terça-feira, 29 de março de 2011

FADAS

Chegou com o caderno de exercícios, livro nem tinha. Aliás, nem teve ao longo do ano. Mas a professora, ocupada decerto, nunca deu por isso. Sim, tinha teste e, por isso, precisava de saber os Lusíadas. Assim. Saber os Lusíadas. Como se me pedisse um comprimido de ben-u-ron, ou um chocolate, ou umas chuteiras novas. No olhar, desinteresse e necessidade, numa combinação de entristecer. O que me interessa isso?, Quero lá saber do zarolho! - E eu a remar contra a maré, a contar dos adamastores do quotidiano, a lembrar os oponentes constantes, os Bacos (ou bacos?) diários, a força do amor. Aos poucos, lutando como truta no anzol, foi cedendo, perguntando, surpreendendo-se. Camões namorara? amara? combatera? desiludira-se?Ah! Construira o poema com trabalho? E a aprendizagem a acontecer, esquecido o teste, o livro, as exigências da professora.
Fiquei pensando nele. Na escola de hoje, que parece, insistentemente, querer matar o sonho de aprender. Creio que é urgente reinventar as Fadas. Porque as Fadas têm de voltar à Escola...

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