quarta-feira, 29 de julho de 2015

PARTIR


Alguém me dizia, com certeza e sabedoria, que tudo na vida é uma questão de escolhas e que, afinal, isso é o concretizar do livre arbítrio. Sei que é verdade. Mas sei, por um saber de experiência feito, que escolher não é só optar. Que  não estamos sozinhos no mundo, que seguir o nosso desejo (Razão?) nem sempre é tarefa fácil, ou sequer possível...
Mas acredito que é preciso força para viver, para marcar os dias com a nossa vontade, para resistir ao que, tantas vezes, desejamos sabendo que nos faz mal. E assim, como o coração embrulhado numa Razão que tento reconhecer, faço a mala e parto. Procuro o mar do Norte, o mistério do nevoeiro, as caminhadas com camisola quente à beira-mar. Partir!

segunda-feira, 27 de julho de 2015

CASAMENTOS

O Verão é o tempo dos casamentos. Nos sábados, sobretudo, tocam buzinas, surgem cortejos e muitas noivas felizes. Olho-as e, em silêncio, rezo para que a vida não as atraiçoe...
Lembro, sempre, o meu casamento. Um dia inesquecível, e eu a achar que ia ser sempre feliz. Lembro o nervoso, a esperança, o vestido longo, o abraço seguro e apaixonado, o braço do meu Pai conduzindo-me ao altar.
Lembro a minha velha Dyane Argent, a viagem rápida e a cumplicidade de dois jovens que acreditavam ganhar o mundo.
Agora, à luz de 34 anos de distância, penso que, mesmo com sonhos desfeitos e esperanças rasgadas, valeu a pena. E desejo que todos os sábados valham a pena para aqueles que ainda acreditam, como eu continuo a acreditar, que a vida só tem sentido a dois!

sexta-feira, 24 de julho de 2015

VENTO

Sopra um vento quente, intenso, incomodativo. Tenho à minha frente mais dois sacos de exames para corrigir, e a minha cabeça, cedendo à solicitação da minha alma (ânimo mesmo!) anda a monte. 
As letras confundem-se, a Mensagem torna-se viagem interior às minhas Ilhas Afortunadas e o trabalho não rende... 
Pego ao colo no meu António de quase cinco meses e falo-lhe de ternura, de azul e de chocolate, de compreensão e cumplicidade. Ele adormece nas minhas palavras e eu finjo que acredito que ele vai sempre ter um colo para adormecer. Os exames aguardam o regresso da minha atenção. Talvez mais tarde...

quinta-feira, 16 de julho de 2015

JULHO

Ainda não estou em férias. Os exames continuam, as provas para corrigir somam e seguem e os momentos de paz e alheamento custam a chegar. Contrariada, vou olhando o mundo. E quanto mais olho, e escuto, menos compreendo. Não compreendo os pequenos/grandes ódios que destroem existências, não compreendo a distância imposta aos afectos, não compreendo as palavras agudas, não compreendo a solidão mesmo que no meio da multidão.
Tenho saudades da paz do mar, da compridura das noites olhando o oceano futuro do passado,  da harmonia que nunca aconteceu, das páginas de romances que nunca vivi, da cumplicidade efectiva que nunca conheci. 
Os meus passos seguem a fileira da desilusão, pisam destroços de sonho e fazem-se de palavras caladas. É Julho a chegar ao fim.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

A GRÉCIA

Tenho andado com calor a mais para escrever. 
Não gosto de calor! Num abuso de poder, as altas temperaturas roubam-me energia, destilam-me ideias e dão-me um humor terrível... Mas, ainda assim, estou viva e vou olhando o mundo e os seus (e meus) problemas.
Talvez seja por causa do calor, mas acho  que os gregos não têm razão nenhuma e não percebo porque raio de razão haviam (ou hão) de ser financiados sem pagar os empréstimos. Não querem cortes nos vencimentos? Não querem privatizações? Também Portugal as não queria! A UE é um monstro, concordo. Mas é um monstro bom quando socorre, e um monstro feroz quando cobra o que emprestou? 
O que eu acho mesmo, concordando com Saramago, hoje pelo menos, é que a democracia é um sistema que permite que se tomem democraticamente medidas que nada têm democráticas! Deve ser do calor...

quarta-feira, 1 de julho de 2015

SEDA

Todos os dias o via, no armário, protegido pelo plástico da lavandaria que, tantas vezes, ela desejava poder colocar sobre os sentires. Tinha escolhido com cuidado o feitio, muito simples como ela, aproveitando ao milímetro aquele tecido suave, carregado de histórias, que ele trouxera da Índia. Olhava-o, mas não o vestia. Temia, talvez, que as desilusões de um passado, então futuro, se lhe colassem mais ainda à pele e à alma. 
Naquele dia, mudou de ideias. Retirou com cuidado o vestido de seda verde e fê-lo deslizar sobre a pele, ajustando-se imediatamente ao corpo num afago terno e suave. Passou as mãos no tecido recuperando momentos, outros toques, muitas saudades.
Onde acontecera o rasgão no seu tecido emocional? Porque não voltara mais a magia da seda à sua existência áspera?
Saíu de casa na suavidade da seda verde, abusou da canela no café e foi almoçar caril. 
A vida faz-se, também, de paladares fortes e tecidos suaves.