domingo, 31 de outubro de 2021

VAZIO

 Não ter sonhos, não ter um projecto, uma ideia nova, diferente, é, para mim, uma das piores e mais graves pobrezas. E, infelizmente para mim, ultimamente tenho esbarrado com muita gente vazia de projectos. Como é possível alguém ocupar um cargo de liderança (se calhar é de chefia e eu estou enganada) sem ter um projecto arrebatador, inovador, capaz de congregar vontades? Para mim, não faz sentido. 

Não compreendo a razão de votar em alguém, de sequer ter de obedecer a alguém, que não seduz pela diferença, que não põe ao serviço de uma comunidade um sonho, um desafio, que permita acreditar num mundo melhor. 

Gostava de viver num lugar onde as pessoas só pudessem dirigir se fossem criativas, se acrescentassem algo de novo. É que, com tanta informação que existe na actualidade, para cumprir regras e seguir imitações, nem precisamos de liderança. 

domingo, 17 de outubro de 2021

PROIBIR

 Eu não quero o meu país a seguir pelos caminhos que agora lhe impõem. Não quero viver presa, limitada, subjugada à vontade de outros. 

Aos poucos, e no entanto depressa demais, o estado português está a entrar nos caminhos da ditadura e isso, sinceramente, assusta-me. Que direito tem o estado de decidir onde levo os meus netos? Onde vou e o que faço? 

Antes do 25 de Abril, lembro-me bem, os filmes e espectáculos eram também proibidos a algumas idades. Lembro-me de, à entrada do Crisfal, me pedirem o velho bilhete de identidade para ver um determinado filme. Depois de Abril, passou a existir o não recomendado a menores de... cada um podia decidir no pleno uso da sua liberdade, e era bom poder fazê-lo. Foi assim que vi o Belle de Jour, com a Catherine Deneuve, nos meus 16 anos. 

Agora, andamos para trás. Voltam as proibições, as imposições que saem de minorias que eu repudio e, no entanto, me limitam. Dizem os entendidos que é/foi moeda para a aprovação do orçamento. Um orçamento feito de despesa e sem uma única ideia capaz de criar riqueza. Um orçamento que envergonha um povo que quer crescer e ser livre. Um povo que festeja Abril!

Eu, euzinha que tanto amo Portugal, hoje penso que, se calhar, seria melhor ter nascido espanhola. 

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

EFÉMERO

 Há dias bons, dias maus, dias nem bons nem maus. Ultimamente, tenho tido dias muito maus. As saudades tornaram-se dolorosas, dilacerantes mesmo. 

Tenho saudades da Casa dos meus Pais, das conversas na varanda, dos passeios de carro ao fim da tarde para irmos ouvir o cuco - Quem ouve o cuco, não morre nesse ano- garantia o meu Pai. 

Olho à minha volta e o fosso que me rodeia enche-se de absoluta solidão. Filhas longe, netos longe, cada agora feito de memórias e amanhãs impossíveis. Para mim, digo que não faz sentido, não pode fazer sentido, encher de vazio os últimos anos da minha existência. Este devia ser o tempo dos afectos, das cumplicidades, dos passeios acompanhada.  Mas não é. O meu Tempo faz-se de muitas sombras e a memória só me devolve irrepetíveis.

Muitas noites, em insónias dolorosas, vêm os demónios troçar de mim e, rindo, garantem que em breve o Nada chegará. E eu tenho saudades das noites em que apenas anjos, invejosos da minha felicidade, me visitavam.

Tudo é efémero. Menos, penso, a minha tristeza.