quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Novo Ano

Aproxima-se o fim de ano. Termina o 2009, que parece há pouco ter começado..., e é tempo de fazer balanços, de lembrar momentos bons, lamentar os os menos bons e tentar esquecer os maus. Todos os anos, eu, tal como milhões de pessoas no mundo inteiro, realizo esta tarefa de sublimação do passado. E todos os anos, invariavelmente, constato a velocidade alucinante do Tempo e as cedências que, estupidamente, lhe fiz. Este 2009 trouxe-me a alegria de ser avó. Sem dúvida, foi o facto mais marcante destes 365 dias que esgotei sem (quase) dar por isso. Mas trouxe-me também, será talvez a proximidade dos meus 50 anos??, um desejo imenso de, como costumo dizer aos meus alunos, "agarrar a vida pelas orelhas" e obrigá-la a cumprir-se a meu gosto. Este 2009 ensinou-me que a vida existe para ser vivida e não sofrida. A infelicidade, os azares, as chatices, acontecem inevitavelmente mas nós podemos não nos deixar vencer e, sobretudo, não ceder às tiranias de uma vida que, parafraseando a MAFALDA tem muito mas de moderna, do que de vida.
Ano Novo é tempo, também, de promessas e projectos. Em miúda, copiando o que lera nos livros da Enid Blyton e da Condessa de Ségur, costumava fazer uma longa lista de intenções. Olhava a lista nos primeiros dias do Novo Ano e, num instante, esquecia-a na gaveta dos segredos (que mantenho!) só voltando a olhá-la no final do ano. Agora, em vez de intenções, ou para além de intenções, tenho projectos. Projecto provocar possíveis de SER e EXISTIR junto dos meus alunos. Projecto fazê-los aprender a gostar de ler, de conversar, de saborear a Arte da escrita; projecto passar mais tempo com os meus amigos. Ficam, vezes demais..., esquecidos nesta minha existência maluca. Este 2010, quero ver crescer o Manuel Bernardo, cheio de refilice, mau feitio e saúde, quero ver as minhas filhas a desafiarem possíveis e quero, eu também, encontrar a cumplicidade efectiva que tanto desejo.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Felizmente Turista



Este mês em Cambridge, este mês diferente a iniciar numa nova fase da minha vida - AVÓ -, incluíu um dia em Londres, cidade da minha eleição. Conheço Londres já bastante bem, tenho os meus lugares preferidos, tenho memórias para desfiar sempre que lá vou. Gosto de me perder por Covent Garden, adoro passear na Regent Street sentindo-me no centro do Mundo, impressionam-me sempre os grandes edifícios e delicio-me, sem reservas, com o Museu madame Tussauds (sei que é para turistas, que é foleiro, mas eu ADORO e divirto-me imenso sempre que lá vou).
Desta vez, a Joana foi a minha companhia e o nosso objectivo era visitar a Torre de Londres, ver as jóias da coroa, e entrar em Westminster. Cumprimos o programa, com direito ainda a passeio na Regent, na Oxford e, rapidamente, na Tower Bridge of London. A Joana é a melhor das companhias! Rimo-nos, aprendemos, e assistimos, até, a uma representação de Teatro de rua no espaço da Torre de Londres. Grande dia!! Há muito tempo que não me sentia tão...felizmente turista!!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A Consoada

Está quase a chegar o Menino Jesus, este ano carregando presentes para o Manuel Bernardo. A ceia fez-se de globalização efectiva, Christma's Pudding, pão de ló, leite de creme, perú assado, petit-gâteau e mince pies. Não faltou o Porto, nem o espumante, nem sequer as músicas de Natal pela voz do eterno Sinatra. Daqui a pouco, vai chegar o Jesus, vamos trocar presentes e eu vou pensar em quem está longe e eu queria ter aqui.
Curioso como os meus Natais se vestem, há anos demais, de ausências dolorosas. Felizmente, este 2009, o Manel Bernardo enche o espaço todo!!!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Quase - Quase

Está quase-quase-quase a chegar a Noite Mágica. Para mim, tecida de sentires e emoções, a noite de 24 de Dezembro é a mais importante do ano inteiro e, amanhã, vai acontecer. Aqui, em Inglaterra, nesta Cambridge nevada e linda, o Natal ganha novo colorido. Em cada esquina há coros, soam Merry Christma's contantes, e as montras apresentam-se cheias de deliciosos gingerbread biscuits. Sempre que os vejo, ou compro, lembro-me da história do Menino Biscoito que, claro..., já contei ao Manel Bernardo.
Este ano, eu, alentejana confessa e convicta, habituada a filhós e azevias de grão,tento integrar esta festa diferente e, por isso, comprei também o English Christma's Pudding. Como tenho a mania da qualidade, fui comprá-lo numa lojinha pequena, feito à moda caseira (garantia a publicidade) e vim para casa feliz. Ao abrir a deliciosa sobremesa, reparei que trazia instruções e, maldizendo os ingleses e a mania das regras, lá li aquela lengalenga toda para, no fim, ficar a saber que tenho de cozer o pudim em casa, em banho Maria...Amanhã, depois de fazer o meu delicioso leite de creme - desse ninguém aqui abdica! -, lá vou cozer o Christma's Pudding rezando para que aquilo valha o esforço e as libras gastas.
Pois é...Amanhã será consoada em Inglaterra! Com o Manel Bernardo como Menino Jesus e um Presépio vindo de Portugal para enganar as saudades.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

21 de Dezembro 1952

21 de Dezembro era, dantes, data a assinalar em minha casa. Os meus pais faziam anos de casados e havia, sempre, um Porto especial, que deixava a minha mãe a dizer ai-ai estou tão tonta, e a eterna história da canja de perdiz que os recebeu, recém-casados, na casa da Serra, na Casa da minha essência, chegados da cerimónia em Fátima. Nós, os filhos, ouviamos repetidamente a história, riamos, brincavamos e aprendemos a lembrar a data.
O casamento dos meus pais, a existência dos dois como um só, foi uma história de amor de espantar. Não me lembro, nunca, de ter ouvido o meu Pai dirigir à minha Mãe uma palavra azeda, e nunca ouvi a minha Mãe, que sempre teve um feitio torcido...,zangar-se de verdade com ele. Cresci vendo-os de mãos dadas, conversando sempre, constantemente cúmplices e dependentes um do outro. Cresci, vendo que o Amor é possível e real. Depois, quando eu falhei a vida, ou me desencontrei dela, mais valor dei ao amor entre os meus Pais. Fui com eles, nos últimos anos, a Fátima, repetindo o percurso de mais de 50 anos. Ao lado deles, com o senhor cónego Anacleto já muito velhinho, rezei e pedi um Amor para mim igual ao deles.
Hoje, lembro sozinha o Dia do Casamento dos meus Pais. Conto ao meu neto Manuel Bernardo a história da canja de perdiz, lembro para ele a urgência do meu Pai em ter só para ele a minha Mãe, e peço a Deus que me deixe legar ao meu menino a herança de paixão e ternura que o meu Pai me legou! Hoje, penso no meu Pai. Como sempre, com mais intensidade talvez. Hoje, bebo um Porto sozinha lembrando a possibilidade de um grande amor ser eterno!

domingo, 20 de dezembro de 2009

O Boneco de Neve


Sobre Cambridge, indiferente ao frio e à neve, o bonequinho dourado brilhava. Brilhava, ufano, aproveitando cada milímetro de sol, estando-se absolutamente nas tintas para o facto do sol estar gelado. Afinal, no imaginário do bonequinho dourado, paradoxos pessoanos como o sol frio, não tinham lugar. O bonequinho brilhante homenageava a vida e, por isso, fazia render a luz fria, purificando-a, fazendo-a cair no chão, sobre os humanos agasalhados, como pós de falicidade. Olhei aquele bonequinho e lembrei-me da fada Sininho, com o saco de pós de voar, e do Peter Pan, o eterno menino das mil histórias que sempre contava às minhas meninas. Ri-me com gosto e, também porque tenho um casaco novo muito quentinho (um presente de Natal mesmo especial), deixei que me caissem nos ombros os pós mágicos do bonequinho brilhante. Agora, quase a ir para a cama, penso nessa magia e enrosco-me, muito quieta, esperando o resto que essa promessa feliz hoje anunciou...

Neve em Cambridge


Nevou muito, continua nevando, em Cambridge! A cidade sábia, a cidade das pontes, das ruas escusas, das montras brilhantes, dos linguajares diversos, do rio coleante, dos mil sentires em turbulência, foi coberta por um imenso manto branco que me encanta e emociona. Nos passeios há gelo, perigoso, os bailados feitos escorregadelas com nenhum carácter artístico enchem a cidade de marionetas movidas por vontade alheia. Eu, com mil cuidados, pondo os pés bem firmes no chão, lembrando o fim de tarde em que, depois de um dia de ski, estalei a mão numa queda aparatosa à porta da Farmácia, fui ao centro. As últimas compras faziam-se, hoje, com mais calma, intercalando a contagem das libras, sempre muitas, com fotografias exigidas pela nova paisagem de Cambridge. As crianças, felizes e de narizes vermelhos, faziam bolas de neve, bonecos pouco perfeitos, no meio de muitas gargalhadas e sonoros merry christma's to you; os adultos posicionavam-se para a fotografia, condescendentes com o frio, seduzidos pela paisagem.
Atravessei o centro para o meu habitual café duplo, no Costa, e fiquei ali, olhando, com a sensação de estar do lado de dentro da vida, no forro de uma existência alheia, como espectadora de um filme de Natal. A dado momento, senti que podia mesmo surgir o Menino Jesus, vindo do céu como quando eu era menina, com um presente feito Presença, Cumplicidade, Verdade. Esperei. Ele não chegou, mas, ainda assim,soube-me bem ser personagem, porque ser sempre real cansa às vezes demais!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Bem cedo


Os Domingos sempre me parecem dias lavados. Como se, com o passar do tempo, a semana se fosse sujando e, no Domingo, surgisse de banho tomado e pronta para recomeçar. Hoje, bem cedo em Cambridge, confirmaram-se as minhas suspeitas: Veio a chuva de noite e deixou tudo num brinquinho! Porque era cedo, a cidade movimentada estava ainda adormecida e, quando cheguei ao centro, esbarrei com um ambiente imaculado e sedutor. Gosto de Cambridge, cada dia mais! Passeei nas ruas vazias, tomei a minha bica (escandalosamente cara: 1 libra e 65...) e fui à Missa. Escolhi, de novo, a capela do Trinity. Hoje, era o dia das ovelhas, coisas de ingleses..., e os miúdos, muitos, levavam todos uma ovelha de peluche, ou de cartão, ou de qualquer material. No banco à minha frente estava um miúdo loirinho com um chupa-chupa em forma de ovelha mas, quando chegou o momento de todos mostrarem o animal, ele já só tinha o pauzinho vazio e as bochechas lambuzadas.
Na Missa não pedi nada. Ouvi, conversei um bocadinho com o meu Cristo e saí um pouco mais confortada. Este Natal britânico vai ser singular.Diferente mesmo da minha rotina de quase meio século.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O Tempo


Todos os dias, a caminho do centro, antesaboreando o meu café no Costa, passo junto ao bicho do tempo. Normalmente, há lá muitos turistas a fotografarem-no, sobretudo japoneses. Hoje, talvez porque o fog londrino se estendeu a Cambridge, ou apenas porque era cedo e estava muito-muito frio, não estava lá ninguém e eu pude observá-lo de perto. É, de facto, assustador!! Não pára, entontece e irrita com a cadência constante, e o bicho mete medo. Olhar este marco, ou deveria escrever monumento?, faz-me pensar na frugalidade da existência e na necessidade, e urgência, de se viver cada dia em pleno, com vontade, para que o bicho horrível não se sacie deixando-nos irremediavelmente vazios.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O meu Menino



Olho o Manel no fundo dos olhos curiosos. Procuro-lhe a alma, a essência, o lugar onde inscrever o Amor, a Confiança, a Fé. Falo-lhe, baixinho, da força do amor, da verdade necessária, da ternura capaz de aquecer os corações de alguns homens. Fixo o meu Manel, temo o futuro, seguro-lhe nas mãos frágeis e garanto, para sempre, a minha atenção cúmplice.
Aproxima-se o Natal, Natal frio nesta Cambridge secular, e este Manel Bernardo é, para mim, o Menino Jesus que quero proteger.
Já conto histórias ao Manel. Histórias de bichos, com o Tango e o Buda, histórias de passarinhos viajantes, histórias de meninos felizes. Quero encher o disco rígido do Manel, enquanto está limpo, de referências de ternura, carinho e compreensão. Quero que o meu menino seja um Homem de Verdade. Um homem daqueles que também sabem chorar!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

8 de Dezembro

Quando eu era miúda, quando, como diz o Poeta, "Festejavam o Dia dos meus Anos e ninguém estava morto", no dia 8 de Dezembro fazia-se o presépio lá em casa. O meu Pai, por ser feriado, estava em casa e saíamos com ele, no gelo da Serra, a arrancar tapetes de musgo. Levávamos cestos, cestos feitos pelo senhor António, de canastras que cheiravam intensamente, e mostrávamos uns aos outros, muito orgulhosos, os tapetes que conseguiamos arrancar, ficando as unhas negras, sem desfazer nada. Brigávamos também, irmãos com irmãos, ou por causa do tamanho dos tapetes conseguidos, ou pelo número dos mesmos, ou apenas porque sim. Depois, em casa, era a algazarra. Tiravam-se os bibelots de cima do móvel do canto, junto à lareira, protegia-se o fundo com jornais, e o meu pai, ajudado por nós, colocava o musgo dando início ao montar do Presépio. Havia serras, iamos buscar pedras, lagos, alisávamos muito bem pratas de chocolates da Regina, pontes, umas mais nicadas que outras, caminhos feitos com farinha, galinhas, pastores, ovelhas, árvores, e, no ponto mais visível, a cabana do Menino com os pais, uma vaca cinzenta sem cornos , que eu sempre achei ser um burro adaptado, e um burrinho castanho só com uma orelha. No cimo da cabana, presa com uma linha de pesca, transparente, o meu Pai punha uma estrela brilhante. Depois, perto, segurava-se o pinheiro cheio de resina dentro de um balde, e fazia-se a árvore de Natal. Então, penduravam-se chocolates que nos eram oferecidos. Acho que a Regina, nesta altura, devia ter muitos lucros...
Desde o dia 8 até ao Dia 25, ou melhor, à noite de 24, o Tempo era de ansiedade, de agitação, de cheiros diferentes, filhós, azevias, o recheio do perú que eu ainda hoje adoro. A mesa da sala de jantar estava sempre posta, havia bolo rei, e chegavam todos os dias perús que os doentes, e os amigos, ofereciam ao meu Pai. Eu, que até hoje detesto penosas, desaparecia da cozinha sempre que chegavam aqueles animais pretos de patas atadas, condenados à morte. Às vezes, de Belver, chegavam lampreias vivas, lembrando cobras e gerando gritaria entre nós, miúdos.
Hoje, quase 40 anos depois, estou em Cambridge, na Inglaterra das minhas leituras adolescentes, junto da minha filha e do meu primeiro (de muitos, espero) neto Manel Bernardo. Temos uma árvore de Natal, standard, mas ainda não temos Presépio. E eu também sinto falta do Presépio...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A Velha Árvore


Em Portugal, é conhecida a frase, boa peça de Teatro aliás, "As árvores morrem de pé!". Aqui, isso não é verdade. Esta árvore velha, cansada, deitou-se e morreu, quero eu crer. Possivelmente, a árvore cansou-se da sua existência, ou da indiferença com que era olhada, ou simplesmente apeteceu-lhe sossegar e deitou os ramos. Apetecia-me fazer como a velha árvore. Encostar-me, deixar que me levassem sem sentir, nem sentires, e que me reciclassem, depois, em qualquer coisa mais fácil, menos dolorosa do que viver. A velha árvore está juntinho ao King's College. Deve ter ouvido e aprendido muita coisa mas, mesmo assim, acabou um dia. Eu não sei nada, sinto demais, e, hoje, apetecia-me também desistir e encostar os ramos. Queria a compreensão da vida, a ternura de um beijo, um silêncio feito verdade, um abraço feito cumplicidade.

domingo, 6 de dezembro de 2009

De Longe

Pessoa, o meu Pessoa, defendia que a Arte surge, as vivências também, não no momento real mas, antes, no momento da recordação dessas vivências. Defendia a reconstrução do vivido, no pensado, para assim conseguir a essência. Hoje, concordo com ele. Aqui, longe do meu Portugal que tanto critico, tenho saudades daquela terra onde a idiotice lidera. Confrontada com a modernidade, com o sentido da existência nesta cidade de Cambridge, penso no meu Portugal desordenado e desejo-o intensamente. Contaram-me, ou li, que houve a cimeira ibero-lusa, que o amigo Chávez faltou, que o Sócrates quer vender os Magalhães à Venezuela, e eu nem me irritei. Sorri e aceitei. À distância, pintado com saudades..., o meu país até quase faz sentido.
Hoje, apetecia-me o Convento de São Paulo, a calma do velho Convento, as recuperadas celas acolhedoras dos frades, os ruídos de Inverno do meu Alentejo, o acordar para o pequeno-almoço de pão quente com boa manteiga!!!

A Missa


Missa em Cambridge, este Domingo no Trinity. No início, tempo para as pessoas se conhecerem. Hello, how are you?, e as pessoas a apresentarem-se, a dizerem de onde vêm, porque estão ali. E começa a cerimónia, música alegre, cânticos, gente nova, as leituras da Bíblia. Hoje, a referência a Zacarias e a João Baptista. A espera, o saber aguardar, a confiança no Deus que nos Ama. Eu, sozinha num canto no banco longo, depois de ter conversado com um jovem que me cumprimentou, a pedir a Deus uma luz, um sinal, uma orientação. Eu, perdida, sem a fé de Zacarias, agradecendo o meu Manuel Bernardo e pedindo ajuda, apoio, força, num momento tão intenso como o que estou a viver. Os Cânticos, alegres e cheios de vida, a fazerem-me cantar também.
Saí da Igreja, para a chuvinha de hoje, com a alma reconfortada, capaz de enfrentar a semana. Ou, pelo menos..., o Domingo...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Sábado


Hoje, sábado frio em Cambridge, saí cedo de casa. A caminhada até ao centro, meia hora de marcha, aqueceu-me a alma, fez-me sorrir e, apesar do frio gelado, deixou-me confortável. Percorro três longas ruas, todas diferentes, e vou sempre reparando na vida, nas existências e essências, tão diferentes aqui das da minha cidadezinha de província. Como tinha toda a manhã para mim, fui olhando com olhos de ver, e de sentir, cada pormenor. Mais uma vez, a beleza do rio Cam me encantou. Por detrás do King's College, corre calmo, límpido, fazendo de espelho aos ulmeiros que, como dizia Camões, "pendem parecendo afeitar-se". A luz matinal ajudou o meu clic e tentei prender, guardar para mim, instantâneos de momentos que adivinho fugazes e irrepetíveis.
Cheguei ao Centro, passeei no emaranhado de ruas, fui ao simpático mercadinho. Aqui, tudo se vende à unidade e, por isso, é possível comprar vinte tangerinas, cinco cenouras, seis tomates, dois alhos franceses e uma coisa que não sei o que é, mas dá bom gosto à sopa, e que eu chamo uma cenoura branca. Comprei pão, também. E esbarrei com a inevitável globalização, pois, no coração da secular e sábia Cambridge, no mercadinho de rua, a banca do pão vende pão de Itália, França, Grécia, Inglaterra, Espanha e Alemanha. Só para me chatear, não tem pão de Portugal!! Yes I have, look from Spain! E eu explico que não é Spain bread que procuro mas, Portuguese Bread, de preferência da Salavessa..., e ele insiste, porque, para o velhote do pão, Portugal é um bocado de Espanha!!! Só por causa disso, comprei pão francês...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A Noite


O tempo voa, às vezes depressa demais..., e o meu Manel Bernardo cresce! Agora, já em casa, calmo e curioso, já quer a chucha e já olha para nós com vontade própria, às vezes excessivamente própria... Hoje, o Manel Bernardo ficou sornando e eu fui para o centro fazer compras.
É estranho, e mágico, fazer compras na noite iluminada. Cambridge escurece cedo, mas a vida comntinua a desenrolar-se, naturalmente, sob as mil e muitas luzinhas deste Natal que quero especial. Entrei nas lojas, sempre quentinhas, pedi present packets please, tomei o obrigatório double express, e caminhei sob uma magia estranha. Depois, fui à Igreja, no King's. Ambiente quente, gente cantando, luzes trémulas e o meu coração a trair-me, o olhar a afogar-se. Cambridge tem, para mim, cada dia mais revelaçóes.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Chuva e esperança

Chove muito, hoje, em Cambridge. Chuva grossa, molhada mesmo, enérgica e envolta em nevoeiro. Faz frio também. Por contraste, em casa o Manel Bernardo está quentinho, mamando bem, esticando-se com energia, divertindo-se a regar tudo à sua volta sempre que lhe mudamos a fralda. É tão bom tê-lo aqui!!É espantoso como um ser minúsculo, uma amostra de gente, se tornou o centro do meu mundo. Olho-o nos meus braços, indefeso, e tenho medo do que a vida possa vir a fazer com ele.
Este bebé, que chegou a despertar-me para tantas coisas, tem de ser capaz de viver (não apenas sobreviver), num mundo que, cada vez mais, é desumano e vazio. Este bebé, o Manel Bernardo, tem de ser capaz de conhecer o Amor, compreender a ternura, criar cumplicidades, valorizar sentires. Olho-o, agora, e digo-lhe coisas de ser e viver, em português do melhor, tentando, assim, que ele comece a amar uma língua que, acredito eu, definirá a sua essência. Ao meu Manel Bernardo, agora, não ouso falar de medos nem traições, de mentiras nem hipocrisias. Conto-lhe, apenas, da frugalidade da vida, da voracidade do Tempo, e da missão Humana de tecer felicidade. De verdade mesmo, olho o meu bebé, reparo como ele me olha também, e acredito que, naquele coração minúsculo, começam a criar raízes as plantas da essência Humana!!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

My Neighbours


É noite em Cambridge. Anoitece cedo, pelas quatro horas, e a cidade puxa sobre si um manto de luz e quenturas que espantam o frio gelado da manhã. No coração da cidade, agora, há luzes, cânticos, senhoras apressadas carregadas de embrulhos, crianças de gorro e nariz vermelho. Andei por ali, vagueando, espreitando lojas de tentar, olhando montras de encantar, passeei junto ao rio e vim para casa de coração adormecido. Sentei-me, então, neste quarto diferente que é o meu, agora, e reparei nos meus vizinhos. Eu, que estou pouco habituada a vizinhos (mesmo quando estes são neighbours), acho estranha esta espécie de convivência forçada. Já conheço, sem conhecer, quem por aqui mora. E, o que tem mais piada, conheço aspectos da intimidade, sem conhecer as generalidades! O meu vizinho da janela em frente, mal chega a casa põe-se em boxers, enche uma caneca de qualquer coisa (não me chega o cheiro) e põe-se ao computador. Deita-se pelas 20.00h. Cedíssimo, para a minha portugalidade. Ao lado, na janela em frente da sala, vive uma familia de chineses. São cinco e, nos domingos, não se vestem, ficam de trajes muito menores... Comem com pauzinhos, decostas uns para os outros, e têm dois micro-ondas, claro que, aqui, micro-waves. Nos dias de semana, os chinoquinhas saem todos, excepto um velhote que fica zanzando de um lado para o outro até sossegar frente ao computador. Na janela de baixo, vivem jovens universitários. Bebem muitas latas de cerveja, têm pilhas de livros nos parapeitos e andam em tronco nu. Acho, sinceramente, que esta vida assim, de exposição de intimidades, não tem piada nenhuma e, por isso, desço os estores até abaixo quando, também eu, mudo para trajes menores.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Manel


É agora o centro da minha existência, o meu minúsculo Manel, de olhos curiosos e vontade de vencer. Nos meus braços, sinto-o a viver, a questionar-me com o olhar penetrante, a perguntar talvez porque estou eu com vontade de chorar. E não ouso contar-lhe dos meus tantos medos, do susto de existir, do sobressalto constante da minha existência. Quero que o Manel cresça forte e seguro, decidido, impondo o seu querer a este mundo com pouco sentido. Imagino o Manel a correr com o Tango e o Buda, vejo-o a protestar contra a Escola, imagino-o feliz a mostrar que ainda há Homens de verdade em Portugal... E ali, agora, aquela coisinha minúscula, olha-me dizendo que sim, que vai ser feliz, que vai amar o nosso Alentejo, que vai respeitar e herdar a simplicidade sábia do bisavô Emílio que, tenho a certeza, está agora a olhar por ele!

sábado, 28 de novembro de 2009

Frio

Frio gelado em Cambridge quando, de manhã, saí para as voltas habituais. Um frio bom, cheio de energia, que me acelera o passo e desafia os sentires. Hoje, no rio Cam havia vários grupos fazendo punching, talvez por ser sábado, e por não chover. Na paragem do autocarro, fiquei observando e ouvindo o eco de muitas felicidades. Pensei no meu Manel Bernardo, penso nele a cada segundo, e imaginei-o dentro em breve, o tempo voa, ali, nos barcos, de pé, o punch na mão, a namorada em baixo enrolada numa manta escocesa. Esta cidade provoca sentires, desperta sonhos, alimenta ousadias. Aqui, o meu Manel vai ser feliz!! God bless him!!!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Manel


O meu neto!! Como diz a pediatra, uma ruiva simpática, he's a very handsome man...

Cheiros

Saí cedo para o frio das ruas cheirosas de Cambridge. A caminhada gelada aqueceu-me a alma, essa que tão revolta tem andado, e o centro da cidade sábia acolheu-me com chuvinha cheirosa. Havia fuimo de café, de chocolate quente, de waffles e hot-dogs vendidos em cada esquina. Entrei no supermercado e comprei as hortaliças habituais, hoje com nomes diferentes. Hesitei na abóbora, mas escolhi pelo cheiro. Cheirava a Portugal! Depois, no mercadinho de que tanto gosto, cedi às tulipas que já pus a alegrar a sala da minha menina. Voltei de autocarro, carregada demais, sem frio já, com os olhos húmidos e uma vontade, de doer, de que a vida me dê tréguas...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Cambridge (Again...)

E pronto, de novo em terras de Sua Majestade, agora para usufruir do título de avó. Não sendo um título aristocrático, tem para mim toda a importância e nobreza! Porque não exige coroa, mas cobre com um manto Real o meu coração.
Hoje, há pouco, vi finalmente o meu Manel Bernardo. Tem os olhos da Mãe, a boca do Pai e a vontade dele mesmo. Com as mãos minúsculas, de longos dedos, aperta-nos a mão parecendo exigir a nossa atenção, a nossa presença. A boca pequenina tem expressão, e as orelhas, que parecem desenhadas ao pormenor por mão de Artista, captam qualquer ruído. Este ano, o meu Natal voltará a fazer sentido. Porque a vida continua, refaz-se, e o meu neto Manel está aí para me mostrar como muitas das minhas enormes angústias se podem tornar insignificantes...
O Manel veio reensinar-me a coragem de viver, a necessidade de, como eu digo muitas vezes aos meus alunos, agarrar a vida pelas orelhas e obrigá-la a cumprir-se a gosto. O Manel veio despertar em mim o inconformismo adormecido!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

24 Horas

Já tem um dia, inteirinho, o meu bebé. Imagino-o loirinho, minúsculo, frágil, e dói-me a impossibilidade de o abraçar. Faltam horas, mesmo poucas são demais, para poder dar-lhe colo e dizer-lhe que vou estar sempre velando por ele.
É muito estranho ser avó. É uma mistura de ansiedade, desejo de presença constante mas, simultaneamente, certeza da existência de algum distanciamento. Os pais são os primeiros responsáveis! Talvez por isso, experimento algum alívio por poder mimar à vontade, estragar até um pouco, o meu Manel Bernardo!
Ao viver as emoções da minha estreia como avó, vivo angústias pessoais, emocionais e profissionais. A minha vida tornou-se um redemoinho de sentires, tarefas, opções, obrigações, revoluções.
Queria PAZ! Queria poder viver estes dias únicos, avassaladores, intensos, mágicos, em paz verdadeira. Mas, claro..., se assim fosse não seria eu, nem a minha vida...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Manuel Bernardo

Nasceu hoje, às 9.30h, o meu primeiro neto, o Manel Bernardo. Nasceu a marcar a vontade, antes da hora que lhe tinham destinado, loirinho e de olhos bem abertos para este mundo que o acolheu. Entre mim e o meu neto há uma imensidão de kms... E dói a distância, estilhaça-me por dentro a vontade de estar junto dele, de o olhar, de lhe garantir o meu amor. Quinta-feira, bem cedo, vou voar para junto dele!!
O meu neto é agora a minha maior ansiedade, e eu tenho tantas!! Lembro-me da minha filha bebé, minúscula, também de olhos grandes e curiosos, e surpreendo-me com a velocidade do tempo. Aquela menina que cabia na concha das minhas mãos é, hoje, uma mãe encantada com o seu bebé!!
Penso na velocidade vertiginosa do tempo e não consigo deixar de pensar que, de facto, a vida é curta demais para ser desperdiçada.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Idiotices

É assim o tempo: sucedem-se os dias, cruzam-se sentires, reconstroem-se estados de alma.
Hoje, vou à vida com garra! Espera-me um dia longo que terminará, uma vez mais, com reunião da Assembleia Municipal. E vou revoltada! Porque estão a acabar com o meu concelho, porque estão a levar para Évora as principais valências de saúde, porque os recém eleitos, e verdadeiros idiotas, no executivo camarário, vão impedir a construção da nova Escola, vão, uma vez mais, em nome de memórias inexistentes (um velho estádio sem utilização) colocar Portalegre na cauda do país! É por isso que eu não gosto destas democracias de pseudo-igualdades!Como pode o número significar razão?! Quem acredita que cem idiotas são melhores que dois seres inteligentes e competentes?? Hoje, apetece-me protestar, com veemência, contra aqueles que continuam a sufocar Portalegre. A minha cidade merecia melhor!!

domingo, 22 de novembro de 2009

Distorções

A vida cumpre-se num fazer de pequenas coisas, disse alguém. Eu gosto da frase. Sobretudo, gosto porque me faz ter esperança nos momentos péssimos e, simultaneamente, valorizar os momentos bons. Nos últimos dias, tenho vivido assim, num carrossel de altos e baixos, sentada naquelas coisas que giram-giram a uma velocidade alucinante fazendo ver o mundo distorcido. Ou, se calhar, o mundo está mesmo distorcido. Ou eu estou distorcida. Nestes últimos dias, cheia de mil afazeres, com o meu neto quase a nascer - uma nova etapa, uma ansiedade indescritível -, o meu coração tem galopado a mil dando sinais de querer parar. Às vezes, apetecia-me deixá-lo parar. Sair de mim e ficar de fora, cumprindo só o essencial, sem me fazer sentir a solidão, a saudade, o desejo, a memória, o medo de um futuro que desconheço. Hoje, queria que o meu coração requeresse a reforma!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Vila Viçosa - MULHER

De quinze em quinze dias, Vila Viçosa acolhe-me. Chego cedo, pelas duas e meia, e sempre me surpreendo com a entrada imponente do castelo ao fundo da praça simpática. Estaciono, tomo um café, às vezes peco uma queijada (são deliciosas, de requeijão), e rumo à Escola. Lá, encontro os colegas que, como eu, procuram facilitar a urgente mudança que a educação exige. Partilhamos experiências, discutimos metodologias, espiolhamos o novo programa, comentamos, produzimos, vivemos momentos que, quero crer, serão marcantes no nosso quotidiano lectivo.
Hoje, uma vez mais, fui a Vila Viçosa. Cheguei dividida, ou mesclada, os sentires profissionais tecidos por angústias particulares, tinha vontade de chorar, apetecia-me ter a força da D. Luísa de Gusmão que dali partiu em busca de um reinado difícil. Deu-me, então, mordiscando a queijada (foi dia de pecado), para pensar como é duro e doloroso sentir no feminino. Vila Viçosa conheceu, acolheu, Mulheres sofridas: D. Luísa, D. Catarina (coitadinha, o marido fê-la de fel e vinagre), Florbela Espanca... Agora, acolhe-me a mim! E, se não sou comparável em importância, sou-o decerto no sonho que acalento. E os meus sonhos...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

São Rosas, Senhor!


Não as embrulhei no regaço, não serviram para ludibriar ninguém.
As minhas rosas chegaram, hoje, trazidas por uma mensageira com sorriso maroto (ora, ora, é a segunda vez, em poucos dias, que trago flores a esta professora...). Eu perdi-me nelas, cheirei-as, toquei-lhes, afaguei a presença que me faz falta e, de longe, mima a minha existência.
Agora, ao som do Oceano Pacífico, olho as rosas, penso como a vida se cumpre, de facto, num fazer de pequenas coisas, e sorrio à nova realidade que me desafia e provoca.
Ah! Como eu compreendo a Rainha Santa Isabel!!! Como eu sinto, agora, a importância de um ramo de rosas...

Monarquia versus República

Tarde de 4ªfeira e o Clube Europeu, o meu Clube Europeu (mentira... é da minha Escola, eu só coordeno), esse mesmo que tantas dores de cabeça, alegrias e preocupações me dá, a desenvolver mais uma iniciativa daquelas de aprender a ser Pessoa. Desta vez, confrontar Monarquia e República, ajudar os miúdos a perceber que ditadura e monarquia não são sinónimos, fazê-los perguntar, ter dúvidas, reformular ideias feitas e encontrar caminhos, era o desafio. De um lado, a minha amiga Teresa, monárquica de emblema na lapela, segura, fundamentada, apaixonada pela Causa; do outro, o meu colega Capote, experiente, treinado para o uso da palavra, sensato e racional, defensor da República. Esgrimiram-se argumentos, apresentaram-se ideias, deram-se exemplos, falou-se de cidadania e de liberdade, de tempos e de épocas, de indivíduos e de grupos. Os miúdos, jovens quase a poder votar, fizeram perguntas, contradisseram, optaram.
Eu, republicana convicta, olhava a discussão com a alegria, disfarçada, de ver a Escola acontecer. Porque eu acredito que é assim que se faz Escola! Acredito que é importante conversar, não contraversar, ouvir, dizer, questionar, reflectir e construir ideias novas. Saí da Escola depois das seis, cheguei lá às oito e dez da matina, mas vim para casa com a sensação do dever cumprido, com a certeza de ter feito alguma coisa pelo mundo que integro.
Talvez, daqui a 20 anos, estes miúdos não se lembrem das características do Romantismo, ou sequer da diferença entre um conector adversativo e um disjuntivo, mas, tenho a certeza, lembrar-se-ão de uma tarde, numa sala desarrumada, com ruído de obras a perturbar a comunicação, em que discutiram coisas de ser Pessoa!!

O que é que isso contribui para a minha felicidade?

O mundo, o de hoje, o meu, outro não conheço, faz-se de egoísmos mascarados de socializações. Todos andamos à procura de um lugar onde o Sol, ou um raio que seja, incida em exclusivo sobre nós. Todos queremos viver bem, não ter (grandes) preocupações e, numa fórmula que para lá do vazio pode fazer sentido, queremos ser felizes. Depois, há quem assuma isto e quem, sei lá porquê (idiotice, é uma hipótese), o tente disfarçar. Eu não disfarço! Eu procuro viver de modo a concretizar sonhos e a experimentar vivências de felicidade! Claro que, diariamente, sou confrontada com chatices. Mas continuo, ora chorando, ora praguejando, ora fazendo, ora refazendo,ora rindo, ora gritando, na minha busca de realização individual. Assim, muitas vezes partilho com os meus alunos, meus grandes amigos, esta questão da necessidade de fazermos "coisas" pensando em nós mesmos, na nossa realização e felicidade. E muitas vezes também, eles não me ligam nenhuma porque, se calhar, o que eu lhes digo em nada contribui para a felicidade deles... Ora, pensando em tudo isto, decidi impôr uma norma nova nas minhas aulas: - Perante qualquer comportamento considerado, obviamente por mim!, estranho ou desajustado, vou exigir ao responsável uma reflexão sobre o contributo do mesmo na consecução da sua felicidade! É que eu acho que, num mundo onde manda a economia, se pensarmos os nossos actos numa lógica de benefício próprio podemos conseguir mudar muita coisa! Acho mesmo!!

domingo, 15 de novembro de 2009

Chuva!

Fazia, e faz, muita falta a chuva. Eu gosto da chuva. Gosto de a ouvir, como agora, furiosa lá fora, gosto de a sentir em cima de mim e gosto até, imagine-se, do seu atrevimento quando se enfia pela gola e molha, gelada, as costas quentinhas. A chuva fazia falta, o meu Alentejo já tinha gretas e, acho eu, andava poeira demais pelos ares.
Agora, que a chuva chegou, voltou a minha esperança num quotidiano profissional diferente. (Profissional, porque pessoal já eu tratei disso, mesmo com sol a mais). Queria que a nova Ministra, que por acaso até já foi professora do Secundário, devolvesse a dignidade aos professores. Obviamente, teria de ter a coragem de acabar com a divisão injusta, arbitrária, indecente, da carreira. Teria de enfiar no lixo, no normal para não haver sequer hipóteses de reciclagem, o estatuto da carreira e, ao mesmo tempo, todo o sistema de avaliação. Teria de ter coragem para dizer que esta Escola, esta com a paranóia da informatização e sem um olhar para as PESSOAS, não serve! Se ela refrescasse ideias, aproveitando a chuva que cai de borla, havia de proibir turmas com mais de 20 alunos e havia de reduzir, drasticamente, o tempo que os miúdos passam enfiados na Escola.Eu gostava que a Ministra se lembrasse que os miúdos precisam de tempo para viver! Até para viver as Aventuras que ela imagina para eles...Deus queira que ela apanhe uma molha revigorante!!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Mudanças

Coitado de Luís de Camões... Já morreu há mais de 500 anos e eu ainda ando a chateá-lo com o que escreveu. Dizia ele que "todo o mundo é composto de mudança" e digo eu, agora, que a mudança custa, dói, é exigente e não acontece com a simplicidade das estações do ano que se sucedem. Aliás, as próprias estações do ano também já se cansaram e, agora, mudam pouco.
Eu desejo a mudança. Queria ver mudar a Escola, a sala de aula, as atitudes, as emoções também. Queria, ainda, ser capaz de mandar às urtigas (ou a outro sítio qualquer, porventura mais desagradável ainda) as rotinas que tornam as pessoas mecanizadas, que nos prendem - Sim, a mim também - a realidades incómodas e dolorosas. Hoje, apetecia-me ser dona de uma transportadora de essências e, de repente, sem demorar nada, fazer a mudança de toda a minha realidade!!!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Avarias

Há dias assim, dias em que tudo se avaria! A máquina da loiça não avança do enxaguamento, o computador não abre o excel, a máquina da roupa tem a gaveta do detergente partida, o esquentador não dispara. Tudo parece, hoje, ter acordado para me infernizar a vida. Como se eu precisasse que me lembrassem que o inferno existe... Para complicar as coisas, a minha cabeça anda a mil, o coração a cinco mil, as emoções a dez mil! Hoje, queria entrar nas histórias da minha infância, encontrar a Alice, passear no País das Maravilhas (e não no das avarias) e ouvir o coelho branco dizer-me para escolher bem o lugar para onde quero ir. Gostava de ser menina, para pedir colo e ter a certeza, essa certeza inconsciente e boa, de que alguém havia de resolver os meus problemas.
Como já não caibo nos livros da minha infância, o corpo cresceu, tenho mesmo de fazer face à vida real... E tenho pouca vontade. Que chatice, será que também eu avariei? Ou serei avariada de origem???

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

INCRÍVEL!!!

Dia de formação. Kms feitos com a cabeça a mil à hora, o coração em sobressalto. Chegada à escola em obras, bandeira da Mota Engil, contentores, homens de capacete, ruído. Finalmente, o Bloco D e a sala certa.
Porta fechada e, para passar o tempo, conversa com a colega que chegara antes da hora. E, conversa puxa conversa, ela foi contando: - "Os professores queixam-se da avaliação, têm razão, mas o que passamos nós, os contratados, é bem pior... "Eu, curiosa, fui puxando confissões, e ela continuou: "Este ano, só tenho área de projecto. Eu, que não tenho os alunos em nenhuma disciplina, tenho a área de projecto. E, amanhã, vou começar a dar educação sexual. Estou apavorada!" Perguntei se esta professora não era, como eu, de português. "Sim, sou. Mas a educação sexual tenho de dar no projecto". E sabe como fazer isso? "Falei com uma colega de Biologia. Disse-me para nunca usar a 1ª pessoa, nunca dizer eu, ou nós, para não personalizar as coisas. E disse-me que é fundamental que fale sempre neles, nas pessoas, sem referir homens nem mulheres, para não ser acusada de segregação dos gays e lésbicas". Felizmente, a funcionária chegou, abriu a porta e eu fui preparar-me para a formação. Decorreu a sessão, falámos de novas metodologias, de sonhos, de sucessos e fracassos, mas a angústia daquela jovem colega ficou-me cravada na alma.
O que está a acontecer neste país??? Como podem acontecer barbaridades destas?? Experimento hoje uma angústia preocupada. O que vai ser destes miúdos, a quem se fala de sexo de pessoas assexuadas??? O que vai ser destes professores, lançados assim para uma tarefa violenta e contrária a todos os Valores???
Ao pé do que esta colega, e centenas de outros colegas..., estão vivendo e fazendo, que importa falar de didáctica do português ou de novas metodologias???

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Avaliação

Já foi afixado o calendário com os passos, e datas, da avaliação de desempenho docente para o próximo ano. Manteve-se o sistema da idiotice: - as arbitrariedades, as injustiças, as falsidades, as anormalidades instituídas. Os professores, os tais 120 mil que se manifestaram e depois votaram PS... - Alguém me explica como foi possível?? -, parecem acomodados e tudo decorre da mesma forma. Ouve-se dizer que é preciso voltar a imprimir os objectivos do ano passado, e eu que já eliminei os meus..., e pensa-se nas datas das aulas assistidas pelo colega titular que, tantas vezes, personifica a mediocridade!
Como pode vingar um sistema que assenta em subjectividades, em faz-de-conta, em papéis, grelhas e questões burocráticas?? Desespero! Não quero mais integrar a revolta, se ela surgir, porque acho que o esforço é inglório e, sinceramente, acho que o Ministério da Educação não merece sequer uma palavra minha. Mas, ainda assim, sofro a humilhação que a presente avaliação representa. Sofro a raiva contida contra um sistema obsoleto e estúpido! Queria ser avaliada com base no meu quotidiano lectivo, no trabalho com os meus alunos, na dinâmica e qualidade das aulas. Queria uma avaliação formativa, capaz de me ensinar a fazer melhor e não, NUNCA!, uma avaliação punitiva e castradora de inovação.
Socorro! Esta EScola fica-me escandalosamente curta!!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Conquistas e Afectos

Frequentemente, na minha vida de professora, esbarro com dificuldades, com incompreensões, com desentendimentos até. Se, com os colegas, estes facto me incomodam e perturbam (às vezes muito mais do que eu desejaria), quando com alunos desesperam-me. Desde sempre, desde os meus primeiros anos como professora, que considero os alunos a minha prioridade e, sempre, me esforço e empenho para os ajudar a crescer, para os orientar, para, mais do que ensinar-lhes português, lhes ensinar a vida.
Às vezes, felizmente, as coisas resultam. E foi o que aconteceu, no último ano lectivo, com a minha turma de 12º G. Fiz, naqueles miúdos, amigos para a Vida e nunca, mas NUNCA!, me vou esquecer da Filipa, da Joana, das Margaridas, da Carolina, da Ana, do Eduardo, da Maria João, do João, do Fábio, etc. Assim, quando a Maria João, a minha MARIA!, me veio visitar um destes sábados, eu saltei de alegria! Foi um serão com o coração aos pulos, ouvindo as novidades, entusiasmada porque a minha menina se assumiu como mulher política (filiou-se e tudo), receosa porque me falou das muitas dificuldades do novo curso.
Para mim, ser professora, muito mais do que apresentar objectivos ou cumprir horários, é ser ISTO: - Criar cumplicidades, construir amizades, despertar sentidos e sentires que ajudem a mudar o mundo de amanhã que, não esqueçamos, começou ontem!!
Obrigada miúdos, por me fazerem sentir com sentido!
Obrigada Maria, por estares a tornar-te numa mulher fantástica!!!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Esperança

Se calhar é possível.
Tenho andado numa roda-viva, de formação em formação, com aulas e reuniões pelo caminho mas, no meio de toda esta loucura profissional, tenho as rosas vermelhas, ainda perfumadas, lembrando-me que é possível dar sentido à existência. Sinto o meu coração mais mole, tenho vontade de sorrir, apetece-me brincar e voltei a acreditar naquela janela que, dizem, Deus abre sempre que fecha uma porta. Redescobrir o frisson de uma paixão, sentir de novo o coração aos pulos, acordar a cada dia fazendo desconto no tempo que falta para a plenitude, tem-me feito pensar que, se calhar, o mal deste mundo, e do meu país, é apenas ter perdido a capacidade de Amar!! Se eu fosse ministra da educação, ou se ao menos pudesse conversar com ela, havia de lhe recomendar que fizesse acções de formação sobre a capacidade de amar; que implementasse, nas Escolas, projectos de Gostar, que investisse em espaços de construção de afectos. É que sinto-me tão bem assim, apaixonada!!!

sábado, 31 de outubro de 2009

As Bruxas

31 de Outubro, dia de bruxas. Ou das bruxas, numa importação (mais uma) de culturas alheias, práticas distantes, identidades estranhas. Vi na televisão as reportagens, esbarrei com uma festa da minha sobrinha pequena cheia de miúdos mascarados de horríveis, ajudei até a destruir uma abóbora - mal empregada - para fazer uma caraça assustadora. Agora, já no meu canto silencioso, penso no ridículo de tudo isto.
Por um lado, obviamente, o Mundo muda, as tradições alteram-se; mas, por outro, ainda não consigo compreender, ou sequer aceitar, este vício doentio de importar, e tomar por bom, tudo o que vem de fora... Também nas notícias, a par com as bruxas, vi gente importante (ou tida como importante) a ser alvo de buscas, acusada de corrupção, detida até. São altos dirigentes, alguns ex-ministros. E, pensando em tudo o que vi numa dolorosa meia de hora de notícias, não resisto a pensar que, embora importadas, as bruxas por cá andam bem activas...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

KIZOMBA DESCALÇOS

Corro, corro, iludo-me com a existência para entreter a essência. Vou de Vila Viçosa para Ponte Sor, de lá para Portalegre, daqui para Évora, preparo aulas, vou à maldita plataforma, corrijo trabalhos, oriento portefólios, respondo a emails, proponho mudanças, esclareço dúvidas, passo a ferro, cozinho, vou ao cabeleireiro, tomo café, espreito as notícias, oiço a novela, falo ao telefone, acompanho os Amigos, escandalizo-me perante o mundo, ralho com os alunos, sonho com o meu neto, faço render momentos de plenitude como a oferta de um ramo de rosas, vou à dança,desenvolvo novas competências, iludo o tempo. E, às vezes,depois de tudo isto, chego a casa e pergunto para quê? É que, se eu pudesse, faria só metade das coisas, com mais calma e mais tranquilidade. Se eu tivesse coragem para desafiar a vida, havia de fazer como na dança de hoje, ao ritmo do Kizomba e, descalça também,descalça na alma, havia de sentir a terra de verdade, a autenticidade que me faz humana, e não as obrigações que me fazem mundana.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Rosas Vermelhas

Porque a vida acordou para mim, hoje vivi momentos especiais!! Estava muito calmamente, tão calmamente quanto possível com 30 miúdos de 15 anos, tentando fazê-los compreender a diferença entre discurso directo e indirecto, quando alguém bateu à porta da minha sala. Um miúdo abriu e a funcionária do piso, sorrindo, perguntou: - A professora pode chegar aqui? É só um minuto... Eu cheguei! e, num meio minuto, fiquei com um ramo de rosas vermelhas, botões intensos!, nas minhas mãos. De sorriso maroto, a senhora da florista dizia: - É para a senhora!
Eu nem queria acreditar!! Li o cartão e corei como adolescente (claro que não conto o que li)... Eu sei que tenho 49 anos, que vou ser avó, que tinha já arrumado as emoções intensas do amor, mas atirei tudo às urtigas. Os meus alunos perguntavam se era o meu aniversário e eu, sem conseguir parar de sorrir, respondia que não, que era apenas o amor sem dia marcado. Com o nervoso e a euforia, nem aproveitei para explicar o discurso indirecto livre... Porque livre estava o meu coração, pousando nas rosas, voando na lonjura ao encontro de quem assim me mimou. Já nem me lembrava como era absorvente e avassalador, o Amor!!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A minha posse de ganga

Não resisto a desabafar... Eu também fui tomar posse, hoje, agora há pouco, como membro da Assembleia Municipal de Portalegre, independente, eleita na lista do PSD. Às nove da noite, depois de um dia de trabalho intenso, lá desci a minha Serra rumo ao Salão de Congressos da CMP. Para mim, era um acto cívico que me aguardava, o oficializar de um resultado democrático. E, por isso mesmo, apresentei-me na minha maior descontracção, calças de ganga, botas, camisa de quadrados. Ora, quando lá cheguei, deparei-me com o ridículo da minha indumentária. É que as senhoras estavam todas de escuro, saia e casacos, rosas nas lapelas, penteados e maquilhagens de cabeleireiro. Os homens, comunas incluídos (decididamente, o mundo já não é o que era) todos de fato e gravata. Se eu tivesse um buraco, tinha-me enfiado lá, muito quietinha, até ao final da sessão. Como não havia buracos, até porque o edifício é novo e lindo, tive de aguentar e avançar, nas minhas botinhas de trabalho, até ao palanque para, ao micro, declarar que juro cumprir com lealdade as funções que me são confiadas. Felizmente, não me fizeram jurar que ia prestar atenção ao traje! Depois, já sem os media locais, decorreu a primeira sessão e elegeu-se a mesa. Havia uma única lista e a votação aconteceu: - 16 votos a favor (15 PSD e 1 CDS) e 15 abstenções (PS+CDU). A coisa promete, neste mandato. Para a próxima, vou de luto!! Pela democracia, que em POrtugal morreu à nascença, e para não destoar nas minhas calcinhas de ganga que, aposto, ninguém reparou que eram da SALSA! De marca, bolas!!

A Posse e a Vacina

O novo governo tomou posse. Repetiram-se os discursos, as fórmulas que já nada significam, as declarações que se sabe virem, rapidamente, a ser ignoradas. No mesmo dia, foi vacinado o Director Geral da Saúde, com direito a tv, para português ver. Vivemos, de facto, no mundo do faz-de-conta e da irrealidade!!! Que importância tem vermos ser vacinado contra a gripe A o dr. Georges? Eu, pessoalmente, até duvido que a gripe quisesse alguma coisa com aquela figura... Tal como duvido que a alguém interesse, de facto, a cerimónia de tomada de posse do novo governo. É que, enquanto estes factos importantes distraem os portugueses, as empresas continuam a fechar, a educação continua a falhar, a saúde continua a não responder ás necesssidades. Sinto que o meu país, o mundo talvez, inverteu as prioridades e fez, faz!, das insignificâncias as urgências. Hoje, dia em que me dói a cabeça, voltou o calor e me apetecia fugir para um mar distante, olho o meu país com a alma encolhida e a razão revoltada. Queria diferente! Queria ver surgirem verdades, medidas com fundamento. Queria a oportunidade de ver recuperar a essência contra a oca aparência!!!

domingo, 25 de outubro de 2009

Caim e Saramago

Tenho tentado resistir à tentação de me pronunciar sobre a última coisa que o Saramago publicou. Tenho tentado calar-me, fingir que ignoro, aderir à social hipocrisia, bem valorizada no momento, e ficar muda. Mas não consigo! Se o homenzinho me irritava já, se achei uma enormidade a história do Nobel, se desespero por ter de impingir aos alunos O Memorial do Convento, muito mais me revolta que continuem a publicar o que, honestamente, considero lixo literário.
Saramago, a pessoa, quem é? Um operário sem estudos (porventura não foi culpa dele, mas não estudou), um comunista faccioso, um homem desactualizado, um emigrante ranhoso, um ateu ignorante. Só. Não é mais do que isto! O que ele diz da Bíblia revela, apenas, a sua ignorância e burrice. Se eu mandasse - e como eu gostava de mandar! - nem se falava nele, ou nas suas obras. O que o homem quer é publicidade e, se eu mandasse, teria de pagar muito caro para a ter!
Obviamente, não vou ler Caim. Obviamente, acho que o Nobel escreve mal. Não gosto do estilo, do tom, da estrutura, das imagens sempre repetidas e gastas, da fórmula ultrapassada. Mais do que insultar os católicos, e isso já era grave, este homenzinho repelente insulta quem pensa!! Haja paciência!!

sábado, 24 de outubro de 2009

Expectativas

Já há novo/velho governo, já há nova Ministra da Educação, Isabel Alçada (vai ser uma Aventura!) e na 2ªfeira já vou tomar posse, outra vez, como membro da Assembleia Municipal. E nada disto me interessa, ou sequer preocupa. Não tenho quaisquer expectativas, não espero nada para além da mediocridade vigente, e nem sequer acredito que a nova Ministra seja capaz de dignificar a profissão que integro, de humanizar as escolas, de olhar a educação com sabedoria e competência. Desacreditei da política. Completamente. Por isso, agora, finalmente, consigo ver as coisas com frieza e distância, sem (muita) dor e nenhuma esperança apaixonada.
No meio deste desânimo, que ainda assim dói, atravessei uma tempestade violenta. Surgiu de repente, exactamente quando no céu da minha existência não havia sequer nuvens. Estoirou intensa, avassaladora, varrendo o convés dos meus sentires e deixando, na minha essência, uma nova força de viver. Foi a tempestade da renovação, aquela mesma capaz de eliminar vestígios, de limpar fundo as desilusões magoadas que residiam, amontoadas, cheias de nós de marinheiro bem dados, no convés das minhas emoções. A tempestade da paixão estoirou e, antes mesmo que o temporal amainasse, fez-me sentir plena e inteira. Foi assim. Só. Por nada, por coisa nenhuma, ou talvez porque essa coisa ENORME que é o Amor não precisa ser anunciada, aconteceu.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

CHUVA!

Finalmente, o céu soltou-se!! Chove violentamente, cheira a terra molhada, apetece vestir um casaco, nas grandes cidades começaram as batidas de carros. Tinha saudades da chuva, do frio, do vento, dos cheiros e cores do Outono. Claro que dispensava que tivessem batido no carrinho da minha filha... Mas acontece e, vendo bem-bem, podia ter sido muito pior! Hoje, com chuva (será o céu a chorar de desespero antecipado?) vai conhecer-se o novo governo de Portugal. Porque as minhas esperanças são poucas, a desilusão nunca será muita. Mas o medo é imenso. A quem caberá a pasta da Educação? Será que vão continuar as atrocidades bárbaras nas escolas? Queria para Ministra a Professora Catalina Pestana. Queria para secretário de estado, a substituir o débil mental do Lemos e do outro, o Dr. Joaquim de Azevedo! Queria a oportunidade de fazer da Escola espaço de efectivas aprendizagens e educação. Imagino salas em U, com jovens a aprender de facto, desenvolvendo competências, partilhando, reflectindo e crescendo. Queria os professores a trabalhar com gosto e não a cumprirem, apenas, programas e normas! Queria também, claro, que alguns professores, ou simulações de, desaparecessem mas isso, admito, já era pedir demais.
Quero mesmo é que a chuva lave almas e cabeças, llimpando a porcaria entranhada que hoje caracteriza o meu Portugal!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sim, pior é possível!

Era o tema para o texto semanal dos meus alunos de 10º ano "Sim, pior é possível!". Lamentando-se, protestando, apregoando dificuldades, os miúdos lá se desenvencilharam. Eu, à noite, enfrentei o petisco semanal: 30 textos, alguns nem textos sequer..., a exigirem um olhar crítico: - a ortografia, a caligrafia, o conteúdo, as maiúsculas, a estrutura. Vi tudo com atenção esforçada. É que a minha cabeça anda longe! A minha cabeça viajou, levou com ela os meus mais profundos sentires e deixou-me, descabeçada, a cumprir a existência. A minha cabeça, talvez seguindo o mote do texto semanal dos meus alunos, resolveu abandonar-me e deixar-me entregue à rotina. Mas eu, que já sei viver de mil e trinta e nove maneiras - mais ou menos -, resolvi não querer saber da cabeça e cedi ao coração. Inteira!Resolvi acreditar nos sonhos e permitir-me a oportunidade de sorrir. Então, esta noite voei para o mar escuro e profundo, levei canela, dióspiros e marmelada e fiquei vendo o pôr-do-sol. Vi até o ponto verde e ouvi, no silêncio do desejo, a certeza de que "Melhor é mesmo possível!"

sábado, 17 de outubro de 2009

Danceteria e...formação!!

Noite ventosa e quente. Gente jovem a desafiar-me e, quando dei por mim, estava na danceteria. Podia, também, estar num filme italiano dos anos 30, ou até num dos clássicos portugueses, porque a danceteria era muito curiosa. Um salão grande, dois andares de balcão, mesas de madeira e tampo de granito, senhoras de carrapito e mini-saia a servir bebidas, dois músicos, de qualidade duvidosa, e mulheres a dançar com mulheres sob o olhar cobiçoso das barrigas masculinas encostadas ao balcão. Aos poucos, os machos ganhavam coragem ou a cerveja afastava a timidez..., e entravam em cena, muito firmes e hirtos, convidando as damas e interrompendo as conversas gulosas murmuradas. De quando em vez, a senhora de carrapito, que fazia um extraordinário equilíbrio numas andas que serviam de sapatos, entrava no jogo e, dengosa, dava um pé de dança. Melhor, dava um pernil de dança porque, sob a reduzida saia, era mesmo só a perna alva e mal depilada que sobressaía. Ri-me com gosto e dancei também, com o meu grupo, o que tentei que fosse um Tango, o que suponho que tentasse ser um Quickstep. Cheguei a casa tarde, quem me manda alinhar com os jovens?, dormi pouco e mal, vendo os sonhos serem invadidos por enormes navios, camarotes de madeira e embalos suaves. De manhã, levantei-me protestando, resmungando com o espelho (é sempre onde descarrego a minha insatisfação com o meu eu inestético) e parti para Ponte de Sôr para dar Formação. À chegada a Alter do Chão, com mais de 20 kms feitos, percebi que tinha deixado em casa a pen com TUDO O QUE PRECISAVA para a formação!! SOCORRO!! QUERO FICAR-ME PELA DANCETERIA! Gritei. A vida, claro, não se dignou responder-me... E lá voltei a casa, voando, lamentando (só nestas alturas o faço) morar longe, para buscar a pen. Até Ponte de Sôr voei! Um olho à caça dos polícias, um pé no acelerador, outro olho na estrada e em 20m chegava. Só me atrasei meia-hora... Pior mesmo, foi a vergonha do atraso!! Ainda pensei explicar aos meus colegas que até a vida se atrasa, mas não ousei provocá-los mais.
Agora, noite outra vez, estou em casa a ferver de stress, sentires, esperanças e desesperanças. Espera-me um duche, uma tentativa de me arranjar (detesto esta expressão, hei-de inventar outra) e voltar à estrada para ir aos 50 anos da minha Melhor Amiga!!! Duche, lá vou eu! Vestido preto, espero que estejas passado...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Insónia

Devia estar a dormir. Amanhã, espera-me um dia comprido, feito de tarefas obrigatórias, a impôr cabeça fresca, a exigir capacidade de pensar. Mas o sono não vem. Indiferente às urgências do quotidiano, sem pena de mim, sem compaixão pela minha necessidade de dormir, ele não chega. Em vez da paz do sono, vem a turbulência dos sonhos, a agitação dos sentires feitos desejo, revolta, mágoa, vontade e desesperança. Segui as indicações de um médico, há muitos - tantos!! - anos, e saí da cama. Ele dizia que o pior, face à insónia, é dar-lhe corda e ficar na cama desesperando. Defendia que nos levantassemos e aproveitassemos o tempo, virando costas à Dona insónia. Estou a tentar fazer isso. Só que, talvez conhecedora das minhas fragilidades, a insónia chegou carregada de sonhos e obrigando-me a vivê-los... Tentei, para a despistar, trabalhar na bendita da plataforma moodle, o meu mais recente pesadelo profissional, mas nem o computador me deu cobertura e a maldita da coisa recusou abrir. Tentei, depois, ir até ao fotolog colocar uma fotografia, mas a foto mói, mói, e não fica. Só o meu blog, que há muito se revela boa companhia, me abriu uma janela para sentires. E aqui estou, de costas viradas à insónia, pensando que seria bom, agora, estar numa praia tropical, Cuba?, ouvindo salsa e deixando o corpo colear a dois. Se assim fosse, com a ajuda das cores e sabores do lugar diferente, decerto com a cumplicidade a/efectiva de um abraço másculo, até a insónia me seria conveniente!!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Marmelada


Já há marmelos, muitos, no meu quintal. Hoje, dia de grande neura e muito trabalho, cheguei a casa exausta, farta de computadores e escola, e resolvi ir fazer marmelada (da de verdade e possível). É difícil descascar os marmelos. São duros e parecem querer resistir ao abuso que é cozê-los, esmagá-los, torná-los pasta e enfiá-los em tijelas. Como se não bastasse, ainda lhes cozo as cascas para fazer geleia, com pouco ponto, como a Joana gosta. Sozinha na cozinha, com os dedos já a doerem e vendo o anoitecer lindo lá fora, dei comigo a pensar que os marmelos, pelo menos os do meu quintal, são muito melhores do que os homens! Os marmelos resistem, os homens cedem; os marmelos ficam doces, os homens andam cada vez mais amargos; os marmelos deixam-me bem disposta, os homens entristecem-me; os marmelos fazem doer os meus dedos, os homens magoam fundo a minha alma. Pus um tachão ao lume,muni-me de colher de pau e pus-me a pensar no que poderia fazer com os homens e uma colher de pau. Bem mexidos e misturados, talvez se conseguisse dar algum sabor ao mundo...
Depois, já com a luz acesa e finalmente com menos calor lá fora, conclui que os homens, afinal, são melhores do que os marmelos. É que eu detestava ter marmelos por cima de mim e, agora, um abraço masculino até me saberia a marmelada...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Ressaca

Estou de ressaca mesmo. Ressaca social, emocional, política também. Depois da noite de ontem, feita de tanta angústia!, hoje apetece-me esquecer os outros e ser só eu, seja lá isso o que for. Apetece-me ficar por aqui, sonhando, lembrando, criando os possíveis mágicos que só fazem sentido na minha cabeça porque ecoam no meu coração. Hoje, apetecia-me ir em peregrinação, a dois!, até Santiago! Um dia, há anos, fui a Santiago. Ficámos, então, na Pousada de Viana - a rainha das Pousadas! - e depois de uma noite de loucuras, e de um pequeno almoço retemperador, rumámos a Santiago e à Corunha. Lembro-me que fazia frio. Frio bom, do que provoca abraços. Lembro-me, também, que comi uma paella de lavagante por um preço escandaloso. Mas lembro-me, sobretudo, da cumplicidade efectiva, do riso fácil, da necessidade do toque frequente. Fui, claro, dar as obrigatórias cabeçadas no Santo mas,fosse por falta de Fé, ou por carregar na alma um desejo muito pecaminoso, o que pedi não me foi concedido. Agora, apetecia-me ir lá de novo. E de novo chegar carregada de pecados feitos de desejos e sentires...

domingo, 11 de outubro de 2009

Semi-alívio

Foi uma noite difícil e muito dolorosa... Portalegre não aparecia nos ecrans, as rádios não referiam o concelho e a ansiedade começou a tomar conta de mim! Julguei que o pior dos cenários ia acontecer, e que o PS poderia ganhar a Câmara de Portalegre. Tremi e temi!! Felizmente, os meus receios não se confirmaram e o meu candidato, um Homem que conheço com trabalho feito, venceu. Não foi a maioria esmagadora da última eleição, mas o suficiente para continuar a presidir aos destinos do meu concelho. Foi também eleito um comunista, o que, obviamente, me desagrada. Mas, olhando o mapa eleitoral, há algo que me parece, tristemente, justificar esta eleição: - Só há câmaras comunistas no Alentejo, onde se vive pior, onde a miséria é maior, onde a ignorância é mais, onde o envelhecimento da população é a maioria. A norte do Tejo, onde se vive melhor, não há câmaras comunistas!! Assim, parece-me menos grave que o comunista de Portalegre tenha sido eleito e, ao mesmo tempo, fico sempre com esperança que a minha gente evolua e esta aberração se extinga.
Outro consolo, esta noite, foi ver o BE a não crescer. Que alívio quando ouvi, na televisão, um comentador dizer que era um fenómeno passageiro e que, provavelmente, vai extinguir-se dentro de dez anos. Que Deus o oiça!!

Eleições

Daqui a pouco, vão saber-se os resultados das eleições autárquicas. Estou esperando, depois de uma tarde de muito calor (incomoda este calor fora de tempo!), cheia de ansiedade. Tenho confiança na vitória do meu candidato, um homem que fez muito pelo meu concelho, um homem capaz e trabalhador. Mas, confesso, tenho medo que as pessoas se deixem levar por mentiras, pela velha e má política, e deixem vencer a demagogia e a falsidade.
Muitas vezes já, nem sei quantas, decidi que não ia mais querer saber, que não ia preocupar-me, nem participar, nem prestar atenção sequer. Mas não sou capaz! Faço parte desta terra, desta gente, deste país que amo com um ódio furioso, e sinto a urgência de intervir. Portalegre merece a oportunidade de progresso sustentado, fundamentado na sua identidade, que apenas um candidato garante. Queria tanto que desse certo...

sábado, 10 de outubro de 2009

Outono


A terra vestiu-se de novas cores, o Outono chegou sem querer saber do calor que continua. É a minha estação preferida, o Outono. Gosto das manhãs frescas, dos dióspiros, das romãs, dos marmelos que tanto custam a descascar. Hoje, véspera de eleições que me preocupam e angustiam, senti o Outono com força. Reparei que a relva está cheia de cogumelos, vejo sempre lá os duendes carregados de magias e guizos sonoros, e pisei sem querer os medronhos que já amadureceram. Se eu pudesse, gostava de poder conversar, conversa séria, com os duendes do meu quintal. Porque os duendes vivem séculos e, por isso, sabem muita coisa, acho que sabem mesmo tudo. Além disso,como o tempo não os persegue, nunca têm pressa, conversam ouvindo, riem-se com vontade e divertem-se com verdadeiro humor. Gostava de perguntar aos duendes como fazer para despertar nos meus alunos do 11º ano o gosto pela leitura, pela escrita, pela aprendizagem. Gostava que me ensinassem uma poção mágica para fazer aqueles miúdos, alguns..., crescerem sem a necessidade diária da prática da idiotice! Também gostava de saber se os duendes conhecem a magia para fazer as pessoas pensarem...É que, no meu país, essa actividade parece-me ter-se tornado escassa!!
Se debaixo dos cogumelos, tortulhos, do meu quintal, estivessem os duendes da minha infância, de certeza me explicariam porque é que a vida, a minha, se esgota em excessivas ausências!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Cores


Finalmente, choveu! Não foi uma chuva fresca, revigorante, boa, mas choveu. Chegou uma chuvada quente, a lembrar climas tropicais, e eu, que há tanto tempo a desejava, recebi-a desprevenida no que se tornou uma monumental molha. Estava em plena campanha eleitoral, naquela vila linda de Alegrete, quando começou a cair sem clemência. Cheguei a casa já seca, lamentando o meu cabelo..., e, adepta do perdida por um, perdida por mil, fui fotografar a chegada do Outono à minha casa. Ao primeiro clic, cacei as uvas murchas mas, ainda assim, com cores capazes de amolecer o meu olhar. Aqui ficam, para me alegrarem o serão!!!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

De volta


Voltei. Depois de um voo atribulado, luzes apagadas, turbulência e hospedeiros pálidos de medo - já não há homens como antigamente - lá aterrei nos Algarves. À minha espera, o calor dos amigos de verdade, sem protestar da espera, sorrindo e fazendo-me lembrar que, de facto, os amigos são a família que se pode escolher. Voei de seguida, baixinho, para casa, o meu C4 mostrando o que vale, e antes da meia-noite estava na minha cama. Se me soube bem voltar ao meu canto, ao meu espaço, ao meu silêncio, desagradou-me o regresso, logo de manhã, à vida de trabalho. Injustiças, arbitrariedades, enormidades e fazerem lei na Educação deste país. Prémios em dinheiro para muito bons atribuidos por simpatias e amizades, a aberração a fazer-se norma e a revolta a fazer-se presente!Odeio esta gente medíocre, adepta da mentira, do tachinho, do compadrinho, dos inhos todos que sufocam o meu Portugal!!
O que eu queria agora, era sentar-me no banco do jardim imenso e ficar conversando de mil sonhos a realizar...

domingo, 4 de outubro de 2009

Anglesey Abbey


Saímos a meio da manhã, sem vento já, a caminho de um lugar incrível, garantiram-me. E não me enganaram! Em menos de meia hora entravamos numa Quinta antiga, séc.XII!, bem conservada e habitada pelos donos até há apenas cinco anos!!! Os espaços cá fora sã indescritíveis: - A ordenada desordem, os canteiros de mil cores, as estátuas, os caminhos, as árvores enormes, os troncos rugosos, a água a correr, tudo cria um ambiente romântico. Depois, a Casa. Cheia de madeiras, de quadros, de sofás fofos e quentes onde apetece ficar a saborear um chá. Sentia-me transportada aos tempos da Jane Austen (que ainda leio...) e espantava-me a cada pormenor descoberto.
De regresso, a convite do meu genro querido, almoço num Pub. Delicioso pudding, saborosissímos mushrooms. Como hei-de eu querer ir embora amanhã???

sábado, 3 de outubro de 2009

Nuvens

Dia cinzento em Cambridge. Saí de manhã, meia hora de caminhada até ao centro por prados, lagos, edifícios imponentes e muitas muitas sebes de azevinho. O vento batia com força na minha cara, fazendo-me andar com esforço. Cheguei ao centro e a agitação era imensa: - Turistas, sobretudo milhares de japoneses em fila, vendedores, e jovens estudantes tentando alugar os músculos num passeio pelo rio Cam. Entrei no Costa e tomei um café, um regular one que é o que mais parecido com bica consigo encontrar. Depois fui ao pão, no vendedor da Galiza que já é amigo da minha filha e fiquei vagueando por ali, no meio de cheiros, muita música, muita cor e frio bom. Pelas duas, voltei para casa. Vim de autocarro, o 4, porque ameaçava chuva mas, afinal, não choveu ainda. Almocei, estive a corrigir trabalhos dos meus miúdos e vim, então, trabalhar na minha formação. Detesto a plataforma moodle! Sinto-me uma idiota a trabalhar assim, sem olhares reais, sem estabelecer laços, em a proximidade de um sorriso. Aqui, em Cambridge, parece que ainda faz menos sentido este projecto do novo programa de português para o ensino básico...
Agora, vou fazer scones para a Filipa e para o Guilherme comerem quando, logo mais, chegarem do longo dia que foram passar ao Hospital!!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

De longe

Almoço no King's College. Uma sala austera, paredes altas, vozes graves, telemóveis proibidos e a sensação de ter entrado num dos livros do Harry Potter. Depois, a sala vermelha, o café, as mesas e sofás, as conversas dos Fellows, o verde lá fora, sedutor e intenso. Ao meu lado, a minha filha feliz, o Manel Bernardo na barriga muito redonda, o olhar vivo e a conversa risonha e solta. Saí do King's sem resistir a lembrar-me do meu espaço, da minha Serra, da solidão que partilho com os meus cães, dos problemas que parecem agora insignificantes. Sei que 2ªfeira, no feriado sem sentido, vou ter de voltar e tenho já saudades. Mas, ao mesmo tempo, parto sem ansiedades porque sei a minha filha feliz, amada e amando muito, construindo uma vida com essências e sentires! Agora, já nem acho os ingleses snobs...

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Amanhã

Finalmente, vou a Cambridge abraçar a minha menina! Amanhã, depois das aulas (é bom esclarecer isto porque a censura existe mesmo e alguém pode achar que estou a faltar...), vou para Faro e, daí, voando para Cambridge. Levo trabalho comigo, claro!, mas levo, sobretudo o desejo de ver a minha menina, a sua barriga, o espaço onde vive e se faz cada vez mais Mulher.
Gosto muito de Cambridge. Gosto das ruas movimentadas, dos cheiros, das misturas de idiomas, dos cafés italianos, dos relvados imensos, das vacas pachorrentas, dos jardins, dos velhos e sábios Colégios, do rio Cam,dos Pubs quentinhos onde o Pinot Noir é delicioso! Mas gosto, sobretudo, do tempo de qualidade, das conversas boas, das caminhadas com o nariz vermelho de frio e o coração quente de ternura.
Perfeito seria se levasse comigo a Joana. Mas consola-me saber que, em breve, iremos as duas!Dia 5 de Outubro, vou ter de voltar. Já adivinho o regresso a doer...
Um dia de cada vez: - Amanhã vou partir!!!

domingo, 27 de setembro de 2009

Impossível???

E não é que aconteceu mesmo?! Confesso que, no fundo-fundo,eu achava possível esta desgraça. No fundo-fundo, eu sei que o povo português nasceu para obedecer e ser estúpido, para se lamentar e insistir no erro, para ser roubado e mimar o ladrão. Só que, perante a realidade, tinha esperança que a minha gente tivesse já aprendido alguma coisa.
Hoje, no moderno século XXI, só há países esquerdosos na América Latina, em África e... em Portugal!!! Bloco de Esquerda e PS no governo: - taxas sobre telemóveis, impostos sobre quem trabalha, cunhas e favores a liderar, estupidez e ignorância a comandar.
Talvez, no fundo, tenhamos o que merecemos. Fernando Pessoa dizia que o povo é, na sua essência, impossível de educar. Como sempre, tinha razão.
Hoje, agora, queria poder ir embora de vez para um país com sentido!!É que, a juntar a toda esta mediocridade, há o medo. Tenho medo! Medo de falar, de escrever, de opinar. Ter medo faz-me sentir infeliz. Estou infeliz!!

Life goes on...

Hoje, foi a Joana que partiu. Deu-me para me lembrar do episódio das Despedidas de Belém, n'Os Lusíadas, talvez por sempre achar que, apesar de tudo, as despedidas são mais dolorosas para quem fica. Quem parte, vai em busca de algo, leva um propósito, um sonho, um destino, um objectivo. Quem fica, guarda saudades, memórias, ausências que o tempo faz cada dia mais dolorosas... As minhas filhas partem, o meu Pai já não existe, e eu penso na razão que me leva a ficar aqui, sempre, numa eternidade de desilusão, sem confiança num futuro diferente. Porque não parto também? Porque não ouso mudar, rumar ao estrangeiro ou a outro lugar limpo de memórias e ausências? Porque não tenho resposta, consolo-me com a meu amor a esta terra, com a necessidade de, manhã cedo, ver as torres da Sé rasgando o nevoeiro. Digo-me que este é o meu espaço, aqui estão, fundas, as minhas raízes, preciso dos olhares que conheço no meu dia-a-dia. Mas sei que se calhar não é assim. Que, recionalmente, nada me prende a um país que agride e desrespeita. Contudo, vou ficando e, um dia, será tarde demais para mudar...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vertigem

É uma vertigem a minha vida neste início de ano lectivo. Faz-se de velocidade, falhas, ausências, desejos dolorosamente contidos, revoltas caladas, ternuras adiadas, preocupações e ansiedades. Corro de formação para formação, falo de possíveis e mudança, desmonto textos, sorrio mesmo quando me apetece gritar: - ESTUPIDEZ!!
Hoje, alguém perguntava, via mail, se estou viva. E não é que nem sei o que responder?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A Campanha irritante

Dolorosa, a campanha eleitoral. Para mim, pessoalmente, violenta até. Perturbam-me, magoam-me, as demonstrações de retórica sem sentido, fora de moda, repetitivas, ocas. Chateia-me a partidarite que ocupou, indecentemente, a domocracia em Portugal e, honestamente, enojam-me os comícios, os jornalistas a inventarem casos mediáticos, as revistas a fazerem concursos de sensualidade entre políticos, etc. Quero lá saber se o primeiro-ministro é charmoso, até nem acho!, ou se o papagaio do Louçã é adepto das marcas, ou se a Manuela só usa tailler ou se o Portas compra só gangas Levi's!! O que é que isso interessa, meu Deus?? Irrita-me isto tudo!!!
Claro que me irritam mais uns que outros. E irrita-me, mais ainda, encontrar pessoas que tinha como inteligentes a, publicamente, assumirem o que considero ser burrice certificada: - as suas opções pela esquerda, seja ela bloco ou cdu, só para, como dizem, abandalhar. Num país onde se vota para abandalhar, que sentido faz falar em cidadania, em democracia, em modernidade???

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Recomeço


Voltaram as aulas, o tempo cheio de afazeres, as chatices de uma Escola sem sentido. Hoje, recebi a minha avaliação(???). Bom. Porque não pedi aulas assistidas, disseram-me, 8 em 10 seria Muito Bom, explicaram. Mas nenhuma explicação faz sentido, ou me faz falta sequer, num sistema onde a estupidez impera e a mediocridade lidera. Hoje, estranhamente, nem fiquei revoltada ou chateada. Vim para casa calmamente, preparei as minhas aulas, desafiei uma aluna amiga para uma ida ao Modelo e, ao finalzinho da tarde, na melhor das companhias - a minha filha! - , fui caminhar pela minha Serra. Andámos duas horas boas, conversando, sonhando, projectando e recordando. Lembrámos outros tempos, antecipámos a alegria da vinda do Manel Bernardo e carregamos baterias para as saudades, IMENSAS!, que vão surgir já para a semana, quando também ela partir. Às vezes, a vida parece querer lembrar-me que há insignificâncias que, ainda que socialmente feitas coisas importantes, não merecem a nossa atenção.

domingo, 13 de setembro de 2009

Le Marriage

Foi um casamento tipo marriage, chic a valer (diria o Dâmaso), o de ontem. O João e a Catarina, ao fim do dia, casaram na igreja do Senhor dos Aflitos. Havia muitos convidados, demais para o meu gosto, muita gente requintada, muitas roupas de luxo, imensos pés magoados, infindáveis cumprimentos hipócritas e, quero crer, muita amizade também. O João era um miúdo traquinas,o meu sobrinho mais teimoso, perito em inventar disparates, capaz de, com a Joana, pôr os cabelos da senhora Joaquina, a empregada da Casa dos avós, completamente em pé. Desapareceram os ovos do galinheiro?! - Foram os Joões! Os cães foram cavar para a horta?! - Foram os Joões! O sacho desapareceu?! - Foram os Joões! Eram sempre eles, os dois primos, quem a senhora Joaquina culpava, com toda a razão!, quando algum disparate acontecia...Agora, ontem, o João casou. Feliz, giríssimo no fraque, seguro ao volante do seu jipe com a mulher ao lado a sair da Igreja, o João começou uma nova vida. Um dia, sei bem, será a Joana. E eu queria muito que a vida os deixasse seguir sem disparates dolorosos. Não como um automóvel último modelo, mas como PESSOAS de facto.
Boa sorte miúdos!

sábado, 12 de setembro de 2009

Despedidas

Costuma dizer-se que as despedidas são sempre dolorosas e eu, com o vício de contrariar, gosto de dizer que não. Que, às vezes, as despedidas são óptimas!! De facto, eu diria adeus, com entusiasmo e alegria, a todas as figuras do governo do meu país, a algumas colegas, a poucos alunos, a bastantes membros da família, a certas personagens do meu quotidiano. Só que, ontem mesmo, tive de dizer adeus, até breve, à minha filha. E estou destroçada! Sinto a falta das nossas conversas de mulheres, das cumplicidades plenas, dos sorrisos, das gargalhadas e até dos exageros da sua rebeldia feita opção política. A minha filha Filipa, como muitos outros jovens de valor, saíu de Portugal porque, simplesmente, o país não lhes deu, a um jovem casal com profissões diferenciadas, condições de êxito. Partiram para Cambridge, onde há quase dois anos vivem, felizes por poderem ver nascer os filhos lá, contentes com a vida que levam, entusiasmados com os desafios que enfrentam. O meu país, que começa a já não ser o deles, deixou-os ir com indiferença, com desprezo até, mais preocupado em subsidiar a mediocridade do que em apoiar a qualidade. Experimento, hoje, um misto de revolta, tristeza e alegria. Custou-me dizer-lhes adeus, custa-me saber o meu neto longe, mas, ao mesmo tempo, enche-me de alegria sabê-los felizes! O que eu acho mesmo é que este país se despede demais das pessoas erradas! Deviamos dizer adeus a Sócrates e companhia, em vez de dizermos adeus a jovens promissores!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Raios e Coriscos

O céu está furioso! Troveja com força, ilumina-se com intensidade, chora em desespero. O céu parece danado com o que vê por cá... Embora lamente o que faz zangar o mundo, não me importo que ele se dane porque eu gosto de trovoadas. Gosto, MUITO, do cheiro a terra molhada, da força dos trovões, da rapidez dos raios.
Agora, aqui sozinha no meu espaço, depois de quase três horas de trabalho para a escola aqui no computador, sou trazida de volta à realidade pela força da Natureza e lembro outras trovoadas.
Um dia, teria os meus seis ou sete anos, estava em casa só com uma empregada e começou uma trovoada terrível, trovoadas de antigamente, daquelas que faziam até o quadro eléctrico saltar da parede. O meu Pai, que tinha pavor (respeito, dizia ele) das trovoadas, chegou a casa e viu-nos às duas, eu calmamente na varanda a ver o espectáculo e a empregada, na cozinha, a rezar. Chamou-me, proibiu-me de me aproximar sequer das janelas e foi meter-se na cama tapado com um cobertor de papa que, diz-se por aqui, protege da trovoada... Eu, com vontade de rir, fui para o pé dele. trepei para cima da cama e fiquei ali, a segurar-lhe a mão, a falar-lhe das minhas histórias, a tranquilizá-lo. Devemos ter estado só os dois, de papeis invertidos, pouco mais de meia hora mas, a mim, pareceu-me uma eternidade! Que bom poder ter o meu Pai só para mim, que bom poder segurar-lhe na mão e brincar com o medo dele. Oiço ainda a reza que, baixinho, ele repetia - "Nossa Senhora da Conceição, faça sol e chuva não. Santa Bárbara bendita, levai para longe o temor". Nunca percebi porque é que eram as mulheres que mandavam no céu, achava que se devia pedir a Deusa e, lembro-me bem, para calar a minha dúvida o meu Pai garantiu-me que Deus estava ocupado com coisas mais sérias... Hoje, sozinha com uma trovoada violenta lá fora, trago as recordações para companhia e, porque já não posso segurar a mão do meu Pai, peço-lhe baixinho que segure ele a minha e nunca me deixe sozinha, desejando que Deus não esteja excessivamente ocupado para ouvir o meu pedido.

domingo, 6 de setembro de 2009

MUDAR

Faz parte de nós, pessoas (umas mais humanas do que outras) a resistência à mudança. Porque nos acomodamos, porque temos preguiça, porque o medo espreita, porque sei lá o quê, tememos grandes alterações e desconfiamos das alterações. É, acho eu, um comportamento legítimo.
No entanto, quando esta resistência se torna vício irracional, eu desespero! Eu, que tanto gosto (também) da minha rotina, não consigo compreender a idiotice instalada que impede a adesão à mudança. E, o que de facto me chateia, sou confrontada com esta teimosia todos os inícios de ano lectivo!!!
Amanhã, vou enfrentar novo combate inglório: - Vou planificar pelo manual, ignorando o programa, centrada em conteúdos, sem pensar em competências, avaliando instrumentos e produtos, esquecendo os processos. Sei que não adianta tentar sugerir a diferença, adivinho as agressões que, confusas???, misturam o profissional com o pessoal e tenho vontade de desistir.
Só que... o silêncio pode ser, por vezes, um acto de cobardia!!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Teatros e Momices

Parece que nós, portugueses, somos um povo com jeito para a representação, para o faz-de-conta. De facto, a nossa História está cheia de histórias de mentiras, de embrulhadas, de faltas de lealdade, desde logo os tempos de D. Afonso Henriques e Egas Moniz. No meu livro de História de miúda havia uma imagem de Egas Moniz, com os filhos à volta, todos vestidos de branco e com uma corda ao pescoço, oferecendo-se ao Rei de Leão (seria Leão?)por causa da deslealdade do nosso Primeiro Afonso e, sinceramente, aquela imagem impressionou-me e manteve-se presente nas minhas memórias até hoje! Pensava eu, sobretudo nas minhas noites de insónia que é quando mais penso, que eram tempos passados...
Ora, ontem à noite, parece que a mentira, a hipocrisia e a representação, voltou a fazer-se notar na figura do primeiro ministro! Confesso que não ouvi, nem vi, a entrevista. A minha alergia ao dito cujo é tão intensa, o meu desespero é tão forte, a minha tristeza é tão profunda que não sou capaz de o ver e, assim que ele aparece, mudo de canal. Ontem, fui para a dança. Só que não me livrei de o ouvir, porque os telejornais insistem em repassá-lo. Assim, com uma colher de arroz de frango a caminho da boca, fui agredida com as declarações sobre os professores. Ouvi, não queria..., o dito personagem falar de "pouca delicadeza", de "dificuldades de comunicação", e já não consegui jantar. Que ousadia!! Como se o problema fosse, apenas, o processo! Como se o mais grave e revoltante não fosse o conteúdo das medidas implementadas!!! Tenho a certeza que, se este homenzinho ganhar as eleições, o que ESPERO NÃO ACONTEÇA!, vai reassumir a sua arrogância e os ataques a todos os que trabalham. Hoje, só rezo para que a minha gente, os portugueses de verdade, não se deixem ir em representações de actores de má qualidade e impeçam o PS de ganhar!!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Afinal...

Afinal, nem tudo é mau. Se o regresso à Escola foi doloroso, desagradável, feito de repetições e tristezas, o regresso, à noite, às minhas aulas de dança foi formidável! Tinha saudades do tango, da rumba, do cha-cha-cha, da valsa, da salsa e até do kizomba que, depois de detestar, passei a adorar. Fez-me bem reencontrar a cumplicidade do meu par, o esforço posto nos passos que o professor quer perfeitos, as coreografias que eu, sempre cheia de mil coisas na alma e na cabeça, já mal lembrava. Depois de uma manhã terrível, até com chaves do carro perdidas!!, chegou a noite a ajudar-me a sobreviver. Afinal, penso agora, no silêncio absoluto do meu espaço, nem tudo é mau...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Fim de Férias

Acabaram-se as férias. Amanhã, bem cedo, retorno à vida, à existência dolorosa, à Educação sem sentidos. Anuncia-se um ano complicado, muito complicado!, e não me sinto com forças para o enfrentar. Para complicar tudo, a minha escola tem obras: - Ruído, pó, desordem. Ai, ai... como eu queria reformar-me e poder ser EU!!!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O meu dia D

27 de Agosto de 1925. 27 de Agosto de 1981. Duas datas, na mesma data, a marcar momentos com significado para mim. Dia de anos do meu Pai. Dia que era, sempre, de grande festa em casa, de muitos amigos, mesas na rua, gargalhadas e amizade verdadeira. O meu Pai gostava de festas, de se ver rodeado de amigos, de abrir a Casa a todos aqueles que estimava, e eram tantos!, em torno de bons petiscos. Um dia eu, completa e profundamente apaixonada, resolvi tornar maior a festa dele e casei-me no mesmo dia. Foi o Dia D da minha vida, o dia em que todos os impossíveis eram verdades absolutas. A Casa voltou a engalanar-se, vieram os amigos, encheu-se a Igreja do Reguengo e, à noite, voei para Espanha numa Dyane Argent cheia de pedrinhas nos tampões das rodas, presente dos amigos (as pedrinhas, claro!). Então, há já 28 anos, o mundo parecia-me pefeito e eu, nós, achavámo-nos capazes de reinventar a existência.
Hoje, a Casa já não se enche para mim. As minhas memórias doem de saudade forte e o meu Pai faz-me a cada dia mais falta! Hoje, na Missa, vou conversar com ele e pedir-lhe que lembre ao Céu que eu existo. Hoje, em tempos de conflitos, julgamentos apressados, críticas e abandonos, a data faz doer.

domingo, 23 de agosto de 2009

Insónia

Chegou sem aviso. Não houve ruído de cascos sonoros, resfolegar de montada cansada, sequer buzinadelas estridentes ou travagens bruscas, o que, sendo menos poético, seria decerto mais real. Não chegou envolto na magia do sonho, não se fez anunciar. Chegou apenas. Trouxe nos bolsos sem fundo anos de mil vivências, olhares de riso e lágrimas, memórias sentidas e indizíveis. Deixei-o instalar-se, fiquei a olhá-lo e calei a vontade de me fazer também ouvir. Com ternura desfiou histórias que conheço bem, acolheu o meu silêncio e não discordou da minha revolta. Seguro do conforto da sua condição de não-ser, fez-se presente não existindo e pintou de cores intensas o negro da noite que esgotava sozinha. No peito largo e disponível abriguei a minha dor. Bem cedo, de manhãzinha, partiu como chegara.
Espero que volte. Sempre que a noite se fizer excessivamente comprida!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Desamor

Estou farta do amor. Já chateia. - Foi assim que ouvi, com decisão na voz, de uma jovem à conquista da vida. Alguma coisa dentro de mim, eterna alma romântica, estremeceu. Como se pode estar farta do amor? Como é possível enjoar-se a paixão? Fiz conversa. Conversa de desdizer, de contraversar mesmo, sentadas as duas à beira da piscina, interrompendo, de vez em quando, para um mergulho refrescante. Falei da necessidade de recuperar a vontade de amar, a fé nas relações humanas, a confiança nos afectos. Ouvi falar de desviver, de desexistências e de realidades por demais irreais. Que o amor não leva a lado nenhum, que este mundo, esta sociedade, é tão melhor quanto menos ocupada. Falou-me desta coisa da inumanidade e garantiu-me, com a frieza irónica dos jovens, que o fim do mundo é isto mesmo: - o esvaziar da essência humana. A construção e investimento numa desumanização eficaz. Metálica, até.
Contrapus a minha fé nos Homens. Falei da realização perfeita que só se consegue quando dois corpos se fazem uma alma só. Confessei que já ouvi as asas dos anjos quando, depois do Amor feito e vivido, vêm invejar a felicidade que o silêncio envolve. Riu-se de mim a minha jovem parceira. Que isso são mentiras, ficções, e, lembrando Alberto Caeiro, garantiu que a mentira está em mim. Depois, como quem põe ponto final, declarou: - Acabou o tempo dos poetas. Agora, o importante é despoetar. Fiquei dorida.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Rendo-me...

Fui vencida, não convencida. Rendo-me. Baixo os braços, olho o chão e tremo de indignação. Mas rendo-me! Contra tudo aquilo que defendo, com o coração em pedaços e a inteligência esfrangalhada, cumpro o disposto num qualquer decreto de lei deste país sem sentido e proponho-me para prestar provas que me permitam (?) ser professora titular! Porque cedo? Porque sou fraca! Porque não tenho vocação para heroína, porque estou cansada de lutar contra a estupidez institucional. Para me consolar, e para me levar à rendição, amigos falam-me na força da lei. Hoje, perguntavam-me se, se tivesse vivido no reinado de D. João V sendo judia, não passaria a cristã-nova, não substituiria as farinheiras por alheiras... Mas nada me consola! Nem sou judia, nem este é, por enquanto, um caso de fogueira. Sinto-me mal comigo por entrar no esquema da estupidez, por ter medo de me prejudicar na carreira docente. Por isso,movida por interesses só materiais e descrente de qualquer interesse desta tarefa, vou fazer um trabalho e vou prestar provas perante um júri ao qual nem sequer reconheço mérito ou competência!! Dói-me a minha decisão. Mas dói-me, mais ainda, a humilhação que o meu país me impõe.
Hoje, só me apetece praguejar!!