terça-feira, 16 de abril de 2013

MIL

Este é o post número mil. Ou seja, há mil dias que registo aqui, neste espaço aberto, ideias, sonhos, raivas, sentires, desesperos, revoltas e opiniões. Mil dias de tanta coisa... Agora, termina o espaço. Porque tudo acaba um dia e, afinal, mil é um número redondo (embora eu não faça ideia do que é um número redondo) e serve bem de pretexto para terminar este espaço. Se fosse um número triangular, serviria também, mas corria o risco de deixar pontas incómodas...

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Quase....

Nada mais terrível, e dolorosamente frustrante, do que o quase. Uma pessoa não pode ter, não pode fazer, não consegue chegar, paciência. Mas uma pessoa tentar, esforçar-se, dar o litro, estar quase e, depois, não conseguir, morrer na praia, é terrível! É frustrante, palavra da moda, é doloroso e até traumático. É para os alunos terem 9,4 e não 9,5 (seria 10...). É andar a juntar dinheiro, semanas, para aquelas calças fantásticas e, no dia, entrar na loja e ver que já foram vendidas. É uma pessoa apaixonar-se, entregar-se inteira e completamente e, um dia, descobrir que o outro coração está vazio. Ou cheio de ternura alheia.
Diz o povo que "para pouca saúde, mais vale nenhuma" - e eu concordo! Antes o nada, do que o quase! Antes não ter governo nenhum, do que obedecer a este quase desgoverno de gente incapaz.

sábado, 13 de abril de 2013

Competências Sociais

Há uns anos havia, nas escolas, a preocupação de desenvolver nos alunos competências sociais. Havia o cuidado, às vezes a ansiedade, de ajudar os alunos a tornarem-se mais pessoas - melhores pessoas - para além de bons alunos. Os professores preocupavam-se em olhar os miúdos no fundo dos olhos, em lhes espreitar a alma. lembro-me de procurar desenvolver actividades que desenvolvessem o espírito de entre-ajuda, a compreensão, o respeito pelo outro.
Hoje, perco horas da minha vida procurando a objectividade dos testes, o rigor quantificado da avaliação. Como se os alunos fossem números, como se a vida fosse um teste de escolhas múltiplas... Onde fica a compreensão, o respeito pelo outro, a individualidade de cada um? "Não se pode amar ninguém, se não nos amarmos a nós próprios primeiro" - É uma máxima discutível, claro, mas eu não tenho dúvidas de que é urgente reinventar valores sociais! Cada um tem as suas razões, as suas limitações e, dentro do fatalismo que condiciona a existência (sim, a Morte está aí) cada um tem a sua subjectividade. Compreender e respeitar deviam, acho eu, ser palavras-chave em educação e na vida!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

MAIS???

Obviamente, tremo ao pensar no que vai, outra vez, cair em cima dos professores. O Ministro Gaspar decidiu que os cortes seriam na educação, na saúde e na segurança social, exactamente as áreas onde, na minha opinião, o estado mais devia investir (ando sempre ao contrário da corrente). Vão, com certeza, reduzir o número de professores, aumentar as horas de trabalho e, sem nenhum problema de consciência - porque não têm consciência! - , piorar o ensino e a educação que deviam, acho eu, ser o pilar de uma sociedade de sucesso. Ou não?... Às vezes, penso que não é incompetência, mas maldade refinada o que caracteriza o nosso governo.
Um povo educado e culto, é um povo que discute e participa, que opina e constrói, que não se deixa facilmente enganar porque tem armas para lutar. Deve ser exactamente isto o que o governo quer combater com as medidas que se avizinham... Convém que o povo seja ignorante, para ser manipulável; selvagem, para ser domado; incapaz, para ser dominado; estúpido, para ser enganado. Convém que as turmas tenham trinta miúdos, para que não haja controlo nem regras, que os professores tenham 200 alunos, para não poderem individualizá-los, que as escolas se encham de falhados, para adiar a entrada nos números do desemprego... A revolta dói-me fundo!

terça-feira, 9 de abril de 2013

Nevoeiro

De novo o céu se cobre de nuvens, de novo a manhã acorda envolta num cobertor de humidade. Penso que o clima está como os portugueses, tristes e desiludidos, e oiço Pessoa na actualidade eterna:
 
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.

 
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
 
 
Será que a hora não passou já?...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Subindo o arco-íris

- Vamos subir no arco-íris? - O desafio vinha dela, como sempre cheia de sonhos e impossíveis forrados de aventura. Não se pode subir, respondeu ele, agarrado ao real, preso nos possíveis do quotidiano. Ela insistiu. Vamos! Agarramos a ponta e subimos. Tu vais pelo azul, sem escorregar no anil, e eu vou pelo rosa, tentando chegar ao vermelho forte.
Subiram, pendurando-se e trepando com força. Ele empurrou-lhe o rabo, ela, já de pé, deu-lhe a mão e ajudou-o a içar-se. Os dois, lado a lado, encetaram a caminhada. Com cuidado, ela cheirava o intenso do rosa, a suavidade do amarelo. Ele guardava no bolso pedaços de cor. Podiam, um dia, ser-lhe úteis... De repente, ela tropeçou e, célere, ele abraçou-a para que não caísse do sonho colorido. Ela riu, seria uma queda original, cheia de cor e de possíveis eternos. Ele estava sério, o olhar colado no chão, avaliando a distância a que estavam da realidade. Sem medo, embrulhando-se com verde e anil, ela garantiu que o concreto estava sempre muito longe das suas preocupações. Quando chegaram ao fim do arco-íris, não havia pote de ouro. Sem desilusão, porque não o procuravam, escorregaram para a realidade num abraço total. Ela, agora séria, ajustou na alma as cores que sentira; ele, com mil cuidados, trancou na carteira as cores recolhidas.

domingo, 7 de abril de 2013

Estado de choque

O governo, dizem os comentadores (tantos!) ficou em estado de choque com o chumbo do Tribunal Constitucional a quatro das propostas de Lei. É compreensível, porque o governo já provou que só conhece um caminho: - sobrecarregar os cidadãos com impostos e sufocar os funcionários públicos! Em choque, foram ter com o Presidente da República que garantiu que o governo tem legitimidade para governar, o que, temo eu, significa que os impostos podem voltar a subir... O país está de rastos, a miséria cresce, cada dia é uma incerteza, a angústia ataca todos, mas o governo insiste teimosamente no cumprimento de um acordo que já provou ser assassino de um povo. Ao mesmo tempo, o secretário geral do PS, com uma infantilidade que revolta, anuncia que está pronto para governar. Havia de ser bonito...
Neste cenário terrível, ficamos a saber que os juízes do Constitucional se reformam ao fim de dez anos de trabalho, e que o Presidente da EDP ganha três milhões por ano, tal como o seu colega Catroga aufere um milhão e picos... Em picos ficamos nós, neste país sem rumo e eternamente adiado!

sábado, 6 de abril de 2013

Coisas Minúsculas

Há pequeninas coisas, factos insignificantes, tempos ignorados, que me ajudam a sobreviver. Quando me sinto sufocar, quando parece que um tsunami de chatices me vai definitivamente afogar, é no minúsculo que recupero forças! Ofereço-me, sempre que posso, tempo de solidão propositada. Fujo do mundo, desligo o inoportuno telemóvel e acelero para Marvão. 

Dantes, sem custos, perdia-me no castelo. Agora, por um euro e trinta, a única coisa barata dos meus dias, mergulho no mundo de pedra e fico olhando as aves, o jardim de buxo bem cuidado, as caminhadas curiosas e hesitantes dos turistas, o palavrar difícil da senhora espanhola que vende recordações. Na rua estreita encontro o café de sempre, onde há vinte anos as minhas filhas exigiam o gelado de domingo de manhã, agora com um pequeno restaurante delicioso. 

Oiço o papagaio gritar e espreito, da janela florida, os passos estrangeiros na terra que acho tão minha. Regresso com forças recuperadas, achando que cumprir formações ocas numa plataforma estranha não merece a minha angústia. Há vida nas pequenas coisas e eu, cada vez mais, vou oferecer-me enormes minusculidades!

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Dia Novo

Vem daí comigo! Calça botas grossas, aperta o casaco e vamos caminhar. Está sol, frio honesto, os pardais cantam felizes e Deus oferece-nos um dia mais para vivermos apenas. Não tragas o jornal, esquece os Relvas, os julgamentos eternamente adiados, as crises, as contas, as mentiras. Esquece o ontem, ignora o amanhã, vamos aproveitar o hoje, o sol gelado, a erva húmida, as gotas de orvalho fresco. Vamos acreditar que é ainda possível, que é sempre possível, que existe um raio de sol eterno e que, juntos, havemos um dia de subir o arco-íris para tocar o céu!

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Até que Enfim!

Finalmente, o ministro dos assuntos parlamentares sai do governo! Já era mais do que tempo! Não se percebia porque razão misteriosa o ministro Nuno Crato não divulgava o relatório sobre a licenciatura do colega, especulava-se, imaginavam-se cenários trágicos e até cómicos. Por todo o lado se estranahva que o ministro se mantivesse em funções, aparecendo cada vez mais ridículo e desajustado. Rimo-nos com a sua tentativa de cantar a Grândola, mas, no geral, o seu desempenho dá mais vontade de chorar... Creio que esta figura só servia para desprestigiar, mais ainda, um governo já fragilizado, e é com alívio que o vejo partir.
Hoje, alguém me lembrava que histórias destas não acontecem só em Portugal. Que em França aconteceu igual, ou pior... Mas isso de nada me consola! Pelo contrário, cada vez mais me assusta o estado deste mundo que integro.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

TOCAR O CÉU

Era o edifício mais alto da Europa e ela olhava-o confusa. Visitara já a Torre Eiffel, ultrapassada claro, mas não parava de surpreender-se com o desejo eterno que os homens tinham de chegar mais alto. De furar o céu, mais do que do atingir, pensava. Ali estava agora, gelada, frente à enorme torre recém inaugurada, pensando na ambição constante, na necessidade de visibilidade, na força da aparência sobre a essência. Observava a torre de pé na ponte, bem em frente à Tate Modern, com a Catedral de São Paulo ali mesmo na outra margem. Cada época sua arquitectura mas, eterna, a vontade de marcar o Tempo, a busca da grandiosidade. Enrolou-se  melhor no casaco quente e virou as costas ao gigante pontiagudo dirigindo-se à Catedral. Procurava paz, silêncio, invisibilidade se possível. Fora do seu tempo, procurava ser diminuta, ser esquecida da vida e ficar por ali, só olhando, resistindo a abrir as trancas das saudades e das emoções.  Oferecera-se três dias de Londres, voo low cost, na busca do que, antes de partir..., sabia impossível: - Paz interior! Procurava que a vida a esquecesse, que as chatices desistissem de a procurar, que a solidão a ignorasse. Procurava um lugar para ser sozinha, não solitária!, sem cobranças nem julgamentos. E Londres era a sua cidade. Sempre! Só que, agora, esbarrara com a torre absurda e incómoda e, de novo, acordavam nela as razões da fuga. Entrou no Café Rouge e pediu o Double express. Aqueceu as mãos na chávena pintada e ficou aliviada quando ninguém lhe perguntou porque chorava tão copiosamente. 
Fizera a boa escolha: - Londres, com a sua torre maior, ignorava as lágrimas de cada um...

terça-feira, 2 de abril de 2013

Chove na Minha Existência

Já tinha saudades de alguns dos meus alunos de 7º ano. Receberam-me no corredor, simpáticos, suados já aos primeiros raios de sol. Disposta a trabalhar, exigi atenção e propus o tema para o texto semanal: "Chove na minha existência". Seguiu-se um aguaceiro de lamentos. Que era difícil; que não sabiam o que eu queria; que era um tema parvo; que a professora cada vez está mais complicada. Nem liguei! Sei que estes miúdos, alguns (os que querem) vão perceber que, na vida deles e na de todos, surgem frequentemente intempéries e até terramotos. Sei que, na próxima 2ªfeira, vou receber textos deliciosos que me vão encher de orgulho. Decerto vão descobrir dilúvios de alegria e chuvadas de gargalhadas. Porque têm 12 anos e, para eles, quaisquer condições climatéricas são fazedoras de felicidade!
Se fosse eu a ter de desenvolver o tema... Acho que tornaria a chuva em granizo violento!

segunda-feira, 1 de abril de 2013

MADRID

Noite fria e ele caminhando por Madrid. Olhava o relógio na torre, sabia que ali se viviam as passagens de ano, assistira já a um acordar de 1 de janeiro, a praça coberta de lixo e restos de festa forçada. Não gostava de passagens de ano, como não gostava das datas de divertimento obrigatório. Mas gostava de Madrid, da agitação da noite, dos cheiros, do presunto bem cortado, das tapas ao fim da tarde. Ela gostava também. Revia-a no Solar dos Presuntos, sorrindo, dissertando sobre ninharias, sobre as leituras eternas. Tinha saudades dela, mas queria combater o passado. Ela partira, em paz, na impossibilidade de uma vida a dois. Tão difícil, a vida. E ali estava agora, sozinho, recuperando a vida ou o que restava dela.
Para minimizar o frio entrou na chocolataria que ela ensinara. 
A chocolataria mais antiga de Madrid, a única aberta vinte e quatro horas, a que servia chocolate com churros quentes a qualquer hora da noite. Como ela adorava aquele chocolate que, dizia a rir, iria contribuir para a subida de um número de saia... Mas brincava e continuava a deliciar-se com o chocolate espesso dizendo, descontraída, que o melhor amigo das mulheres não eram os diamantes, mas o chocolate.
Doíam as saudades dela. Onde estaria?
Madrid continuava agitada, e ele continuava tentando iludir a ausência. Sim, reconhecia que precisava dela, que sentia saudades do sorriso, da ternura, do amor intenso.
Se pudesse voltar atrás faria outras opções. Mas, tal como o relógio da Praça Madrilena, a vida era irrepetível...