domingo, 30 de outubro de 2016

PASSEAR

O poeta diz "Viajar, perder países!" Mas eu acho que viajar é, sobretudo, ganhar vidas e emoções.
Adoro passear, sair de casa, esquecer a rotina e recarregar a alma, e a vida, de novos sentidos e diferentes sentires. Cada vez que saio de casa, e faço-o cada vez menos (infelizmente), sinto energia renovada. Gostava de poder deixar-me ir, sem amarras, ao sabor do vento como as folhas vermelhas do Outono. Gostava de poder soltar-me das muitas prisões, das algemas impostas, dos estrangulamentos paradoxalmente necessários. Ah, gostava...

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

SONHOS

Eu tenho um sonho, disse Martin Luther King. E eu tenho muitos! Ele morreu sem ver concretizado o seu, e eu temo morrer sem ver concretizado nenhum dos meus... 
Sonho com uma Escola viva. Uma Escola onde os alunos são pessoas, onde a equidade é efectiva, onde a criatividade, a originalidade e a individualidade não são palavras vãs. Sonho com uma Escola de fazeres e pensares, com salas de aulas de cumplicidades e descobertas, de relacionar e (re)criar. Sonho com uma Escola onde as crianças possam brincar, correr, rir e ser felizes. Um espaço onde os professores não se sintam constantemente ameaçados, ambientes feitos de partilhas e não de ódios. Sonho com uma Escola capaz de ter sentido hoje, de projectar sucessos de amanhã e de construir harmonia sempre.
Como Luther King, creio que vou morrer embrulhada nos destroços de um sonho por cumprir...

terça-feira, 18 de outubro de 2016

DIAS

Não sei se é porque ando, com os meus alunos, a estudar Ricardo Reis; não sei se é este calor que me atinge na inteligência e nas emoções.
 O que sei é que experimento, às vezes, um enorme - e doloroso -sentimento de desadequação ao real. Carpe diem, tento impôr-me. Mas sem sucesso. Algo há em mim que me faz ainda ter sonhos, sofrer desilusões e manter presentes ausências. Algo há em mim, será  a tal consciência social de que me rio?, que me faz doer fundo a indignação e a incompreensão perante alguns acontecimentos. Hoje, é a Escola... 
Eu queria compreender o incompreensível - lá vem Pessoa. Queria saber porque têm todos os professores de entregar à coordenação de área disciplinar as fantásticas grelhas excel onde devem, são as regras, grelhar os alunos mantendo-os em lume brando, ou forte, nos momentos dos decisivos testes de avaliação sumativa. Eu queria ser capaz de compreender, a bem da tranquilidade da minha cabeça, em que medida a entrega das grelhas excel contribui para a eficácia da avaliação e, sobretudo, para a equidade.... Queria ser capaz de não perceber por trás desta atitude a existência de mentes pidescas, de desconfiança e fiscalização abusivas!

Hoje, sinto-me particularmente revoltada. E não me tragam respostas ocas - é norma deves cumprir ; e não me iludam - a avaliação deve ser clara; porque são argumentos vazios de sentido!
Eu gosto muito dos meus alunos, gosto demais da minha profissão, mas não consigo cultivar a indiferença, não consigo  ser estóica e o carpe diem não me conforta!
Queria uma Escola de Pessoas, de profissionais respeitados e de prestígio. Uma Escola preocupada de facto com as aprendizagens e não, apenas, com o culto da imagem...
Para complicar tudo, faltam-me pelo menos dez anos para a reforma!


sábado, 15 de outubro de 2016

A NATUREZA

Estive longe da minha cidade dois dias. Não foi muito tempo, mas foi tempo suficiente para descansar os sentires e acalmar a minha existência. Tive dois dias para não pensar nos desgostos que a Escola onde trabalho me impõe, para não me irritar com os pais das criancinhas que não me deixam chegar a casa quando as vêm trazer ou buscar à escola primária... 
Nestes dois dias, pelo Norte, enchi-me das cores do Outono que eu adoro. As serras, as bermas das estradas, os jardins das cidades, todos os lugares estão pintados de vermelho, amarelos vários e castanhos. Como tela de fundo, o verde brilhante. Olhando o cenário grátis, senti que podia estar numa tela de Monet, ou apenas ser personagem de um poema de Cesário. O Mundo é muito bonito. E, hoje, quando o calor já não incomoda e ainda estou na companhia exclusiva do meu eu, acredito que é possível existir em paz, construindo pequenas experiências de felicidade. Basta olhar a Natureza e ignorar a humanidade...

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Pequenas Coisas

Às vezes esquecemo-nos, quer dizer - eu esqueço-me -, de olhar para as coisas que me ajudam a encontrar sentido na vida. Perco-me nas chatices, desespero, choro, lamento-me e, de tão concentrada no que vai mal, não presto atenção aos que vai bem. E há coisas que vão bem. Há pequenas  e grandes, coisas, que me enchem de alegria e que dão sentido à minha permanência no mundo. Hoje, no meio de algumas lágrimas cinzentas e com o coração a doer, pus-me a analisar portefólios dos meus alunos. A tristeza foi-se. Esbarrei com uma miúda que sonha, pensa, deseja o Bem, vê as dificuldades e define rumos para as ultrapassar. Como professora dela há já seis anos, ousei roubar um pouquinho de glória para mim. Ela ajudou-me a ver que a vida está aí, cheia de desafios, e que temos de a agarrar com energia. A dada altura, refletindo sobre o discurso de Obama no início do ano letivo de 2013, ela dizia que tem a certeza de que todos podemos ser bons nalguma coisa. Obrigada, minha aluna querida pela tua força.

sábado, 8 de outubro de 2016

Outubro

Sempre pinto de castanho perfumado o mês de Outubro. Para mim, cheira a castanhas, a marmelada a secar ao sol na velha varanda, e a Serra, sempre a minha Serra, atapeta-se de folhas douradas. Era assim. Lembro-me de me sentar no parapeito do meu quarto, no sótão, e ficar vendo as folhas a cair, as nuvens a juntarem-se em consílios tenebrosos e o futuro, hoje passado, a surgir seguro. Mas a vida mudou, porque tudo muda - Todo o mundo é composto de mudança (Camões) - e este Outubro surge quente, pintado ainda de verdes cansados e sem marmelos que me permitam o prazer de fazer a marmelada. Levanto-me cedo, sempre gosto de me levantar cedo, e resisto ao triste hábito da piedade própria. 
Não tenho pena de nada, mas tenho saudades de muita coisa. Tenho saudades, ou será a nostalgia pessoana? , de conversar sem mágoa, de ouvir sem reservas, de rir sem receios. Tenho saudades da ilusória certeza do futuro seguro. Faço então um café forte, passo os olhos nas notícias e preparo-me para trabalhar. É sábado, sim. Mas se o Outubro segue quente e verde, também o sábado se não faz já de boas manhãs a sornar...

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

5 de Outubro

Duplo feriado. Nasceu Portugal, assinou-se o Tratado de Zamora e foi Portugal, posteriormente, reconhecido pelo Papa como país. Mais tarde, na mesma data, implantou-se a República. Para mim, faz mais sentido assinalar a primeira efeméride. Embora seja republicana, e apenas porque acredito que cada ser humano deve ser livre de fazer o seu percurso não podendo nascer condenado a ser rei, ou outra coisa qualquer, associo sempre a república ao crime contra D. Carlos e contra o filho. Sou, acho que cada vez mais, pacifista convicta e, por isso, actos que impliquem violência desagradam-me seriamente. Para além disso, não estou convencida, nada mesmo, que a república tenha trazido a resolução dos problemas a Portugal... Bem vistas as coisas, passaram a ser muitos os exploradores, mas o cidadão comum continuou, até hoje, a pagar os excessos de alguns.
Mas a primeira efeméride, talvez por envolver um certo ideal de cavalaria que me encanta, diz-me muito. Penso, ou imagino?, os esforços de um jovem rei a querer ter um país, a querer desfazer laços de obediência que o subjugavam e penso que também eu gostaria de poder, um dia, desfazer-me dos laços que me subjugam, limitam e, por vezes, humilham. Nasceu um país pequenino que cresceu, se fez ao mar, viu nascer poetas e artistas. Um país lindo, com paisagens que sempre me encantam. Um lugar a olhar o infinito, de costas voltadas para a anquilosada Europa e buscando o que está para lá do horizonte. Quero crer, com muita força, que há um povo a querer continuar a sua busca de sentido. Quero crer que, um dia, para fraseando o Poeta vai cumprir-se Portugal!

5 de Outubro

Duplo feriado. Nasceu Portugal, ou foi Portugal reconhecido pelo Papa como país, e implantou-se a República. Para mim, faz mais sentido assinalar a primeira efeméride. Embora seja republicana, e apenas porque acredito que cada ser humano deve ser livre de fazer o seu percurso não podendo nascer condenado a ser rei, ou outra coisa qualquer, associo sempre a república ao crime contra D. Carlos e contra o filho. Sou, acho que cada vez mais, pacifista convicta e, por isso, actos que impliquem violência desagradam-me seriamente. Para além disso, não estou convencida, nada mesmo, que a república tenha trazido a resolução dos problemas a Portugal... Bem vistas as coisas, passaram a ser muitos os exploradores, mas o cidadão comum continuou, até hoje, a pagar os excessos de alguns.
Mas a primeira efeméride, talvez por envolver um certo ideal de cavalaria que me encanta, diz-me muito. Penso, ou imagino?, os esforços de um jovem rei a querer ter um país, a querer desfazer laços de obediência que o subjugavam e penso que também eu gostaria de poder, um dia, desfazer-me dos laços que me subjugam, limitam e, por vezes, humilham. Nasceu um país pequenino que cresceu, se fez ao mar, viu nascer poetas e artistas. Um país lindo, com paisagens que sempre me encantam. Um lugar a olhar o infinito, de costas voltadas para a anquilosada Europa e buscando o que está para lá do horizonte. Quero crer, com muita força, que há um povo a querer continuar a sua busca de sentido. Quero crer que, um dia, para fraseando o Poeta vai cumprir-se Portugal!

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Silêncio

Às vezes, muitas vezes, o silêncio faz sentido. A vida segue o seu rumo, os factos sucedem-se e, na vida das gentes - neste caso na minha - os silêncios vão-se tecendo de revoltas, mágoas e desesperanças. Não está fácil viver. Sobreviver... Sim, claro, a vida é linda, o mundo faz-se de muita cor, de muitas existências relativamente essenciais. Sim, sei tudo isso. 
Mas sei, também, que a desilusão envenena, mata aos poucos o sonho e a vontade de acreditar.
começou mal, muito mal, o meu ano lectivo. Começou com a repetição do passado, com o confronto com a incapacidade de mudar, com o choque com mentalidades acomodadas e, penso eu, obsoletas. A ESCOLA tem de mudar! Porquê? - dizem-me alguns sem olhos doces. Porque o mundo mudou! Porque o conhecimento já não está só ao alcance de alguns, porque a televisão tem 500 canais ou mais, porque os telemóveis permitem googlar informação em minutos, porque a internet existe, porque há desemprego, porque a famíla se alterou, etc. 
Só que a Escola insiste em não mudar. Insiste em instalar os meninos no autocarro da carreira, todos sentadinhos dois a dois atrás  uns dos outros, esperando que aguentem horas sobre horas ouvindo falar de coisas que pouco lhes interessam e, pior, de formas nem sempre interessantes. Para que o panorama se enegreça mais ainda, avaliam-se os meninos em grelhas - EXCEL (ah! modernidade...) - em somas e percentagens. Melhor (ou pior?) dividem-se percentagens por períodos e somam-se valores dizendo - hélas! - tratar-se de avaliação contínua... 
Apetece-me fugir. Desaparecer de mansinho. Porque não consigo ficar indiferente, simplesmente cruzar os braços, perante o que, não tenho dúvidas, é o prejudicar dos jovens que fazem o meu país. 
Pensei optar pelo silêncio. Calar-me. Nunca mais deixar vazar a minha tristeza desconfortada. Mas, às vezes, o silêncio, ainda que fazendo sentido, sufoca...