sábado, 30 de abril de 2016

PESSOAS

Acordei, hoje, com uma vontade absurda de entrar na máquina do Tempo e ir pedir colo a quem partiu. Acordei com os sentires a doer! Saí de casa cedo, uma caminhada no telurismo de Torga (ousadia minha), mas o incómodo continuou. Alguém me chamava por dentro, de longe. Como a disposição não me permite trabalhar, resolvi arrumar fotografias. (Tenho um caixote cheio, esperando a minha coragem emocional). Logo de imediato, caiu-me na mão um momento vivo de cumplicidade. Ali estava eu, sentada no muro, conversando com quem me sabia ouvir. Conversando com quem, muitas vezes discordando, sempre me acolheu com carinho. A saudade dói mais agora.
Há pessoas que me fazem falta. Muita falta. E, se umas partiram porque a vida terminou, outras apenas se foram por desinteresse ou comodismo. Hoje, muitas ausências me doem!





sexta-feira, 29 de abril de 2016

É sexta-feira, suei a semana inteira... É assim que, frequentemente , oiço cantar na Rádio. Eu não suei a semana inteira, mas estou feliz por ser sexta-feira. Hoje, é dia de olhar o Tempo e de fazer com ele o que eu bem quiser. Por isso, hoje, agora que a noite se instala de mansinho, apetece-me uma história... Uma história de era uma vez, cheia de possíveis e maciezas. Uma história com gelo a tilintar nos copos, olhares no mesmo sentido e sem linha de horizonte. Uma história sem memória, sem futuro também, escrita no silêncio que a noite sempre permite. Nessa história, com era uma vez, as pessoas entendiam-se, as desconfianças não existiam e os possíveis sucediam-se sem reclamar. Havia, no meio da narrativa, um espaço bem definido, branco mesmo, onde soavam gargalhadas frescas e sem culpas. O Tempo era, ele mesmo, a sua inexistência, e as personagens, porque não era uma fábula, eram humanos sem memória e, por isso, gozando a paz do esquecimento. A acção fazia-se de encaixes: - encaixes de momentos, de sonhos e de presentes. A história, esta que me apetece agora, seria de tal forma fantástica que nem teria ponto final!

quinta-feira, 28 de abril de 2016

A FOFA

A meio de muito trabalho, a preparar mais uma acção de formação, esbarrei com um quadro SWOT. Ou seja, como eu sou portuguesa, e como gosto muito a minha língua, esbarrei com uma FOFA (Fragilidades; Oportunidades; Facilidades; Ameaças). 
Então, apeteceu-me ter uma FOFA só para mim. Olhar a minha realidade de acordo com o tal quadro SWOT e descobri que, numa análise cuidada, algumas fragilidades se podem tornar vantagens. Ora vejamos: ter por companhia a solidão, pode ser uma fragilidade. Mas, se pensar que não tenho de suportar a constante presença de quem me agride e magoa, então é óptimo estar sozinha! 
Portalegre, outro exemplo, fala muitas vezes na forma como o facto de ter uma população envelhecida limita o seu desenvolvimento. Ora, se olhassemos esta fragilidade com outros olhos, Portalegre podia tornar-se a Cidade Amiga da Terceira Idade! Criava roteiros, ofertas culturais, oportunidades de negócio, recebia os mais velhos e ainda ganhava com isso!
Pois é... Há muitas formas de fazer FOFAS!

sábado, 23 de abril de 2016

DECLARAÇÃO

Põe os braços pequenos à volta do meu pescoço e garante - avó eu amo-te mesmo muito!
Eu desabo! As emoções à flor da pele, as mil e muitas chatices, as desilusões, as agressões, as chatices e os sonhos adiados perdem sentido. De repente, sou importante. Tenho a minha neta, com três anos, a fazer-me uma declaração autêntica - VERDADEIRA mesmo!- e sinto que tudo o resto são insignificâncias.
Obrigada Constança querida!

quinta-feira, 21 de abril de 2016

DEMAGOGIA

Se há coisas que me irritam, e há muitas, ouvir repetir frases feitas é uma delas. Hoje, aliás deste ontem, ando irritada com o senhor professor Santana Castilho. Estou farta de o ouvir condenar tudo, profetizar desgraças e insultar quem ousa tentar a diferença. Estou cansada da demagogia que o caracteriza e que alguns seguem.
Ao contrário do que faz o senhor professor, não vou enveredar pelo insulto grátis. O que eu gostaria era de saber quais os procedimentos que o senhor professor, que parece ser portador do dom da verdade, sugere para se combater o insucesso escolar. 
Já sei: - a culpa é dos alunos! Mas sabendo nós que não podemos reciclar os alunos, e que nem podemos fazê-los sumir no espaço, o que devemos, como profissionais, fazer? Cruzar os braços? Lamentar? Culpar as famílias? Repetir que as turmas têm muitos alunos?
Não tenho paciência para o professor Santana Castilho. Mas ainda tenho menos paciência para quem o reproduz sem questionar... Muito a sério, e porque penso que a Educação é um assunto fundamental e estruturante, creio que já é tempo de olharmos o insucesso e a Escola Pública com olhares antentos e preocupados.
Não tenho dúvidas que é na sala de aula que se constrói o sucesso e eu, (que nada gosto do PS...), reconheço que o senhor ministro,e concretamente o senhor secretário de estado, estão a fazer um esforço honesto e competente. 
Penso eu. Que não sou Professora,  não tenho dom da verdade, e acredito que qualquer esforço para melhorar pode fazer sentido.

terça-feira, 19 de abril de 2016

... A ESCOLA

A Escola Pública tem, acho eu, como primeiro e principal objectivo, promover o sucesso dos seus alunos. Não tem, apenas, a responsabilidade de transmitir conhecimentos, ou de promover a sua aquisição, mas tem, penso eu, a obrigação de ajudar a formar cidadãos activos, livres, responsáveis, competentes e humanamente saudáveis. Eu penso assim! E por pensar assim, fico desesperada quando encaro situações em que estes objectivos, e no fundo princípios norteadores da acção docente, são desprezados. Claro que sei que a educação adquirida em casa é fundamental, que toda a comunidade contribui (ainda que por vezes inconscientemente) para a formação dos indivíduos. Mas penso que quando, na Escola, os professores remetem para os pais, e para a comunidade, a resolução dos problemas estão a chutar para fora de jogo... A Escola tem de se centrar na resolução dos seus próprios problemas! A Escola tem de agir sobre aqueles que pode influenciar e esses, sem dúvida, são os alunos... Assim, não consigo perceber que a Escola não tenha um extremo cuidado no cuidar da sua imagem que é, sem dúvida, o desempenho dos seus professores. Não é professor quem quer...

domingo, 17 de abril de 2016

CERTEZAS

Sendo Domingo, hoje a minha missa foi numa igreja diferente. Portalegre estava longe e, a meu lado, rostos estranhos acompanhavam a oração. O senhor padre falava de inveja, de certezas, da necessidade de sabermos de cor respostas fundamentadas na Palavra de Deus. Eu ouvi, confesso que com algum distanciamento (esta coisa estranha que me acontece, de precisar do "meu" espaço para rezar), sentindo-me dolorosamente pecadora.
Porque eu não tenho certezas! Eu carrego uma imensidão de dúvidas, de receios, que, se não se prendem com a Morte - essa é segura e certa - me dificultam a vida. Às vezes, como hoje, lembro uma frase, creio que da Mafalda de Quino, onde se lê "Quando a gente acha que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas!". É isso mesmo que sinto.
Agora, já adulta e velhota, eu devia saber as respostas, devia acordar tranquila a cada manhã, adormecer sem medos a cada noite. Mas não... Tento acertar, e erro as respostas que a vida me exige. Depois, olho à volta e, no fosso que me rodeia, percebo os medos glutões de cada amanhã que, num instante, é hoje. Então, volto a dar o meu melhor e, uma vez mais, falho. Deveria, talvez, desistir. Mas eu gosto tanto de ser Pessoa...

domingo, 10 de abril de 2016

ADEUS

Meu amigo querido, adeus. Sei que não acreditavas no meu Deus, que a tua sabedoria científica te centrava na vida biológica e, por isso, dizias-me, muitas vezes, que um dia serias nada. Que morrerias, e pronto.
Hoje, foi esse dia. Mas, amigo querido, desta vez não tinhas razão porque tu nunca serás nada. Para mim, estejas onde estiveres, serás sempre o Amigo especial... Oiço ainda as tuas ironias, a tua capacidade cirúrgica de definir momentos, o olhar amigo e compreensivo. Lembro as tuas mãos esguias, mãos de médico, mostrando-me os poemas que escrevias, as velhas fotografias que revelavas na tua câmara escura.
Aproximamos os nossos pensares e sentires no passeio ao Nordeste Transmontano, eu tinha 19 anos, ía casar. Escreveste, então, um poema lindo que terminava:... "Assim o CX desliza, nas mãos seguras da Luísa!"
Houve tantas coisas que as minhas mãos - seguras? - não conseguiram segurar...
Depois, há mais de dez anos..., fizemos juntos uma viagem longa. Lembras-te do almoço em Beja? Hei-de lá voltar, àquele restaurante escondido.
Recordarei sempre a forma como nunca te ouvi condenar-me. Se compreendias, não sei. Mas talvez isso seja o importante, saber aceitar sem condenar, ainda que nem sempre compreendendo.
Partiste. Acredito que, a esta hora, estarás entre amigos. Quero mesmo crer que, com o meu Pai, continuarás a olhar por mim... Mas vou sentir falta dos teus emails, das fotografias no fotolog, dos poemas intensos que me enviavas para, acho eu, me fazeres olhar a vida de outro modo.
Sei, eu acredito, que vais descansar em paz. Por agora, tenho comigo as memórias (essas ninguém mas confisca) e, sempre que olhar o céu do meu Alentejo, pensarei que mais uma estrelinha lá brilha também.
Desculpa o egoísmo. Fazes-me muita falta!

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Há muito Tempo...

Há muito tempo já que não caminho descalça na areia; há muito tempo já que não me sento no chão olhando nada; há muito tempo já que não passo uma tarde a ler um bom romance; há muito tempo já que não adormeço segura e protegida no abraço que desejo.
Há muito tempo que não tenho tempo para coisas de mim para mim.
Sinto-me presa na voragem do tempo, consumida por prioridades que não estabeleci, pressionada por exigências que não desejo. Hoje, apetecia-me apenas fechar a porta ao mundo e ir à procura de mim. Do meu eu que ri, se encanta, que gosta da vida e do amor. Hoje, quando as rosas começam a surgir na minha varanda, queria só partir...

domingo, 3 de abril de 2016

O Circo

A rua enche-se com o som roufenho, a voz monocórdica anunciando o sonho. Há tubarões, leões, elefantes, pistas de gelo e palhaços pobremente ricos. Há muitas sessões, cães vestidos de meninas e gente capaz de andar, sem cair, num arame bem fininho. Há, também, rapariguinhas que se enrolam, como cobras, saindo e entrando dentro de caixas trancadas. Cheira a algodão doce, os bancos são de tábua rija, o chão é terra e pó. É o Circo! O circo que chega à cidade numa longa serpente de camiões, que polvilha de cartazes os lugares comuns e que vende, barato, momentos de alegria. As crianças pedem para ir ao Circo, os adultos alinham...
Sempre me fascinaram, num misto de tristeza e curiosidade, os circos ambulantes. Há alguma  coisa fascinante na liberdade nómada, no desapego à rede social que nos prende - a mim prende -, a lugares que, muitas vezes, nos entristecem. Mas há, também, uma miséria latente que angustia. As luzes, o som alto, as lantejoulas e o brilho excessivo parecem mascarar alguma miséria, alguma tristeza também... Penso nas crianças do circo, nos meninos que não andam na Escola, nos jovens que não conhecem a literatura, nem resolvem equações. Penso nestes meninos que não sabem as fórmulas da química e que, sem saberem física, ligam as mil luzes que enchem de cor a grande tenda.
O Circo... Como a vida, a jogar intensamente com o ser e o parecer, com o brilho e as sombras, com o essencial e o aparente.