terça-feira, 29 de março de 2011

FADAS

Chegou com o caderno de exercícios, livro nem tinha. Aliás, nem teve ao longo do ano. Mas a professora, ocupada decerto, nunca deu por isso. Sim, tinha teste e, por isso, precisava de saber os Lusíadas. Assim. Saber os Lusíadas. Como se me pedisse um comprimido de ben-u-ron, ou um chocolate, ou umas chuteiras novas. No olhar, desinteresse e necessidade, numa combinação de entristecer. O que me interessa isso?, Quero lá saber do zarolho! - E eu a remar contra a maré, a contar dos adamastores do quotidiano, a lembrar os oponentes constantes, os Bacos (ou bacos?) diários, a força do amor. Aos poucos, lutando como truta no anzol, foi cedendo, perguntando, surpreendendo-se. Camões namorara? amara? combatera? desiludira-se?Ah! Construira o poema com trabalho? E a aprendizagem a acontecer, esquecido o teste, o livro, as exigências da professora.
Fiquei pensando nele. Na escola de hoje, que parece, insistentemente, querer matar o sonho de aprender. Creio que é urgente reinventar as Fadas. Porque as Fadas têm de voltar à Escola...

sexta-feira, 25 de março de 2011

Quedas

Caíu o governo. Finalmente!! Talvez venham aí ainda mais graves situações, tudo indica que sim, mas, no entanto, vimo-nos livres de uma maioria acéfala, responsável pelo fim do estado social, incapaz de dar resposta aos verdadeiros problemas de um país eternamente à rasca.
Ver o fim deste governo, apesar das milhentas agruras do quotidiano, encheu-me de esperança. Creio que, apesar de tudo, é possível fazer diferente, fazer melhor. É possível e nem muito difícil... Acabe-se com metade dos ministérios, secretarias de estado (existe uma secretaria para a paridade!!!), reduzam-se para metade os deputados, extingam-se as dezenas de Institutos de coisa nenhuma, aumente-se o IVA sobre os artigos que não são bens de primeira necessidade. Haja coragem para fazer esta democracia de faz de conta servir, de verdade, as pessoas que a integram...
Para já, parece que vai mesmo parar o descalabro do atual modelo de avaliação de desempenho dos professores. Estamos a começar BEM!!!
Que o diabo leve, para muito longe, estes governantes que nos colocaram na miséria em que vivemos!!!

quarta-feira, 16 de março de 2011

CONVOCADA

Fui convocada. Não para jogar na Seleção, não para ter direito a reforma, não para ser bafejada pela sorte, não para receber uma herança de um familiar remoto. Não! Fui convocada para ir receber formação sobre correção de provas de exame. Vão ensinar-me, ou tentar..., a considerar certo o que está errado, a ler o que os alunos não escreveram mas, com certeza, desejariam ter escrito se soubessem a matéria ou tivessem competências suficientes. Mas tudo bem, eu sei que os resultados têm de subir e já nem tenho forças para me indignar com a hipocrisia destas avaliações. O que me desespera, hoje, é ser obrigada a fazer uma formação que NÃO QUERO, para a qual NÃO ME INSCREVI, com formadores cujo mérito desconheço, durante 15 horas da minha vida! 15 horas!! O que eu seria capaz de fazer de últil em tantas horas... Ainda por cima, num sábado!
Mas os professores não terão direito a vida própria?! Mas que maldita democracia é esta que pode (??)  usar o tempo de cada cidadão como muito bem lhe apetece sem nenhum respeito pelas opções e vontades individuais?? Será que alguém pode dispor do nosso tempo livre?? Eu sei que nunca confiei nesta maldita democracia mas, agora, até percebo porquê... É que Portugal vive numa ditadura da estupidez!! Qual democracia qual carapuça!!

sexta-feira, 11 de março de 2011

O cavalo do espanhol

Toda a gente, ou quase, conhece de cor a história do cavalo do espanhol que, quando estava mesmo já habituado a não comer, morreu. É, como todas as histórias populares, uma metáfora simples para explicar, aos mais ignorantes, que não é possível viver sem comer e que, se a poupança for total, a morte é certa.
Em Portugal, só o actual governo parece não compreender a história do cavalo do espanhol...
Temos um governo que nos mata, nos sufoca, nos prejudica diariamente e que, tal como o espanhol do cavalo, continua insistindo na sua estupidez sem ver a morte chegar!
Há limites, ou devia haver..., para os sacrifícios que se pedem às pessoas!
Não é razoável, penso que nem devia ser aceitável, que se continuem a aumentar impostos e a reduzir salários. Estas políticas levam ao empobrecimento (mais ainda) do país, ao desânimo das populações, à emigração daqueles que, com valor, conseguem ser reconhecidos lá fora. O nosso governo bajula a senhora Merkel, humilha-se perante os patrões europeus (quais parceiros qual carapuça!), para vir  faz-se de poderoso cá dentro.
Este governo já não está a hipotecar o futuro dos nossos netos, está a envenenar o nosso presente!
Este governo que, mês sim - mês sim, diminui vencimentos (e pensões!) e aumenta impostos: - O IVA, os combustíveis, o IRS, o pão, a eletricidade, a água, os transportes, as portagens, a saúde, o leite, a carne, o papel higiénico, etc., é mais perigoso do que o vírus da SIDA ou o HN1! porque, infelizmente, parece não haver vacina contra este foco de infeção que não pára de alastrar!!
Se o povo (seja lá isso o que for) não tomar medidas drásticas, a epidemia da injustiça e do mau governo não vai parar mais!! Às vezes, quando o foco de infeção é incurável, é preciso recorrer à amputação!!

domingo, 6 de março de 2011

Regresso

Como seria a vida, se não houvesse morte? Como seria o negro, se não existisse o branco? Como seria o escuro, se não existisse o branco? Como seria a solidão, se não existisse o tu? Como seria o mar, se não houvesse a montanha? Como seria o frio, se não houvesse calor? Como seria a amizade, se não houvesse antipatias? Como seria o amor, se não existisse o ódio? Como seria a esquerda, se não houvesse direita? Como seria a tristeza, se não existisse a alegria? Como viveriamos a realidade, se não tivessemos  direito ao sonho? Mas, acima de tudo, como seria a partida se não houvesse regresso?...

sábado, 5 de março de 2011

Carnaval

Não gosto do Carnaval. Nunca gostei das máscaras, dos homens a fazer de mulheres, das mulheres vestidas de palhaços, das crianças transformadas em espanholas e cawboys. Não acho graça, pronto. Vejo sempre o Carnaval como uma festa de países sub-desenvolvidos, não consigo compreender que graça tem dançar e beber até cair na rua. Concedo o Carnaval aos brasileiros, tem tudo a ver com eles... Mas não resisto a achar que é uma malandrice intencional de Deus mandar um frio de neve para Portugal quando os desfiles, à moda brasileira, enchem as ruas de gente pouco vestida...
Este ano, felizmente, estou livre do Carnaval. Aqui, em Cambridge, não há mascarados, não há serpentinas, não há samba de importação e não há as portuguesas bombinhas de mau cheiro! Assim, aqui de longe, até consigo imaginar o carnaval português, a pobreza disfarçada, a alegria postiça, sem ter vontade de chorar Como dizemos no meu país:  -Longe da vista, longe do coração!