que, para lá do horizonte, no limite onde o fim se anuncia, pode haver uma linha que, mesmo ténue, pode trazer esperança. Quero acreditar! Quero ter força para continuar sonhando, lutando, aproveitando as brechas mínimas da realidade para sorrir ainda. Na vida quero descobrir o que está para lá da linha. Quero! E sei que preciso de ajuda para o fazer. Preciso, e como..., que a compreensão dê as mãos à ternura e ao amor. Preciso que o amanhã não chegue recuando, preso a um passado que já foi e não quero mais...