domingo, 28 de fevereiro de 2010

Trovoadas


Mar furioso, vento forte, chuva e céu negro. O mundo, os seus elementos naturais, furioso com a humanidade, a protestar, a lembrar que pode, se quiser, acabar com tudo depressa demais... Gosto da fúria da natureza, de ver o mar assim, alterado, na segurança quente de um bom café, na quentura de um abraço firme e cúmplice.
Temo que a trovoada, que agora ribomba lá fora, se torne em destruição total!! Ao mesmo tempo, sentindo ainda há pouco o vento forte que mal me deixava avançar na rua, não resisto a fascinar-me com a intensidade do abraço da Natureza.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Vendedor de Sonhos

Há uma história infantil, da autoria de António Torrado, onde encontramos um menino, o Racid, herdeiro de um vendedor de tapetes e manifestamente incapaz de dar continuidade ao negócio da família. O pai do Racid autoriza-o,então, a tentar encontrar um outro caminho. O SEU caminho. Racid experimenta vender areia no deserto, tenta vender água a conta-gotas, e acaba, finalmente, por ter sucesso a vender sonhos. Os pormenores desta história, que acho deliciosa, não interessam agora. O que interessa é que o Racid, um menino como outro qualquer, tem a oportunidade de encontrar e fazer o seu caminho. De procurar a sua forma de felicidade.
Hoje, na minha escola, na escola portuguesa, há muitos Racids condenados a vender tapetes que, claramente, não têm jeito para o negócio... Será Portugal capaz de, um dia, criar para os jovens a oportunidade que o pai do Racid lhe concedeu? Começo a duvidar...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Neve

Cai em flocos gordos, cheios, limpos, a neve que hoje nos acordou. Da janela do Hotel, ainda a coberto do aquecimento, vejo as pessoas encapuçadas, os passos cuidados no piso escorregadio, o vermelho na ponta do nariz que escapa ao cachecol. Não vi o monstro do Loch Ness, não vi os fantasmas, aqui publicitados ghosts, não vi escoceses a cair de bêbedos. Vi a vida com outros sentidos, experimentei diferentes olhares e cores. Hoje, desafio a neve...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Glasgow II


Muito frio gelado, sol limpo, e a vontade de tirar as luvas, como quem descola defesas, frente a uma boa e fumegante chávena de chá. Glasgow a surpreender na imponência dos monumentos, na simpatia sorridente dos escoceses, nos cheiros e cores diferentes que nos amolecem a alma. Depois, há sempre o fascínio de não identificar olhares, de não ter de fingir sorrisos ou sequer simular concordâncias. Por ser a primeira vez neste lugar, há uma espécie de desvirginalização (neologismo talvez), que confere a cada vivência intensa magia. Gosto da cidade de trabalho. Gosto da autenticidade das construções, dos cheiros quentes que saem de cada porta entreaberta, dos pedaçõs de água espelhando existências. Sim, gosto de Glasgow!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Glasgow


Recebe-nos um sol frio, gelado e brilhante, que lembra, sei lá porquê, versos de Pessoa "o sol vivo e desnudo (...)". Não há, por enquanto (garantem que é imagem de marca), gente embriagada nas ruas, e os edifícios imponentes, transpirando História, parecem gritar-nos essências de vida. Na praça larga, cheia dos eternos pombos incomodativos de todas as cidades, leões imponentes - decerto não do sofrido sporting... - olham-nos com desdém. Têm, eles, uma missão nobre: - Proteger e vigiar nomes de outras vidas, de outras guerras, de outros sentires.
Procuramos um lugar quente, um chá, tea também serve, e scones com manteiga. À nossa volta, vozear mordido, terrível escocês, indecifrável, parecendo agressivo quase. Gente loira, branca demais, de manga curta(???), casacos fortíssimos pendurados nas costas das cadeiras. Os vidros embaciam-se, os olhares também. Ou do frio, ou da vida, ou dos contrastes, o olhar humedece-se nesta cidade escura e diferente!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

UK - Escócia

Sair de Portugal é, cada vez mais, um desejo e um bálsamo. Tenho a sensação, conscientemente ilusória, que me liberto da mesquinhez, da maldade, do espírito de inveja, maledicência e pequenez que, infelizmente, caracteriza muita da gente que julgava ser minha amiga. Agora, uma vez mais em terras de Sua Majestade,desta vez por Glasgow e Edinburgo, recuperando a vida, numa vivência de cumplicidade verdadeira e efectiva, amando cada segundo de ser, tento lavar a alma, carregar energias e libertar-me dos olhares cruéis e tiranos que, apesar de conhecidos, me incomodam.
I wish I could stay here forever...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Adiados??

Parece, de acordo com os Media - lei em Portugal! - , que a entrada em vigor do novo programa de português para o ensino básico, prevista para o ano lectivo 2010/2011, vai ser adiada. Para trás ficarão dois anos de muito trabalho, de muita formação, de alguns milhares de euros investidos num processo complexo, sério, válido e urgente. Adiar, agora, significa, para mim, assumir o medo da exigência, temer o desafio, fugir à evidência de que, como está, o ensino do português não serve. O novo programa, coordenado pelo Prof. Carlos Reis, trazia o ensino da gramática como competência explícita, implicava o conhecimento efectivo da língua, investia na produção oral e tornava o aluno agente activo da sua própria aprendizagem. Propunha, ainda, a aprendizagem do português com o recurso à prática, em oficinas de escrita e gramática, exigia trabalho e obrigava a mobilizar diferentes competências. Agora, parece, pára tudo. Far-se-á, decerto, continuar a fazer valer a mediocridade. Grande país...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

De Sempre

É um problema antigo, de sempre talvez, a dificuldade em conciliar a Liberdade Individual (essa mesma maiusculizada!) e a suposta ordem, regras?, sociais. O homem é um ser social - frase feita que aprendi nas minhas aulas de Filosofia, a professora Celeste a falar-nos de coisas de pensar e desafiar sentidos. Na época, eram palavras sonoras, lógicas certificadas por sabedorias confirmadas, que me ajudavam, muito jovem, a olhar e tentar compreender o mundo que integro.
Mas o tempo passou, as rugas chegaram e instalaram-se,a vida fez estragos e provocou questões. Hoje, quase-quase a fazer meio-século de vida(é muito!), relembro as aulas de filosofia, as palavras da professora Celeste, e esbarro com non-senses dolorosos. Até que ponto poderá fazer sentido subjugar a liberdade individual, as opções pessoais, às normas, maioritariamente hipócritas, de uma sociedade anquilosada? Que lógica pode haver em abdicar de vivências de felicidade, de oportunidades de VIDA REAL, só porque o mundo comenta, opina, critica? A chegar aos meus 50 anos, com muitos fios e nós de vida tecida em momentos plurais, surpreendo-me ao esbarrar com olhares e atitudes da sociedade que, apesar de não querer, integro. Mas não cedo. Hoje, estou segura do valor da Liberdade Individual acima de qualquer imposição social. Hoje, como Ávaro de Campos, grito "Vão para o diabo sem mim. Ou deixem-me ir para o diabo sozinho!". Hoje, contrariando (ou não...) José Régio, afirmo "SEI por onde vou! Mas sei que não vou por aí!". Hoje, Carnaval ainda, recuso a máscara social e afirmo, de alma e coração, a minha convicção na minha LIBERDADE!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Carnaval - Pleno

Boa tarde, os seus documentos por favor. E, calmamente, eu apresentei a minha carta de condução, os documentos da viatura. Seria uma operação de fiscalização de trânsito normal, vulgar, se, de repente, à minha janela não tivesse aparecido a senhora governadora civil de Évora. Ela mesma, em pessoa e de colete verde, sorridente, congratulando-me por não circular em excesso de velocidade (nem ela sonha o acaso...) e oferecendo-me balõezinhos para testar o nível de alcoolémia. Original (??) e português! A governadora civil, que devia estar a trabalhar em prol do distrito, procurando soluções para desenvolver um Alentejo envelhecido e ultrapassado, passa uma tarde de colete verde, agora que até o Sporting está em crise, a fazer marketing!! Com ela, obviamente, a TV! Porque é preciso vender a imagem, falsa e gasta, de que o governo, e os seus relativamente legítimos representantes, se preocupam com o povo, com os transgressores aceleras, com os ousados alcoólicos que - hélas! - beberam um copo de vinho à refeição.
Eu sei que é Carnaval, que vivemos a época dos mascarados e das fantasias, que este é o tempo das aberrações. Mas, por favor!!, será que merecemos ser forçados a entrar na mascarada deste governo idiota??

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Pontos de Vista

Pois há tantas realidades quantos os olhares. E a frase dita e repetida, eco de muitos outros momentos, a ganhar novo sentido. Porque o Tempo faz mudar tudo... E, assim, a realidade idiota dos dias (dos pais, das mães, da árvore, do lixo, do ambiente, da água, das mulheres, da SIDA, da droga, do cancro, da tuberculose, dos amigos, dos avós, dos tios, dos namorados e das bruxas, entre centenas de outros) a ganhar para ela novo sentido. De lado as camisas por passar, os trabalhos para corrigir, os emails para responder, e ela, inteira, de sorriso n'alma, alterada pelo telefonema rápido, pela proposta ousada e finalmente possível. Sim, claro que podia! Podia impôr à vida uma pausa e oferecer-se o privilégio de assinalar o idiota do Dia dos Namorados! Na sua cabeça soavam os jingles de que sempre troçara, as imagens gastas dos cartõezinhos vermelhinhos (sempre infantilmente inhos), as frases ridículas coladas nas montras - para a melhor namorada do mundo! - as flores de plástico com frases foleiras: - És a namoradinha dos meus sonhos... ou, pior??, és o namoradinho que pedi às estrelas... Ria-se com gosto, dobrando, à pressa, a saia preta e o lenço longo. Sim, garantira há dez minutos. E o SIM pronto a fazê-la rir-se da própria descrença, da entranhada desilusão, da habitual rotina a que, agora, virava costas com gosto. Ia festejar, ou assinalar?, o Dia dos Namorados! Em breve, ele chegaria e, rindo e brincando, levá-la-ia no cumprimento da promessa feita, dos amores anunciados, das ousadias intensas. Mala pronta,pouca coisa, afinal dois dias voam, um último olhar ao espelho, espelho amigo de muitos olhares, para confirmar que a idade, os estragos do Tempo, não eram (ainda) agressivamente visíveis... Via-se mulher namorada, enamorada, segura e firme, decidida e ansiosa e, sem conseguir apagar o riso idiota que a fazia trautear - MAL!! - a melodia de Mamma Mia, pensava que, de facto, ainda bem que a vida permite diferentes pontos de vista!!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Diferenças

Às vezes, felizmente, a diferença acontece. Aconteceu hoje, no Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre, numa sala cheia de miúdos, uns mais curiosos e interessados do que outros, quando o Manel, descontraidamente, a propósito de José Régio, falou de vida. De ser e seres. De diferenças fundamentais, da necessária coragem para, como o Poeta, afirmou "Não sei por onde vou. Sei que não vou por aí!"
O Cântico Negro, uma vez mais, tocou-me fundo. E eu, que tantas vezes hesito nas encruzilhadas da vida, que tão bem conheço a aspereza das pedras bicudas por onde faço o meu caminho, desejei hoje, naquela sala da minha cidade, ao lado de um Homem que tece palavras com sentires sentidos, estar a trilhar o caminho certo.
Se eu pudesse, se eu mandasse,a Escola seria muito mais vezes assim: - Um fazer de partilhas, descobertas e desafios.
Obrigada, Manel!!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Nós de Sentires

O Malato apregoa milhões na TV, uma senhora de sorriso plastificado acompanha-o,os concorrentes tornam pública a sua ignorância. Chove lá fora, oiço o vento assobiar. Estou quente, calma, desfiando momentos e tentando, sem grande êxito..., desatar um nó chato, cerrado, não cego contudo, que surgiu nos meus sentires. Desta vez, conheço bem as pontas traiçoeiras, a força da volta que custa a desmanchar, a causa do aperto do nozinho incomodativo...Queria que a chuva da noite amolecesse o nó, o desfizesse, ou, pelo menos, o alargasse o suficiente para que não incomodasse os sentires bons, muito bons, que me fazem sorrir e acreditar que, apesar de muitos pesares (dizem que é a vida...), vale a pena crer e confiar!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Desafios

Falo-lhes em desafios. Em descobertas. Na força do sonho. Na coragem de se ser singular no meio da totalidade, da mediocridade vigente. Olham-me sorrindo, o sol lá fora a provocar agitação hormonal, o Frei Luís de Sousa a não fazer qualquer sentido. Um deles, franja nos olhos e sorriso aberto, faz anos. Cantamos os parabéns e falo-lhes de poesia Com que caíu na asneira de fazer na 5ªfeira 26 anos?? Que tolo... E é 3ªfeira, e ele faz apenas 17. Rimo-nos. Provoco-os intencionalmente, digo-lhes da igualdade de uma juventude que repete modelos, que busca a diferença na igualdade de uma irreverência sem rasgos de singularidade. Entre alguns protestos vem o teste, já na próxima aula, e os pedidos insistentes de diga lá professora o tema para o texto argumentativo. Apetecia-me dizer-lhes que não quero saber do teste para nada, que não me interessa nada que distingam as marcas do romantismo, ou papagueiem as caracteristícas da tragédia. Apetecia-me dizer-lhes que os quero incapazes da indiferença. Activos, pensantes, corajosos e, de facto, construtores de um mundo que quero MUITO MUITO diferente!!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Fevereiro

Soma e segue. O tempo, os dias, os meses. Mais um Fevereiro, frio, que me encontrou envolta em mil sentires, pensares, viveres.
Fevereiro é o meu mês preferido. Porque tem carácter, é incerto, traz frio e energia e porque, talvez, eu faço anos. Entrei em Fevereiro sacudindo dores antigas, de alma limpa, construindo realidades de dia-a-dia, tentando escapar às dores que me assustam e, vezes demais, me humilham. Entrei em Fevereiro cheia de energia, de força e vontade, de anseios e esperanças. Entrei em Fevereiro querendo crer que sim. Que a vida boa, cúmplice, é possível ainda.