quarta-feira, 23 de novembro de 2016

SAUDADES

Tenho muitas saudades dos meus netos. O mais crescido, o MB, faz amanhã sete anos e eu estou longe. Tenho saudades da pele deles, das conversas cheias de magia, da confiança deles em cada amanhã. Tenho saudades da mesa cheia de conversas cruzadas, da falta de sentido nalgumas respostas, dos pedidos para que faça aquele tal prato especial... Há sete anos, em Cambridge, fiz-me avó. Estava muito frio, nevou bastante, mas aquela criatura minúscula, no seu 1,900kg, aquecia-me o coração. Depois, o tempo foi passando, ele cresceu e, hoje, é um rapazinho curioso e bem disposto.
Agora, na noite fria, com a braseira ligada e o meu Zorba sobre os pés, lembro esse dia e as saudades doem com força demais...
Talvez eu tenha desrespeitado o destino; talvez tenha errado demais. Talvez eu devesse apenas estar feliz porque os meus netos são saudáveis e felizes. Mas, para além da razão, há esta emoção feita de memórias que, agora, dói e me rasga por dentro. 
Ah, se eu pudesse...

terça-feira, 15 de novembro de 2016

INDIGNAÇÃO

Na sala de professores de uma escola que conheço, afixado em lugar de destaque por um professor - por um professor! - está um slogan que diz: "Para que os aldrabões não vos possam manipular. filosofia devem estudar!"Olhei aquilo, lixo puro, e experimentei fundo a dor da revolta indignada. 
Defendo que a escola, e os professores, devem ser referências de qualidade e de dignidade. Defendo, convictamente, que a escola deve transmitir Valores, educar para a qualidade e para o respeito e, por isso, lamento, e incomoda-me, que haja professores que privilegiam o reles, a vulgaridade, o lixo.
Sempre defendi, e defendo cada vez mais, que as pessoas devem ser livres, autónomas e responsáveis mas, quando falta a noção de responsabilidade e  de respeito, devia ser possível interferir e agir. 
Sou grande defensora dos professoras. Sinceramente, acho sempre que é por os professores serem muito bons que o sistema ainda não ruíu e, penso, casos destes só servem para humilhar e denegrir a imagem de uma classe. Às vezes, tenho muita pena de ser professora neste país...

sábado, 12 de novembro de 2016

A História

Tia, conte-me uma história. Com meninas ou com animais? Com cavalos. Mas com meninas também, Meninas felizes? Claro, tia! E cavalos negros? Não, tia, amarelos. Ora bem, era uma vez uma menina que morava numa quinta com os avós. E os pais dela tia? Tinham ido fazer uma viagem. E porque não a levaram? Porque ela não podia faltar à escola. E os pais podiam faltar ao trabalho deles? Podiam, porque eram crescidos e tinham férias. E não podiam ter férias ao mesmo tempo da escola? Não, não lhes dava jeito. Mas porquê tia? Porque, às vezes, a vida dos adultos é muito complicada. Mas não querias a história do cavalo? Sim, mas com a menina a viver com os pais. Eles não tinham ido para férias sim? Está bem, Francisca. Era uma vez, então, uma menina que morava numa quinta com os pais. A menina gostava muito de montar a cavalo mas, um dia, o pai comprou um cavalo todo preto - todinho mesmo! - e disse à menina que aquele cavalo não podia ser montado. Se não podia ser montado, para que é que o Pai da menina o comprou, tia? Porque era muito bonito, e ele ia domá-lo. Ah... e depois? Depois, a menina resolveu ir ver o cavalo, desobedeceu... Não tia, não desobedeceu, o Pai só tinha dito que ela não podia montar. Pois, tens razão...
Uma hora depois, o cavalo voava e a Francisca dormia embalada na segurança desarmante da lógica infantil...

domingo, 6 de novembro de 2016

Lá Longe?

Do outro lado do mar, com milhões de litros de água pelo meio, com ventos, tempestades, surpresas e inúmeras possibilidades, estão os Estados Unidos. É a América dos filmes, das pradarias imensas, dos êxitos e da democracia. Cresci, como muitas pessoas da minha geração, a olhar a América como o lugar onde tudo, bom ou mau, podia acontecer. Lá longe. Uma espécie de paraíso inalcançável. Agora, porque o mundo encolheu drasticamente, a América está logo ali e, talvez por isso - egoísmo social? - as eleições que se aproximam dizem respeito ao mundo. Trump passou de anedota a ameaça. Hillary passou de mal menor, a salvação.
Hoje, olho os Estados Unidos com medo, como se eu fosse também americana, porque o que por lá acontecer terá, não tenho dúvidas, repercussões em todo o planeta. Como é possível que Trump possa vir a presidente? Estes americanos estão doidos? Ou será que o mundo inteiro enlouqueceu? É que, desta vez, não é só em Hollywood que se gravam dramas, e nenhum Super Heróis poderá voar para nos devolver a paz...

domingo, 30 de outubro de 2016

PASSEAR

O poeta diz "Viajar, perder países!" Mas eu acho que viajar é, sobretudo, ganhar vidas e emoções.
Adoro passear, sair de casa, esquecer a rotina e recarregar a alma, e a vida, de novos sentidos e diferentes sentires. Cada vez que saio de casa, e faço-o cada vez menos (infelizmente), sinto energia renovada. Gostava de poder deixar-me ir, sem amarras, ao sabor do vento como as folhas vermelhas do Outono. Gostava de poder soltar-me das muitas prisões, das algemas impostas, dos estrangulamentos paradoxalmente necessários. Ah, gostava...

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

SONHOS

Eu tenho um sonho, disse Martin Luther King. E eu tenho muitos! Ele morreu sem ver concretizado o seu, e eu temo morrer sem ver concretizado nenhum dos meus... 
Sonho com uma Escola viva. Uma Escola onde os alunos são pessoas, onde a equidade é efectiva, onde a criatividade, a originalidade e a individualidade não são palavras vãs. Sonho com uma Escola de fazeres e pensares, com salas de aulas de cumplicidades e descobertas, de relacionar e (re)criar. Sonho com uma Escola onde as crianças possam brincar, correr, rir e ser felizes. Um espaço onde os professores não se sintam constantemente ameaçados, ambientes feitos de partilhas e não de ódios. Sonho com uma Escola capaz de ter sentido hoje, de projectar sucessos de amanhã e de construir harmonia sempre.
Como Luther King, creio que vou morrer embrulhada nos destroços de um sonho por cumprir...

terça-feira, 18 de outubro de 2016

DIAS

Não sei se é porque ando, com os meus alunos, a estudar Ricardo Reis; não sei se é este calor que me atinge na inteligência e nas emoções.
 O que sei é que experimento, às vezes, um enorme - e doloroso -sentimento de desadequação ao real. Carpe diem, tento impôr-me. Mas sem sucesso. Algo há em mim que me faz ainda ter sonhos, sofrer desilusões e manter presentes ausências. Algo há em mim, será  a tal consciência social de que me rio?, que me faz doer fundo a indignação e a incompreensão perante alguns acontecimentos. Hoje, é a Escola... 
Eu queria compreender o incompreensível - lá vem Pessoa. Queria saber porque têm todos os professores de entregar à coordenação de área disciplinar as fantásticas grelhas excel onde devem, são as regras, grelhar os alunos mantendo-os em lume brando, ou forte, nos momentos dos decisivos testes de avaliação sumativa. Eu queria ser capaz de compreender, a bem da tranquilidade da minha cabeça, em que medida a entrega das grelhas excel contribui para a eficácia da avaliação e, sobretudo, para a equidade.... Queria ser capaz de não perceber por trás desta atitude a existência de mentes pidescas, de desconfiança e fiscalização abusivas!

Hoje, sinto-me particularmente revoltada. E não me tragam respostas ocas - é norma deves cumprir ; e não me iludam - a avaliação deve ser clara; porque são argumentos vazios de sentido!
Eu gosto muito dos meus alunos, gosto demais da minha profissão, mas não consigo cultivar a indiferença, não consigo  ser estóica e o carpe diem não me conforta!
Queria uma Escola de Pessoas, de profissionais respeitados e de prestígio. Uma Escola preocupada de facto com as aprendizagens e não, apenas, com o culto da imagem...
Para complicar tudo, faltam-me pelo menos dez anos para a reforma!


sábado, 15 de outubro de 2016

A NATUREZA

Estive longe da minha cidade dois dias. Não foi muito tempo, mas foi tempo suficiente para descansar os sentires e acalmar a minha existência. Tive dois dias para não pensar nos desgostos que a Escola onde trabalho me impõe, para não me irritar com os pais das criancinhas que não me deixam chegar a casa quando as vêm trazer ou buscar à escola primária... 
Nestes dois dias, pelo Norte, enchi-me das cores do Outono que eu adoro. As serras, as bermas das estradas, os jardins das cidades, todos os lugares estão pintados de vermelho, amarelos vários e castanhos. Como tela de fundo, o verde brilhante. Olhando o cenário grátis, senti que podia estar numa tela de Monet, ou apenas ser personagem de um poema de Cesário. O Mundo é muito bonito. E, hoje, quando o calor já não incomoda e ainda estou na companhia exclusiva do meu eu, acredito que é possível existir em paz, construindo pequenas experiências de felicidade. Basta olhar a Natureza e ignorar a humanidade...

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Pequenas Coisas

Às vezes esquecemo-nos, quer dizer - eu esqueço-me -, de olhar para as coisas que me ajudam a encontrar sentido na vida. Perco-me nas chatices, desespero, choro, lamento-me e, de tão concentrada no que vai mal, não presto atenção aos que vai bem. E há coisas que vão bem. Há pequenas  e grandes, coisas, que me enchem de alegria e que dão sentido à minha permanência no mundo. Hoje, no meio de algumas lágrimas cinzentas e com o coração a doer, pus-me a analisar portefólios dos meus alunos. A tristeza foi-se. Esbarrei com uma miúda que sonha, pensa, deseja o Bem, vê as dificuldades e define rumos para as ultrapassar. Como professora dela há já seis anos, ousei roubar um pouquinho de glória para mim. Ela ajudou-me a ver que a vida está aí, cheia de desafios, e que temos de a agarrar com energia. A dada altura, refletindo sobre o discurso de Obama no início do ano letivo de 2013, ela dizia que tem a certeza de que todos podemos ser bons nalguma coisa. Obrigada, minha aluna querida pela tua força.

sábado, 8 de outubro de 2016

Outubro

Sempre pinto de castanho perfumado o mês de Outubro. Para mim, cheira a castanhas, a marmelada a secar ao sol na velha varanda, e a Serra, sempre a minha Serra, atapeta-se de folhas douradas. Era assim. Lembro-me de me sentar no parapeito do meu quarto, no sótão, e ficar vendo as folhas a cair, as nuvens a juntarem-se em consílios tenebrosos e o futuro, hoje passado, a surgir seguro. Mas a vida mudou, porque tudo muda - Todo o mundo é composto de mudança (Camões) - e este Outubro surge quente, pintado ainda de verdes cansados e sem marmelos que me permitam o prazer de fazer a marmelada. Levanto-me cedo, sempre gosto de me levantar cedo, e resisto ao triste hábito da piedade própria. 
Não tenho pena de nada, mas tenho saudades de muita coisa. Tenho saudades, ou será a nostalgia pessoana? , de conversar sem mágoa, de ouvir sem reservas, de rir sem receios. Tenho saudades da ilusória certeza do futuro seguro. Faço então um café forte, passo os olhos nas notícias e preparo-me para trabalhar. É sábado, sim. Mas se o Outubro segue quente e verde, também o sábado se não faz já de boas manhãs a sornar...

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

5 de Outubro

Duplo feriado. Nasceu Portugal, assinou-se o Tratado de Zamora e foi Portugal, posteriormente, reconhecido pelo Papa como país. Mais tarde, na mesma data, implantou-se a República. Para mim, faz mais sentido assinalar a primeira efeméride. Embora seja republicana, e apenas porque acredito que cada ser humano deve ser livre de fazer o seu percurso não podendo nascer condenado a ser rei, ou outra coisa qualquer, associo sempre a república ao crime contra D. Carlos e contra o filho. Sou, acho que cada vez mais, pacifista convicta e, por isso, actos que impliquem violência desagradam-me seriamente. Para além disso, não estou convencida, nada mesmo, que a república tenha trazido a resolução dos problemas a Portugal... Bem vistas as coisas, passaram a ser muitos os exploradores, mas o cidadão comum continuou, até hoje, a pagar os excessos de alguns.
Mas a primeira efeméride, talvez por envolver um certo ideal de cavalaria que me encanta, diz-me muito. Penso, ou imagino?, os esforços de um jovem rei a querer ter um país, a querer desfazer laços de obediência que o subjugavam e penso que também eu gostaria de poder, um dia, desfazer-me dos laços que me subjugam, limitam e, por vezes, humilham. Nasceu um país pequenino que cresceu, se fez ao mar, viu nascer poetas e artistas. Um país lindo, com paisagens que sempre me encantam. Um lugar a olhar o infinito, de costas voltadas para a anquilosada Europa e buscando o que está para lá do horizonte. Quero crer, com muita força, que há um povo a querer continuar a sua busca de sentido. Quero crer que, um dia, para fraseando o Poeta vai cumprir-se Portugal!

5 de Outubro

Duplo feriado. Nasceu Portugal, ou foi Portugal reconhecido pelo Papa como país, e implantou-se a República. Para mim, faz mais sentido assinalar a primeira efeméride. Embora seja republicana, e apenas porque acredito que cada ser humano deve ser livre de fazer o seu percurso não podendo nascer condenado a ser rei, ou outra coisa qualquer, associo sempre a república ao crime contra D. Carlos e contra o filho. Sou, acho que cada vez mais, pacifista convicta e, por isso, actos que impliquem violência desagradam-me seriamente. Para além disso, não estou convencida, nada mesmo, que a república tenha trazido a resolução dos problemas a Portugal... Bem vistas as coisas, passaram a ser muitos os exploradores, mas o cidadão comum continuou, até hoje, a pagar os excessos de alguns.
Mas a primeira efeméride, talvez por envolver um certo ideal de cavalaria que me encanta, diz-me muito. Penso, ou imagino?, os esforços de um jovem rei a querer ter um país, a querer desfazer laços de obediência que o subjugavam e penso que também eu gostaria de poder, um dia, desfazer-me dos laços que me subjugam, limitam e, por vezes, humilham. Nasceu um país pequenino que cresceu, se fez ao mar, viu nascer poetas e artistas. Um país lindo, com paisagens que sempre me encantam. Um lugar a olhar o infinito, de costas voltadas para a anquilosada Europa e buscando o que está para lá do horizonte. Quero crer, com muita força, que há um povo a querer continuar a sua busca de sentido. Quero crer que, um dia, para fraseando o Poeta vai cumprir-se Portugal!

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Silêncio

Às vezes, muitas vezes, o silêncio faz sentido. A vida segue o seu rumo, os factos sucedem-se e, na vida das gentes - neste caso na minha - os silêncios vão-se tecendo de revoltas, mágoas e desesperanças. Não está fácil viver. Sobreviver... Sim, claro, a vida é linda, o mundo faz-se de muita cor, de muitas existências relativamente essenciais. Sim, sei tudo isso. 
Mas sei, também, que a desilusão envenena, mata aos poucos o sonho e a vontade de acreditar.
começou mal, muito mal, o meu ano lectivo. Começou com a repetição do passado, com o confronto com a incapacidade de mudar, com o choque com mentalidades acomodadas e, penso eu, obsoletas. A ESCOLA tem de mudar! Porquê? - dizem-me alguns sem olhos doces. Porque o mundo mudou! Porque o conhecimento já não está só ao alcance de alguns, porque a televisão tem 500 canais ou mais, porque os telemóveis permitem googlar informação em minutos, porque a internet existe, porque há desemprego, porque a famíla se alterou, etc. 
Só que a Escola insiste em não mudar. Insiste em instalar os meninos no autocarro da carreira, todos sentadinhos dois a dois atrás  uns dos outros, esperando que aguentem horas sobre horas ouvindo falar de coisas que pouco lhes interessam e, pior, de formas nem sempre interessantes. Para que o panorama se enegreça mais ainda, avaliam-se os meninos em grelhas - EXCEL (ah! modernidade...) - em somas e percentagens. Melhor (ou pior?) dividem-se percentagens por períodos e somam-se valores dizendo - hélas! - tratar-se de avaliação contínua... 
Apetece-me fugir. Desaparecer de mansinho. Porque não consigo ficar indiferente, simplesmente cruzar os braços, perante o que, não tenho dúvidas, é o prejudicar dos jovens que fazem o meu país. 
Pensei optar pelo silêncio. Calar-me. Nunca mais deixar vazar a minha tristeza desconfortada. Mas, às vezes, o silêncio, ainda que fazendo sentido, sufoca...

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Re-Começo

Está a chegar, depressa demais, um novo ano lectivo. Há anos, este era o tempo de ir à rua do Comércio, à papelaria do Senhor João, e de escolher o material escolar com as minhas filhas. Vinham os livros a cheirar a novo, as borrachas perfumadas, os cadernos coloridos e as mochilas para carregar. Compravamos sempre papel para forrar os livros, etiquetas e as obrigatórias canetas de feltro que, dois dias depois, tinham as tampas trocadas. Mas esse tempo passou. 
Hoje, sem crianças já, o meu retorno à escola faz-se de esperança desiludida. Sim, eu sei que é um paradoxo, mas é isso mesmo que eu sinto: - Esperança de que, finalmente, a mudança aconteça; desilusão por temer que o sistema (seja lá isso o que for) prefira manter tudo igual... Para mim, que não sou socialista, as propostas que o actual Ministério da Educação está a fazer às Escolas são as necessárias. As políticas educativas fazem sentido. (Lamento...)
À Escola, aos professores, estão a ser dadas as condições necessárias para fazerem o sucesso acontecer! Há exemplos de sucessos conseguidos (Projecto Ancoragem; Fénix; Ninho; Grupos de homogeneidade relativa; etc) e só não acontecerá a mudança se, realmente, os professores não quiserem. 
Este é o tempo dos Professores! Agora, já não há como dizer que "eles" nos obrigam a fazer assim, ou assado...
Acredito, seriamente, que a sala de aula pode ser um lugar de construção de saber, de descoberta e experimentação, de individualização e humanidade. 
Eu costumo dizer que, se me saisse o Euromilhões, faria uma Escola a meu jeito. Agora, já não preciso do Euromilhões, basta-me a cumplicidade efectiva dos meus colegas professores!
Este ano, eu queria muito recomeçar com salas diferentes, práticas inovadoras e vontade de colaborar. Eu sei... são sonhos. Mas como encarar mais um ano de trabalho sem uma dose de sonho?

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Itália

O horror do terramoto não sai do meu olhar. De repente, cidades ficam destruídas, familias desfeitas, vidas tornam-se cadáveres. Incrível a força da Natureza, como que a protestar, como que a querer dizer que há Algo mais poderoso do que a vontade e a maldade humanas. 
São muitos os fenómenos naturais que me assustam mas, e admito a minha fraqueza e talvez hipocrisia social, faz-me mais impressão quando o horror acontece aqui ao lado. Ali mesmo, na Itália que eu adoro, no cenário dos meus livros preferidos, no palco das histórias sonhadas que nunca chego a escrever. 
Oiço na minha ignorância atenta as explicações científicas - pode ter explicação? - sei que há placas que se movimentam, que se ajustam - ou não - que podem provocar estes sismos violentos. E tenho medo! Medo para além do razoável. Medo feito partilha de dor daqueles que, nos escombros, procuram um ente querido...
Também eu, às vezes, procuro vida nos escombros dos terramotos da minha vida e, agora, parece-me que a busca é absolutamente desnecessária. E injustificada também.
Eu sou Charlie. Mas, hoje, eu sou Itália!

sábado, 13 de agosto de 2016

A LOTA

Há muito tempo já que não ia à lota. Lembrava-se de, miúda, ir à lota em Quarteira, sempre madrugadora acompanhava o Pai, e achava bem mais triste do que acompanhar a avó ao cemitério porque, pensava no silêncio de menina, no cemitério os mortos estavam sossegadinhos, tinham muitas flores e jarras bonitas e, ali, os mortos-peixes sangravam, tinham olhos a saltar das orbitas e pareciam tristes por não poderem nadar. Um dia, contara ao Pai da impressão daqueles peixes tristes e ele explicara que os peixes não estavam tristes, porque não tinham memória e não sabiam o que era  a dor. Ficara às voltas com a ideia de não ter memória, mas não ousara fazer mais perguntas... Adulta, desejara muitas vezes não saber o que era a dor.

Agora voltava à lota, sozinha. Durante anos esquivara-se à compra do peixe, agora, livremente, decidira vir à lota. Decidira, também, abrir a velha casa de onde via o mar forte, o mar do Norte. A Casa. E lá vinha Saramago, a Casa que visitara em Tenerife, então a dois. E o pregado a mostrar os olhos vermelhos - pode ver, freguesa, a frescura vê-se aqui, no vermelho do olhos - e ela fugia com o olhar ao gel do olhar vazio do pregado anunciado. Sim, pode levar à confiança, este foi pescado agorinha mesmo. E era um polvo mole, e era António Vieira a ecoar com as repreensões, e o aspecto amorfo a desinteressá-la - que ideia a sua, a de ir à lota! Mas queria um peixe fresco, bom para fazer ao sal, fácil e saboroso para dar início ao que desejava ser uma nova fase de vida. Respirou fundo - que pivete deita o peixe moribundo! - e lá se aventurou num robalo grande - por favor amanhe-mo! - que com certeza ficaria bonito na mesa. Com alívio deixou a lota, comprou fruta, uvas e melão, flores do campo, canelinhas - deliciosas! - e foi para casa. Colocou no frio o Alvarinho - bem gelado seria um acompanhamento perfeito - faria, de tarde, um gelado de lima e coco. Agora,  praia. Embrulhou-se no casaco que ele esquecera - cheirava ainda a muitos passados - e sentou-se na esplanada invejando a coragem dos surfistas. 
O dia correu com a velocidade da expectativa e, ao anoitecer, abriu a janela para deixar que o ar do mar intenso enchesse a sala. Gostou da mesa, da toalha branca, dos copos altos e das flores coloridas. Quando ouviu o carro, descalça, abriu a porta e sorriu. Às vezes, é bom sorrir.

domingo, 31 de julho de 2016

EXEMPLOS

Na missa de hoje, um casal assinalava 50 anos de casamento. 100, dizia o senhor padre, porque cada um viveu 50 com o outro. Mas não foram as contas que me impressionaram. Não foram, sequer, os 50 anos, que também os meus pais felizmente assinalaram. 
O que me tocou, nos sentires e pensares, foi ouvir o senhor Benvindo (que não conheço) dizer, em voz tremida mas sincera, que nem tudo foi fácil. Que houve muitos espinhos, desentendimentos e dificuldades. Mas que, o segredo - que não é segredo - é sempre ser capaz de perdoar, de ouvir e não julgar. Porque, dizia ele, amar é assim - aceitar mesmo sem compreender e estar presente, sempre, para partilhar e ajudar.
Mais do que as leituras ou a homilia, foi o depoimento breve e intenso do senhor Benvindo que marcou o meu domingo. Tenho um pouquinho de inveja, inveja boa, dos casais que conseguem construir cumplicidades efectivas, que conseguem tempo para ouvir, perdoar e compreender. Talvez, no fim da minha vida, a maior mágoa que leve seja mesmo esta - a impossibilidade de ter tecido teias de afectos reais com alguém especial. 
Enfim, é domingo! Vou fazer uma boa salada de tomate, regá-la com orégãos, abrir um bom vinho branco gelado e gastar o tempo com o meu cão e um bom livro.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Vargas Llosa

Acho que era um livro do Vargas Llosa - não, ainda não tinha casado com a Isabel Presley - e eu andava a lê-lo com entusiasmo. Às vezes, comentava contigo passagens - sim, nunca gostaste muito de ler - e manifestava o meu desagrado face a alguma violência verbal. Há quem goste de palavrões - fazem parte da vida, não é? - mas a mim ainda incomodavam. E incomodam. Mas acho mesmo que era um livro do Vargas Llosa. E falava de máfias, de amores clandestinos - os amores não são sempre clandestinos? -  da América a saber a índios. No meio das páginas, mesmo quando a personagem principal - sim, as personagens são todas principais -, ia ser esfaqueada pelos mafiosos, saltou o bilhete. 
Era um bilhete gasto, escrito à mão em letra descuidada, e apenas uma palavra se lia com clareza - deve ser uma das tuas listas de compras -. Não era. A palvra única, legível, era amanhã. E riste-te. Há sempre um amanhã! 
Infelizmente, agora não me rio. Sabes, nem sempre há amanhã. Por vezes, só sobram ontens...

quinta-feira, 7 de julho de 2016

ENCERRADO
FÉRIAS DA VIDA

sábado, 2 de julho de 2016

O Portão Verde

O portão verde, da velha casa amarela, está sempre fechado. O portão verde abria-se de par em par e dava entrada a familiares, amigos, aos filhos e aos donos da casa. No início, era um portão estreito que se impunha, violentamente, riscando os automóveis desconhecidos. Depois, o dono da casa mandou alargar a passagem, ele tinha também um coração largo, e o portão tornou-se, ainda que por imposição, mais receptivo. 
Do portão verde vê-se a velha casa amarela. Na velha casa aconteceram partos, mortes, amores, discussões, festas e desentendimentos.  
A vida revelava-se, a cada dia, nas manifestações de momentos que as muitas memórias haviam de eternizar. A velha casa enchia-se de risos de crianças, as hortênsias guardavam segredos, e os velhos muros não contavam nunca as ousadias que presenciavam. Na velha casa, os passos faziam estalar as madeiras, as vidraças enchiam-se de mosquinhas minúsculas quando o Verão chegava e, às vezes, uma ou outra osga abusadora instalava-se na parede da sala. Na velha casa amarela, tinha havido sonhos infantis, lágrimas muitas e ternuras sem limite.
Agora, o portão verde está sempre fechado. A velha casa está vazia e as madeiras, quando gemem, é de dor pela ausência imposta. No quintal, as ervas assustam as hortênsias, as rosas cruzam-se com cobras e a relva faz inveja às árvores. 
Quem fechou a velha casa chora inda. E a vida impõe silêncio garantindo que são apenas paredes... Paredes. Mas paredes com vida, com presenças que, tendo partido, ficarão para sempre. 
Se eu pudesse, eu havia de abrir de novo, de par em par, o grande portão verde!

quarta-feira, 29 de junho de 2016

OFERTAS

Aprendo muito com os outros. Aliás, eu gosto de estar com outras pessoas, bem diferentes de mim às vezes, e de aprender com elas. Aprendo o bom, para seguir; e aprendo o mal, para o evitar.
Hoje, aprendi uma grande lição com a minha filha. Dizia ela, rindo, que ontem foi jantar fora com o marido, só os dois, com imagem cuidada e num restaurante com estrela Michelin. Até aqui, nada de novo. O que me tocou mesmo, foi ela responder, rindo, à questão- Porquê?. Porque, disse, estamos vivos e apaixonados!
Aprendi como é importante valorizar cada dia, cada sentir dos bons, mesmo que o calendário não assinale data nenhuma. Ou, se calhar, porque o calendário todos os dias nos oferece um dia novo e nós, ocupados com esperas inúteis, nem damos por isso...

segunda-feira, 27 de junho de 2016

FÉRIAS

Chegou o Tempo de férias. Agora, as conversas circulam em torno dos destinos de descanso, as redes sociais enchem-se de propostas aliciantes e os sonhos acabam, invariavelmente, à beira mar. Eu entro na onda. O que desejo, mesmo, são férias. 
Férias de pensar, férias de cumprir, férias de pensar mas, sobretudo, férias de existir...
Alguém sabe como meter férias de vida?

sexta-feira, 24 de junho de 2016

BREXIT

E agora? Olho com espanto, medo e desgosto, a decisão dos ingleses. A diferença é mínima, sem dúvida o Reino Unido está desunido, mas em democracia contam os números e, por isso, a decisão está tomada. O que se segue? A perseguição aos estrangeiros? O aumento de impostos ? 
Tenho medo... Muitos portugueses, muitos estrangeiros, fizeram do Reino Unido a sua casa, vivem num país que consideram seu e contribuem, séria e honestamente, para a economia de um povo que integram. O que vão fazer agora? Partir? Deixar para trás um projeto de vida?
Os apoiantes da saída da UE garantem que querem de volta o Império Britânico (isso existe?), a história não anda para trás, o passado é irrecuperável! Oiço discursos de ódio e xenofobia que envergonham a própria democracia que os deixou escolher.  Pela primeira vez, curiosamente, extrema esquerda e extrema direita estão de acordo... 
Olho o hoje com tristeza, o amanhã com muita angústia!  Não sei se será o principio do fim da União Europeia mas é, sem dúvida, o início de uma nova era.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

United Kingdom

Tenho uma imensa admiração pelo UK. Talvez seja uma questão hereditária, a minha família materna veio de lá, talvez seja por gostar muito da língua, talvez seja por ser uma convicta ouvinte dos Beatles, talvez seja porque a Sandie Shaw a cantar "like a puppet on a string" alegra as minhas memórias de infância, talvez seja porque os meus netos nasceram lá... 
Seja lá por que razão for, eu gosto muito de Inglaterra e dos ingleses. Gosto, até, de algumas caracteristícas que, frequentemente, lhes são negativamente atribuidas, como a de serem snobs. 
Como diz alguém, já fui muito feliz, muitas vezes, em terras de Sua Majestade. Aliás, acho mesmo que se me perguntassem, num daqueles muitos inquéritos de rua, qual seria o meu país preferido, imediatamente elegeria Inglaterra e, na onda, a mágica cidade de Londres!
E é (para além de muitas outras razões)  por gostar tanto de Inglaterra, que não tenho como classificar o assassinato de Jo Cox. Obviamente, há malucos e criminosos em todo o mundo, mas , ainda assim, este crime inqualificável dói-me muito fundo. 
E dói-me porque decorre de uma postura colectiva, de uma recusa a uma Europa que, para mim, não pode voltar atrás. Penso que os ingleses deviam defender (eu defendo...) menos e melhor Europa, mas não a ausência da mesma. O projecto europeu, lembro, nasceu de ma junção de esperanças e vontade de união e humanização. 
Dir-me-ão que tinha, então, acontecido a terrível II Guerra Mundial. Pois, é verdade. Mas não vivemos agora um novo desafio? Um novo risco e ameaça? Não é este o Tempo do MEDO renascido? Não compreendo porque razão  os ingleses pensam na hipótese de abandonar a Europa, sabendo nós que eles intervieram de forma decisiva na resolução do conflito da II Grande Guerra!
Até 5ªfeira vou sofrer. E eu creio que todos vamos sofrer... Porque a União Europeia tem de ser muito mais Humana do que económica. 
Se eu pudesse, faria campanha a favor da continuidade do UK na Europa que quero mais verdadeira e justa !

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Três da Manhã

Acordou a saborear o escuro. Lá fora, baixinho, o vento insistia na melodia soprada. Lá dentro, em casa, o silêncio imperava e a luz verde do despertador anunciava as três horas. Horas de dormir, pensou. Sim, porque há horas para tudo. Como há exigências, modelos, comportamentos, indumentárias... Porque a vida se tornou, ou deixaram que se tornasse, num receituário infindável. 
Às três da manhã, dorme-se, gritava mudo o despertador. Ela ligou a luz, abriu o livro e entrou no ataque dos mouros a Leiria. D. Afonso Henriques andava por Guimarães e, violentamente, os cristãos eram dizimados. Sorriu à bela Chamoa, fugindo aterrada, e mostrou o seu desprezo a Raimunda, movida essa pelo ódio e desejo de vingança. Então não haveria insónias? Fechou o livro e tentou o sono. Não vinha... E ficou, ali, questionando a existência,  
Por que insistia o mundo, pessoalizado sempre, em exigir o que não podia cumprir? Por que razão era tão difícil aceitar, respeitar, sem julgar nem condenar? Olhava o escuro e desejava compreender... Sim, estava a envelhecer. E não, envelhecer não era nada de bom... Estava cansada de adiamentos, de imposições e impossíveis, de julgamentos e críticas. Queria que as rugas da pele não se reflectissem na alma. Queria que a Morte não se aproximasse. Queria, enfim, dormir em paz. 
Porque, às três da manhã, são horas de dormir...

quinta-feira, 16 de junho de 2016

DESEJOS

Os alunos estão a fazer exames, os professores vigiam, corrigem, reunem, escolhem novos manuais, trabalham enganando o Tempo que, voraz, corre sempre. 
Este é o Tempo das urgências, das necessidades de tudo fazer em simultâneo, de dar respostas a perguntas catapultadas violentamente para o palco da nossa existência. Ao mesmo tempo, apetecem férias, leituras tranquilizadoras, vivências mais centradas no eu do que no tem de ser. 
É o tempo, também, da interioridade, acho eu...
E dou comigo a pensar em coisas simplesmente complexas, num paradoxo às vezes cruel. Apetecia-me ter a chave de todos os possíveis. Apetecia-me poder mandar para férias a minha dor social e ser, apenas, um automato que cumpre imposições. Queria ser capaz de simplesmente cumprir as parangonas gritadas nas redes sociais, coisas como: "Ama quem te aceita como és, nunca quem quer que sejas como te imaginam". (Se fosse possível...)
Queria, acho eu, poder deixar ir já de férias os meus sentires e ficar, apenas, com os meus pensares lógicos, rigorosos e estupidamente objectivos....

quarta-feira, 8 de junho de 2016

POETANDO?

O que  tenho em mim é um íssimo, íssimo,íssimo cansaço. Só que, para meu azar, em vez de dar um poema fantástico, dá uma angústia e uma neura que me tiram o sono! Ah, quem me dera poder ir na vida como um automóvel último modelo, acenando aos pastores que, à beira da estrada, sabem que o vento só passa e não fala...Como eu gostava de ter interiorizado que o mundo não se fez para se pensar nele, mas se estar de acordo com ele!
Por que não interiorizei essa verdade, não gosto que me peguem no braço. Deixem-me ir para o diabo sozinha, ou vão para o diabo sem mim, mas já disse que não me peguem no braço. Eu não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí...
Hoje, foram os meus poetas a roubar-me o sono!

sábado, 4 de junho de 2016

REVELAÇÃO

Uma das vantagens das redes sociais, e eu penso que há muitas e diversas, é a liberdade de expressão e a possibilidade de partilha de opiniões e realidades. Tenho aprendido muito, mas muito mesmo, lendo postagens em diferentes blogues, mesmo naqueles que são assinados por pessoas que pensam de forma bem diferente da minha. Sempre defendi, e continuo a defender, que é a pluralidade de opiniões que dá sentido à democracia, e cor à vida. Como seria aborrecido se todos estivéssemos sempre de acordo! 
Claro que eu sei, e já vivi essa experiência, que há quem use as redes sociais para, ao abrigo do anonimato, insultar e ofender. Pessoas que o fazem não me merecem, em princípio, nenhum respeito ou consideração e, por isso, leio o insulto e elimino-o, não perdendo nem um minuto com tal baixaria.
Mas, hoje, confrontei-me com um insulto diferente. Um/a colega insultava-me anonimamente. E o que me chateou não foi o insulto, já ouvi muito pior...O que me incomodou foi saber que vem de alguém que, em princípio, eu considero e conheço. O que foi escrito mostra que, afinal, e ao contrário do que eu sempre pensei, há professores que não são pessoas de bem. Que são hipócritas e medrosos, que não ousam dizer o que pensam. E fiquei triste. Não pelo insulto, (como o meu pai sempre dizia "O que vem de  baixo não me atinge"), mas pela obrigatoriedade de reconhecer que, afinal, nem todos os professores são os profissionais que eu pensava serem...
E aí está mais uma potencialidade das redes sociais: - Abrem-nos os olhos para o que nos rodeia!
E agora, feliz e aliviada, vou ler um bom livro e dar um passeio!

quinta-feira, 2 de junho de 2016

XANAX - Por Favor

Hoje, não consigo dormir. Não bebi café à noite, não andei a festejar o Dia da Criança, não jantei comida pesada, não fui sequer dançar e, ainda assim, não consigo dormir... Já experimentei a velha receita do leite quente, e nada; tentei contar carneirinhos, mas eles desataram a vir muitos ao mesmo tempo,  fiquei confusa e... sem sono; tentei, também, o jogo que fazia quando as minhas filhas eram pequeninas, ver televisão para dentro, o que significava fazer desfilar memórias boas, mas o sono não chegou; tentei, por fim, ler um bocado, mas comecei a ficar sem posição, detesto ler na cama muito tempo, e o sono não veio. Resolvi por isso sair da cama, mandar o dormir às urtigas, onde possivelmente está o sono, e vim trabalhar um pouco. Estive a rever os perfis de desempenho, a repensar critérios de avaliação e, agora, o sono fugiu de vez!
Eu acredito, mas de verdade, que devo trabalhar com os meus alunos para que eles sejam capazes, em determinados momentos /fases das suas vidas, de realizar algumas/muitas coisas. Por exemplo, eu acredito que um aluno de 7º ano, com 12-13 anos, tem de ser capaz de compreender um texto de 300 palavras, tem de ser capaz de elaborar um discurso lógico, tem de ser capaz de ler um Conto Literário e de o compreender, tem de saber conviver em sociedade, tem de reconhecer autoridade e de cumprir regras, tem de expressar opiniões e, quando necessário, reformulá-las. Ora, para eu verificar isto tudo, basta-me que, ao longo do ano, o aluno vá escrevendo, lendo, progredindo. Porque é que, depois, tenho de dizer que os testes valem X ou Y?
E acabo de descobrir por que não consigo dormir! Como é que eu posso  dormir se me dizem que a cidadania, o respeito pela convivência social, o desenvolvimento da competência social, vale (ou pesa) 10%! Quer dizer que ser-se uma pessoa correcta, respeitadora, solidária, trabalhadora, cumpridora, leal, justa, democrática, só conta 10%?? Ai ai... agora é que eu não vou mesmo dormir! E, como para grandes males grandes remédios, acho que vou substituir o leite morno por dois XANAX!!

terça-feira, 31 de maio de 2016

O Senhor Andrade

Foi pela mão deste Amigo que entrei no CDS. Era um Amigo muito especial, rigoroso no carinho que esbanjava, com um sentido de humor único, sempre disponível para ajudar, aconselhar, ralhar se preciso... Um dia, num congresso do CDS, ainda era Presidente o Dr. Manuel Monteiro, levei-o a comer pizzas. Foi uma aventura! Vem um homem de tão longe para comer massa com pasta, dizia, rindo. Outra vez, no carro dele e comigo ao volante, lá fomos os dois a caminho de Leiria. Chovia torrencialmente, trovejava e, no regresso, eu voava baixinho. Ele, aparentemente muito calmo, perguntou-me a dada altura : Vamos assim depressa para, morrendo, entrarmos logo no céu, não é?" Claro que abrandei logo a velocidade...
Depois, os dois fomos ameaçados de expulsão do nosso Partido porque ousamos discordar da liderança. Eu achava divertido ser expulsa. Ele, revoltado, garantia que devíamos pedir a demissão porque nunca ninguém o expulsaria de nenhum lugar. Enviamos os cartões e ficámos, os dois, lamentando estar longe da possibilidade de intervenção. O CDS era, sempre, tema de conversa entre nós e os ideais que nos uniam fizeram-nos cúmplices de muitas vivências.
Hoje, o meu Amigo senhor Andrade entrou, de certeza, no céu. Eu sei que ele se está a rir das minhas memórias e oiço-o dizer, a rir como só ele sabia, que ainda se lembra da sopa de peixe comida na Sertã!
Tenho já muitas saudades do senhor Andrade! E quero que toda a gente saiba que ele era um Homem Excepcional. Um homem que ficava com os olhos brilhantes quando falava de Angola, de Moçâmedes e das caçadas. Era um homem justo, verdadeiro e nobre. O senhor Andrade, que tanto adorava Santo António das Areias, vai continuar vivo na minha memória, no meu gostar muito, nos meus sentires. Obrigada, meu Amigo pelo tempo que passou comigo!

Ele há coisas

Vivemos num mundo estranho. Bom, talvez o mundo seja, apenas, um lugar estranho, independentemente de quem o habite. Estranho na forma de existir, de ser, de morrer até... 
Vivemos a necessitar de outros  e, paradoxalmente, a sofrer por outros, deixando, por vezes, que cada eu se aniquile, se dilua. Se decidimos gostar de nós, preocuparmo-nos com a nossa paz e tranquilidade, logo nos apelidam de egoístas. 
No entanto, acho eu (que gosto muito de achar...) é fundamental que estejamos bem connosco mesmos para podermos aceitar o outro, ou os outros. E fundamental é também, continuo eu a achar, preservarmo-nos das pessoas que nos fazem mal. Porque, nesta confusão que é o ser humano, nesta complexidade tecida de paradoxos, às vezes acontece gostarmos de quem nos fere! Ele há coisas...

sábado, 28 de maio de 2016

BRAGA

Braga é uma cidade curiosa. Um espaço requalificado, cheio de animação, de gente jovem e de muitos monumentos a provar uma história longa e rica. Gosto muito de ir a Braga, de passear nas ruas floridas, de me sentar nas muitas esplanadas que enchem as ruas de pedra. Este fim-de-semana, uma vez mais, andei pela cidade do Minho e, por sorte, mergulhei numa muito rica feira romana. Se as bruxas e as gárgulas assustaram a minha neta Constança, a mim houve uma situação que me apavorou e que, ainda por cima, não se relaciona apenas com reconstruções históricas.
Devo confessar que a minha fé não é tão forte como eu desejaria. No entanto, sempre que vejo uma igreja, gosto de entrar, de me sentar um pouco e de rezar à minha moda, num diálogo talvez excessivamente informal com o Cristo Homem. Ora, passando à porta da Sé de Braga decidi cumprir o meu ritual. Dei a mão à Constança e disse-lhe que íamos entrar um bocadinho na casa do Jesus. Íamos, mas não fomos. Porque, à porta, pediram-me três euros e meio para entrar. Em vão expliquei que não queria fazer uma visita, tão só rezar um pouco com a minha neta. De nada serviram os meus argumentos de católica, ou mesmo de cidadã. Na Sé de Braga só se entra pagando! Fiquei tão indignada, que nem perguntei se para assistir à missa também se tem de pagar.
Jesus Cristo expulsou os vendilhões do Templo, mas não foi suficientemente eficaz! Ou, se calhar, os vendilhões de agora já nem reconhecem um Templo...

terça-feira, 24 de maio de 2016

AS HISTÓRIAS

Levamos, todos, a vida a tecer narrativas. Contamos histórias sobre pequenos factos do quotidiano, fazemos narrativas mais ou menos empolgadas sobre o que enche o nosso tempo e, até sem darmos por isso, construimos personagens pluralmente significativas. Contamos histórias até a nós próprimos, cada vez que, por exemplo, recuperamos uma memória!
No fundo, vivemos desempenhando papéis, desfiando cenários, construindo enredos... Mas, ainda que, às vezes, eu tenha efectiva consciência deste vício narrativo, ainda há histórias que me impressionam.
Impressiona-me, por exemplo, a ligeireza com que, frequentemente, oiço narrativas absurdas para justificar falhas e erros. O gosto de manter o absurdo, em vez da humildade de o corrigir, dá origem a fantásticas histórias que, não sendo de faz de conta, tornam o dito até real...
Coisas que, às vezes, me acontecem. Só a mim, com certeza...

segunda-feira, 23 de maio de 2016

DIA DO CONCELHO

23 de Maio é o dia da cidade. Portalegre veste-se de amarelo e negro, o jardim enche-se de gente e a festa acontece. Este ano, acho eu, a festa tem cumprido os objectivos: - As pessoas saem à rua, há música, há gente bem disposta e o São Pedro nem sequer mandou chuvinha. Claro que discordo da instalação dos carrosséis mesmo em frente da Escola Secundária, mas paciência, o óptimo é inimigo do bom.
Estas festas do concelho implicam, sempre, entrega de medalhas da cidade, homenagens e elogios. E eu acho muito bem! Cada vez mais, acho fundamental que se usem palavras BOAS, que se elogie, em vez de criticar, que se apoie, em vez de se condenar. Os homenageados merecem, todos, os louvores recebidos!
Fui ver as festas e senti-me bem. Não são, com certeza, as Festas de Viseu ou o São João do Porto, mas são festas à nossa medida, com as nossas gentes e as nossas possibilidades. Especial mesmo, e impossível ignorar, foi o momento de Dança Com a Cidade. Se a Escola Silvina Candeias está de parabéns (e está!) pela iniciativa, os corajosos convidados merecem um enorme aplauso. Sem complexos, indiferentes ao rigor dos  passos de dança, despretensiosamente, encheram de alegria o palco da corredoura e deliciaram quem os foi ver. Há muita gente que gosta de dizer mal dos portalegrenses mas, este ano, os lagóias (e os que a cidade adoptou não sendo lagóias) mostraram que são Gente BOA !!

quarta-feira, 18 de maio de 2016

PODER(ES)

A língua portuguesa, cada vez mais a minha verdadeira Pátria, tem mistérios e/ou coincidências que, creio eu, não o são de facto. As palavras poder e podre, por exemplo, escrevem-se com exactamente as mesmas letras.
De facto, a leve metátese numa, define o essencial da outra. E o poder, sobretudo o pequenino poder, traz à nossa existência muitas chatices e inconvenientes. Os pequeninos poderosos, aqueles que nem sequer tiveram de se submeter a um sufrágio, julgam crescer na exacta medida da afirmação do seu poderzinho e, vai daí, destratam e incomodam arbitrariamente.
E eu detesto as ocasiões em que o podre vira poder. Ou será ao contrário?

terça-feira, 17 de maio de 2016

SUCESSO ESCOLAR

Nos últimos dias, ou nos últimos (longos) tempos..., tenho lido, pensado, ouvido, trabalhado muito sobre o sucesso escolar. Talvez, admito, devesse tê-lo feito há já muito tempo, afinal sou professora há 32 anos, mas andava preocupada em ensinar português, em falar de literatura, em ajudar a aprender gramática e a construir pessoas.  Para mim, o sucesso era dar poucas negativas e, confesso, ver os meus miúdos felizes. Agora, o assunto parece-me bem mais complicado!
Afinal, há muitos "sucessos educativos"! Há o que se mede com os exames, o que se retira das pautas, o que se lê na integração no mundo do trabalho, o que decorre da avalição externa das escolas, o que depende da satisfação de cada professor. No fundo, o "sucesso educativo", uma realidade plural, não depende, apenas, de uma só vertente.
Vivemos, sem dúvida, numa sociedade-espectáculo, em que a comunicação é mediada e dominada pelos media, pelas notícias-choque, na qual é fácil manipular números e evidenciar sucessos e dificuldades, mais do que conhecer e compreender esses sucessos e essas dificuldades, o que me parece ser uma condição essencial para os celebrar ou enfrentar.
Não tenho, hoje, qualquer dúvida em afirmar que o sucesso escolar se constrói essencialmente na sala de aula. Que o sucesso é influenciado, claramente, pela prática do professor. 
Eu queria muito que a escola fosse, de verdade, para cada uma das pessoas singulares que mora em cada aluno. E, o que me agrada e assusta (paradoxo preocupante), creio que é possível concretizar este desejo!

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Vencer a guerra

O gosto pela leitura, a promoção do prazer de ler, a educação para a leitura são, entre outros , objectivos a promover pelos professores de português. Eu, que sou assumidamente leitora compulsiva, até leio os rótulos e as bulas dos medicamentos, levo muito a sério estes objectivos. De facto, levo-os bem mais a sério do que o ensino explícito da gramática que acho uma grande sensaboria...
Ora, tentando perseguir o meu objectivo, e aproveitando o facto de, na escola onde trabalho, estar a decorrer uma Feira do Livro, resolvi levar uma turma de 10º ano a "mexer em livros". Achava eu, (ah!ingenuidade), que os alunos iam achar curiosos alguns títulos e, ainda que os não comprassem nem lessem, haveriam de gostar que lhes falasse deles.
Pois. Achava... Mas o que encontrei foi mesmo gente a olhar para o ar, a sentar-se à porta e a dizer piadas sem graça nenhuma. Julgarão que vou desistir?? Nem pensar! Vou passar a , todas as semanas, ler na aula. LER só por ler, sem análise, sem interpretação, sem explicação! Esta guerra eu vou vencer. Até porque, sinceramente, estou muito farta de ser derrotada...

terça-feira, 10 de maio de 2016

IRS

Comecei hoje, depois de alguns dias adiando, a tentar preencher o meu IRS. Liguei o computador, abri a página das finanças, o que sempre faço com o coração em sobressalto, e decidi iniciar a aventura. Tinham-me dito que era muito fácil, que bastava saber ler, que já estava quase tudo preenchido. Mas, como também me dizem que faz sentido pagar uma brutalidade de imposto, que a vida vai melhorar e que o estado é justo, iniciei o IRS com muita angústia e desconfiança. 
Afinal, não é tão fácil como parece. Afinal, não basta saber ler. Afinal, há uma série de quadradinhos, tabelas, indicadores, solicitações, complicações que exigem (no mínimo) que se tenha tempo e paciência... 
Vou tentar concluir esta tarefa imposta, árdua e dolorosa, mas, para já, IRS passa a ser, para mim, Indecente Roubo Sem Sentido!

domingo, 8 de maio de 2016

DOMINGO

Chove muito, e eu gosto da chuva. Acendo a lareira, gozo o cheiro do fogo a sugerir-me lar, e fico trabalhando. Há sempre aulas para preparar, trabalhos para corrigir, portefólios para orientar e, sobretudo, há tempo para me reolhar. Retomo Vergílio Ferreira, perco-me na teia libertadora da escrita e vejo nascer, saltando das teclas do teclado do meu computador, uma multidão de personagens pedindo para serem gente. Salta a infância, pedindo uma formatação original, exigindo que fuja ao salto ao eixo e aos jogos de consola; pula a juventude, impondo a urgência de novidade (ainda que a mesma se faça de repetições de eternos modelos), e surge a idade adulta (a adultês), lembrando a necessidade de encontrar sentidos e lógicas. Ignoro as personagens incómodas, nem deixo que a velhice exija atenção, e tranco as emoções na gaveta mais funda das aparências exigentes do quotidiano. Então, desligo o pc e abro o caderno onde, a gosto, traço o esqueleto das aulas de amanhã. É bom, apesar de tudo, haver amanhãs. É sempre uma forma de iludir o hoje.

sábado, 7 de maio de 2016

31 ANOS

A minha filha pequena, a que será sempre a guardadora das minhas últimas memórias de mãe de filhos pequenos, faz hoje 31 anos. Olho o tempo, tentando resistir às banalidades sobre a rapidez e voracidade do mesmo, e penso que o calendário exige mudança de atitude. Com filhas adultas, netos saudáveis e profissão de que gosto, está chegada a hora (e já vem tarde) de olhar para as oportunidades de ser-eu.
Bom, não me vejo a viver ignorando os laços, nem sequer me imagino a cantar de felicidade por estar sozinha, mas, quero acreditar, chegou a hora de dizer à vida que basta de me chatear, de colocar no meu caminho calhaus impossíveis de remover. Agora, o tempo é de desfiar memórias, de limpar do caruncho tempos em que fui feliz, de não ter receio de ser assim, diferente e estranha.
Olho a fotografia da minha menina, então só com dois meses, e não tenho desejo de recuperar o cabelo sem tinta, o corpo magro, a pele sem rugas. Desejo mesmo, tenho da ternura, do mimo, das histórias contadas tecendo magia...

sexta-feira, 6 de maio de 2016

FLORES

Na minha varanda há umas flores selvagens, cor de rosa forte, que fecham de  noite e, de dia, abrem-se totalmente para a vida. Invejo-lhes o poder... Quem me dera poder, também, fechar-me à escuridão.

IRRITAÇÃO

Olho à minha volta e apetece-me desaparecer. Claro que sei, e defendo, que há opiniões diversas, que não carrego a verdade no bolso, que ouvir e compreender argumentos distintos dos meus me faz até bem. No entanto, há situações que, por mais que tente fazer render a minha capcidade de aceitação, não consigo já tolerar. 
Ultimamente, parece que só mesmo para me chatear e mostrar que uma desgraça nunca vem só, a acrescentar aos meus desânimos (mágoas) familiares, vêm, diariamente, absurdos profissionais. Tenho vivido situações que, se não acontecessem na primeira pessoa, muito me haviam de divertir... Tenho colegas indignados, revoltados, protestando mesmo junto da direcção da escola, por serem convocados para uma apresentação de manuais. Lembre-se que, só por acaso, é necessário escolher manuais para o 11º ano...  Querendo compreender razões, disseram-me que deveria ter feito só um convite. Afinal, concluí, a questão não era pedagógica mas democrática...
Mal refeita da minha indignada surpresa,  esbarrei com o desinteresse (revolta?) de muitos colegas perante o Plano de Promoção do Sucesso... Ora bem, eu não sou socialista. Eu não gosto do Dr. António Costa. Eu não confio no BE. Mas, para além destas razões, há algo que me parece evidente: - A Escola que temos, não serve! Assim, se nos dão a possibilidade de, nós mesmos - que sabemos da "coisa" - podermos reestruturar processos, porque não aproveitar?
Não tenho a mania de ser boazinha. Sou católica, mas não sou santa e, ainda por cima, não tenho vocação para mártir, mas também não tenho pachorra para profetas da desgraça!
Eu hoje estou assim: Desiludida, irritada e chateada com a vida!

domingo, 1 de maio de 2016

GRIPE

Começou de noite. Chegou a tremer, um frio estranho e desajustado. Depois, foi a tosse, o levantar-me procurando mel, o chá de limão às três da manhã... De manhã, sem pedir licença, a febre estava instalada. Recusando dar ouvidos à doença, há coisas a que não se deve dar confiança, atravessei a cidade para chegar à Sé. Um vento gelado, cortante, fez-me companhia.
No regresso, os olhos lacrimejavam sem emoção, porventura o choro mais idiota, e o par de aspirinas pouco resolveu. Agora, enrolada numa manta e bebendo chá, perdendo o olhar na lareira que acendi, penso que esta gripe foi providencial. Não passei sozinha o Dia da Mãe!

DIA DA MÃE

Hoje, é dia da Mãe. Vai haver flores, presentes, almoços de festa. Os Media vão, de certeza, homenagear as Mães. E eu, que sou Mãe e Avó, penso neste dia, agora no quente da noite, lembrando as Mães especiais. Não as Mães de filhos saudáveis e felizes, não as mães de crianças, mas as mães de filhos mortos, de filhos crescidos que partiram, de filhos que, um dia, se afastaram fosse por que motivo fosse. Não imagino pior dor do que ver morrer um filho! Deve ser por isso, por ser uma absurda crueldade, que em nenhuma língua há palavra para definir o estado da mãe que perde o filho! Essas mães, hoje, devem sofrer mais ainda (se isso é possível) e eu penso nelas.
Penso, também, nas mães de filhos crescidos que partiram. Deixaram as memórias, os sorrisos nas fotografias, mas levaram com eles os beijos, os abraços, as presenças. Eu sou mãe assim. Mãe, e avó, com a distância pelo meio e sempre recuperando memórias e tecendo sonhos...
Hoje, Dia da Mãe, lembro também as mães de filhos doentes. Filhos que sofrem, ou que fizeram percursos de vazio.
Porque ser Mãe não é só receber o presente indo que os filhos fizeram na escola, não é só dar colo e insistir para que comam, não é só pensar no que eles vão vestir, não é só ajudar a fazer os trabalhos de casa, não é só limpar as lágrimas depois da queda da bicicleta ou do primeiro desgosto de amor. Infelizmente....
Nunca tive uma relação muito próxima com a minha Mãe, mas lembrarei sempre, enquanto a memória não me trair, o dia em que trouxe da escola, feito por mim (que sou absolutamente inapta manualmente)..., um azulejo pintado onde escrevera "Para a melhor mãe do mundo". Lembrarei sempre o sorriso dela e a garantia, sincera, de que aquela borrada era linda!!

sábado, 30 de abril de 2016

PESSOAS

Acordei, hoje, com uma vontade absurda de entrar na máquina do Tempo e ir pedir colo a quem partiu. Acordei com os sentires a doer! Saí de casa cedo, uma caminhada no telurismo de Torga (ousadia minha), mas o incómodo continuou. Alguém me chamava por dentro, de longe. Como a disposição não me permite trabalhar, resolvi arrumar fotografias. (Tenho um caixote cheio, esperando a minha coragem emocional). Logo de imediato, caiu-me na mão um momento vivo de cumplicidade. Ali estava eu, sentada no muro, conversando com quem me sabia ouvir. Conversando com quem, muitas vezes discordando, sempre me acolheu com carinho. A saudade dói mais agora.
Há pessoas que me fazem falta. Muita falta. E, se umas partiram porque a vida terminou, outras apenas se foram por desinteresse ou comodismo. Hoje, muitas ausências me doem!





sexta-feira, 29 de abril de 2016

É sexta-feira, suei a semana inteira... É assim que, frequentemente , oiço cantar na Rádio. Eu não suei a semana inteira, mas estou feliz por ser sexta-feira. Hoje, é dia de olhar o Tempo e de fazer com ele o que eu bem quiser. Por isso, hoje, agora que a noite se instala de mansinho, apetece-me uma história... Uma história de era uma vez, cheia de possíveis e maciezas. Uma história com gelo a tilintar nos copos, olhares no mesmo sentido e sem linha de horizonte. Uma história sem memória, sem futuro também, escrita no silêncio que a noite sempre permite. Nessa história, com era uma vez, as pessoas entendiam-se, as desconfianças não existiam e os possíveis sucediam-se sem reclamar. Havia, no meio da narrativa, um espaço bem definido, branco mesmo, onde soavam gargalhadas frescas e sem culpas. O Tempo era, ele mesmo, a sua inexistência, e as personagens, porque não era uma fábula, eram humanos sem memória e, por isso, gozando a paz do esquecimento. A acção fazia-se de encaixes: - encaixes de momentos, de sonhos e de presentes. A história, esta que me apetece agora, seria de tal forma fantástica que nem teria ponto final!

quinta-feira, 28 de abril de 2016

A FOFA

A meio de muito trabalho, a preparar mais uma acção de formação, esbarrei com um quadro SWOT. Ou seja, como eu sou portuguesa, e como gosto muito a minha língua, esbarrei com uma FOFA (Fragilidades; Oportunidades; Facilidades; Ameaças). 
Então, apeteceu-me ter uma FOFA só para mim. Olhar a minha realidade de acordo com o tal quadro SWOT e descobri que, numa análise cuidada, algumas fragilidades se podem tornar vantagens. Ora vejamos: ter por companhia a solidão, pode ser uma fragilidade. Mas, se pensar que não tenho de suportar a constante presença de quem me agride e magoa, então é óptimo estar sozinha! 
Portalegre, outro exemplo, fala muitas vezes na forma como o facto de ter uma população envelhecida limita o seu desenvolvimento. Ora, se olhassemos esta fragilidade com outros olhos, Portalegre podia tornar-se a Cidade Amiga da Terceira Idade! Criava roteiros, ofertas culturais, oportunidades de negócio, recebia os mais velhos e ainda ganhava com isso!
Pois é... Há muitas formas de fazer FOFAS!

sábado, 23 de abril de 2016

DECLARAÇÃO

Põe os braços pequenos à volta do meu pescoço e garante - avó eu amo-te mesmo muito!
Eu desabo! As emoções à flor da pele, as mil e muitas chatices, as desilusões, as agressões, as chatices e os sonhos adiados perdem sentido. De repente, sou importante. Tenho a minha neta, com três anos, a fazer-me uma declaração autêntica - VERDADEIRA mesmo!- e sinto que tudo o resto são insignificâncias.
Obrigada Constança querida!

quinta-feira, 21 de abril de 2016

DEMAGOGIA

Se há coisas que me irritam, e há muitas, ouvir repetir frases feitas é uma delas. Hoje, aliás deste ontem, ando irritada com o senhor professor Santana Castilho. Estou farta de o ouvir condenar tudo, profetizar desgraças e insultar quem ousa tentar a diferença. Estou cansada da demagogia que o caracteriza e que alguns seguem.
Ao contrário do que faz o senhor professor, não vou enveredar pelo insulto grátis. O que eu gostaria era de saber quais os procedimentos que o senhor professor, que parece ser portador do dom da verdade, sugere para se combater o insucesso escolar. 
Já sei: - a culpa é dos alunos! Mas sabendo nós que não podemos reciclar os alunos, e que nem podemos fazê-los sumir no espaço, o que devemos, como profissionais, fazer? Cruzar os braços? Lamentar? Culpar as famílias? Repetir que as turmas têm muitos alunos?
Não tenho paciência para o professor Santana Castilho. Mas ainda tenho menos paciência para quem o reproduz sem questionar... Muito a sério, e porque penso que a Educação é um assunto fundamental e estruturante, creio que já é tempo de olharmos o insucesso e a Escola Pública com olhares antentos e preocupados.
Não tenho dúvidas que é na sala de aula que se constrói o sucesso e eu, (que nada gosto do PS...), reconheço que o senhor ministro,e concretamente o senhor secretário de estado, estão a fazer um esforço honesto e competente. 
Penso eu. Que não sou Professora,  não tenho dom da verdade, e acredito que qualquer esforço para melhorar pode fazer sentido.

terça-feira, 19 de abril de 2016

... A ESCOLA

A Escola Pública tem, acho eu, como primeiro e principal objectivo, promover o sucesso dos seus alunos. Não tem, apenas, a responsabilidade de transmitir conhecimentos, ou de promover a sua aquisição, mas tem, penso eu, a obrigação de ajudar a formar cidadãos activos, livres, responsáveis, competentes e humanamente saudáveis. Eu penso assim! E por pensar assim, fico desesperada quando encaro situações em que estes objectivos, e no fundo princípios norteadores da acção docente, são desprezados. Claro que sei que a educação adquirida em casa é fundamental, que toda a comunidade contribui (ainda que por vezes inconscientemente) para a formação dos indivíduos. Mas penso que quando, na Escola, os professores remetem para os pais, e para a comunidade, a resolução dos problemas estão a chutar para fora de jogo... A Escola tem de se centrar na resolução dos seus próprios problemas! A Escola tem de agir sobre aqueles que pode influenciar e esses, sem dúvida, são os alunos... Assim, não consigo perceber que a Escola não tenha um extremo cuidado no cuidar da sua imagem que é, sem dúvida, o desempenho dos seus professores. Não é professor quem quer...

domingo, 17 de abril de 2016

CERTEZAS

Sendo Domingo, hoje a minha missa foi numa igreja diferente. Portalegre estava longe e, a meu lado, rostos estranhos acompanhavam a oração. O senhor padre falava de inveja, de certezas, da necessidade de sabermos de cor respostas fundamentadas na Palavra de Deus. Eu ouvi, confesso que com algum distanciamento (esta coisa estranha que me acontece, de precisar do "meu" espaço para rezar), sentindo-me dolorosamente pecadora.
Porque eu não tenho certezas! Eu carrego uma imensidão de dúvidas, de receios, que, se não se prendem com a Morte - essa é segura e certa - me dificultam a vida. Às vezes, como hoje, lembro uma frase, creio que da Mafalda de Quino, onde se lê "Quando a gente acha que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas!". É isso mesmo que sinto.
Agora, já adulta e velhota, eu devia saber as respostas, devia acordar tranquila a cada manhã, adormecer sem medos a cada noite. Mas não... Tento acertar, e erro as respostas que a vida me exige. Depois, olho à volta e, no fosso que me rodeia, percebo os medos glutões de cada amanhã que, num instante, é hoje. Então, volto a dar o meu melhor e, uma vez mais, falho. Deveria, talvez, desistir. Mas eu gosto tanto de ser Pessoa...

domingo, 10 de abril de 2016

ADEUS

Meu amigo querido, adeus. Sei que não acreditavas no meu Deus, que a tua sabedoria científica te centrava na vida biológica e, por isso, dizias-me, muitas vezes, que um dia serias nada. Que morrerias, e pronto.
Hoje, foi esse dia. Mas, amigo querido, desta vez não tinhas razão porque tu nunca serás nada. Para mim, estejas onde estiveres, serás sempre o Amigo especial... Oiço ainda as tuas ironias, a tua capacidade cirúrgica de definir momentos, o olhar amigo e compreensivo. Lembro as tuas mãos esguias, mãos de médico, mostrando-me os poemas que escrevias, as velhas fotografias que revelavas na tua câmara escura.
Aproximamos os nossos pensares e sentires no passeio ao Nordeste Transmontano, eu tinha 19 anos, ía casar. Escreveste, então, um poema lindo que terminava:... "Assim o CX desliza, nas mãos seguras da Luísa!"
Houve tantas coisas que as minhas mãos - seguras? - não conseguiram segurar...
Depois, há mais de dez anos..., fizemos juntos uma viagem longa. Lembras-te do almoço em Beja? Hei-de lá voltar, àquele restaurante escondido.
Recordarei sempre a forma como nunca te ouvi condenar-me. Se compreendias, não sei. Mas talvez isso seja o importante, saber aceitar sem condenar, ainda que nem sempre compreendendo.
Partiste. Acredito que, a esta hora, estarás entre amigos. Quero mesmo crer que, com o meu Pai, continuarás a olhar por mim... Mas vou sentir falta dos teus emails, das fotografias no fotolog, dos poemas intensos que me enviavas para, acho eu, me fazeres olhar a vida de outro modo.
Sei, eu acredito, que vais descansar em paz. Por agora, tenho comigo as memórias (essas ninguém mas confisca) e, sempre que olhar o céu do meu Alentejo, pensarei que mais uma estrelinha lá brilha também.
Desculpa o egoísmo. Fazes-me muita falta!

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Há muito Tempo...

Há muito tempo já que não caminho descalça na areia; há muito tempo já que não me sento no chão olhando nada; há muito tempo já que não passo uma tarde a ler um bom romance; há muito tempo já que não adormeço segura e protegida no abraço que desejo.
Há muito tempo que não tenho tempo para coisas de mim para mim.
Sinto-me presa na voragem do tempo, consumida por prioridades que não estabeleci, pressionada por exigências que não desejo. Hoje, apetecia-me apenas fechar a porta ao mundo e ir à procura de mim. Do meu eu que ri, se encanta, que gosta da vida e do amor. Hoje, quando as rosas começam a surgir na minha varanda, queria só partir...

domingo, 3 de abril de 2016

O Circo

A rua enche-se com o som roufenho, a voz monocórdica anunciando o sonho. Há tubarões, leões, elefantes, pistas de gelo e palhaços pobremente ricos. Há muitas sessões, cães vestidos de meninas e gente capaz de andar, sem cair, num arame bem fininho. Há, também, rapariguinhas que se enrolam, como cobras, saindo e entrando dentro de caixas trancadas. Cheira a algodão doce, os bancos são de tábua rija, o chão é terra e pó. É o Circo! O circo que chega à cidade numa longa serpente de camiões, que polvilha de cartazes os lugares comuns e que vende, barato, momentos de alegria. As crianças pedem para ir ao Circo, os adultos alinham...
Sempre me fascinaram, num misto de tristeza e curiosidade, os circos ambulantes. Há alguma  coisa fascinante na liberdade nómada, no desapego à rede social que nos prende - a mim prende -, a lugares que, muitas vezes, nos entristecem. Mas há, também, uma miséria latente que angustia. As luzes, o som alto, as lantejoulas e o brilho excessivo parecem mascarar alguma miséria, alguma tristeza também... Penso nas crianças do circo, nos meninos que não andam na Escola, nos jovens que não conhecem a literatura, nem resolvem equações. Penso nestes meninos que não sabem as fórmulas da química e que, sem saberem física, ligam as mil luzes que enchem de cor a grande tenda.
O Circo... Como a vida, a jogar intensamente com o ser e o parecer, com o brilho e as sombras, com o essencial e o aparente.

quarta-feira, 23 de março de 2016

CRIME

Com os netos em casa, mil afazeres e o coração apertado, olho com medo e revolta os atentados de Bruxelas.
Oiço banalidades nos Media e, desta vez, creio que surgem apenas porque não há nada com sentido que se possa dizer quando a loucura malvada ataca.
É verdade que há quem venda armas aos terroristas, quem os financie também. É verdade que, no grande poder das enormes potências, há alguma hipocrisia.
Mas isso não pode impedir a nossa imensa indignação e revolta. Esta Europa, que olha
com receio os refugiados, é vítima de violência cobarde e cruel. Da mesma violência que fez seres humanos adquirirem o rótulo dolorosos de refugiados...
Tenho medo. Porque o alvo somos todos. O alvo somos nós que saímos à rua, rimos, viajamos, trabalhamos, damos as mãos aos filhos e netos nos transportes públicos, nas ruas, sem querer imaginar que, de repente, a nossa mão segurará cadáveres. Este é o mundo que não quero. Este é o mundo contra o qual lutarei com as armas que tenho: - A liberdade de pensar, a oportunidade de opinar, a possibilidade de Amar

quarta-feira, 16 de março de 2016

Insónia

Talvez porque leio muito, ou se calhar porque sonho em demasia, ou apenas mesmo porque não sou uma pessoa muito ajuizada, às vezes surgem-me, deveria dizer assaltam-me, pensamentos esquisitos. Normalmente, estes assaltos invasivos, e abusivos, surgem a meio da noite, ocupando as horas de insónia com que, vezes demais, o sono me presenteia.
Esta noite, e embora me tenha deitado cansada mesmo, acordei na escuridão com o desejo de escrever uma narrativa a quatro mãos.
Uma narrativa de acordo com os compêndios, desrespeitando conscientemente os livrinhos de supermercado que anunciam "aprenda a escrever em três passos". Uma narrativa dando cumprimento integral às categorias da mesma, com espaço, ação, tempo, personagens, narrador com estatuto definido. No escuro, fiquei escrevendo, então, a minha narrativa exemplar e pensei que, para que ficasse perfeita, e publicável, havia de haver outras mãos, que não as minhas, a pontuá-la. Seria uma narrativa a quatro mãos, sem frases feitas, sem finais felizes, mas pontuada pela magia dos silêncios que, acho eu, sempre dão encanto às histórias... Na minha narrativa haveria um cenário de utopia, muitas personagens optimistas e cores escandalosamente quentes. Depois, as outras mãos colocariam o ponto final, fariam os parágrafos, e eu ficaria isenta da terrível responsabilidade de fazer a história ter sentido!

domingo, 13 de março de 2016

Aprendendo

O desafio era claro: - Aproximar realidades diferentes, partilhar culturas, viver momentos de aprendizagens ativas. Vinte e quatro alunos voaram para a Holanda, Maarssen,  e aí viveram, com famílias holandesas, cinco dias diferentes. Muito frio, neve, água, bicicletas, inglês conversado, sandes de pepino, chá com leite e bolachas gostosas, tudo misturado com monumentos, história e novidade. Depois, voltamos todos.
E, em Portalegre, 52 jovens encheram as ruas, visitaram Museus, comeram pizzas e construíram vivências de ser.



Nem tudo correu bem. Curiosamente, desta vez foram os jovens holandeses quem me surpreendeu negativamente. Birras, gritos, lágrimas quando contrariados. E surgiu-me de novo, a grande questão da educação. Não é permitindo tudo que se educa, não é "negociando" tudo que se constroem cidadãos responsáveis e livres. A educação exige a capacidade de dizer Não, de impor regras e de as fazer cumprir! Muitas vezes, zango-me com os meus alunos. Ralho, irrito-me, desespero. Mas, hoje, na ressaca de dez dias diferentes, estou orgulhosa dos jovens com quem trabalho. São gente saudável (alguns) e eu acredito que, para eles, estes dez dias fizeram a diferença!

terça-feira, 1 de março de 2016

Dia de Anos

Sem dúvida, verdade de La Palisse..., a idade muda-nos. Muda a forma do nosso corpo, a textura da nossa pele, a forma como olhamos a vida e a nossa maneira, sempre exclusiva, de encarar cada dia. Fiz anos ontem. 
Dia 29 de fevereiro, um dia nem sempre assinalado no calendário e que, em intervalos de quatro anos, se torna para mim em dia 1 de Março. 
Nasci em 1960, era terça-feira de Carnaval (e eu detesto Carnaval), estava muito calor (e eu odeio calor), nasci em Lisboa (e eu adoro ser alentejana). Às vezes, penso que tudo seriam sinais, índices de uma narrativa que eu haveria de escrever com mais, ou menos, dificuldade. Em miúda, e em jovem, não gostava de fazer anos. Detestava aquelas observações habituais e gastas , "então este ano fazes anos?", e nunca achei muita graça a festas de aniversário.  Só que fui envelhecendo, (tendo ou 15 ou 56 anos envelheci mesmo), e, agora, gosto do carinho que muitos amigos me dedicam neste dia. 
Claro, melhor seria se esse carinho acontecesse diariamente, mas o óptimo é inimigo do bom e de bons amigos, felizmente, estou bem servida. Gosto, agora, de fazer anos. De receber beijinhos, telefonemas, mensagens, flores e presentes. Ou seja porque vou envelhecendo depressa demais, ou seja porque ando carente de coisas boas, gostei mesmo muito de ter feito anos ontem. 
Não apaguei velas, não comi bolo, mas senti-me até quase significante e com razão para sorrir!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

D. Filipa

Gosto, muito!, de romances históricos e de biografias. Também gosto de outros tipos de livros, gosto imenso de ler e os livros são, sempre, a minha companhia sem ausências. Mas no quase vício dos romances históricos, tenho convivido muito com a D. Phillipa de Lancaster. Impressionante o que a educação faz (fazia).
Esta Senhora Rainha, educada em Inglaterra, veio para Portugal com 26 anos, casou com um rei que nunca vira, viu o seu nome alterado para Filipa de Lencastre e amou, como poucas, um povo que não era seu. Educou os filhos para serem Grandes, e foram-no, impôs-se a uma corte atrasada e preconceituosa e determinou, através da acção do seu filho D. Henrique, um rumo marcante para Portugal - Os Descobrimentos.
Acompanhar a narrativa, ficcionada-claro-, desta mulher, fez-me voltar a pensar na dureza secular da condição feminina. Ser Mulher sempre foi ser especial. Hoje, no século da internet e do ciber espaço, no tempo da clonagem e do conhecimento, a mulher ainda é (e eu espero que sempre seja) especial.
A terminar o meu romance, chorando lágrimas de verdade com a morte da "minha" D. Filipa, penso como seria bom, como é urgente e necessário, educar para Valores, olhar as Pessoas que moram em cada indivíduo e permitir a construção de um projecto para Portugal.
Utopia? sei que sim, Mas sem o sonho, que é o Homem mais do que a besta sadia que procria?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

PARLAMENTO DOS JOVENS

Há aí dez anos que, sem interrupção, acompanho os alunos na sua participação no Parlamento dos Jovens. No início deste projecto, assisti a algum entusiasmo, a discussões com sentido, a alunos motivados e interessados. Depois, aos poucos, ano a ano, as coisas foram-se tornando repetitivas, cansativas e viciadas. Este ano, foi, está a ser, para mim, a última participação. 
Assisti, hoje,  ao desempenho de jovens desinteressados, a discussão de temas repetidos e a propostas gastas, cópias mal feitas de parangonas dos diversos partidos políticos. 
O cansaço geral  é tanto que, embora o tema fosse exactamente as assimetrias entre o litoral e o interior, nenhum deputado esteve presente. Tinham ocupação em Lisboa...
A minha crítica não é apenas um desabafo cansado. É, sobretudo, um alerta para a mudança. 
A rotina não é boa conselheira... E, curiosamente, penso que cada vez é mais importante educar para a cidadania, para o respeito democrático, para o respeito pelo outro. É importante criar espaço para falar de Pessoas, para Pessoas! Mas o Parlamento dos Jovens, no modelo que tem, está ultrapssado e nada ensna... E é pena. Pena porque se perde uma oportunidade; pena porque se gasta dinheiro sem necessidade; pena porque é uma chatice ter de acompanhar os alunos num dia de nada aprender!

domingo, 21 de fevereiro de 2016

3 Anos

A minha neta fez três anos. Abriu, excitada, uma casinha de bonecas, encantou-se com o bolo da Minnie, foi abraçada por familiares e amigos, viu a casa cheia de balões e a mesa coberta de coisas boas. A minha neta estava contente, crescida - dizia - nos seus três anos recheados de amor e ternura. Eu insisto em não me querer deixar levar pela saudade, obrigo-me a fugir ao habitual o tempo voa, mas recupero nela outros três anos da mãe dela então crescida também... E o soprar das velas, o cantar infantil dos parabéns, as gargalhadas felizes dela, fazem-me acreditar que vale a pena existir. Vale a pena porque, felizmente, há existência para lá da solidão, da rotina, da desilusão e da dor. Há essência no abraço, bem apertadinho,  que ela me dá para chegar aos balões pendurados do tecto... Afinal, eu há muito tempo que sei que, como diz Umberto Eco,
a vida se cumpre num fazer de pequenas (grandes - digo eu) coisas!