sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Para Respirar

Ali, junto ao Porto da Espada,  depois de passar a estrada de curvas onde o olhar se afoga na paisagem líquida que a Apartadura oferece, há um campo de castanheiros que, seja em que época do ano for, me fascina. As velhas árvores, de troncos rugosos e largos, sugerem-me resistência, força também. Penso que, embora nem sempre morram de pé, aguentam as intémperies com uma energia invejável. Será porque não sentem? Ou será, apenas, porque não constestam o natural? Não quero respostas, basta-me a dúvida.
Lá no alto, espraia-se Marvão. Perto, encerrado num muro de branco imaculado, estão os mortos da zona. 
Vou ali muitas vezes só para respirar. Fundo!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Romantismo

Cada vez mais gosto de música portuguesa. Gosto dos grupos jovens, dos poemas fáceis a lembrar o romantismo ultrapassado mas, para mim, nunca gasto. Ah! Como eu queria que alguém se dispusesse a, como dizem os Azeitonas, trazer a América até mim se não me pudesse levar até lá! Como eu sei, sei mesmo!, que é muito bom ir a dois ver os aviões rasgar as nuvens, ver o porto de Leixões ou até ter alguém disposto a roubar a lua só para nós...

Sei que os heróis épicos merecem o elogio de Camões. Mas eu sinto que, nos dias de hoje, os heróis líricos fazem muita, mas muita falta...

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

VAZIOS

Às vezes, parece-me que vivo numa anedota! De manhã, mal me preparava para iniciar mais um dia de trabalho, ouvi, anunciado como uma pompa surpreendente, que um cientista americano descobriu que as mulheres pensam de forma diferente dos homens. Mas não sabia toda a gente já isso?! Mal refeita da surpresa, fiquei a saber que François Hollande se separou da jornalista e que vai ficar com a actriz... O que é que isso interessa à humanidade, quando há crianças a morrer de fome, velhos abandonados, famílias desfeitas?
Creio que vivemos num enorme vazio e isso assusta-me! Imenso!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

SORTE PEQUENA

Vende a sorte. A que dizem grande. Nos lábios um cigarro pendurado, beata mordida, pregão gasto e desinteressado. Garante a sorte, promete a solução para todos os problemas, carrega no olhar a tristeza da sorte vendida que nunca compra para si. No empedrado há passos milenares, olhares estrangeiros, restos de vidas apressadas caídos no chão. Indiferentes, os pombos abusam e ele não os sacode. Ali ao lado, a Santa Casa da Misericórdia, com nada de Santa e fraca misericórdia. Passo olhando, a neta pequenina no carrinho, reparando nos contrastes de uma humanidade tão oca.
Se pudesse, se soubesse como, compraria ali a Sorte. A pequena mesma, servia-me...

domingo, 26 de janeiro de 2014

CONCORDÂNCIA

A língua negra de alcatrão via-a rolar, rápida, na viagem de regresso. Era mais fácil partir, do que regressar. Era-lhe mais fácil virar costas ao vazio, do que a ele regressar. Por isso, na auto-estrada vazia, circulava sozinha, com a RFM por companhia. Pensava no dinheiro desperdiçado em tantas auto-estradas sem ninguém, acreditando que, também no dia-a-dia, a humanidade desperdiçava demais. Só nos afectos parecia, sempre, haver contenção! Como se fosse crime dizer gosto de ti, ou até, que bom é ver-te, ou ainda, é bom estar contigo. Se ela pudesse mandar, havia de criar um imposto sobre a tristeza!
De repente, surgiu ao fundo, das nuvens negras carregadas de chuva, um arco-íris perfeito. Deus concordava com ela, pensou!

sábado, 25 de janeiro de 2014

O CORETO

Tenho um enorme fascínio por coretos! Gosto da forma, da segurança com que ocupam lugares nobres em praças e jardins, das sugestões sociais que me fazem sempre. Imagino a banda, chego a ouvir a música!, vejo as meninas a bater o pé a ritmo certo e os rapazes a tentarem controlar o saltitar da perna ágil. Hoje, os coretos estão habitualmente vazios. E eu penso, porventura abusivamente, que reflectem o vazio das relações humanas, também elas ocas, sem melodia nem intensidade...

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

LISBOA MULHER

Do lado de lá está Lisboa. A cidade das tágides, das sete colinas, da Baixa Pombalina, dos edifícios lindos e dos turistas aos montes. Também a cidade da miséria, das drogas, da solidão idosa que morre sozinha, dos desempregados, da fome. Mas assim, do lado de cá, é linda! E traz-me leituras, poetas, vivências também. Lisboa. Mulher e, por isso, intensa e sofrida.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O ADAMASTOR

Sentava-se ali, acompanhada pela solidão, desfiando memórias e sentires. A força das águas, o frio que lhe pintava o rosto, ajudavam-na a passar as páginas do sonho. O que queria? Em que acreditava? O  que tinha feito da vida, cumprindo urgências, preenchendo agoras? Sentia as rochas ferirem-lhe a pele e pensava como essa dor, tão física, ajudava a iludir a outra, a dor funda da alma que, talvez por não ser, ou ainda não sendo, doía demais. As gotas salgadas caiam-lhe nas calças, fazendo carreirinhos ordenados, numa lógica certa que a vida não tinha. 

Do céu, vinha Gama devolver-lhe o Fogo de Santelmo. Também ela tinha o seu Adamastor, o seu cabo das Tormentas que gostaria de tornar da Boa Esperança!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A FOTOGRAFIA

Lembras-te da fotografia? Tiramo-la juntos, rindo, tu troçando daquele crochet que, garantias, eu nunca conseguiria fazer, eu ripostando com a crítica a uma arte que, para mim, pouco tinha de artística. Eram tantas as fotografias... E tu refilavas com o meu exagero, e eu respondia com um beijo silencioso ajeitando as molduras, folheando os albuns. Ainda terás a outra fotografia? Aquela. A nossa, sempre repetida, a que eu garantia trazer-me boas vivências? Olharás, agora, a mesma moldura onde abraçados sorriamos? Temo que a tua moldura esteja vazia. Como a existência, talvez.
Eu continuo repassando as nossas fotografias agradecendo, sempre, a imortalidade daqueles momentos que prendi num clic. Esses, ficarão, e serão meus para sempre!

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

MENOS UM

Tarde, numa noite de chuva e frio, chegou o adeus. Vou partir, agradeço a amizade de todos, até um dia... Despertei. Acendi a luz e reli o mail, palavra por palavra, compreendendo o seu conteúdo para lá do escrito. Mais um jovem responsável, profissional, activo e trabalhador dizia adeus a Portalegre, a Portugal. O jovem director da Rádio local, aquele jovem que vi crescer profissionalmente, o sorriso bem disposto que acompanhou o meu grupo de alunos na última visita a Estrasburgo, diz adeus. Angola é o destino.
Já não dormi. Ao som da chuva fiquei a rever os adeus recentes. Tantos!!
Ao mesmo tempo, num grande plano do filme que se desenrolava no meu pensar, apareciam os sucessos garantidos pelos governantes portugueses. Será que o nosso governo conhece Portugal? Creio, sinceramente, que não! O país do sucesso que eles apregoam, não existe. Infelizmente...
Boa sorte Zé! Angola fica a ganhar. Portugal continua a perder.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

VIOLÊNCIA

Fala-se muito em violência e todos nós, ou quase, ficamos arrepiados quando nos falam em guerra, assassínios, homicídios, agressão sobre os mais fracos, assaltos, etc. A violência, para o cidadão comum, é algo reprovável e assustador. No entanto, todos, ou quase, somos vítimas da violência passiva que, se não nos mata de um só golpe, nos vai matando aos poucos… Pessoalmente, sinto-me violentada quando ligo o meu computador e sou bombardeada com propostas de pseudo prémios que, por ser o elemento número não sei quantos, acabei de ganhar. Se.
Claro… ganharei se. Se comprar mais alguma coisa, se responder a mais alguma pergunta que para sempre me agarrará numa linha de violentas propostas que limitam a minha vida. Sinto-me também violentada, e agredida, quando oiço o senhor primeiro-ministro anunciar mais roubos ao meu ordenado e, ao mesmo tempo, sei que paga três mil euros, ou até mais, a assessores de aviário que vão enchendo os corredores de Assembleia da República. De aviário, entenda-se, porque são jovens inexperientes que pouco sabem e nada fizeram para auferir ordenados superiores aos que recebem trabalhadores que há mais de trinta anos trabalham para o estado! Sinto que é uma violência, sem tamanho, a que a Assembleia da República impõe às crianças institucionalizadas, ao dizer que, para que um casal homossexual possa adoptar terá de se fazer um referendo. Penso, sinceramente, que mais vale receber amor e carinho de uma família seja de que tipo for, do que crescer sem conhecer a ternura! É violência ver uma criança a pedir esmola nas ruas, é violência, da mais terrível, ver mães recorrerem à caridade para poderem pôr comida na mesa dos filhos. É violência, destruidora mesmo, o facto de um jovem casal ser forçado a negar-se a possibilidade de terem filhos porque o país onde nasceram não lhes permite educar e ver crescer as crianças!
Para mim, é também violência psicológica ouvir o leader do maior partido da oposição. Tanta promessa irreal, tanta parangona oca, tanto vazio, é um ataque até à inteligência de um português!
Quando oiço dizer que em Portugal temos sorte, porque vivemos em paz, fico espantada! Paz não é apenas o antónimo de guerra. Paz é podermos dormir descansados, com a certeza de que, ao alvorecer, ainda temos emprego, comida e possibilidade de educar os filhos. Paz é não nos tremerem os dedos quando abrimos um envelope das finanças, por estarmos certos de que não vamos ser roubados; paz é ter a certeza de poder ter um bom tratamento, se tivermos o azar de adoecer; paz é poder sair de casa sem esbarrar com um radar escondido da GNR para nos multar aos 65kms… Paz é, para mim, poder viver cada dia sem sobressalto e sem medos.
Em Portugal, penso eu, a violência é uma constante, muito dolorosa, e castradora de sonhos e progresso. Mais grave ainda, os portugueses comuns vivem com medo. Medo do amanhã, do fim do mês, medo das decisões tomadas na Assembleia da República, medo das subidas de impostos, medo de adoecer, medo de não poder pagar a Faculdade aos filhos.

Paz em Portugal? Para mim, paz podre!

domingo, 19 de janeiro de 2014

SENTIRES

Do alto vejo as águas que passam sempre, sem recuos, em direcção à foz. Não venhas sentar-te comigo, sejas Lídia ou não, não quero ficar na margem! Subi o monte, toquei o céu, não quero mergulhar no lodo da água que não lava os meus sonhos, antes os afoga...
Ainda que a janela seja estreita, eu sei que vale a pena acreditar e ver para lá do horizonte!
Sinto as muralhas de vida que me prendem, me limitam. Mas o meu olhar é livre e não busca a foz ainda.

EDUCAR PARA A FELICIDADE

Cada vez mais acredito que o treino é a base da maior parte das nossas aquisições de saberes e desenvolvimento de competências. A gente treina, treina, resiste, resiste, e acaba por se habituar a tudo... Assim, acho que devia haver na Escola a aprendizagem da felicidade. Deviamos também, em nossas casas, ensinar desde cedo as crianças a serem felizes. Como? Valorizando pequenas conquistas, chamando a atenção para um fim de tarde dourado, para a força do mar, para o quentinho de um abraço. Deviamos, muito a sério, recuperar o hábito, ou adquiri-lo, de dizer "gosto de ti", "estás lindo/a". Creio que desde muito pequeninas as crianças devem ser educadas para o desenvolvimento da competência da felicidade. Porque não é fácil, mas é, com certeza, uma forma de combater depressões, stress e todas as atrocidades com as quais nos confrontamos diariamente. 
Quando oiço adultos viverem na prática da agressão, verbal e por vezes não só, penso sempre que nunca ninguém lhes deve ter ensinado, em pequeninos, que o mundo não gira em torno deles e que há vida para além do seu umbigo! 
Se eu fosse ministra da educação, depois de recuperar as competências que o Dr. Nuno Crato quer eliminar, promovia a realização de projectos de aprender a ser feliz onde, obrigatoriamente, se treinasse, treinasse, treinasse a prática da felicidade.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

JUSTIÇA???

Parece, e digo parece numa tentativa desesperada de que seja mentira, que há na Assembleia da República jovens assessores, na casa dos 20 anos, a receber 3.000 euros de vencimento. Eu, com mais de trinta anos a trabalhar em educação, não ganho metade... A minha mãe, com 86 anos, depois de 41 ao serviço da educação, não ganha já nem 1400!! Há reformados e pensionistas sem dinheiro para pagar remédios, sem forma de poder pagar os lares onde a sociedade os enfiou. Isto é que é a justiça social dos nossos dias? Esta é a austeridade necessária para fazer o país crescer? Alguém me responde??

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

EDUCAR

Muito se fala de educação. É um tema sobre o qual, vá a gente perceber porquê, toda a gente tem opinião e toda a gente declara certezas. Na Escola portuguesa, curiosamente, os professores, afinal aqueles que de facto devem saber sobre EDUCAÇÃO, são, por lei, minoria no Conselho Geral que deve, creio, ser o orgão principal da vida da Escola. Lá se assentam a autarquia, as empresas, os pais, os alunos, os técnicos (relativamente) operacionais, todos juntos em maior número do que os docentes. Acho esta situação, no mínimo, muito estranha. Quem regula o funcionamento das Unidades de Saúde são os doentes e as entidades externas? Quem determina o funcionamento de uma empresa são os trabalhadores e os fornecedores? Quem orienta a casa de cada um é o vizinho da porta ao lado?
Creio que o senhor ministro, que parece tão preocupado em atacar professores e Escolas, devia rever, com rigor, a forma como exige que as decisões sejam tomadas.
Não acredito numa noção de democracia onde não haja regras nem respeito pelas competências e saberes de cada um, tal como não acredito em democracias "musculadas". 
É por isso que cada vez acredito menos nesta democracia à portuguesa...

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

DISCURSOS EFICAZES

Aconteceu ontem, numa aula de 8º ano, ter realizado uma actividade de treino da competência de compreensão do oral. Porque os meus alunos são bons, (são mesmo!), ousei ler-lhes o discurso que Obama, no início do ano lectivo de 2012/13 fez aos jovens americanos. É um texto de oito páginas, utilizando exemplarmente as técnicas de redacção do texto argumentativo, e os meus meninos tinham dezoito perguntas cuja resposta dependia da compreensão da leitura. A actividade em si, correu bem. Os meus alunos estiveram atentos, e a percentagem de respostas certas foi muito elevada. 
Mas não foi a actividade em si mesma que originou esta minha reflexão. O que me tocou fundo foi o olhar atento, e brilhante, de alguns alunos. Percebi que muitas daquelas palavras, ditas do outro lado do mar, ecoavam neles. Em especial, ficaram alerta para a ideia da necessidade de treinar, treinar e falhar... Compreenderam, quero crer, que ninguém acerta à primeira, que errar faz parte da vida e que ninguém tem o direito de acusar ninguém! Penso que este texto terá reflexos no quotidiano da maioria destes miúdos e, por isso, não resisto a reproduzir um comentário que fingi não ouvir: " Precisávamos de um Obama em Portugal!"...

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

AMOR

Ela vivia ali, longe do seu mundo, na cidade da música, tornada leitora depois do tempo de acreditar nos livros. 
Mulher madura, de vida vazia. Acontece.

Partira do seu país na procura de vida própria, com filhos crescidos, com casamento desfeito. Ali, no frio que a língua estranha tornava cortante, tentava cumprir quotidianos de ser. Não se procurava, como era comum ouvir colegas dizerem, porque há muito se encontrara. Procurava, apenas, um sentido, uma existência para além do tão francês e frequente metro-boulot-dodo
Ele vivia no ar, aos comandos de aviões sempre cheios, de aeroporto em aeroporto, aquecendo as noites em abraços diferentes e, muitas vezes, sem rosto. Voava, e nem via o mundo de cima, nem ao longe, porque criara o seu próprio espaço, feito das suas certezas, que manipulava com a eficácia que imprimia aos voos que, há mais de vinte anos, o mantinham no ar.
Os dois enganavam a solidão com a virtualidade que a internet permite e, entre um delete e um like, cruzaram-se. A conversa fluiu, os gracejos fizeram texto e, depressa demais, o encontro aconteceu. Ela arranjou-se com cuidado, as cores escuras favorecem mulheres maduras, e encolheu-se no canto do autocarro que a levava ao aeroporto de Viena. Semicerrou os olhos no percurso, pensou nos filhos, lá longe, e sorriu para dentro ao desafio que abraçava. Uma loucura, talvez. Caminhou apressada no enorme e ruidoso espaço, Terminal 1 era o seu destino. A escada rolante, de vários patamares, parecia cúmplice no atrasar do momento. Ao cimo, ele. Fardado ainda, olhos sorrindo, boca firme e fechada. Recebeu-a num abraço inesperado, e ela aninhou-se no peito largo. 
O carro alugado levou-os a Salzburg, e o hotel Stein protegeu-os da noite gelada. 

Um vinho quente fez correr a conversa, as palavras descomprometidas faziam sentido por, exactamente, não terem sentido nenhum!
No domingo, despediram-se no aeroporto. Até um dia, disse ele. Adeus, disse ela.
No pequeno apartamento, vendo lá em baixo Mozart brilhando, resistindo às lágrimas que caíam, ela ligou o computador e bloqueou o contacto. Assim, apenas.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

PRIVACIDADE

Creio que a palavra privacidade vai desaparecer do nosso vocabulário. Hoje, tudo parece ser público, e conseguir reservar ao privado aspectos da nossa vida parece tarefa impossível. Claro que a internet tem muita responsabilidade , até porque não há palavras passe 100% eficazes, mas não é só da net a culpa. 
Muita gente vive, ou parece viver, de comportamentos alheios! Veja-se, por exemplo, o que aconteceu com o presidente francês que viu nos tablóides os seus amores. Parece sina dos presidentes franceses, verem publicitadas as suas paixões... Esta, surpreendeu-me. Porque eu acho François Hollande um homem absolutamente desinteressante, sem nenhum charme, sem qualquer atributo capaz de seduzir. (Mas são opiniões e, estas, não têm mesmo interesse nenhum!) O que me incomoda não são os amores, ou desamores dos outros. O que me incomoda, me chateia mesmo, é o vício de espiar a vida alheia, é a mania, doentia até, de explorar as vidas dos outros. Lady Di talvez tenha sido a principal vítima, morreu, mas muitas outras há que sofrem com esta caça ao outro.
Sinceramente, penso que devia ser respeitada a dimensão privada de todas as existências. Até das figuras públicas!
Penso na mulher de Hollande, internada com uma depressão profunda e tenho vergonha de fazer parte da humanidade dita moderna de hoje...

domingo, 12 de janeiro de 2014

RESSURREIÇÃO

O meu blog ressuscitou. Assim, como que por magia, sem que eu fizesse mais do que olhar, desesperada, para a sua morte súbita! Ressuscitou e trouxe um vento bom a este domingo húmido, triste e sozinho, que inicia uma semana cheia de trabalho. Como já tenho blog, e antes que ele desapareça de novo, vim logo aproveitar para partilhar o que vi, e ouvi, durante o 25º Congresso do CDS. Já não vou a Congressos destes, confesso que com muita pena, há muito tempo. Mas ainda sinto viva a memória daqueles onde participei. Desta vez, vi na SIC notícias, bem instalada à lareira, com a casa a cheirar a bolo de noz que resolvi fazer. E vi mais do mesmo. Vi os aliados de Paulo Portas a jogarem no lado certo, a defenderem o leader, a provarem a sua lealdade e, quero crer, a sua convicção de ser este o homem para conduzir o país. Mas vi, também, alguma coragem e ousadia da parte de Filipe Anacoreta Correia e de Luís Nobre Guedes. Gostei de ver que houve espaço para contra-argumentar, que foi possível propor outra linha e que, num partido democrata, não é obrigatório seguir sem criticar. Creio que Paulo Portas, como todos (ou quase) os que passam, ou passaram, por um qualquer governo português (Vitor Gaspar, Durão Barroso, António Guterres, etc) encontrará um lugar mais bem remunerado e de prestígio quando sair do governo. Mas, neste momento, concordo que deve concluir a legislatura e ser, nas urnas, julgado pelo seu desempenho. No entanto, gostei da moção de Anacoreta Correia e, sinceramente, lamento a intervenção, verbalmente agressiva, de alguns dos seguidores de Portas. Era desnecessário!
Este Congresso foi, para mim, mais um momento para pensar que muito há a fazer, ainda, em nome da Democracia e do respeito por aqueles que ousam pensar diferente...
O meu blog ressuscitou mas, por antinomia, a democracia portuguesa continua moribunda!

sábado, 11 de janeiro de 2014

TERMO

Não consigo recuperar o meu blog. Paciência, morre aqui. Talvez, um dia, o "bug", ou vírus, ou pirataria, ou lá o que for, desapareça e eu possa voltar. Agora, vou escrever para outro lado...

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

JULGAR

Muitas vezes, junto dos meus alunos, sou confrontada com o vício de julgar. Em cada um de nós, e estranhamente nos mais miúdos também, parece viver um juíz adormecido de vara erguida pronta a julgar e, frequentemente, condenar. Cada um tem a sua razão, a sua verdade, a sua consciência que, estranhamente, se sobrepõe às razões ou circunstâncias alheias. Tento, sempre, deixar adormecido o meu juíz, ouvir e aceitar... Mas, às vezes, é difícil! Muito difícil! Porque os julgamentos alheios nos ferem, nos destroem sem razão. Seria tão mais fácil se conseguissemos ouvir, aceitar, e não condenar! Afinal, que sentido faz falar em liberdade, em igualdade e justiça, se todos queremos impor a nossa certeza?!

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Esclarecimentos

O meu blog está esquisito. Não consigo visualizar os seguidores, alguns amigos estranham não poder aceder aos comentários. Os meus conhecimentos de informática são escassos, não faço ideia do que aconteceu, nem imaginava que seria possível, eventualmente, alguém de fora, um intruso informático, fazer isto. Aliás, eu nem sei se fui atacada por piratas, se apenas o google está com problemas... No entanto, quero esclarecer que sou alheia ao que está a acontecer. Tenho pena que não haja comentários, mas não vou deixar de  escrever sempre que me apeteça fazê-lo!

Más Pessoas

Rousseau defendia que as pessoas nascem boas, e a sociedade as corrompe. Lembro-me de estudar estas teorias quando, no liceu, tinha aulas de filosofia. Oiço ainda, vivas na minha memória, as explicações da doutora Celeste (que saudades dela!). 
Agora, perante muitas circunstâncias da vida, face a maldadezinhas requintadas e terríveis com que me tenho cruzado, concluo que Rousseau estava enganado. Há pessoas más, sim! 
Há pessoas que nascem azedas, com mau fundo, centrando a sua existência no ataque e na destruição dos outros. São pessoas que nada conseguem criar, construir. Pessoas que semeiam destruição. Se a sociedade, e a educação, influenciam? Sem dúvida que sim! É por isso que a Escola é tão importante, ou é também por isso... A Escola devia olhar os indivíduos de forma singular e trabalhar, seriamente, a sua formação social. Se o mundo, hoje, como ontem e sempre, vê grassar o ódio e a maldade, é porque há pessoas más. Estúpidas também, porque não conseguem ver para lá do seu nariz, mas, quanto à estupidez natural, pouco pode a educação...

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

OSSOS

Às vezes, o tempo fica curto, o dia escurece e a realidade dói que se farta. E doem as certezas alheias, os conselhos vazios, as seguranças que se fazem de espuma que, porque o são, não seguram nada, não resolvem, nem amparam, nenhuma existência concreta. Se há conselhos que me irritam, e há!, são os que me vêm feitos de sugestões de calma. Como se o tempo tivesse calma, como se Chronos se não devorasse continuamente. Por isso, fecho os ouvidos às verdades alheias e recupero as minhas experiências de felicidade, vividas ou sonhadas, sempre desfrutando, com voracidade e sem calma, as coisas de estar bem. E recupero aquele restaurante terno, paredes grossas, onde as nossas mãos se tocam ao sabor do porto envelhecido. Lembro aquele dia de Novembro, sem nenhum Outono, quando os carreirinhos de chuva na vidraça nos conduziam no jogo de construir futuros. Aquela era a minha linha, com curvas e contra curvas, parando para logo arrancar com nova velocidade; a outra era a tua, a cruzar a minha, firme e direitinha, fazendo círculos apenas nas minhas paragens súbitas. Pediamos as costeletas de cordeiro com alecrim, lembras-te? E tu brincavas com a minha incapacidade de trincar os ossos. Nunca percebias como eu estava cansada dos ossos da vida...

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

LINGUAGEN(S)

Estou a ficar velha. Paciência, resta-me aceitar a passagem do tempo. Custa, claro, mas tenho de aceitar que há coisas, neste mundo, que já não consigo, nem quero, compreender. Ora vem isto a propósito da travessia dos corredores da escola. Nem mais. Poderia ser uma caminhada tranquila, um regresso habitual ao trabalho, mas não o foi. No meu caminho encontrei um casal de namorados, muito apaixonado. So far, so good... O que me incomodou e me fez sentir anquilosada foi o excerto de conversa que tive de ouvir. Tratavam-se de estúpida e anormal, ofereciam-se palavrões entre dois beijos. Fiquei com o diálogo a martelar-me na cabeça. Será esta a linguagem do futuro? Do presente, já é...

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

DIA DE REIS

Este dia não é meu. Este é o tempo da epifania, das romãs e da confiança alegre. Este dia, não é meu.

ícon

Morreu o Eusébio, ontem. E eu, que não percebo nada de futebol, sinto a perda deste homem que se tornou, creio, um elemento de todas as famílias portuguesas. Eusébio era nome conhecido, era símbolo de coragem e sucesso, era memória nacional, era até, frequentemente, nome de animal de estimação, naquela ternura boa tão portuguesa. Há uns tempos ouvi o Eusébio numa entrevista e comovi-me com a simplicidade deste homem. Ao contrário dos grandes futebolistas de agora, não tinha um Ferrari, não viajava em avião particular e não olhava com desprezo os que o admiravam. Mais do que homenagear um grande desportista, acho importante distinguir um Homem Bom, marcante ao longo de diferentes gerações, capaz de fazer sorrir sempre e levando o nome de Portugal bem longe. 
Um dia, eu teria os meus 16 anos, fui a Paris com os meus pais. O meu pai, que metia conversa com toda a gente, resolveu, no elevador, tentar o empregado para que descobrisse de onde nós eramos. O rapaz sugeriu a Grécia, Espanha, até Rússia! Então, rindo, o meu Pai disse: - Oh homem então não vê que somos da terra do Eusébio?. Imediatamente, o rapaz disse entusiasmado: - Ah! Portugal!
Foi um ícon que partiu. Vai fazer falta. Fazem muita falta pessoas capazes de marcar o Tempo!

domingo, 5 de janeiro de 2014

TEMPESTADE

Com força os ventos levantavam as ondas e o mar, violento, sacudia o pequeno carro de onde ela via a fúria da Natureza. Procurara aquele lugar, ali no alto, para poder observar a fúria de uma Natureza, feminina também, revoltada contra um mundo louco. Ela sentia frio, frio interior que o casaco forte não conseguia combater. tentara sr do carro, caminhar um pouco, mas o vento másculo nem lhe permitira abrir a porta. Por isso cedera, cedia tantas vezes, e ficara tremendo por dentro vendo o mar. Sempre aquele fascínio aterrador pelo mar em fúria. Um respeito-pavor. Talvez a atracção pelo abismo. Ou talvez, apenas, a revolta incrédula face a um mundo louco! Ligou o rádio e ficou a saber que Ronaldo seria condecorado pelo Presidente da República. Era o país do futebol e do Fado, do vazio e do abandono. Um país que via partir os jovens, 200.000 num ano!, e fazia festa por uns golos. Um país a dizer adeus a jovens promissores, a uma onda de novos e diferentes emigrantes, agora só com bilhete de ida!
Tudo tão estranho. E o mar a engrossar, as ondas a tornarem-se assustadoras, o vento a fazê-la ter medo mesmo. Talvez aquela força fizesse eco dentro dos portugueses. Talvez uma tempestade social viesse mesmo a calhar...

sábado, 4 de janeiro de 2014

GINJINHA

Onde está Portugal, hoje? O que é isto de ser país pequeno, e miserável, num mundo pequeno também, embora feito de muitos contrastes? Quem, hoje, a pretexto de aproveitar saldos, descer o Chiado, atravessar o Rossio e olhar o elevador de Santa Justa, encontrará, de certeza, uma capital estranha num país estranhíssimo. Ali, no coração da capital, misturam-se os mendigos, agora com cães a reboque, os turistas mais ou menos endinheirados e os diferentes emigrantes de raça negra. Tudo, ao som do Fado que, ininterruptamente, sai intenso da carruagem verde e dourada. No Chiado chocam embrulhos, cheira a café estrangeiro, muito cosmopolitismo, seja lá isso o que for, e pastéis de nata com canela a lembrar que sim, é mesmo Portugal. Entre um éclair ou um duchaise na Bénard, e um café com Pessoa ali mesmo na vizinha Brasileira, pode ver-se dançar kizomba na calçada, ou deixar uma moedinha ao homem estátua que, imóvel de facto, deixa o chapéu vazio no chão molhado. Lá em baixo, ali mesmo nas Portas de Santo Antão, onde se lê que Lisboa é uma cidade tolerante, estará ainda a ginginha gostosa, tentadora e lusa mesmo. 
Para além de Lisboa, desta Lisboa bilhete postal encantador, Portugal continua apodrecendo e, lembrando Pessoa de novo, segue sendo metade do Nada que é o país de hoje!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

BANDIDOS

Quando eu era miúda, os bandidos estavam no velho Crisfal, o cinema da minha cidade, ou eram perseguidos por cowboys valentes como o John Wayne. As pessoas dormiam descansadas porque os maus eram presos, ou pelo menos vigiados e condenados. Hoje, tudo é diferente! Hoje, os bandidos governam o meu país, assaltam-me diariamente e saem impunes das atrocidades que cometem. 
Hoje, neste filme de terror que é viver em Portugal, os perseguidos são aqueles que (por sorte) ainda trabalham e, por azar, são funcionários públicos. Uma vez mais, é aos funcionários que caberá pagar o chumbo do Constitucional, desta vez num aumento da ADSE, e aos pensionistas, sob a forma ridícula, intrujona e agressiva que é o imposto a que chamam Contribuição  Extraordinária de Solidariedade.

Sinto uma revolta sem tamanho! Se eu pudesse, com que prazer engrossaria os números da emigração. O meu país não merece o que lhe está a acontecer, mas eu também não!
Que raiva triste!

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Meninas Objecto

Vi, numa reportagem da SIC feita pelo Henrique Cymerman, a história de meninas sírias que são vendidas pelas famílias para casarem com magnatas. Uma delas, com 13 anos, ia a caminho de um homem de 60 anos, com idade para ser avô dela; outra, com 16 anos, viera de um casamento já, onde fora violentamente agredida, e seguia para novo enlace. Cinco mil euros é o valor destas crianças. Não consigo libertar-me desta reportagem. Onde estão os defensores dos Direitos Humanos? Onde estão as forças internacionais? Que mundo é este que assiste a crimes tão hediondos e segue pouco fazendo?! 
Claro que sei que há homens  muito maus, criminosos como Hitler e Estaline, mas ainda assim revolta-me a incapacidade dos homens bons para agirem. Neste mundo estranho e de contraste, numa modernidade excessivamente virtual, penso que tudo começa a perder o sentido. As palavras são vazias, as acções são nulas, a indiferença grassa. Este mundo que dizem novo, neste ano de 2014, caminha a passos muito largos e apressados para a total desumanização.
O que se pode fazer? Quero crer que se poderia fazer muito se cada um fizesse um pouco...

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

2014

E pronto, com chuva, acidentes de automóvel, aumentos diversos e expectativas aterradoras, aí está 2014. Tal como eu sabia, nada houve que merecesse ser festejado e a vida vai continuar igual a 2013... 
Não percebo mesmo a razão de festejar a Passagem de Ano...
Mas não quero estar azeda logo no primeiro dia e, por isso, apetece-me entrar no jogo (porque acho mesmo que só pode ser um jogo) e fingir que estou feliz com a chegada no Novo Ano! Espero que estes 365 dias, novinhos e a estrear, se concretizem em paciência, paz, ternura e sentires com sentido.