Há dias bons, dias maus, dias nem bons nem maus. Ultimamente, tenho tido dias muito maus. As saudades tornaram-se dolorosas, dilacerantes mesmo.
Tenho saudades da Casa dos meus Pais, das conversas na varanda, dos passeios de carro ao fim da tarde para irmos ouvir o cuco - Quem ouve o cuco, não morre nesse ano- garantia o meu Pai.
Olho à minha volta e o fosso que me rodeia enche-se de absoluta solidão. Filhas longe, netos longe, cada agora feito de memórias e amanhãs impossíveis. Para mim, digo que não faz sentido, não pode fazer sentido, encher de vazio os últimos anos da minha existência. Este devia ser o tempo dos afectos, das cumplicidades, dos passeios acompanhada. Mas não é. O meu Tempo faz-se de muitas sombras e a memória só me devolve irrepetíveis.
Muitas noites, em insónias dolorosas, vêm os demónios troçar de mim e, rindo, garantem que em breve o Nada chegará. E eu tenho saudades das noites em que apenas anjos, invejosos da minha felicidade, me visitavam.
Tudo é efémero. Menos, penso, a minha tristeza.
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