terça-feira, 28 de abril de 2009

Incómodo(s)

Há coisas que me chateiam. Melhor, há muitas coisas que me chateiam!! Chateia-me o PS, o governo, a Educação, a família, a cidade triste, os sorrisos falsos, os cumprimentos hipócritas, o trabalho burocrático, os alunos idiotas, as lagartixas intrusas que aparecem na sala, o frio em mês de Abril, as saudades de quem me FAZ falta, a distância dos amigos, o desejo de um abraço másculo e quente nas noites de vento (nas outras, também). Felizmente, também há coisas que me satisfazem, que provocam sorrisos de dentro, que agitam os sentires e despertam os pensares. A minha neta a chegar, as minhas filhas-mulheres, os meus alunos de verdade, aulas de crescer-fazer-aprender, leituras boas, os meus cães (mesmo quando o Tango vai à horta e aparece negro de terra), projectos de ser, cumplicidades efectivas, as cerejas minúsculas na cerejeira, a roupa acabada de passar, a cama feita de lavado, a hipótese de algo mudar depois das eleições, um almoço conversado no Tapas!
Acho é que, mea culpa!!, me incomodo demais com as chatices e ando a perder o tempo das satisfações!! Vou mudar...

domingo, 26 de abril de 2009

Por Espanha

O silêncio surge de dentro. Intenso, profundo, pesado, total. Não ecoam as vozes dos jovens que, em diferentes idiomas, tentam comunicar. Não oiço nada, esqueço o inglês matraqueado e esforçado, abandono no pântano da existência a atitude profissional. Ali, nos claustros do Mosteiro de Guadalupe, há uma força estranha que me atrai. Ao longe, cegonhas. Fala Frei David Freya, com tranquila segurança, contando da Virgem negra, da Fé, da certeza de que o homem não pode ser apenas carne. Senta-se frente ao orgão e transforma o espaço. Agora, eu plano sobre a minha própria existência, sobre as imensas dúvidas que me angustiam, sobre as ansiedades pedagógicas e profissionais. Vejo-me outra sendo eu, ali sentada, insignificante sob a força imensa dos seis orgãos que, em simultâneo, Frei David faz tocar.
Apetece-me chorar, deixar lavar a alma, ficar ali para sempre, recolhida e encolhida, gozando a certeza da minha insignificância. Acordo da minha fuga, entro na sala das relíquias, beijo a Virgem de Guadalupe e, em silêncio, peço-lhe ajuda. Por mim, pelas minhas filhas, pela neta a caminho. Peço ainda pelos meus miúdos, os alunos que me desiludem e seduzem, esses mesmos que me fazem sacrificar o sossego de um fim-de-semana a dias de trabalho intenso. Sei que é Mulher e, por isso, estou mais certa ainda da sua compreensão.
À saída do Mosteiro esbarro com força no mundo. Faço nódoas negras gordas na alma e peço um café solo. Nem bica há...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

GPS

Surge uma voz sábia, martelada e irritante, que ordena que saia na primeira saída da próxima rotunda. A mesma voz garante que é para virar na próxima rua à direita. Há quem lhe obedeça. É a voz da modernidade, conhecedora dos melhores percursos, correctamente programada, evitando perdas de tempo, hesitações, dúvidas. Obviamente, não uso, não tenho, não quero, não obedeço! Desespera-me a necessidade desta humanidade que quer ser formatada, orientada, mandada, por maquinetas inoportunas mas muito sabedoras. Irrita-me a mania de estar tudo pronto, fácil, sem surpresas, sem o tempo GANHO quando, perdido o trajecto, se entrava nas terras próximas para perguntar, para conversar, para humanamente se conversar!! O GPS é, para a minha alma carente de afecto, mais um sinal da desumanização social... Em breve, decerto, vão inventar um DTP (distribuidor de ternura a pedido) e, depois, onde fica o toque subtil, o abraço forte, o beijo gostoso, o olhar ansioso????

domingo, 19 de abril de 2009

Mais um Período

Oiço a voz de Blimunda, os ferros de Baltazar e as rezas diferentes de Bartolomeu. Há no ar pó, é a construção do Convento!, cheira a gente e o céu carrega a maresia das ondas que, perto, lembram passados de conquistas e aventuras. Tenho frio, faz vento, o meu roupão vermelho deixa de fora a minha perna esquerda que gela. Baltazar não tinha mão esquerda, Deus também não, garante Saramago. Eu tenho mão esquerda, direita também, e as duas carregam memórias de muitas ternuras, toques ousados e texturas diferentes. Blimunda, hoje, não recolhe vontades. Estão ocas, gastas, oiço-a afirmar com tristeza, os olhos profundamente cinzentos. Sei que tem razão. As vontades, hoje, são ocas de força e sentido, vazias de energia e garra, despejadas de intensidade. Sinto a minha vontade tremer, também ela, incapaz de resistir às desilusões sucessivas, aos choques violentos com a realidade, aos naufrágios definitivos do sonho.Preparo as aulas de amanhã, aproxima-se o exame do 12º ano, é preciso marcar testes, medir, classificar. Amanhã. Hoje, Bartolomeu reza ainda. Amén.

sábado, 18 de abril de 2009

ATERRAGEM

Aterrei no meu quintal. Ou, melhor e com mais rigor, ainda não aterrei em lado nenhum porque a minha alma, a minha essência, não embarcou na Ryanair, não teve frio em Portugal, não se preocupou sequer com a roupa que precisa de secar. A minha alma-essência está em Cambrige, mimando a minha menina, escondida da realidade, com medo do regresso e das saudades de doer fundo. O meu corpo, essa coisa absolutamente desinteressante, invólucro necessário apenas, está arrumando coisas, elas tembém sem interesse, ouvindo notícias, entrando na rotina. Mas o meu eu-mesmo-verdadeiro está-se nas tintas para isso e vive a ternura boa de um lugar de afectos.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Quase Regresso

Estou farta de saber que o vento acelera, velocidade alucinante!, quando o tempo tem sentido. No entanto, desta vez abusou e, já amanhã bem cedinho, vou regressar a casa, à nogueira, à cerejeira que deixei florida, ao canil que é preciso lavar todas as manhãs. Vou deixar aqui o meu bebé, a minha filha-mamã, as saudades de um tempo que devia ser partihado! Em troca, vou entrar num país agressivo, injusto, feito de mentiras, de sem-vergonhice, de falta de liberdade e de estupidez governativa! Não queria ir... Queria poder trazer para aqui o meu espaço, a minha menina adorada de quem tenho já tantas saudades, o meu trabalho, as presenças que me tecem, e ser eu aqui. Num país inteligente, numa cidade humanizada, num espaço com lugar para as PESSOAS!!!
De Portugal, aqui, chegou-me a revolta cantada dos Xutos, o golo do Ronaldo, o frio fora de tempo e a repetição de uma crise sem fim. Voltar? Que chatice...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Pré-mamã à inglesa

Depois de uma noite chovida, de uma chegada a uma Inglaterra agora bem diferente - verde e florida - o acordar em Cambridge e um dia em Londres. Passeio pela cidade de contrastes, edifícios antigos e gente muito jovem, e o combóio pontual. A tal pontualidade, britânica mesmo. E King's Cross, coração de Londres, o profundo underground, gente de todas as raças, credos e cores. Muçulmanas de cabeça tapada, unhas pintadas e maquilhagem excessiva, japonesas de phones e clics constantes, negras bem gordas, brasileiras bamboleantes, inglesas estridentes, portuguesas atentas e curiosas... E lojas. Notting Hill, um pastel de nata (a nada) no caminho, e a JOJO MAMAN BEBE cheia de coisas lindas para a futura mamã. Compras necessárias, o futuro a começar, as conversas ternas sobre o bebé a correrem soltas. A minha menina, o meu bebé, a garantir - já! - que a barriga de pré-mamã ficava bem protegida no fato de banho, giríssimo, para o Verão que se aproxima. E o almoço no Swan, a pie, o passeio por Hyde Park, a saída em Piccadily Circus, a Regent Street com lojas sem fim a fazer-nos desejar o euromilhões. No fim do dia, dia de sol e calor na Londres apaixonante, o regresso a Cambrige, a casa, para o pão-de-ló desejado e a sopa com sabor a Mãe.
É diferente, gostoso, viver assim, agora, em dias de cumplicidade efectiva, intensa e tão sentida.

domingo, 12 de abril de 2009

LIBERDADE???

O João Miguel Tavares, um miúdo de Portalegre, um cronista com qualidade do DN, foi posto em tribunal, processo crime!, pelo primeiro-ministro. Assim. Tudo porque fez humor, do bom!, com a figura de sua excelência a nulidade, referindo a licenciatura manhosa... Num instante, pouco mais de uma semana, estava a ser ouvido no DIAP. Sim, o caso não era para graças!
Num país onde crimes como os da Casa Pia levam anos a ser julgados, onde as investigações do Freeport entopem, onde os assaltantes saem das prisões por se esgotar o tempo das preventivas sem que haja julgamento, o João Miguel teve direito a urgência. Como o João Miguel Tavares houve, há, mais processos: - o SOL, a TVI, etc. É isto a democracia? Será que esta gentinha do PS vai ter a lata de festejar o 25 de Abril??? O que está a acontecer em Portugal é grave. Mais grave ainda, acho eu, porque, para além de todas as enormidades sobejamente conhecidas, agora rouba-se a liberdade. E, para mim, a liberdade é INDISPENSÁVEL!!! Como é possível que ainda haja quem pense sequer em votar neste PS???

Eu vou embora amanhã. Felizmente! E queria ser capaz de ignorar a política, de não querer saber, de encolher os ombros e fazer coro com os que dizem que não se interessam e nem votam. Mas não sou capaz! Sinto uma dor funda que me dá vontade de lutar, de falar, de defender as minhas causas!
Ai, quem me dera poder ignorar o mundo, o país, e fechar-me nos meus sentires...

sábado, 11 de abril de 2009

COGUMELOS VENENOSOS

Reparei hoje na praga de cogumelos venenosos, de todas as cores, que invadiu a minha cidade. O meu país também, talvez. De manhã, ao subir a avda. Pio XII, reparei no primeiro cogumelo venenoso, terrível, berrante, agressivo, sugestivo de tragédias e de passado de má memória: - Era a doutora Ferreira Leite, ar de bruxa sem vassoura, sorriso ameaçador, anunciando eleições! Depois, ainda em choque, dei uma volta pela cidade e vi que não era exclusivo aquele cogumelo envenenado: - Há-os por todos os lados, de todas as cores, machos, fêmeas e assim-assim, gritando frases ocas, anunciando ideias gastas, apregoando desalento!
É assim a política neste Portugal: - práticas obsoletas, agressivas, desinteressantes, gastas e tristemente repetitivas!Eu não percebo esta gente, não entendo o momento (looooonnngo) que vivemos!
O mundo mudou, parece inegável, a realidade é outra, as famílias têm uma especificidade diferente, as crianças nascem a teclar, há homens que apalpam homens e mulheres que piscam o olho umas às outras e, na política, continua-se a prática de sempre, feita de slogans de nada, de esbanjamento de verbas e de falsidades assumidas. De repente, parece que o mundo entrou em rota livre e autónoma, que existe independente da humanidade, e que, para complicar tudo, os políticos sofrem de autismo generalizado!!
A política dos cartazes chateia-me. Incomoda-me e tira-me o sono! Como me tira o sono a falsidade que é a Europa. Falsidade porque não é um projecto aberto, verdadeiro e transparente; falsidade, porque se quer levar (e levam-se!) os portugueses a votar sem saberem o que realmente está em causa! Mais uma vez, e andamos nisto há mais de 30 anos, as campanhas eleitorais servem para alguns seres animados encontrarem um lugar ao sol, ou à chuva se for em Bruxelas, sem se discutirem ideias, filosofias, realidades ou sequer sonhos.
No meu país, Portugal..., o fosso entre a realidade e os políticos é cada vez maior e, infelizmente, parece ter tendência a aumentar!! Eu, amante de Camões, de Pessoa, de Garrett, de Gama, de Afonso Henriques, de D. João II, de Sophia, dou graças a Deus por a minha neta (?) ir nascer em Inglaterra!!!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

PÁSCOA

Sopa de miúdos, com rodelas de laranja, folha de louro obrigatória, gostosa mesmo. Borrego assado, lourinho, tomates estaladiços e a casa a cheirar-me à Páscoa que desejo ignorar.
É Quinta-feira Santa, dia de tristeza, prepara-se a morte do Senhor e eu recordo, porque é outra vez dia 9, o desaparecimento do meu Pai. Ele gostava da Páscoa, da casa cheia, do homem que ia buscar para matar os borregos, de entrar na cozinha para sugerir temperos que desconhecia, de contar histórias de quando, então criança, participava na Procissão batendo com a vela grande nas cabeças dos amigos. Tenho saudades dessas histórias, das memórias que herdei, dos tempos em que, na Quinta-feira Santa, entrava na Sé para assistir à cerimónia do lava pés. Lembro-me, agora, de contestar tudo, de achar completamente sem sentido tanto ritual, tanta cerimónia, em torno de uma figura que pregava a igualdade e a ternura. Lembro-me de desesperar com o argumento "quando fores mais velha, vais compreender" e, agora, espanto-me por ser já mais velha. E por compreender. Compreender, desejar, amar até, os rituais complexos, as tradições, os momentos de tristeza interior, a essência desse Senhor Jesus que, um dia, morreu por nós. Por mim, também. E talvez não valesse a pena.
Um dia, em breve porque o tempo voa, vou contar à minha neta das Procissões com velas longas, com pendões, com amêndoas trincadas nos tempos de espera. Vou falar-lhe dos folares, das amêndoas de Portalegre que para azar de todos a ASAE proibiu... Vou falar-lhe da ternura de ser bom e da força de se estar com. À minha neta, em histórias longas e ensinando-lhe a magia da nossa Serra, vou legar o fascínio pela essência das coisas simples. Tão simples como GOSTAR...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Menos de uma hora


É esta magia branca, a cor limpa e pura, o frio que pinta de vermelho os rostos gelados, que me seduz e encanta, que dá novos sentidos à vida que, vezes demais, perde significâncias. Agora, queria um vinho quente e 45 minutos de conversa cúmplice. Nem era preciso chegar a uma hora.

URGÊNCIA

Enquanto estive fora, só oito dias!, o meu quintal explodiu de energia e cor numa urgência surpreendente! Encontrei tudo verde, cheiroso, intenso e carregado de pólens. O mundo, o meu, manifestou a sua urgência de vida, indiferente à minha ausência, talvez lembrando-me que não faço falta nenhuma. Achei um abuso esta urgência primaveril! Gostava de encontrar o tempo igual, com calma, sentindo a minha falta e desejando a minha presença.
Ora bolas, a minha nogueira, que eu adoro e que deixei nua, recebeu-me vestida de novo, verde e brilhante. Que lata! Porque será que até a natureza está numa urgência de tempo???...