domingo, 26 de abril de 2009

Por Espanha

O silêncio surge de dentro. Intenso, profundo, pesado, total. Não ecoam as vozes dos jovens que, em diferentes idiomas, tentam comunicar. Não oiço nada, esqueço o inglês matraqueado e esforçado, abandono no pântano da existência a atitude profissional. Ali, nos claustros do Mosteiro de Guadalupe, há uma força estranha que me atrai. Ao longe, cegonhas. Fala Frei David Freya, com tranquila segurança, contando da Virgem negra, da Fé, da certeza de que o homem não pode ser apenas carne. Senta-se frente ao orgão e transforma o espaço. Agora, eu plano sobre a minha própria existência, sobre as imensas dúvidas que me angustiam, sobre as ansiedades pedagógicas e profissionais. Vejo-me outra sendo eu, ali sentada, insignificante sob a força imensa dos seis orgãos que, em simultâneo, Frei David faz tocar.
Apetece-me chorar, deixar lavar a alma, ficar ali para sempre, recolhida e encolhida, gozando a certeza da minha insignificância. Acordo da minha fuga, entro na sala das relíquias, beijo a Virgem de Guadalupe e, em silêncio, peço-lhe ajuda. Por mim, pelas minhas filhas, pela neta a caminho. Peço ainda pelos meus miúdos, os alunos que me desiludem e seduzem, esses mesmos que me fazem sacrificar o sossego de um fim-de-semana a dias de trabalho intenso. Sei que é Mulher e, por isso, estou mais certa ainda da sua compreensão.
À saída do Mosteiro esbarro com força no mundo. Faço nódoas negras gordas na alma e peço um café solo. Nem bica há...

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