quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Gostei!


Na noite procuro a Poesia. Ela chega no português com açúcar do Brasil. Gostei e, por isso, partilho:

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento. 

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do meu amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Vinícius de Moraes

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

OUVIR

Há, recentemente, um anúncio nas televisões, com a presença do Júlio Isidro, sobre um aparelhinho que faz as pessoas ouvirem tudo. Acho que todos nós deviamos ter um! Porque, cada vez mais, sinto que não ouvimos os outros, que não ouvimos tudo o que nos dizem (ou querem dizer), centrando-nos, exclusivamente, no que temos para dizer! É terrível quando precisamos de conversar e, face ao que dizemos, a resposta surge sem sentido. Oca. Feita de outras ideias sem retorno ou lógica.
Os meus alunos, dos mais novos aos mais velhos, têm todos problemas de audição...Talvez o Ministério de Educação, com o que vai poupar ao despedir cinquenta mil professores, possa investir nestes aparelhómetros que fazem com que nos ouçamos uns aos outros.
Às vezes, custa demais viver num país onde a surdez é crónica!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Vida Real?

«I love you. I've loved you since the first moment I saw you. I guess maybe I've even loved you before I saw you».

É uma frase de um filme, dita a Elisabeth Taylor, mas delicia-me! Adorava que alguém me dissesse isto e, de preferência, que fosse verdade. Sim, eu acredito no amor à primeira vista! Sim, já sei, isso na vida real não acontece. Mas eu nem gosto nada da vida real...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

LUTO

A minha cidade está de luto. As igrejas estão todas de portas abertas, o silêncio é escuro e doloroso, a tristeza lê-se nos olhares de todos. De repente, Portalegre abriu os telejornais com a triste notícia de um brutal acidente de autocarro. As possíveis causas são muitas, mas a realidade é só uma: - Morreram onze pessoas de uma forma bruta e inesperada! Ao mesmo tempo, sabe-se de um incêndio numa discoteca no Brasil, mais de 200 mortos, muitos jovens. Mas é longe, agora, a dor alheia. 
É a dor próxima que nos faz calar e circular magoados na cidade branca.
Hoje, na pequena comunidade que é Portalegre, na minha cidade de cheiros conhecidos, a morte impôs a dor e o silêncio. Em todas as casas alguém deixou saudades. A cidade, a nossa cidade, está de luto intenso, vestida de dor sentida. De repente, a vida parece ainda mais valiosa e, paradoxalmente, mais frágil...

em ão

Após muitas aulas preparadas, depois de corrigir muitos testes, a seguir a algumas horas de desespero olhando os resultados assustadores, fui deitar-me. (Sim, sou professora mas, que hei-de fazer?, ainda não me convenci de que ser professora não é ser gente e, assim, tentei dormir.) Estava cansada. ESTOU CANSADA!  Precisava mesmo de dormir! 
Mas tive azar. O sono não chega e a insonia faz-se de notas baixas e respostas absurdas. Que fazer para que os meus alunos aprendam mais, para que se tornem, de facto, mais competentes? 
Oiço no silêncio as parangonas de alguns teóricos: - Tem de haver motivação! E apetece-me gritar que tem é de haver responsabilização, regras e valorização do trabalho individual. Sei bem que o sucesso não se faz só com motivação. Exige, também, transpiração! E a rima de aprender só fará sentido quando se acertar nesta ideia, quando o verso puder ser branco. 
Ainda por cima, o ão que rima apenas com motivação, rima também com parvalhão...

domingo, 27 de janeiro de 2013

De repente

De repente, uma pessoa olha para trás e passou a oportunidade. De repente, morre-se e pronto. De repente, a gente pára para olhar a vida e vê o que perdeu, o que desperdiçou, o que foi relegando para o canto de Um Dia, deixando passar outros uns dias que nunca retornarão. Tudo de repente porque, de verdade, a vida esgota-se num de repente de não-fazeres que nos escapam por entre os dedos! 
Hoje, de repente, olhei para a chuva, para o cinzento do dia, e lembrei-me das pessoas queridas que já não tenho. Percebi como, de repente, a solidão se faz mais dor e escuridão, as prioridades se invertem e as vivências se esgotam em fazeres de coisa nenhuma!
De repente, vi que as minhas rosas de inverno caíram e só ficaram as folhas, tristes, perto da chuva que escorre.
Então, de repente, apeteceu-me viver para além de existir! Apeteceu-me acreditar em impossíveis e sonhos. Só espero, de repente, não me afogar de novo na realidade...

sábado, 26 de janeiro de 2013

O Tó Zé

É um tipo simpático, o Tó Zé. Um bocado cinzento, convenhamos, mas com um sorriso constante, obediente, capaz de reproduzir frases feitas e com um discurso certinho, vazio e inofensivo, parando no momento dos aplausos desejados e nem sempre conseguidos. 
O Tó Zé esforçou-se. Foi sempre um menino do sistema, cumpridor, aprendiz de outros modelos igualmente cinzentos, com uma carreira como a  dele, cinzenta, feita da subida calma de degraus partidários.  O Tó Zé nunca trabalhou no duro, nunca viveu para lá do Rato, mas nunca percebeu que isso fosse importante, porque o Tó Zé nunca disse que não a nada, sempre seguiu os chefes. 
Um dia, erro grave, o Tó Zé teve  um sonho. Um sonho como ele - cinzento! Foi o erro do Tó Zé. Ele servia para beber bicas em comícios, para repetir as instruções recebidas aos jornalistas, para desempenhar, no seu cinzentismo total, o papel pedido aos Yes, man! Só não servia mesmo era para ter sonhos, para ter vontade própria e para desempenhar papeis principais... Mas disso o Tó Zé não sabia e, olhando à sua volta, achava mesmo que podia ser como os Zé Maneis, ou até alguns Pedros da mesma geração. 
Como o pobre Tó Zé estava enganado... Ele servia para atravessar um deserto de ideias, para encher de vazio períodos ocos de sentido, para manter morno o lugar que outros, calmamente, haviam de ocupar. 
Mas disto, o Tó Zé não se apercebia e, por isso, foi com surpresa, e acredito que com mágoa também, que soube que o queriam mandar embora. Que soube que outro, que não ele, ocuparia a ribalta quando chegasse a hora do grande espectáculo! O Tó Zé era um gajo porreiro, diziam. Mas inSeguro. Muito inSeguro...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Um dia...

Tenho a mania de ler. Leio tudo, desde as matrículas dos automóveis com que me cruzo, até aos romances que já sei de cor. Se há letras, eu leio. Leio  com atenção as ementas dos restaurantes, acho sempre graça à pescada cosida (com linha de alinhavar?) e à musse de chocolate... Recentemente, porque mudei o meu lugar habitual de bica, tenho lido frases nos pacotinhos de açucar do café. Como gosto do café puro, sem nenhum adoçante, fico lendo as frases que, muitas vezes, me fazem sorrir. São frases que começam sempre por UM DIA. "Um dia, vou amar-te até que a lua se retire!"; "Um dia, vou dizer alto o que penso"; "Um dia, vou levar-te no coração"; "Um dia, vou escrever o teu nome na  areia"; etc. Gosto das frases, pensei até em colecionar os pacotinhos, mas dou-me mal com coleções. Não tenho paciência para arquivar coisas... Hoje, a frase que acompanhava o meu café dizia "Um dia, vou rir-me do mundo inteiro!". Eu acrescentei: Hoje é o dia! Porque estou muito farta de problemas e tristezas e, por isso, vou rir-me da seriedade triste que me impõem. Tentam...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Hipocrisia

Cada vez tenho mais dúvidas em relação ao sistema educativo português! Sinto, e sinto-o diariamente, que faço parte de uma teia de hipocrisia social onde o parecer tem muito mais importância do que o ser.  Vem isto, hoje, a propósito do meu doloroso quotidiano profissional...
Em Portugal, no meio da loucura vigente, não importa muito (ou nada) que os alunos aprendam, que desenvolvam competências, que se tornem Pessoas. O que interessa é o que fica nos mil e muitos documentos...
Os professores devem apresentar estratégias para que os alunos progridam mas, curiosamente, os alunos são apenas o alvo dessas estratégias  e não, como me pareceria razoável, agentes no mesmo! Como é possível ensinar a quem não quer aprender? Como é possível ensinar, ou ajudar a aprender, se não se valoriza o trablho individual, o empenhamento de cada aluno?!  Fico revoltada sempre que me exigem, nos exigem, que faça mais propostas para melhorar o sucesso e, simultaneamente, me impedem de propor aos alunos que trabalham com seriedade. A nossa Escola Pública está a tornar-se um espaço para certificação de incompetências e nós, professores, somos os funcionários públicos que assinam documentos e preenchem grelhas!
Eu bem sei quem merecia ser grelhado...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Cruzamentos

A melodia da chuva quebra o silêncio escuro de uma noite em branco. Enche uma caneca de café, assim como assim a noite está perdida, e percorre a vida, a dela. Todo o mundo é composto de mudança, e ouve os alunos de 10º ano protestarem incompreensão. A mudança faz a vida, só ela é permanente, defende, mas os  miúdos não entendem o paradoxo aparente. Continua a chuva. Falam então do Renascimento, do Humanismo, da Arte, da verosimilhança. Alguns fazem perguntas e, agora, no escuro ritmado da noite, pensa nas respostas. 
Não é bom ter respostas sempre, conclui. Ter respostas, às vezes, é como chegar ao fim de uma viagem, como arrumar a um canto a mala da esperança. Ela quer ter esperança, ainda. O café arrefece aos poucos e levanta-se para lhe juntar leite a ferver. Ouve a avó recomendar leite morno para dormir, tem saudades desse tempo. Será nostálgica? Crê que não. Não deseja voltar atrás, apenas gosta de olhar o passado, de o lembrar, deixando-o lá, no lugar onde é sempre, sem necessidade de o recuperar. Mudam-se os Tempos, mudam-se as vontades, e Camões insiste em permanecer. Oferece-lhe um café, que ele aceita, e riem-se os dois do absurdo da noite partilhada. É preciso acreditar. Acreditar que o mundo vai tomando sempre novas qualidades. Ela ri-se, brinca com o robe quente e diz que queria ter meios para conquistar os alunos para a Poesia dele. Ele diz que é um vício português, esse dos meios. Nunca há meios mas, curiosamente, há sempre muitos fins e poucos princípios. Ela surpreende-se com o jogo voluntário das palavras e pede-lhe que fique. Que diga só para ela um poema de amor. Ele despede-se beijando-lhe a mão e garantindo, entre páginas muito gastas, que do mal ficam as mágoas na lembrança, e do bem, se algum houve, as saudades. Ela vê-o partir e, com alívio, vê que o sol começa a chegar.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Por uma causa

Obama tomou posse pela segunda vez e milhares de pessoas, vindas de toda a América, assistiram ao juramento. Impressiona-me a forma como os americanos, apesar de tantos problemas e dificuldades que também enfrentam, ainda se movem por ideais, ainda vibram com a tomada de posse do seu Presidente.
Enquanto em Portugal nada parece mover-nos, quando uma tristeza funda nos invade e a descrença nos políticos se aproxima dos 100%, olho com admiração a tomada de posse de Obama! Gostava que, no meu país, surgisse alguém, ou alguma ideia, capaz de nos fazer mexer na direção da mudança!
Sonhos...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

VINGANÇA

" Olho por olho, e o mundo acabará cego." - Mahatma Gandhi
Parece uma frase óbvia, de verdade indiscutível. No entanto, diariamente assistimos à prática da vingança, à argumentação com base no "tu fizeste, eu também posso fazer" - "Tu  erraste, eu também posso errar". Claro que sei que somos humanos, não deuses, mas faz-me alguma confusão esta ideia de vingança contínua. Custa-me ver a facilidade com que se condena, como se procura, no fundo, justificar erros próprios com erros alheios. Sei que é mais fácil apontar o dedo ao outro, do que olharmo-nos no espelho da nossa consciência, mas, ainda assim, chateia-me!Já estamos habituados  a ver o PSD desculpar-se com o PS, e a inversa também é verdadeira... Mas, a mim, o que me chateia mesmo é que isto aconteça entre amigos, entre pessoas próximas que deveriam conhecer  o respeito pelo outro e, como humanos,  saber o valor do perdão. De longe olho a sociedade, o mundo que contrariada integro, e tenho vontade de fugir. Não gosto de  viver neste mundo!

domingo, 20 de janeiro de 2013

A LUZ

Circulo sozinha na moderna auto-estrada vazia. Mais uma, entre as muitas que foram construídas para ninguém! 
O vento abana violentamente o meu frágil automóvel, a chuva assusta e, de repente, tudo pára para dar lugar a um arco-íris perfeito! Era bom se, na vida, fosse assim também. Se, no meio da tempestade, surgisse a luz e a cor da esperança...

sábado, 19 de janeiro de 2013

Fúria Natural

Lisboa acordou chorando. Dentro do carro, vi correr as lágrimas revoltas da natureza. Gosto do tempo assim, forte, agreste, autêntico nesta existência em que a hipocrisia impera! A ponte, sempre cheia de urgências, tremia assustada; o Tejo, furioso, cobria-se de ondas e espuma, e os atletas de fim-de-semana deixavam vazio o passeio de calçada. 
Olhei a chuva, a tempestade, com admiração e receio. Dentro do carro, com a água a bater forte, senti que o homem é mesmo esse pequeno bicho da terra... De repente, tudo pode deixar de existir e as grandes angústias, como as fúrias violentas, deixarão de fazer sentido!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Coisas Sérias

Ecoa a notícia recente nesta noite de insónia: - Cresceu o número de mães adolescentes! Sou professora, sou mulher, e este facto preocupa-me. Acho que também sou responsável. Porque, de facto, acho que a sociedade inteira é responsável por esta aberração. Desde 2009 que a educação sexual, por lei, é obrigatória nas escolas. Todos os anos, em todas as escolas, os conselhos de turma elaboram projectos e os alunos são alvo  - ALVO! - de educação sexual. 
No entanto, por incrível que possa parecer, o resultado não é nenhum. Porquê? O que está a falhar? Pessoalmente, creio que está a falhar tudo, desde a Lei, às práticas. 
Falha a Lei na regulamentação de doze horas para o secundário e terceiro ciclo, e seis para o básico (absurda), na proposta de temas e na falta de formação generalizada para os professores. Falha a prática quando, por vezes, (felizmente há excepções), se dividem as horas por todas as disciplinas, ou pelas mais disponíveis, e se fazem uns trabalhinhos de grupo, umas sessões de informação, ou umas visualizações de filmes que os miúdos sabem de cor. 
Creio que a gravidez na adolescência, como outras situações comportamentais dos adolescentes, não acontecem por falta de informação. Informação há muita!O que falta é formação, educação, apropriação dessa mesma informação. Ninguém muda comportamentos por Decreto, e os adolescentes não são excepção. Creio que é fundamental que a educação sexual se torne parte do todo que é (ou deve ser) a educação de qualquer indivíduo, acontecendo de forma articulada e continuada e não, apenas, para cumprir horas superiormente determinadas. 
Uma jovem mãe, uma adolescente com um filho nos braços, é um problema que a todos deve preocupar! A mim, preocupa imenso! Como me preocupa ver os meus alunos  a fumar à porta da escola (porque lá dentro é proibido), como me preocupa ter alunos que faltam diariamente e não são incomodados por isso! Continuamos, penso eu, a brincar à educação e,  deste modo, estamos a trair os nossos jovens, estamos a impedi-los de serem, de facto, PESSOAS! 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

FAGUNDES

Chego à escola e encontro colegas colados ao ecran do computador, fazendo contas. Entro na secretaria, e a cena repete-se... Toda a gente, ou quase, faz contas. Tenta-se perceber qual será o valor do roubo, tenta-se descobrir na matemática uma forma de resistir ao assalto de que somos vítimas. Sim, é roubo! Pois que outra coisa podemos chamar aos descontos e retenções absurdos, aos aumentos astronómicos dos impostos?!
Face a este roubo indigno, mas consentido, os olhares escurecem e o futuro apavora. Eu tenho a certeza que este não é o caminho certo, mas de nada interessa o que eu penso porque ninguém me ouve...
Ora, cansada de falar a gente surda e endurecida, tento encontrar formas que me permitam alguma paz. Por isso, gosto cada vez mais de ver a Gabriela que, infelizmente, está a chegar ao fim. Não é a sensualidade cheirosa da personagem principal, a maldade refinada de dona Doroteia, ou sequer o curioso sentido de justiça dos coronéis (há tantos por aí...) que me encanta. Mais do que de todas estas personagens, gosto do Fagundes! O Fagundes é um jagunço sujo, de tiro certeiro, capaz de amar alguém mais do que a si mesmo. O Fagundes, uma personagem humilde e quase selvagem, devolve-me a ternura e a entrega que não encontro na vida real. Para proteger a Lindinalva, para que ela possa ser feliz com outro, Fagundes vigia, protege, mata. Ainda que ela não o queira, ele quer a felicidade dela e, por isso, está atento e protector, sempre!
Ah! Eu queria um Fagundes só para mim! Queria, neste tempo particularmente duro, poder contar com a protecção desinteressada e total, em vez de olhar cada amanhã com a alma encolhida e os sentires encarquilhados! Talvez, afinal, o Fagundes seja o anjo da guarda de Lindinalva e, acho eu, todos deviamos ter direito a um anjo da guarda jagunço porque os outros, os de asas brancas e sorriso celestial, não têm sido eficazes...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Esperança

Chove muito, está frio, predomina o cinzento lá fora e dentro de mim. A tristeza impera e, nos olhares que me rodeiam, leio vazio e medo. Não quero voltar aos impostos violentos, não quero tornar-me na velhota refilona e triste, não quero deixar-me dominar pela desilusão e não quero engrossar o grupo dos profetas da desgraça. Embora chova, ainda que o amanhã me aterrorize, apesar de a noite ser negra, eu quero acreditar que algures uma luz vai brilhar...

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Já está!

Bem cedo, ainda envolta na esperança dormente que o acordar permite, liguei o rádio. Tenho o vício de ouvir a RFM, talvez desde os meus 17 anos, quando ficava a ler até tarde na companhia do Oceano Pacífico, mas, hoje, nada de pacífico me despertou. Nem o som das baleias me fez mergulhar na vida com vontade...
Hoje, fui acordada com a certeza, repetidamente anunciada, da entrada em vigor das medidas asfixiantes adoptadas pelo (des)governo português. Já estão publicadas, e em vigor, as medidas que nos sufocam, que nos exploram e nos retiram a dignidade humana. Já está! Agora, resta ir morrendo. Devagarinho, se nos deixarem.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

E a vida?!

Inverteu-se tudo! Acho eu... Porque o dinheiro devia servir para nós vivermos e, hoje, vivemos para ele. A preocupação comum, que enche conversas em casa e no trabalho (para quem o tem), são as contas para pagar, os impostos, o dinheiro que temos de ter (e não temos!) para fazer face à existência. Já nem falo em dignidade humana, em qualidade de vida, em quotidianos de bem-estar. Falo, apenas, na angústia que, hoje, vivemos, centrados no dinheiro.
A nossa sociedade é apenas materialista e, incrivelmente depressa, assistimos ao degradar da condição humana...Que mundo é este onde as pessoas servem o dinheiro e não o inverso?!

domingo, 13 de janeiro de 2013

D. Maria II

Ler é, cada vez mais, a minha forma preferida de ocupar o (pouco) tempo livre que sobra dos mil afazeres profissionais. Nas páginas dos meus livros refugio-me sempre, perco-me por vezes...
Mas isso não interessa porque é de um livro que me apetece falar, e não dos meus sentires que a ninguém dizem respeito.
Acabei há pouco de ler mais um romance histórico, D. Maria II -  Tudo por um Reino, de Isabel Stilwell. Não é uma obra prima, não é um romance histórico arrebatador, mas é uma obra escorreita que se lê com prazer e com interesse. Acho piada, confesso, aos diálogos actualizados e farto-me de rir ao imaginar uma rainha, no séc. XIX, a dizer ao marido "Oh Fernando, páre lá com essa conversa fiada e veja se mete esses ministros na ordem!". Enfim... Vem isto a propósito, apenas, da história do nosso país. Sempre, pelo que tenho lido e estudado, fomos um povo maltratado, explorado, injustiçado! Sempre vivemos na penúria e os nossos governantes sempre fizeram as piores opções no que diz respeito à economia e à estratégia política. Os nossos políticos sempre se submeteram aos estrangeiros, sempre foram subservientes, sempre se preocuparam mais com o parecer do que com o ser. Se à mulher de César não bastava ser, era preciso parecer, aos políticos portugueses não era preciso ser, bastava parecer... D. Maria era aconselhada pela sua prima Vitória, apoiada pelos ingleses, mas continuava a asneirar, parecendo fazer uma coisa, e fazendo outra. Nós, hoje, somos crucificados pela troika e continuamos a aguentar, parecendo acreditar que estamos no caminho certo.... Será o destino? Ou mera estupidez?!

sábado, 12 de janeiro de 2013

Mestre Finezas

No meu livro de língua portuguesa da escola primária, há quantos anos?, havia um texto que se repetia anualmente: - Mestre Finezas! Era a história de um barbeiro que, ameaçadoramente, cortava o cabelo a um miúdo indefeso. Enrolava o rapazinho num grande lençol branco e, depois, qual aranha gigante, andava à sua volta cortando cabelos. O miúdo tremia. E eu lembro-me de sentir o horror à tesoura, de me arrepiar sentindo, por simpatia, a tesoura a rasar a minha própria cabeça... Nunca mais esqueci o Mestre Finezas!
Agora, olhando a televisão, o Mestre Finezas voltou. Vi-o, assustador, na pessoa do porta-voz da troika que anunciou, sorrindo, a necessidade de cortar tudo. Cabeças também, se for à borla...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Segredo

Não fales alto, não contes a ninguém. Dá-me a mão com força, escuta o meu silêncio e leva-me contigo. Guarda-me aí, no fundo dos sentires, nos lugares sem razão, no espaço que criaste para nós. Deixa tudo o resto, desliga os telemóveis e o computador, ignora a realidade e vamos partir. A viagem certa começa sempre no agora. No momento em que o sonho esbarra com o possível. É agora! Chiuuu... Guarda segredo!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Búzio

Em casa dos meus pais há, desde que eu me lembro da minha própria existência, um búzio gigante. As crianças, de sucessivas gerações, aprendem a colocá-lo no ouvido para escutarem o mar e, creio eu, com muita vontade e imaginação chegam a ouvi-lo.
Hoje, depois do relatório do FMI, das medidas (possíveis e prováveis) anunciadas, olho o búzio de outra forma. Em vez de  escutar as ondas, a minha vontade era entrar nele, esconder-me lá, lançar-me no fundo de um mar qualquer e desaparecer!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

De Volta

Voltou de olhos cheios de outras imagens, paisagens físicas de encantar, paisagens humanas de entristecer. Fala da estadia no Brail, São Paulo, num ERASMUS ousado mas difícil. Sim, reconhece, foi uma experiência importante, enriquecedora. Mas difícil! O Brasil é uma tristeza cantada, onde a injustiça, a diferença, o medo, imperam, diz desiludida. São Paulo é a verdadeira selva humana e eu não quero voltar!
Insisto nos conhecimentos gerais, não é um país lindo?! E ela fica triste na sua juventude, afirmando que dói o contraste entre a beleza da Natureza e a fealdade da organização social... Sinto a desilusão da minha amiga, feita de alívio por ter voltado mas, ainda assim, com a presença dorida da consciência social que, embora jovem, já tem.
E agora? O que vais fazer? Ela pára um pouco, deixa que o olhar se perca na imensidão do nosso Alentejo e confessa: - O que eu queria mesmo, mas mesmo, era poder ficar aqui, na nossa cidade, a trabalhar e a viver...
Tremo de emoção e desespero. De revolta também. Que país é o nosso, que não permite a jovens com sonhos viver na sua terra?! Calo-me porque, sei-o bem, se falasse seria para alinhar na opinião vigente e lhe dizer para ir embora, para procurar outro país onde uma jovem licenciada, com boas notas e numa boa universidade, ainda possa sonhar...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Bom dia

Olá, bom dia! Bom dia, tudo bem? Bom dia, e seguimos caminho. Repito os bons dias mil vezes, faço-o com gosto e há, sei lá porquê, um sentimento bom neste desejar aos outros uma vida mais fácil, mais vida afinal. Quando a vida parece não fazer sentido, quando as dificuldades se avolumam, os bons dias repetidos fazem calar as lágrimas teimosas!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Patriotismo?!

Vi nas notícias que Ronaldo não ganhou a bola de ouro, que Mourinho não foi o melhor treinador do mundo. E eu, que não gosto de futebol e que nunca sequer vi um jogo inteiro, fiquei muito triste e irritada.
Não podem roubar-nos tudo!
Será patriotismo, isto que sinto?!

A CARTA IRRESPONSÁVEL

Escrevo-te uma carta mais. A carta que não queres ler, as palavras que já conheces, as frases com sentidos múltiplos. É uma carta apenas, feita de passado e presente, com a certeza de um futuro que, porque o é sempre, nunca acontece. Escrevo-te só porque sim. Porque me apetece, porque gosto de arrumar as letras tecendo sentidos - que alguma coisa faça sentido, hoje...- cortando, neste género epistolar, as paredes escuras da solidão.
Claro que podia telefonar, mandar um sms, enviar um smile (que mais não é do que um sorriso idiota) ou até, simplesmente, ignorar-te. É isso! Devia, talvez, ignorar-te, não te dar a importância que confere o estatuto de receptor, deixar-te aí, longe, no lugar onde nada acontece apenas porque tudo pode acontecer. Mas não quero fazê-lo. Apetece-me, já disse, escrever-te para te dizer o que os lábios calam, o coração tranca e o cérebro grita. Vou enviar a carta pelo correio. Vou comprar um selo, sem sê-lo, e colocar nas mãos alheias a responsabilidade de te levar as palavras que não queres. Afinal, é socialmente aceite atribuir responsabilidades a outrem...

domingo, 6 de janeiro de 2013

Epifania

A igreja está aquecida e iluminada. Velas em copinhos de vidro fazem fila junto aos bancos, o altar está carregado de luzes tremelicantes e o silêncio tranquiliza. Senta-se junto ao grande aquecimento, felizmente ligado, e fica olhando. É Dia de Reis, dia em que a Luz fez sentido, iluminou caminhos e permitiu encontros. Para ela, é tempo de procura e angústia. Ouve no silêncio a voz de um poeta desconhecido "Se o Menino nasceu em Belém, e não no teu coração, ainda que nasça mil vezes, nascerá sempre em vão". Crê que há algum exagero, nunca a Luz surge em vão, mas teme que não O tenha no seu coração. Sente a falta de paz, de segurança, de certeza e amparo.
Fecha os olhos e reza como sabe, na conversa boa com quem nunca a recrimina e sempre parece compreendê-la. A voz constipada do senhor padre devolve-lhe a realidade. Ele reza, fala, e ela ouve-se a fazer coro na oração decorada que pouco lhe diz. Senta-se, levanta-se, ajoelha, mas cala dentro de si a oração a dois. Para os Magos, três ou mil, houve um dia uma luz a abrir caminho e para ela, ousa pedir, terá de haver também...Por isso, pede ao Menino, tão brilhante na imagem do Presépio, que a ilumine. Que faça brilhar uma luz na escuridão que a envolve, que faça com que a estrela que parece murcha volte a brilhar com força!

sábado, 5 de janeiro de 2013

Todos os Sonhos do Mundo

Fechou o portão, fechou a porta e o postigo, acendeu a lareira e ficou ali. Se vivia, se estava desfeita, se arrumava sonhos, se juntava destroços, se desfiava desilusões, se refazia projectos, nem ela sabia. Sentia um vazio imenso, uma cratera de um vulcão extinto, e a vontade de reagir era pouca.
Tinha um ar cansado, diziam-lhe. E ela sentia-se exausta, sem forças mais para acusações ou culpas, sem energia para colocar a máscara e continuar existinto. Ali, no seu canto, sentia ter perdido o mapa dos sonhos, tendo chegado a um ponto que, mais que final, era parágrafo. Um dia, quando?, acreditara. Tinha, então, nela, todos os sonhos do mundo - como o Poeta. Agora, restava frio e destroços.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Calendarizar

Recomeçam as aulas, abre-se o calendário e fazem-se planos e projectos. Calendariza-se a vida, como se fosse possível controlá-la, organizá-la, fazê-la cumprir-se dentro das nossas conveniências. Abro de novo o calendário escolar, conto os dias, marco as datas das avaliações sumativas, (os testes obrigatórios de que tanto discordo), agendo as provas de oralidade formal, os dias de entrega de portefólios e selecciono, com cuidado, os textos que quero ler com os meus miúdos. A meu lado, o programa e as competências, os descritores de desempenho, os conteúdos.
Conheço bem o programa, gosto dele, mas parece-me, agora, muita coisa que se faz pouca. Precisava de um calendário maior, de aulas onde houvesse tempo para sorrir e descobrir, para experimentar o sonho, para ousar a diferença no estilo e na lingua. Com especial atenção penso nos meus alunos de 7º ano. Para eles, a diferença ainda pode acontecer. TEM de acontecer... E elaboro a lista de temas orais. Quero que pensem, que cresçam, mas, sobretudo, quero que aprendam a ser melhores pessoas. Se o conseguirei?! Não sei. Mas tenho esperança. Confio neles e em mim!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Visitas

Bateu à porta de mansinho, sentou-se no sofá antigo e ficou olhando. Olhei-a, e não ousei fazer perguntas. Conheço-a tão bem... Vinha vestida de negro e verde, a tristeza da partida, a esperança da mudança. Falou-me baixinho de noites longas e frias, de baloiços a tocar as nuvens, de abraços ternos e reais. Eu ouvi apenas, deixando as lágrimas correr em liberdade. Quando quis partir, pedi-lhe que ficasse.
Porque a saudade é uma boa companhia.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

DECISÕES

De bem intencionados, dizem, está o inferno cheio. Deve ser verdade, porque há sempre um abismo entre o que projectamos fazer e o que, realmente, concretizamos. No Primeiro Dia do Ano, entre banhos gelados, acidentes de automóvel, imagens do ano que terminou e muitos temores, há quem escreva as decisões para os próximos 365 dias. Eu gosto de o fazer embora, com a idade ..., o faça já segura que será apenas mais um dos mil papelinhos a desarrumar as minhas gavetas. (Um dia, ainda hei-de escrever sobre o fundo da minha gaveta).
Este ano, apesar dos muitos pesares que a crise impõe, também tomei grandes decisões! Algumas são secretas, outras socialmente correctas, outras ainda profissionalmente escandalosas. De todas, destaco uma: - Vou viver cada dia como uma oferta de Deus e, por isso, vou fazer tudo - MAS TUDO - para ser feliz (embora não saiba bem o que é isso)!